1 – “Ano Novo, vida nova”, prega o velho aforismo. É possível, realmente, fazer da passagem do ano um divisor de águas, buscando um novo comportamento, uma nova visão da existência, uma vida nova?
Quando elegemos determinada data para o esforço de renovação, estamos debitando ao futuro algo que deve acontecer no presente. Se não queremos cair na vacuidade, é importante usar um aforismo bem mais consistente: “Não deixe para amanhã o que pode fazer hoje”.
2 – Digamos que o fumante se conscientize de que o cigarro lhe faz mal e se proponha a marcar data para largar de fumar. Passa algumas semanas preparando-se. Isso não lhe dará a firmeza necessária?
Se estivesse realmente consciente de que o cigarro lhe faz mal, pararia imediatamente, sem debitar ao futuro a iniciativa. Quando temos a idéia, mas não a consciência, vão é o desejo de mudar. Por isso Mark Twain (1835-1910), grande escritor americano dizia, jocoso: Largar de fumar é a coisa mais fácil do mundo. Eu mesmo já larguei mais de cem vezes.
3 – Não obstante, não seria importante uma reflexão natalina, avaliando o ano que se finda e cogitando do que pretendemos fazer no novo ano? Isso não favoreceria nossa adequação aos desígnios divinos?
Todo empenho nesse sentido é válido, mas seria melhor que fizesse parte de um contexto, envolvendo o esforço permanente de renovação, como um corredor que avalia quanto já correu, enquanto segue em frente, buscando a meta a ser alcançada.
4 – Segundo Santo Agostinho, há um momento em que a alma humana atinge a percepção dos valores espirituais, o que lhe inspira a disposição legítima para a renovação. Chama esse acontecimento de “iluminação”. Ele próprio o experimentou. Poderíamos situar essa iluminação como uma graça divina?
Com semelhante idéia estaríamos admitindo que Deus tem seus preferidos, seus eleitos, o que não é compatível com a justiça. A iluminação, aquele momento decisivo, em que o Espírito tem a percepção dos caminhos que lhe compete seguir, em favor da própria renovação, é fruto de nosso amadurecimento como Espíritos imortais, no desdobramento das existências.
5 – Como situaríamos Francisco de Assis, nesse contexto?
Ele já era um Espírito iluminado quando reencarnou com a gloriosa missão de motivar o movimento cristão para um retorno à primitiva pureza. Consta que teria sido um dos discípulos de Jesus, provavelmente João Evangelista.
6 – A iluminação decorre do processo de amadurecimento do Espírito ou é algo que pode atingido mais rapidamente com o nosso esforço?
Não somos vegetais à espera do tempo para crescer, florescer e frutificar. Somos seres pensantes, cuja maturidade está subordinada a esse esforço. Espíritos há que permanecem séculos dominados por vícios e imperfeições. Outros caminham mais rapidamente. O fumante inveterado não é pior nem mais atrasado que aquele que deixou o vício. Apenas não se dispõe ao mesmo esforço. Depende de cada um.
7 – Como fazer para nos libertarmos de nossas limitações, do acomodamento, de forma a nos iluminarmos mais depressa?
Jesus dizia: Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. No atual estágio evolutivo é-nos impossível uma visão da verdade em plenitude. Mas podemos assimilar parcela dela. Nesse particular o Espiritismo é imbatível, oferecendo-nos uma ampla visão das realidades espirituais, de onde viemos, para onde vamos. Sobretudo, a Doutrina nos conscientiza que é preciso caminhar, a fim de não sermos atropelados pela dinâmica da Evolução, que impõe corretivos dolorosos aos que pretendem estagiar na inércia.
8 – Uma palavra aos nossos leitores.
Desejo aos queridos leitores, que cumprem penitência acompanhando meus exercícios literários, um Ano Novo pleno de realizações espirituais, em clima de paz, o tempero da felicidade. Seja para todos nós, segundo a expressão evangélica, um “ano aceitável do Senhor”,um ano em que estejamos empenhados em aceitar em plenitude a orientação de Jesus, em favor de nossa iluminação.
Richard Simonetti
Pingafogo
Um comentário:
Que esse seja um ano onde nos empenhemos em nos melhorar e em dedicarmo-nos mais a cumprir as Leis de Deus. Muita paz!
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