Mostrando postagens com marcador Violetas na Janela. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Violetas na Janela. Mostrar todas as postagens

quinta-feira

Violetas na Janela XXVI


XXVII
 
PREPARANDO PARA ESTUDAR

Cada vez mais ansiava por aprender e ser útil. Dormia poucas horas como também me alimentava pouquíssimo, aprendi a absorver a alimentação da atmosfera e tomava pouca água. Dias antes do Natal, concluí o curso de como me alimentar, foi muito proveitoso.

A água aqui é diferente, magnetizada, sinto-a perfumada. Sempre gostei muito de tomar banho, no curso aprendi a plasmar limpeza tanto do corpo como das roupas que usava, a limpar-me, higienizar-me pela mente. 

Não comer dá uma enorme vantagem. Não necessita usar o banheiro. Não tomar água em excesso, não urinar. Isto é bom. Começara a viver espiritualmente, as impressões do corpo de carne e as necessidades iam sendo superadas.
 
Logo ia começar meu curso e foi com muita alegria que escutei de Frederico:
 
—Patrícia, vou ser um dos instrutores do curso que irá fazer.
 
—Irá deixar este trabalho maravilhoso? Irá por mim?

—Amo todas as formas de ser útil. Este trabalho é temporário. Depois do curso, voltarei a dar aulas numa Colônia de Estudo. Há tempos queria participar deste curso, é bom recordar e renovar conhecimentos.
 
—Frederico, sou grata a você. Gostei muito de trabalhar com você e com meu trabalho na escola. Penso em voltar a fazê-los. Frederico riu.
 
—Patrícia, é bom gostar de muitos trabalhos. Conhecer muitas formas de ser útil.
 
Quando terminar seu estudo, poderá optar para o que for melhor a si mesma e para o maior número de pessoas.
 
Maurício me deu algumas dicas sobre o curso.
 
—Patrícia, irá morar temporariamente no setor residencial da escola, na parte destinada a estudantes que cursam este interessante aprendizado. O curso que fará é para que tenha conhecimentos do Plano Espiritual. 

Este curso tem como objetivo instruir os desencarnados sobre como viver espiritualmente e conhecer tudo, as Colônias, Postos de Socorro, Umbral, ver os trabalhos espirituais junto a encarnados, etc. Para os que não têm conhecimento algum, o período deste curso é mais intenso. 

Para os que têm conhecimento como você, o prazo é menor. Tudo é bem organizado. Há data certa para o
início e término. O seu demorará nove meses. O grupo é pequeno, terão três instrutores.
 
—Todos os desencarnados fazem este curso?
 
—Deveriam ou seria o ideal. Infelizmente, a porcentagem dos que querem aprender é pequena. Depois, para fazer este curso, necessitam estar adaptados, conscientes do seu estado de desencarnados, querer aprender para serem úteis e, o principal, gostar. Amar o Plano Espiritual
 
—Quem irá fazer o curso comigo?
 
—A equipe é ótima, gostará de todos. Você é a mais novata desencarnada. Os outros têm anos por aqui. Alguns são protetores de encarnados ou querem ser, aprendem para melhor orientar. Outros há tempo trabalham na Colônia, agora se interessam em conhecer todo o Mundo Espiritual.
 
—Maurício, existe só esta forma de conhecer o Plano Espiritual?
 
—Não, este curso é o modo mais fácil e mais organizado. Muitos trabalhadores o conhecem servindo e socorrendo. Embora, Patrícia, não irá ficar só vendo, aprenderá participando e ajudando.
 
Meu quarto seria ocupado por outra pessoa, ali estivera por curso período, sabia que um dia teria que deixá-lo. Não senti tristeza, agradeci de coração às senhoras amigas de vovó pela carinhosa acolhida. 

Minhas violetas ficariam com vovó, até terminar meu curso, depois as levaria para uma Colônia Escola para onde iria. Estavam lindas e floridas minhas violetas, olhando-as motivava-me mais ainda em aprender, continuar a ser feliz.

Levamo-las para o quarto de vovó. Colocamo-las no peitoril da janela de seu quarto.
 
Teria pequenas folgas durante o curso e viria visitar vovó e minhas violetas. Arrumei alguns pertences para levá-los ao alojamento da escola. O que achei desnecessário, deixei com vovó.
 
No horário marcado, Maurício veio me buscar. Caminhamos lado a lado.
 
—Patrícia, minha tarefa junto a você termina hoje.
 
—Maurício, sei que não gosta de agradecimentos, é porém de coração que lhe digo: obrigada! Espero não ter lhe dado muito trabalho.
 
—Foi um prazer, tornamo-nos amigos e seremos para sempre. 

Entramos na Escola por outro portão. Conhecia aquela parte mas, naquele momento, me pareceu diferente, mais bonito. Viera para estudar, como aprendiz, isto fazia me sentir diferente. Estava curiosa para saber como seria este estudo tão falado.
 
Muito escutava encarnada e nestes meses na Colônia. O que realmente estudaria? Que iria de fantástico ver e conhecer?
 
Emocionei-me. Meu coração batia apressado.


FIM
Talvez você tenha passado por aqui tão rapidamente que nem tenha percebido que postamos capítulo a capítulo desta preciosa obra, mas se não é o seu caso e você gostou, que tal divulgá-lo?
Se você não leu mas está interessado (a) , aproveite e a cada dia leia um capítulo. Em menos de um mês você o terá lido e refletido sobre ele. Vai lá no primeiro capítulo e começa...
bjs,soninha

terça-feira

Violetas na Janela XXV


XXVI

TRABALHANDO COM FREDERICO


Estava orgulhosa por receber meus bônus-horas. Todos os trabalhadores têm período de descanso, mas os que querem trabalhar neste período ganham dobrado. Não estava necessitando de descanso. Entusiasmada passei a trabalhar muitas horas com Frederico.
 
Quando trabalhava muito, sentia-me cansada, mas logo me refazia.

Meu amigo tem uma sala na parte do hospital onde estão os internos melhores.Para que vocês entendam: ele fazia um trabalho de psicólogo ou de psiquiatra.
 
Continuava como uma secretária a organizar horários, fichas e encaminhando os pacientes. Enquanto eles conversavam com Frederico, ficava sem fazer nada.
 
—Patrícia, — Frederico me convidou — você não quer entrar na sala e ficar a ouvir, a fim de aprender o que traz estes nossos irmãos a conversar comigo?
 
—Sim — respondi contente.
 
Percebi então os muitos problemas que tem a maioria desencarnada em tratamento. Escutava sem nada dizer, às vezes me dava vontade de rir, outras me emocionava. Como dizia vovó, nada como ajudar para compreender. Vendo, sentindo problemas dos outros, dei graças ao Pai por não tê-los, por não tê-los criado para mim.

A maioria dos problemas dos daqui são os que ficaram aí, ou seja, relaconados com os encarnados. Pediam para visitar os familiares ou ajudá-los. Só que não se consegue auxiliar, encontrando-se ainda entre os necessitados de ajuda.

Quase todos falavam de sua vida encarnada e como desencarnaram. Frederico escutava atencioso indagando de vez em quando. Uns reclamavam do choro dos familiares que os incomodava. Outros pediam orientações de como fazer para não escutar os lamentos e chamados dos entes queridos.
 
—Deve-se orar por eles — falava calmamente Frederico —, ter paciência, o tempo passa, suavizando.

Meu amigo respondia a todos, orientando-os com sabedoria. Também anotava os endereços dos casos mais aflitivos. Quando finalizava o horário de atendimento, Frederico ia às residências anotadas, tentava orientar, ajudar os encarnados, motivando-os a se consolar e deixar de perturbar seus entes queridos.

Mas havia queixas diferentes. Uns julgavam-se esquecidos, principalmente pelo cônjuges. Foram alguns pedidos para voltar, e até no corpo físico. Não queriam reencarnar, nascer num outro corpo. Queriam o deles mesmo. Um até pediu para voltar uns dez anos mais moço.
 
Às vezes, pensava que Frederico não iria sair daquela. Mas ele, como grande conhecedor do espírito humano, falava educadamente, com tranquilidade, convencendo os entendidos. Alguns não gostavam das respostas, mas acabavam convencidos. Muitos voltavam muitas vezes, até superar seus problemas ou parte deles. 

Porque infelizmente muitos se fixavam tanto nos seus problemas que não viam mais nada, e outros gostavam
de tê-los, necessitando de maior tratamento. Narro alguns casos, não por curiosidade mas para que sirvam de lição a todos nós.
 
—Veja bem, Dr. Frederico — disse um senhor. —Verá com o que lhe digo, o senhor me dará razão. 

Sempre fui muito trabalhador, tive posses. Honesto, nem sempre.Não posso mentir, sei que não iria enganá-lo. Só tapiei alguns trouxas nos negócios.Minha primeira esposa me ajudou muito, não tivemos filhos, ela desencarnou e casei com outra. 

Minha segunda esposa é linda, tivemos filhos. A danada me traiu e, quando descobri, fui matar o safado e foi ele quem me matou. Quero voltar e tirar os filhos dela.

Não quero vingança. Sofri muito querendo vingar, já perdoei os dois. Meus filhos irão se perder com ela, irão errar, tenho a certeza. Não quero ir como desencarnado, eles não me verão. Não dá para o senhor fazer com que eu volte?

Frederico, bondosamente, tentou esclarecê-lo.

—Meu irmão, quando encarnado, você viu alguém desencarnado voltar com o corpo morto? O seu corpo após tanto tempo já é pó. Isto é impossível! Lembro-o que todos têm como encarnados oportunidades de seguir o Bem. Seus filhos não estão desamparados por Deus. Você pode ajudá-los.

—Mas eles não me darão crédito. Não irão me dar atenção.

—Não desanime sem tentar. O senhor já leu a Parábola de Lázaro e o rico?

—Já, a do Lázaro pobre e do rico que morreu e quis voltar para avisar seus irmãos e não pôde.
 
—Leia novamente com atenção.
 
—O senhor não pode me ajudar?
 
—Posso. Irei, por você, tentar ajudar seus familiares.
 
—Queria mesmo voltar encarnado e tirar meus filhos dela e educá-los melhor.
 
—Meu irmão, você já reencarnou muitas vezes. Se voltasse recordando talvez tentasse mudar. Mas esquecendo, erraria de novo. Por que não se fortalece nos ensinos da boa moral?
 
O senhor saiu não muito satisfeito.

—Frederico — falei — parece incrível escutar este pedido. Pensei que desencarnados tivessem mais consciência.

—Deveriam ter, mas desencarnados não diferem muito dos encarnados. Não se torna melhor pelo desencarne. Torna-se melhor quando se aprende. Este senhor não se preocupou quando encarnado em educar os filhos, agora é sincero, se preocupa com eles, mas tardiamente. Parece com o rico da parábola que recomendei que lesse com atenção.
 
—E fez um pedido mais incrível ainda, voltar com seu corpo.
 
—Embora saibam ser impossível, tentam. Se isto fosse possível seriam muitos a voltar.
 
—Ainda bem que não é.
 
Frederico foi ao lar terreno dele e fez o possível para chamá-los à responsabilidade. No dia seguinte, tranquilizou este senhor. Disse que a esposa estava sendo boa mãe, pelo menos, amava os filhos. Ele resolveu seguir os conselhos de Frederico. Melhorar, aprender para poder no futuro tentar ajudar os filhos.
Uma mulher, com expressão sofrida que dava dó, disse lacrimosa:
 
—Dr. Frederico, não quero parecer ingrata. Desencarnei, sofri muito, vaguei pelo Umbral, fui socorrida e me sinto melhor. Porém... 

É que não gosto do Umbral, tenho horror a ele, não quero vagar e... Não quero ficar aqui. Não gosto daqui. Tratam-me bem, mas recebo um tratamento igual a todos. Não posso comer carnes, não posso tomar meus aperitivos. 

Detesto estar desencarnada! Queria morrer mesmo. A morte não é como esperava. Se pelo menos tivesse o céu.
 
—Será que, se tivesse o céu como pensava, a senhora iria estar nele?
 
A senhora não respondeu. Estranhei, era a primeira pessoa que ouvia diretamente dizer que não gostava da Colônia. Frederico continuou:
 
—A senhora está insatisfeita consigo mesma. O que a Colônia pode lhe oferecer é isto que recebe. Enquanto muitos são felizes aqui, há os descontentes como a senhora.
 
Que quer realmente?
 
—Não sei. Não queria ter desencarnado, mas também não gostava da minha vida encarnada. Talvez se reencarnasse rica, linda e inteligente.

—Para fazer o quê?

—Ser feliz, gozar a vida.

—Por quanto tempo?

—Se soubesse não estaria aqui — disse sem paciência.

—Minha irmã, já tentou ser feliz trabalhando, sendo útil?

—Não.

—Já experimentou sentir alegria em ajudar o próximo? 

A senhora necessita se amar para aprender amar o próximo. Deixar de ser uma necessitada e ser útil. Aqui na sua ficha está anotado que está bem. Por que não se dispõe ajudar?

—Acho tão difícil...

—Amanhã voltará para conversamos melhor. Tente hoje ser útil por duas vezes.

A senhora saiu como entrou, lacrimosa.

—Frederico — indaguei — ela queixa-se de estar na enfermaria. Por que tive um quarto só para mim?

—Patrícia, Jesus recomendou-nos que vivêssemos encarnados entesourando bens espirituais, dando valor na parte verdadeira, a que nos acompanha após a morte do corpo.

Todos que fizeram o que Jesus recomendou acham não merecer este simples tratamento que é ser alojado por um curto período num quarto individual. Para estar, estar aqui é venturoso. Alguns imprudentes, orgulhosos, não gostam de se misturar, esquecem que são irmãos de todos e que o Pai é um só. Chegam aqui tais como mendigos e alguns a exigir regalias que não fizeram por merecer.

Aos poucos esta senhora foi mudando, Frederico tudo fazia para que entendesse que só o Bem a faria feliz. Ela começou a fazer pequenas tarefas, mas resmungando. Frederico me disse que os orientadores da Colônia iam tentar ajudá-la para que vencesse a ociosidade ou ela teria que reencarnar. A Colônia não abriga ociosos. Um senhor, aparentando trinta e cinco anos, entrou na sala um tanto envergonhado.
 
—O doutor me ajudaria? Gosto daqui, quero ficar, mas sinto falta de sexo.
 
—Você gosta daqui porque solucionou um dos pesos que aflige o ser humano,que é a disputa da sobrevivência. Aqui recebe muito, até os reflexos de sua doença estão sendo superados. Está abrigado, alimenta-se, não sente frio ou calor, enfim está acomodado. Mas, ao mesmo tempo, você anseia pelas satisfações que o mundo físico lhe proporcionava. 

Sente falta somente dos que julgava bons, dos prazeres. Vou ajudá-lo.Para você não ser atingido por estes ecos de satisfações do mundo físico de qualquer circunstância, é necessário que eleja com toda sua força e atenção um objetivo aqui no mundo Espiritual que agora vive, e que a ele se dedique com toda sua alma. 

Neste sentido, as energias que hoje lhe trazem um eco do passado se dirigirão para este novo objetivo. Aconselho-o a ser útil, a trabalhar, a estudar, a interessar-se em fazer o Bem a tantos irmãos daqui mesmo, aos alojados na outra parte do hospital, que sofrem. Assim estará liberto parcialmente dos ecos das satisfações do mundo físico, no seu caso, do desejo sexual.

Já havia escutado uma mulher queixar-se do mesmo assunto e Frederico ter-lhe dito que se voltasse com carinho a uma atividade, trabalho ou estudo, que estaria parcialmente liberta destes desejos. Este senhor era o último atendimento do dia. Tendo tempo, indaguei a Frederico, querendo aprender:

—Por que parcialmente e não plenamente, se aqui na realidade não se tem necessidade destas funções?

—O apego ou escravidão a qualquer uma das funções, gula, sexo, mentir, muito falar; os vícios, tanto aparentemente inofensivos como os prejudiciais na visão da sociedade, fazem parte da busca incessante do homem em preencher seu vazio físico.

O Homem é a soma de todas as experiências pelas quais a humanidade vem crescendo através dos incontáveis milênios de que temos notícias. O primeiro sentido a se manifestar foi o tato e através dele é que o homem teve seus primeiros prazeres.

O segundo, o grande, da sobrevivência, alimentar e procriar. Mas, falando especificamente da procriação, porque as outras estão no mesmo plano. Este é o maior dilema do homem,porque condenam o sexo promíscuo, mas não ensinam ou explicam por que o homem tem. Se ele é mau por que o possui? Se ele é bom, por que o reprimir?

A chave da questão está na sua fonte. Se você pegar um rio e no meio do seu curso erguer um dique, você quer que as águas não corram mais naquele leito, seu trabalho será constante, terá que forçar o dique todos os dias. Elas ficarão represadas a cada dia com mais força e poder de pressão. Se descuidar, romperá o dique e sua ação devastadora será mil vezes maior do que quando estavam no seu curso normal.

Da mesma forma é esta fabulosa energia vital. No seu primeiro impulso ela seduz o homem com prazer para garantir a perpetuação da espécie humana. O homem então se torna escravo desta energia. Um mero reprodutor da espécie. Mas como a prole pesa aos ombros dos seus genitores, a sagacidade da inteligência, não querendo abster-se do prazer. 

Outros homens por devoção ou crença abstêm-se do uso desta energia. Pode acontecer de em futuro próximo arrebentar e produzir mais estrago ou adormecer a energia secando este leito com prejuízo dele mesmo.

Alguns poucos, em vez de fazer dique ou amortecer esta energia, remontam à fonte vital. Procuram saber de onde nasce esta energia que é capaz de fazer nascer o ser vivente e inteligente. Reconhecendo que ela nasce do próprio eterno, desviam-na do leito do prazer mundano que proporciona a perpetuação da espécie, dirigem-na para a espiritualização do indivíduo, proporcionando, assim, a perpetuação da alma.

A libertação não se faz pela repreensão, mas sim pela compreensão do que o homem é.Baseado nisto, usa-se toda a energia que o sustenta no sentido de possibilitar que se renasça o novo homem como cidadão cósmico. Não mais interessado nos prazeres egoístas, mas sim na glória da manifestação de Deus no homem e todos seus filhos.

Não poderia, Patrícia, falar isto que lhe falo àquele senhor, ele não entenderia.Está ainda escravo de vícios, se ele tiver um objetivo maior, ficará liberto parcialmente, só estão libertos plenamente os que fizeram como exemplifiquei. 

Ele não entenderia, como assim poucos compreendem o que Paulo de Tarso disse: “A natureza sofre e geme
dores de parto até que nasça o filho do homem”.Depois de alguns dias trabalhando com Frederico, em que aprendi muito, indaguei se ele gostava do que estava fazendo.

—Há tempo, Patrícia, estudo o comportamento do ser humano em todas suas faces. Não há trabalho que não goste. Sou feliz em ajudar.

Tantos fatos diferentes vi nestes poucos meses de desencarnada. O que será que os encarnados pensarão ao ler tudo que narro? Irão rir? Pasmarão? Vão descrer? Só desencarnando para conferirem.


continua...
bjs,soninha

sábado

Violetas na Janela XXIV


XXV
SENTINDO AS DIFICULDADES


Visitei, com Maurício, meus pais. Ao chegar em casa, assustei-me. Ao lado de minha mãe estava um espírito perturbado na maldade. Feio, sujo, com cabelos e barba crescidos, olhos verdes grandes e olhar cínico. Tentava incutir na minha mãe a idéia que eu sofria. Falava rindo, olhando-a fixamente.
—Patrícia sofre no Umbral. Está infeliz sua filha. Chora chamando por você.
Que lhe valeu ser boa, ser espírita? Isto não impediu que ela morresse. Ela sofre!
—Ora, — falei indignada — que maldoso!
Achei que Maurício fosse retirá-lo, porém meu amigo não fez nada. Olhei suplicando sem nada pedir.
—Patrícia, nós desencarnados não podemos fazer o que compete aos encarnados, mesmo amando-os demais. Sua mãe sabe lidar com estes irmãos infelizes. Ele lhe fala, mas escuta também. Ela pode responder e orientá-lo ou simplesmente não lhe dar atenção.
—Não posso ajudá-la?
—Você sabe?
Senti-me impotente e desejei mais que nunca aprender. Pensei por segundos, só sabia neutralizar forças nocivas com orações. Era o bastante. Concentrei-me e orei com fé para este irmão. Ele inquietou-se e saiu rápido da nossa casa. Aproximei-me de mamãe, falei a ela:
—Mamãe, sou feliz! Não dê atenção a aqueles que a querem perturbar. Amo-a!
Mamãe sentiu-se bem e foi com alívio que escutei seu pensamento. “Patrícia está feliz! Não vou mais pensar o contrário”.
—Ele voltará? — indaguei a Maurício.
—Acho que sim. Se voltar, sua mãe é livre para escutá-lo ou não. Confiemos no seu bom senso.
Fomos ver meu sobrinho. Ele estava adoentado, não dormira à noite, sentia os fluidos nocivos de encarnados e desencarnados. Como criança é sensível, sentia muito.
Por momentos, fiquei triste.
—Patrícia, tristeza não ajuda — Maurício me orientou. — Ore por ele, e lhe dê um passe, disperse estar energias negativas.
—Coitado, tão pequeno e sofre! Sinto-me impotente para ajudá-lo.
—Não pode sofrer no lugar deles. Cada um tem a lição para fazer que compete ao seu aprendizado. É por isso que nem todos desencarnados conseguem autorização para visitar encarnados queridos. Necessitam para estas visitas estar aptos, conscientes dos problemas que poderão encontrar. Ver entes queridos sofrendo não é fácil, principalmente sabendo que nem sempre é possível ajudá-los.
Dias depois, meus pais foram visitar minha tia. Maurício e eu fomos vê-los. Meu pai estava recebendo muitos ataques das trevas e, com ele, todos de casa. Mais que nunca esta frase veio à minha mente, como certa: 
“Onde há luz, as trevas tentam apagá-la”.
Minha priminha sensitiva estava preocupando a família. Nenhum espírito estava perto dela, irmãos perturbados não entravam na casa de minha tia. Mas eles podem agir de longe e estavam fazendo. 
Concentravam-se nela e faziam parecer que estava obsedada. Ela estava chorona e irritada. Faziam com que ela tivesse hábitos que eu tinha quando encarnada. Queriam que pensassem que era eu que a obsedava. Meu pai concentrou-se, orou, deu passes nela destruindo o vínculo que a ligava a estes irmãos nas trevas do erro. Ela voltou ao normal.

Fiquei preocupada. Maurício me esclareceu:
—Patrícia, estes irmãos necessitam de orientação e vamos doutriná-los nas reuniões de desobsessão.
—Mas, enquanto isto, irão perturbar.
—Os encarnados sabem se defender.Não viu seu pai orar e desintegrar pela força mental o que eles construíram? Ainda teremos estes irmãos como amigos.
Vendo-me um pouco decepcionada e indignada, Maurício continuou esclarecendo-me.
—Emmanuel disse sabiamente em um de seus, ditado ao Chico Xavier:
“Ninguém socorre um náufrago sem sofrer o chicote das ondas”. A luz sustentada na fé e na sapiência se fortalece com ataques contra. É com seus sopros que a engrandece. Um perturbador pode nos induzir ao mal. Neste ambiente hostil, o encarnado pode ceder e agir em oposição às leis divinas. O espírito perturbador pode nos fazer mal, sofremos com seu assédio. 
Presença esta que pode nos atingir até o corpo físico, mas em momento algum ele pode nos tornar maus. É neste ambiente hostil que o servo bom e fiel fortifica e consolida a sua vivência para Deus. Por isto, se impedirmos que um ente querido seja testado quando ele aqui estiver, pode acontecer que se sinta frustrado pois não tem certeza se, passando novamente pela mesma situação, terá forças para superá-la. 
Porque,Patrícia, há uma grande ilusão em muitos crentes quando esperam um céu sem problemas. Oposição e composição fazem parte da atividade da criação Divina.Dialogando sobre este ponto, me vem à lembrança o chamamento do grande mestre:
“Vinde a mim todos os que andais em sofrimento e vos achais carregados, eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para vossas almas. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve.” (Mateus, XI:28-30)
Meu amigo fez uma ligeira pausa e continuou a me elucidar.

—Veja bem, Ele não nos induz a pensar que nos irá proporcionar uma vida ociosa,mas,sim,que aprenderemos com Ele que as dificuldades que porventura venhamos a passar não devem ser vistas como castigo, mas sim como situações que nos põem à prova. Se vencidas, provamos o sabor da vitória sobre nossas inferioridades, se sucumbirmos, provamos o fel da derrota moral.
Veja bem, o seu caso: nasceu numa família igual a milhares de outras. Veio ao mundo físico, partiu e não deixou marcas. Você, ao ler e ouvir orientações sobre o aprimoramento da personalidade, acordou para o desenvolvimento do potencial humano de ser bom conscientemente, por livre e espontânea vontade. 
Você sente, saberá com detalhes no futuro, que teria um final de vida no corpo físico mais ou menos difícil. No entanto, com seu constante exercício na atitude do Bem quitou suas dívidas passadas, desencarnou tranquilamente.Na verdade, nem viu esta passagem, quando acordou estava entre amigos.Maurício silenciou e fiquei a pensar. Meu amigo tinha razão, agradeci com um sorriso sua preciosa lição.
Voltamos à Colônia, pensei bem em tudo que vi e ouvi de Maurício. Só então entendi o porquê de muitos internos na Colônia não terem autorização para ver seus familiares. Ao vê-los felizes, nos alegramos. Ao vê-los em dificuldades, temos que ser fortes, porque, às vezes, só nos resta chorar junto.
Sei de muitos casos tristes que ocorreram com internos da Colônia ao visitar familiares. Porque não é fácil para uma mãe ver seus filhos pequenos órfãos, às vezes jogados na rua ou com madrasta a lhes judiar. Ou para um pai ver seus filhos brigarem pela fortuna, ou um filho roubando o outro. E a filha ou o filho verem os pais maldizerem a Deus pelo seu desencarne. 
Não é fácil saber aqui, desencarnado, de traições e que entes queridos se afundam no vício. Necessitam os desencarnados estar preparados, firmes no conhecimento para superar estes fatos. Porque, não estando aptos, podem se desesperar.
Mesmo para os que aprenderam a amar todos como irmãos, os que pelo estudo e trabalho se tornam moradores na Colônia, servos do Pai, sentem os sofrimentos daqueles a quem amam. Só os que sabem entendem que tudo tem razão de ser, que mesmo os amando não podem interferir no livre-arbítrio deles, e que a colheita pertence a cada um.
Nestes momentos solidários com o sofrimento de entes queridos, me vem à memória o aparente desabafo do gigante e genial Nazareno, na sua célebre frase:
“Ó geração infiel e perversa! Até quando estarei convosco e vos sofrerei”? (Lucas, IX:41)
Eu, tantas vezes desejei ardentemente nestes anos ajudá-los, sofrer no lugar deles. Mas não se pode fazer a lição do outro. Aquele que faz a lição que cabe a outro, impede-o de aprender. No meu entendimento se comete uma grande falta de caridade privar alguém de aprender. Assim, sempre que os sinto com problemas, oro, mando fluidos de coragem, incentivando-os a aproveitar do melhor modo o aprendizado.As dificuldades vencidas nos impulsionam ao progresso, Problemas resolvidos, lições aprendidas.

continua...

bjs,soninha

quinta-feira

Violetas na Janela XXIII


XXIV

NATAL

Aproximava-se o Natal, sabia que minha família sentia falta, a saudade doía. Datas são guardadas para ter saudades. Épocas de festas em que a família se reúne são marcadas por lembranças e saudades. Recebia muitas orações, recados e incentivos fortes para que fosse feliz. Era e sou. Pensava neste fato, quando Maurício veio me visitar.
 
—Maurício — indaguei —, sou feliz. Mas os meus familiares sofrem de saudades. É justo? Às vezes penso que não devo ser tão feliz.

Meu amigo riu.
 
—Patrícia, você é muito querida e amada. A saudade existe e existirá, mas o tempo a suavizará. O que eles desejam a você?
 
—Que seja feliz!
 
—Você, sendo feliz, está fazendo a vontade deles. Não é egoísmo. Se faz o que eles pedem, eles acabarão fazendo o que você lhes deseja. Que não sofram e que estejam bem. Muitos como você parecem sentir uma pequena culpa por estar bem e os entes queridos não. Entretanto, não se pode pensar assim. Deve, sim, procurar estar cada vez melhor, aprender, saber, só assim se tornará apta a distribuir alegrias. Só quem aprendeu a amar irradia Amor e Paz.
 
O Natal na Colônia é lindo! 

Jovens e crianças organizam recitais, danças, palestras, encontros para conversar e ouvir músicas. Isto é para que ocupem o tempo e não sintam a saudade dos encarnados, distraem-se suavizando suas próprias lembranças.
 
O grupo de jovens organizou visitas a outras Colônias e me convidou, aceitei contente. Iam apresentar uma peça de teatro e cantar. Jovens são animados. Fazem teatro como amadores, embora, às vezes, haja os que têm talento de artista. São peças bonitas, sadias, que sempre trazem ensinamentos profundos. Muitas das canções apresentadas são conhecidas dos encarnados, principalmente as natalinas. 

Outras lindíssimas são de compositores do Plano Espiritual. Crianças e jovens têm seus corais e estão sempre se apresentando em festividades da Colônia e, quando convidados, vão a outras Colônias.Fazem muito sucesso, apresentam-se muito bem. A música é uma grande terapia. 

Adultos também podem fazer parte de corais, grupo de músicos, como também fazem teatros.Fomos de aeróbus bem devagar, foi uma viagem deliciosa. A Colônia vizinha, como todas, é muito bonita. Fomos recebidos com alegria. Após a apresentação, ficamos a conversar, trocando idéias. Gostei muito deste passeio. Na nossa Colônia, há uma praça grande, com canteiros em formato de corações com flores azuis e brancas, flores miúdas de agradável aroma. 

No centro da praça há um palco redondo, onde corais costumam apresentar-se. Há muitos bancos confortáveis e alguns de balanço. Chama-se Praça da Consolação. Indaguei Frederico o porquê do nome.

—Quando a Colônia foi planejada, esta praça foi feita para que pudessem seus habitantes reunir-se para recrear. Muitos desencarnados saudosos vinham para se consolar. Daí o nome.

Um grupo de jovens estrangeiros, da Itália, veio nos visitar. Apresentaram-se na praça, nos presenteando com lindas canções em italiano. Foi um sucesso.

—Pensei — disse a Lenita — que iria entender tudo que cantassem.
 
—Entender pelo pensamento é para espíritos que sabem. Os que se afinam perfeitamente entre si conseguem transmitir pensamentos. Com a mente fazemos muito,mas necessitamos saber. O pensamento tem uma só forma. São poucos os desencarnados que sabem usar desta comunicação. A maioria tem que conhecer o idioma. Todas as Colônias têm curso de Esperanto na tentativa de melhor comunicação entre nós.
 
—Quero aprender tanto o Esperanto, para transmissão de pensamento. Vou marcar na minha lista. Rimos felizes. Minha lista já estava enorme. Tenho um caderninho em que marco tudo que quero aprender e os cursos que quero fazer. Muitos já fiz, outros farei com a permissão do nosso Pai Maior. O Esperanto é bastante divulgado no Plano Espiritual, todas as escolas têm curso, como também há muitos livros e intercâmbio deste idioma entre as Colônias por toda a Terra.

Os organizadores da Colônia planejam longa programação nesta época do Natal. Na praça todos os dias há apresentações de peças teatrais, corais, músicos, tudo muito alegre. O Educandário fica todo enfeitado, fazem presépios, enfeitam árvores com luzes e bolas coloridas, lembrando enfeites dos encarnados. Tudo é feito para alegrar as crianças.

Trabalhadores vestem-se de palhaço, há jogos, danças e a criançada se diverte. Não há trocas de presentes, mas votos sinceros de harmonia e paz.
 
Cada ano, na época de Natal, há um ensinamento como objetivo. Neste ano foi: “A importância de Jesus ter encarnado na Terra”. Há algumas faixas com estes dizeres pela Colônia, como também dizeres saudando seus moradores e hóspedes. Por toda a Colônia há palestras sobre o tema deste Natal. É muito bonito, educativo e emocionante.

Já pensou se Jesus não tivesse encarnado entre nós?
 
Fui muitas vezes ao Educandário com Lenita e lá nos encontrávamos com Ana.O Educandário é grande e nesta época fica mais bonito ainda. Seus parques ficam enfeitados, procuram seus orientadores organizar muitos lazeres e distrações, quase todos ao ar livre. Conversávamos muito, reuníamo-nos em grupos, trocando idéias sobre as palestras ouvidas. 

Quando Lenita via algum jovem triste, isolado, ia até ele e me arrastava junto.

Aproximávamo-nos alegres e nos apresentávamos. Ela tem uma conversa agradável, logo o jovem se entusiasmava e o levávamos para uma turma. A Colônia fica nesta época muito movimentada. Encontrei com muitos conhecidos e a conversa rolou...
 
Vi meus familiares várias vezes pela televisão.
 
O Natal passou em festa, embora os trabalhadores se descobrissem em trabalho como em todas as épocas de festas de encarnados, nas quais há muitos abusos. A passagem do ano aqui é mais simples. A maioria faz votos de renovação. Com alegria cumprimentam-se desejando alegrias e esperança. 

Logo após 1º de Janeiro, tudo que recorda o Natal é retirado e tudo volta ao normal.

Meu primeiro Natal no Plano Espiritual foi de muita alegria. Como pode alguém sentir tristeza comemorando um nascimento como o de Jesus, sabendo da enorme importância que seus ensinamentos têm para nós todos?

continua...

bjs,soninha

terça-feira

Violetas na Janela XXII


XXIII

FÉRIAS


A reunião foi na escola, na sala de palestra. Os professores estavam presentes no horário marcado. D. Dirce presidiu a reunião, ela orienta somente a parte da escola que alfabetiza. Sempre tão amável, cumprimentou-nos sorrindo.

—Boa tarde! Estamos no término do ano letivo e iremos, como todo ano, fazer uma festinha para os que terminaram o curso. Todos os cursos da Colônia têm tempo certo para terminar.A maioria segue o calendário dos encarnados. Falando em calendário, aqui temos horário, dia, ano, tudo como os encarnados. 

As Colônias e Postos de Socorro seguem a marcação do tempo do espaço físico a que estão vinculados. Exemplo: numa Colônia na Europa, no espaço da Áustria, o horário é igual ao da Áustria, ou seja, a Colônia está no espaço espiritual, a Áustria no espaço físico. A Colônia São Sebastião segue o fuso horário do Brasil, da cidade de São Sebastião do Paraíso.Quando são duas horas na cidade física, são duas horas na Colônia. 

Aqui seguimos horários, tem hora para tudo, e são obedecidos. Para ter ordem é necessário disciplina. Há horários para turnos de trabalho, para estudo, etc. Os cursos começam no início do ano e normalmente terminam no final do ano. Raramente se faz num ano somente este curso de alfabetização. Para os que querem somente ler e escrever, um ano de estudo basta. Normalmente, este curso é feito em três anos, nos quais os alunos recebem conhecimentos equivalentes ao primeiro grau. 

Porém, há os que têm mais dificuldades para aprender e demoram mais tempo. Concluem o curso os que querem, mas só em casos especiais não terminam. Os que o concluem têm muitas opções, podem continuar a estudar ou dedicar-se a outras tarefas, contribuir com mais horas ou trabalho útil. Todos os alunos trabalham. Trocamos idéias sobre a melhor maneira de ensinar. E em rápidos comentários foram programadas as festividades. D.Dirce, continuando a reunião, disse:

—As férias se aproximam e vamos pensar no melhor modo de passá-las.Fiquei espantada e acho que demonstrei. Carinhosamente, D. Dirce explicou, dirigindo-se a mim, a novata do grupo.

—Patrícia, você é a primeira vez que colabora conosco, os outros estão há mais tempo aqui. Temos conhecimento de que você não deverá voltar no próximo ano, sentimos, mas sabemos que irá aprender em curso como é viver no Plano Espiritual. 

Agradecemos sua colaboração e esperamos que tenha gostado de trabalhar conosco.Temos férias, ou períodos de descanso. Todos os trabalhadores têm um período após certo tempo de trabalho para descansar, ou cuidar de problemas pessoais. 

Enfim, para dedicar-se ao que quiser. Temos férias como os encarnados têm, mas nem tanto.Normalmente são férias de duas semanas, no máximo três, ou poucos dias. Tanto os alunos como os professores desta escola têm férias no período do Natal.Para os alunos, é um período de descanso após uma etapa de estudos. Também todos os anos há a festinha para os que concluíram o curso. 

Nós, os professores, merecemos as férias, embora eu saiba que nenhum de nós fica sem fazer nada. Aproveitamos para visitar familiares encarnados e desencarnados, participamos de socorro extra a irmãos que sofrem. São poucos dias, iniciaremos o trabalho na segunda semana de Janeiro.

—Não gostaria de ficar sem fazer nada, eu trabalho há tão pouco tempo — falei.

—Se você, ao terminar as aulas, quiser trabalhar, peça orientação de amigos — D. Dirce aconselhou. 

—Porém, se quiser curtir as férias, verá como o Natal é lindo na Colônia. Mas o motivo também desta reunião é a avaliação dos alunos. Vocês vão avaliálos conforme o aproveitamento de cada um, para que possamos separá-los em grupo para melhor aprendizagem.

A reunião foi realizada com grande aproveitamento. Quando saí da escola fui conversar com Frederico e comentei:

—Frederico, não pensei que desencarnados tivessem férias.

—Nem todos têm, eu nunca as tive. Não necessito, trabalhar faz parte de mim.

Mesmo de licença como agora, procuro ser útil. Mas todos os que trabalham têm direito a um descanso. Os orientadores das Colônias organizam os trabalhos para que todos tenham um período livre para descansar. Este período é livre para fazer ou passá-los como quiser, dentro das normas da Colônia. 

Muitos passam com os entes queridos encarnados ou desencarnados, vão visitá-los e muitos os ajudam.Como também podem dedicar-se a outras tarefas, visitar outros locais. Para os novatos na Colônia, estas férias são importantes, principalmente aos jovens. Faz parte da adaptação.

—Não quero ficar sem fazer nada neste horário. Mas não sei o que fazer, ou o que posso fazer. Frederico sorriu.

—É bom que aprenda a fazer muitas coisas, e a se dedicar no futuro pelo que possa ser mais útil a você e aos outros.

Quase não dormia, tinha muito tempo. Pedi a Frederico:

—Não posso ajudá-lo por mais tempo?

—Sim, alegro-me por tê-la ao meu lado.

—Será que posso ser realmente útil?

—Quando queremos, somos — respondeu-me animando.

A escola amanheceu em festa no dia marcado para as festividades de encerramento. A entrega dos certificados foi à tarde. A alegria é sincera. O certificado não é um comprovante, o que interessa realmente é o que se aprendeu. Mas não deixa de ser uma conquista e os que receberam estavam felizes.

Agradeci a meus colegas e a D. Dirce pelo carinho, atenção e ajuda que recebi neste pouco tempo que ali estive.Conversei muito com D. Dirce. Nossa orientadora disse que ia visitar familiares e, após, unir-se a um grupo que ia trabalhar junto aos drogados.

—Nas minhas férias — completou — faço sempre este trabalho. Aqueles que se perdem no vício são os verdadeiros escravos, necessitados de liberdade. Gosto muito de colaborar neste socorro. Mas é ensinando que me realizo. Amo ensinar.

—Também gosto — respondi — mas estou mais interessada em aprender. D.Dirce, eu sou muito grata à senhora. Obrigada por tudo.

O coral infantil veio nos brindar com lindas canções infantis, natalinas e alguns salmos. Estavam todos vestidos iguaizinhos, de amarelo clarinho. São lindas, não há crianças feias, todas saudáveis e felizes. Gostam de cantar, encantam quem as escuta. São tão alegres que irradiam felicidade:

Lúcio, um dos meus alunos, aproximou-se de mim e me entregou um poema que tinha feito. O poema simples exaltava o mestre e a alegria de aprender. Agradeci comovida.

—Patrícia, — disse ele — encarnado fui um doente mental, um excepcional. Há tempo desencarnei, fui socorrido, aos poucos fui me recuperando e passei a trabalhar, a fazer pequenas tarefas. Orientadores insistiram para que estudasse, há pouco tempo interessei-me em aprender. Envergonhava-me das minhas dificuldades. 

Quando encarnado, escutava muito que era burro, sem inteligência. Sofri muito, tive muitas dores, fui desprezado, passei fome, frio e fui muito doente. Desencarnei adulto. Aqui é tão diferente! Amo a Colônia! Sinto que não fui deficiente em outras existências. Mas não quero recordar o passado, temo-o. Orientadores me disseram que sou como um fruto verde, não estou preparado, pronto para recordar o passado. 

Realmente, não quero. 

Não querendo recordar nada, tenho que aprender novamente e agora faço com gosto.

Lúcio afastou-se, fiquei a pensar. D. Dirce, que se achava perto, vendo-me pensativa aproximou-se.

—Por que está tão pensativa?

—Lúcio me contou que encarnado foi um excepcional. Que sente que foi inteligente, mas não quer recordar o passado, prefere aprender de novo.

—Patrícia, nenhum encarnado é excepcional sem motivos. E os motivos são vários. Lúcio, temendo o passado, não quer recordá-lo. São deficiências que devem ter origem pelo abuso de uma inteligência brilhante. Aqui se tem o cuidado de não fazer da recordação do passado um sofrimento e um empecilho ao crescimento Espiritual. 

O passado passou, não se muda. Construímos o presente e o futuro. Se Lúcio quisesse recordar, o departamento que ajuda muitos a fazê-lo iria estudar seu caso, só o ajudaria a recordar se fosse para seu próprio bem. Muitos são imaturos para isto. Recordando seu passado, se fosse instruído, lembraria e teria seus conhecimentos.

—Mas ele tem dificuldades para aprender.

—Ele ainda não conseguiu se livrar por completo de sua deficiência. Mas está aprendendo, não só instruindo como também as lições Evangélicas são fixadas em sua mente. Reeduca-se

Meus alunos me presentearam com abraços, agradecimentos e com um buquê de flores. Fiquei emocionada. 

A festa foi linda!

O Natal se aproximava. Natal sempre foi festa para mim, embora papai sempre nos alertasse que datas não representam nada e que o Natal passou, para a maioria, a ser uma festa material.

Era a primeira vez que passava o Natal desencarnada e estava curiosa.

continua...

bjs,soninha

sexta-feira

Violetas na Janela XXI


XXII

HOSPITAL


Visitei o Laboratório onde nosso amigo Antônio trabalha (Antônio é um dos personagens do livro Reparando Erros, de Antônio Carlos.). Ele é um estudioso e pesquisador. O Laboratório (assim o chama) é um lugar de estudos, grande e muito bonito, onde fazem remédios. São drogas que colocam em águas para tratamento a
desencarnados e para os encarnados. O Laboratório fica na parte dos fundos do Hospital da Colônia São Sebastião. Normalmente, todas as Colônias têm esta parte laboratorial.São seis estudiosos que trabalham lá. Antônio tem o maior carinho e orgulho deste recanto. Recomendou-me ao entrar:

—Menina Patrícia, preste atenção e não esbarre em nada.

Mostrou-me tudo. Eles pesquisavam novas fórmulas de remédios. No momento que os visitem, estavam empenhados pesquisando um tratamento mais eficaz para desintoxicar desencarnados viciados em tóxicos. Os viciados socorridos ficam na ala do hospital perto do Laboratório.

Antônio e seus colegas trabalham e estudam muito. Amam o que fazem. E muitos encarnados pensam que os desencarnados não trabalham, nem estudam, ou pesquisam. Como Deus é misericordioso não nos dando a nós, desencarnados, a ociosidade.

—Antônio, — indaguei — este remédio só serve para os desencarnados se desintoxicarem?

—Estamos pesquisando para este fim. É triste ver estes irmãos sofrerem. Mas nada nos impede de estender também a ajuda a encarnados intoxicados.

—E aí, como fazem para que os encarnados tenham este tratamento?

—Bem, sempre que descobrimos um remédio, uma nova fórmula de tratamento, podemos passá-la a encarnados estudiosos e afins. Também socorristas que trabalham em ajuda a viciados podem administrá-los a estes.

Fiquei fascinada com este local de estudo e pesquisas.

Conheci também o lar de Antônio Carlos, ou seu recanto, como o chama. Ele gentilmente me levou. Mora em outra Colônia tão bonita e agradável como a de São Sebastião. Aliás, todas as Colônias são lindas! Ele mora com uma de suas filhas numa casa muito bonita. Recebeu-nos festivamente.

—Papai não pára aqui — disse Neuzeli. — Diz que mora aqui, mas vem só a passeio.

Sorrimos alegres.

O recanto do Antônio Carlos é um quarto na casa que tem uma estante abarrotada de livros, uma escrivaninha, uma cadeira e um pequeno sofá.

—Aqui escrevo a maioria dos meus romances — explicou. —Venho aqui quase só para escrever.

—Você não escreve também na Casa do Escritor? (Casa do Escritor é uma pequena Colônia dedicada à Literatura construtiva.)

—Sim, tenho lá também uma sala que utilizo. Tenho muitos afazeres, graças a Deus.

Antônio Carlos é uma pessoa estimadíssima, alegre, instruída e simples. Foi um passeio agradabilíssimo.

Visitei Carlos é uma pessoa estimadíssima, alegre, instruída e simples. Foi um passeio agradabilíssimo.

Visitei o hospital com Maurício. Ele foi trabalhar e me levou. Hospital é sempre hospital. Não é lugar de alegrias, também não é de tristezas, sim de esperanças. É grande, enorme. Os hospitais das Colônias são normalmente enormes. As Colônias grandes têm vários hospitais repartidos em alguns dos seus ministérios. Nas Colônias médias e menores, normalmente há um hospital, mas sempre grande. Os imprudentes são muitos.

Nas Colônias seus governantes dão muita atenção ao bem-estar, à saúde espiritual de todos seus abrigados. Governantes? Sim, porque em todos os locais, até no Plano Espiritual, tem alguém responsável que orienta e administra para o melhor bem-estar de todos.

É sempre bom visitar um hospital, seja no plano material ou Espiritual. Passamos a entender melhor e ver com devido tamanho nossos problemas e despertar em nós a necessidade de fazer algo em favor dos que sofrem.

Maurício ama o hospital, hospitais são o lar dele.

O Hospital de crianças está na parte do Educandário e é muito bonito e simples.Também é grande. Nele ficam crianças e jovens em recuperação. Normalmente não trazem enraizadas doenças, e os reflexos deles são mais fracos. Logo estão bem.

O hospital que visitei é para adultos. Conheci a parte destinada aos doentes em estado melhor. Maurício me disse que tinha muito tempo para conhecê-lo todo, o restante ficaria para mais tarde. O hospital é cercado por jardins e canteiros floridos, com bancos confortáveis onde os internos em recuperação passeiam e conversam.

—Maurício, você mora aqui?

—Não, tenho meu cantinho na Terra, no Posto de Socorro do Centro Espírita. Trabalho lá e aqui.

A frente do hospital é muito bonita, com grandes pilares. É pintado de branco e bege claro. (As Colônias e Postos de Socorro têm seus prédios pintados diferente do Plano Físico. Após serem plasmadas, as cores não desbotam ou envelhecem. Tudo continua novo, sustentado por aqueles que plasmaram. Só mudam de cor se, por algum motivo, o querem. As Colônias têm seus prédios com cores claras, nem todos têm as mesmas cores, como também diferenciam por todo o Plano Espiritual.) Na entrada está a recepção. Ali é informado todo o andamento do hospital, desde onde se acham os trabalhadores e quem são os internos.

O hospital tem muitas dependências, ou partes, ou alas, ou pavilhões. As partes são chamadas aqui, nesta Colônia, de alas. Digo nesta Colônia, porque as designações variam de loca. As alas repartidas são designadas por letras e números. A, B, C. 1, 2, 3... Na ala direita nos fundos, estão as moradias de alguns de seus trabalhadores. As enfermarias são salas grandes com banheiros e bem ajeitadas, não são todas do mesmo tamanho, umas são maiores, outras menores. Existem enfermarias masculinas e femininas.

Após a recepção, há o Salão da Oração ou Prece, onde internos oram independente da religião que tiveram quando encarnados. Neste Salão há somente cadeiras confortáveis, suas paredes são brancas e sem adornos. Na frente há uma parte mais alta, onde, em certas horas do dia, orientadores fazem oração em voz alta. Muitos internos imaginam nesta parte mais alta, dez centímetros, altares, imagens, oratórios, etc.,que gostam e onde costumavam orar. Neste Salão há uma quantidade muito grande de fluidos salutares, beneficiando os que oram. Na frente do Salão de Orações, há uma pequena biblioteca que os internos livros doutrinários, O Evangelho para os que querem ler.

Infelizmente são muitos os que estão internos e o tempo de permanência depende deles mesmos.

Segui Maurício que ia explicando o que tinha em cada ala. Entramos numa enfermaria. Estava em zunzunzum. Conversavam entre si. Quando entramos, todos se calaram e olharam amorosamente para ele. Com carinho e atenção, foi de leito em leito.Conversava, sorria, animava e esclarecia. Fiquei ao seu lado só observando. Quando saímos da primeira enfermaria, indaguei.

—Por que pararam de conversar com a sua chegada?

—Talvez porque sabem que lhes dou atenção e carinho. Por que você não tenta me ajudar?

—Vou tentar. Maurício, o hospital recebe muitas visitas?

—O hospital recebe visitas de grupos de estudos e de pessoas como você que querem conhecer e aprender. Os internos também são agradecidos pelas visitas. A maioria dos internos recebe visitas, em dias e horários próprios, de amigos e parentes.Estas visitas lhes são muito agradáveis.

A enfermaria seguinte era feminina. Pus-me a ajudar, ajeitei-as no leito, indaguei como estavam. Só de ter alguém para falar de suas mágoas e queixas, sentem-se melhores. Fui com Maurício a cinco enfermarias. Cansei. Pela primeira vez na Colônia senti-me cansada.

—Patrícia, agora chega — disse Maurício. — Por hoje me ajudou muito.Orgulho-me de você. Logo estará descansada. Desprendemos muita energia ao lidar com necessitados. Vá para casa, alimente-se e faça exercícios para recuperar as energias.

—Você não se cansa?

—Não, tenho muitos anos de prática e muitos conhecimentos a mais que você. Irá aprender com o tempo. Você, como já disse, me ajudou bastante.

Sabia que Maurício estava sendo gentil, mas fiquei contente. Ele acompanhoume até a saída e voltou, ainda tinha muito o que fazer no hospital.

Sempre que fazia algo de útil, ficava alegre. Pensei: se papai souber, ficará contente e mamãe achará o máximo. Voltei devagar apreciando as ruas e as pessoas que por elas transitavam. É tão bonito, agradável andar pela Colônia! Cheguei em casa e já estava descansada e sentindo-me muito bem.

No outro dia, iria a uma reunião da Escola onde trabalhava. Este trabalho me enchia de alegria. Falar aos amigos com quem trabalhava me dava segurança e contentamento.Estava curiosa para saber de que tratava a reunião

continua...

bjs,soninha



terça-feira

Violetas na Janela XX


XXI

DOUTRINAÇÃO


Após a oração iniciou-se a doutrinação dos desencarnados. Apagaram as luzes para facilitar a concentração, evitando distrações visuais, proporcionando assim as projeções mentais que iriam agir com mais facilidade no mundo astral. Encarnada sempre gostei de prestar atenção nas doutrinações aos desencarnados.

Cada desencarnado tem sua história e algumas bem interessantes. Agora, vendo a orientação, o socorro do lado de cá, gostei mais ainda, é bem mais fascinante. Mas vendo tantos mutilados, muitos com sinais de torturas, fiquei um pouco apreensiva. Era um grupo que foi libertado do Umbral pelo trabalhadores do Centro, onde estavam presos como escravos. Alguns encontravam-se abobalhados, observei e senti dó.

Maurício me disse baixinho:

—Patrícia, nada é injusto. Colhemos o que plantamos. A reação é de conformidade com a ação. Pelo menos dois destes espíritos devem falar pela incorporação um pouco de suas vidas. Verá que ignoravam os ensinamentos de Jesus.Viveram encarnados para o gozo, para a matéria e prejudicando o próximo. Dois deles foram feiticeiros ou macumbeiros, fazendo mal a irmãos por dinheiro. Usaram de desencarnados como empregados, estes os serviram, depois foi a vez de eles os servirem.

Todos vão ser socorridos, curados e levados para recuperação ao hospital da Colônia. Muitos dos necessitados seriam incorporados, entre eles muitos não sabiam que desencarnaram. Normalmente, comparando seus estados, o desencarnado com o encarnado, compreendem que o corpo físico morreu. Quando nós desencarnados chegamos perto de um encarnado, nota-se logo a diferença, a não ser que estejamos completamente iludidos e, não querendo aceitar a realidade, fingimos não perceber.

Comparando-me com um encarnado, sinto-me leve, solta, o perispírito é um corpo muito mais delicado e sutil que o material.

Maurício, sabendo o que pensava, aproveitou para me esclarecer:

—Em Centro Espírita onde o Bem é a meta, a incorporação é feita para ajudar. O desencarnado necessitado de auxílio recebe orientação e cura nestes trabalhos de caridade. A percepção de estar encarnado ou desencarnado é essencialmente mental. 

Como há o medo da morte, do desconhecido, o desencarnado mantém-se iludido de que ainda está na carne. Mas há desencarnados que conhecem seu estado e gostam de incorporar. São os que ainda não se realizaram espiritualmente.

O corpo mental encontra o prazer nas necessidades físicas. Estes são os que necessitam de uma orientação séria e honesta. Mas, enquanto não recebem, a maioria não quer nem receber ou mudar, incorporam em médiuns invigilantes, sem estudos, que não frequentam lugares que seguem a orientação de Kardec. Porque incorporados sentem florescer instantaneamente todos os desejos mundanos. Em muitos casos, fazem até certos favores a encarnados.

—Puxa! Não pensei que existissem desencarnados que gostassem de se sentir no corpo carnal!

—Os que idolatram a matéria, e gostam somente do prazer, e não da dor que o corpo possa sentir, gostam de incorporar.

Mas prestemos atenção agora, as doutrinações começaram.Dois do grupo de escravos que tanto me impressionou foram os primeiros a receber ajuda pela incorporação. De fato, falaram um pouco de si. Fizeram maldades, tendo oportunidades não fizeram o Bem nem a outros e nem a si mesmos.Este Bem a si mesmo é que tiveram oportunidade de aprender, instruir-se moralmente e religiosamente e não o fizeram. 

Viveram encarnados sem se preocupar com a desencarnação. Sem pensar que fossem obrigados a colher do que plantaram. Todos do grupo tiveram os perispíritos recuperados, curados, e ficaram numa outra fila para serem levados para a Colônia.

Fiquei mais aliviada ao vê-los já sem sofrimento, desejei de coração que se recuperassem espiritualmente. Que a dor tivesse conseguido ensiná-los e que se voltassem realmente a Deus e se afastassem do mal. O senhor que se assustou comigo foi despertado e recebeu através dos médiuns orientações; preocupado com suas dores, esqueceu que me viu. 

Numa comparação com o encarnado, entendeu que desencarnara. Foram também socorridos muitos espíritos que estavam com o perispírito lesado, necessitavam se harmonizar. Estes lesados eram os que se sentiam como encarnados com todas as suas doenças. A impressão é forte, o não entendimento da desencarnação faz que continuem doentes.

Outros, o remorso destrutivo levou a lesar o perispírito. Como é imprudente a maioria dos encarnados! A morte do corpo não parece ser para eles, quando desencarnam e sofrem, desesperam-se, perturbam- se.
O moço com quem conversei antes ficou na fila. No começo parecia divertir-se, mas comportou-se educadamente. Depois, prestando atenção nas orientações que outros desencarnados recebiam, começou a chorar baixinho. Inteligente, entendeu que desencarnou. Lourenço veio em sua ajuda, abraçou-o e mimou-o como um nenê.

Nos braços de Lourenço, ele recordou como desencarnou. Teve medo. Que seria dele? Lourenço mostrou-lhe o lugar para onde iria, seria levado para a escola na Colônia.Tranquilizou-se e adormeceu. Lourenço colocou-o na outra fila, não necessitaria de incorporação.

Ainda bem, não pude deixar de pensar, não deve ser agradável estar desencarnado e agir como encarnado. Infelizmente sei que com a maioria acontece isto. A desencarnação é natural e para todos. O corpo morre e a maioria sente-se perdida e perturbada. Pior ainda quando não fez boas ações, é terrível quando se fez muitas más.

A desencarnação não pode ser muito diferente do modo de vida que tinha quando encarnado. Quem cultiva a matéria a ela fica preso, quem entesourou bens espirituais é um bem-aventurado no Plano Espiritual. Não se deve viver encarnado só pensando na morte, mas também não se deve ignorá-la. Não pensar na morte para si, e não entender que seja este fato tão normal, acarreta muitas perturbações, porque o perispírito é cópia exata do corpo, sente-se as mesmas necessidades até entendê-las e superá-las. Aquele moço achou ali, no Centro Espírita, o entendimento. 

Com os outros, seria levado à Colônia onde aprenderia a viver com desencarnado. O medo que teve foi do desconhecido.Que seria dele? Vem forte em muitos a idéia do inferno. Ao entender que não é tão complicado, o medo passa e vem a esperança.Um homem desencarnado, que estava na fila para receber orientação, me chamou atenção. Estava imóvel, duro, sem se mover. Ao ser colocado perto de um médium, recebeu de um dos trabalhadores desencarnados uma carga magnética e também sentiu o calor do corpo físico. 

Sentia dores por todo o corpo, devagar, conseguiu mover alguns músculos. Alegrou-se por se mover, com ajuda do orientador encarnado conseguiu responder sua saudação.

—Boa noite!...

Vencendo as dificuldades, foi conseguindo falar. Quando encarnado foi orgulhoso, senhor de muitos bens, sua vontade era lei. Cometeu muitos erros. Gostava muito de si mesmo, de sua imagem, era forte e arrogante. Mandou fazer uma estátua sua.Realmente o artista a esculpiu muito bem. A estátua ficou linda. Foi colocada em uma praça para ele ser lembrado do benfeitor que foi. Porém, sempre há um porém, a morte veio destruir seus sonhos e ilusões. Desencarnou por um infarto. Não se conformou, queria estar encarnado. Inimigos o perseguiram por anos, aos poucos, foram abandonando-o. Mas o tempo passou e tudo mudou, sua casa, suas terras.

Só a estátua continuava lá. E perto dela foi ficando, até que fez dela seu escudo, como se fosse seu corpo. Colou-se a ela. Sentiu seu corpo endurecer e não conseguiu mover-se mais e nem falar. Só escutava e via o que estava à sua frente. Fazia sessenta anos que desencarnara. 

O orientador pediu para ele rogar perdão ao Pai e que fizesse um propósito de viver conforme as lições do Mestre Jesus. Ele o fez. Estava sendo sincero. A dor lhe cansou e não tinha mais nenhuma razão para ter orgulho.Foi caminhando, embora apoiado por um socorrista, à fila que iria para a Colônia. Também iria para um hospital. Chorava, suas lágrimas corriam abundantes fazendo-lhe bem.

O orgulho e a arrogância são duas chagas que acabam por sangrar, trazendo muitos sofrimentos.Com grandes proveitos encerraram-se as doutrinações. Todos os socorridos foram conduzidos ao aeróbus para serem transportados à Colônia. Este fato acontece na maioria dos Centros Espíritas. Mas pode ser que socorridos sejam levados a Postos de Socorro e, em outros Centros, podem ficar em locais de amparo, socorro, pequenos hospitais nos Centros mesmo.

Foi feita a Oração de Cáritas e de encerramento. Os trabalhadores desencarnados do local jogaram fluidos, energias benéficas sobre os presentes. Maurício novamente elucidou-me.

—Os encarnados e mesmo grande parte dos desencarnados ainda não vivem a fé, a fidelidade com Deus; porque, se tivessem a fé, cada indivíduo seria um pólo dinâmico de energias balsamizantes, harmoniosas e curativas. Mas, como ainda não chegamos lá, ao final da reunião há uma união mental entre os responsáveis por este local. Consequentemente eles projetam energias mentais, plenas de luz, paz e afeto, saturando o ambiente e as pessoas de vitalidade. 

Esclareço que estas energias só permanecem quando sustentadas por quem as emite. Apesar de todo o ambiente estar assim saturado, só se beneficiam aqueles que através do sentimento afetivo sintonizam-se com estas vibrações de amor e afinidades espirituais.Estes fluidos, energias, são maravilhosos. Muitos desencarnados choraram emocionados. Parece uma chuva fininha colorida que cai do teto, iluminando suavemente o local, o aroma é agradável. Concentrei-me e abri meu coração, quis receber. Por segundos senti-me molhada, senti a luz entrando nos meus poros, é uma alegria indescritível.

A reunião terminou, acenderam as luzes. Os encarnados conversaram amigavelmente, aproximei-me de minha mãe e a beijei, depois, papai. Saíram todos, os encarnados apagaram as luzes e fecharam o local. Mas não ficou escuro no Plano Astral. O trabalho continuaria por muitas horas. Minutos após, Maurício me chamou para voltarmos à Colônia. Ainda não sabia volitar até a Colônia sozinha. Lourenço nos acompanhou. Para sair da Colônia, os internos necessitam de autorização. 

Os que já têm conhecimento e trabalham são chamados de moradores, estes também necessitam de autorização . Só transitam sem esta autorização os que trabalham nos dois planos, na Crosta e na Colônia. Todas minhas vindas ao Plano Físico eram com permissão, e só depois de muito tempo é que pude vir sozinha. As Colônias são lugares seguros, de paz, saturadas de energias edificantes. Entre os encarnados as energias são heterogêneas e podem ser perigosas para alguns desencarnados que não estão preparados.

Estava feliz. Queria aprender a ser útil, sabia que não basta só vontade para servir, necessitava saber. Sempre amei o Centro Espírita, a Doutrina Espírita. Ter assistido a uma reunião proveitosa alegrou-me mais ainda. Olhando o firmamento com suas inúmeras estrelas, agradeci a Deus. Tinha muito que agradecer, nada a pedir, mas roguei: “Pai, alimenta minha vontade de aprender e de ser útil.”

Volitar é tremendamente agradável...

continua...

abçs, soninha

sexta-feira

Violetas na Janela XIX


XX
 NO CENTRO ESPÍRITA

Quando estava para começar a reunião, Maurício veio me buscar e fomos para o salão. Ficamos na parte direita de quem entra e sentamos. Este espaço é reservado a visitantes desencarnados. Sentamos em cadeira plasmada acima do solo material e não nas cadeiras dos encarnados. Conhecia todos os encarnados presentes, foi prazeroso vê-los.Fiz a eles uma oração de gratidão, oraram muito por mim.Havia muitos desencarnados,trabalhadores,visitantes como eu e os que iam ser orientados e socorridos.Estes últimos formavam filas que os trabalhadores do Centro organizavam para que tudo saísse a contento.

Vi o moço que conversou comigo na fila. Olhava-me fixamente. Ao olhá-lo, ele sorriu e acenou a mão. Maurício, vendo meu constrangimento, sorriu. De novo, não soube o que fazer. O moço continuou a acenar a mão, acenei a minha num tchauzinho. Ele ficou contente, acomodei-me atrás de Maurício para que ele não me visse mais.

Um encarnado se apresentou acompanhado de um desencarnado, visivelmente atuado, e fez uma pergunta sobre um assunto que lhe afligia. Para nós desencarnados este senhor era portador de mediunidade.

—Todos os médiuns têm que frequentar um Centro Espírita?

—Todos nós somos livres para decidir o que queremos. Temos o nosso livrearbítrio. Frequentam o Centro Espírita os que querem. Trabalham com a mediunidade os que querem ser úteis. O sensitivo precisa da assistência, da presença de amigos desencarnados. Esta é a razão de os médiuns normalmente precisarem ir a um Centro Espírita. Estes amigos desencarnados são espíritos bons que nos ajudam na vida cotidiana. Eles vão aconselhar, evitar que zombeteiros e espíritos necessitados possam perturbar o sensitivo. 

Para que haja esta ajuda, estes desencarnados, que são espíritos que querem crescer e trabalhar no Bem, condicionam a companhia do médium também a estes trabalhos. Se o médium encarnado não participa de um grupo, o desencarnado vai continuar participando e ajudando. Não irá parar porque o encarnado não quer trabalhar,sóque não irá ajudá-lo. O desencarnado dispõe-se a ajudar o médium, mas lhe quer como companheiro, que trabalhem e cresçam juntos. Nos trabalhos de um Centro Espírita ambos aprendem e crescem, vão participar do socorro a desencarnados e a outros encarnados.

O médium, não frequentando um Centro Espírita e não tendo a companhia de desencarnados bons para ajudá-lo, sofre as consequências de energias nocivas. Ou aprende pelo estudo e pesquisas a se livrar deles ou vai trabalhar na companhia dos bons desencarnados fazendo o Bem.

Todos nós devemos nos transformar e ajudar na transformação de outros para que sejam felizes um dia.
O médium não tem que ir a um Centro Espírita, ele necessita ir para ser ajudado e aprender ajudar. Para isto, não existe lugar melhor que o Centro Espírita.

Um frequentador do local, um encarnado querendo aprender, indagou a meu pai:

—Podemos tirar lições de perseguições que desencarnados ignorantes nos fazem? É certo querermos nos livrar deles? Tenho visto muitas pessoas que aqui vêm, resolvem seus problemas e não voltam mais.

Papai pensou rápido e respondeu:

—Muitas pessoas vão aos Centros Espíritas pedir ajuda para livrar-se de seus desafetos, como se fossem a uma loja buscar algo que querem para seu conforto. Muitos vão ao Centro Espírita achando que estão fazendo favores aos seus laboriosos trabalhadores e querem soluções. Estes encarnados que assim agem não vêem que se algo está errado com eles, com seu bem-estar, isto aconteceu pela sua própria imprudência.

Agindo em função do seu egoísmo, imaginam que estão sofrendo por erro alheio. Acham que não fizeram mal nenhum. E que Deus não faz mais que obrigação em aliviá-los. Aliviados, esquecem-se completamente do ocorrido e voltam ser como eram antes. Outros, no entanto, ao se depararem com a pressão maldosa dos desencarnados perturbadores, buscam o socorro. Sim, é certo buscar o socorro.Aliviados, param para pensar. 

Dois fatos lhes chamam a atenção. O mal-estar interior e o alívio. Compreendem que algo sutil, não visível aos sentidos, age ora prejudicando ora auxiliando. Baseados nesta compreensão iniciam a sua mudança para melhor.Muitos trabalhadores encarnados de muitos Centros Espíritas ao socorrer um encarnado necessitado são perseguidos por outras entidades maléficas, que podem investir sobre eles. Mas em vez de se sentirem mártires do Bem, benfeitores do semelhante, aproveitam as chicotadas para se aprimorar.

Eu, quando um perturbador não me pressiona, sinto falta, pois a pressão negativa que fazem leva-me a estar sempre vigilante com meus pensamentos e atitudes. Para não sofrer estados inferiores vou consolidando minhas atitudes no bom uso das coisas de Deus e da natureza. As dificuldades para uns são punição, para outros, oportunidades e estímulo para sua melhoria.

Outra pergunta foi feita por uma moça.

—Todo sofrimento é quitação do débito do passado ou sofremos também por outro motivo?

—Sofremos pelo débito do passado, mas nem sempre; é incontestável que o hoje é consequência do ontem. Mas também o hoje é causa do amanhã. Se hoje as circunstâncias são adversas, se estou consciente que posso transformá-las, estas adversidades ficam mais suaves. Oposição sempre teremos. Vamos lembrar do nosso gigante gênio espiritual Jesus de Nazaré que nos disse: 

“Vinde a mim, todos os que vos achais carregados, eu vos aliviarei.” (Mateus, XI:28-30) Para o homem insatisfeito com o que Deus lhe deu, toda dificuldade se torna um castigo, um martírio. Já para o homem que procura compreender Deus, servi-lo, amá-lo, todas as dificuldades são oportunidades que ele aproveita para superar-se.

Vou dar um exemplo bem comum em nosso dia-a-dia. Uma pessoa suja é natural que se lave, se purifique. Para muitos o banho é sacrifício. Muitos gostam de estar limpos, outros gostam de estar sujos. Para o indivíduo que está acostumado com a limpeza, a sujeira é um castigo. Para outros, tanto faz, pois gostam da sujeira. Os que não gostam e estão sujos incomodam-se. Nossos erros, vícios, são como a sujeira. Para estar limpo é necessário querer se limpar.

Mas, às vezes, se quer estar limpo, mas não se quer deixar as causas que sujam. Esta luta para limpar-se muitas vezes traz sofrimentos. É como o alcoólatra que gosta de beber mas não gosta de ressaca. Quer que lhe tire o malestar da ressaca, mas quer continuar bebendo. Assim são muitos que procuram a Casa Espírita e querem pelo passe eliminar o mal-estar da ressaca, dos seus erros, mas querem continuar no vício. Este conflito é causa de muitos dos nossos sofrimentos.

Após, meu pai leu a Parábola dos Operários da Vinha (Mateus, XX:1-16). E explicou:

—A maioria de nós outros, em diversas fases da vida, atendemos ao convite Divino do nosso aperfeiçoamento espiritual. Em início tido como trabalho. São crentes e como tais procuram exercitar preceitos e lei Divinos. Estas leis aprimoram a convivência dos seres humanos no seu convívio do dia-a-dia. Aqueles que se voltam para este aperfeiçoamento nos dizeres das parábolas são os assalariados. Estes crentes da bondade, do amparo Divino, dedicam a sua existência ao exercício da fraternidade, solidariedade e Amor prescritos pela sua crença, como pontos fundamentais que propiciam a chegada de uma nova era, em que os homens deixam de se matar, de se explorar, de ser egoístas.

Trabalham intensamente este modo de viver, inspirando a promessa de Jesus em que haverá um novo Céu e uma nova Terra. Jesus sempre usou o símbolo material para inocular nele um grande significado espiritual. A vinha simboliza o cosmo. O cosmo é a casa de Deus. Todos somos chamados a participar espontaneamente desta vida comunitária, não em termos estreitos e egoístas mas em posição totalitária. Pois é fato que somos filhos deste cosmo e como tais devemos agir. Mas, enquanto a consciência desta filiação não acontece no interior do indivíduo, nós adiamos por mais ou menos um tempo a nossa participação consciente desta sinfonia universal.

Aí, então, se dividem como na parábola diversas épocas em que nos colocamos à disposição do Divino para viver e usufruir da sua vinha.Mas neste documento cósmico que é esta parábola, vemos ainda entre aqueles que estão a serviço do Senhor as diversidades de intenções. Todos os chamados, dentro do contexto da palavra, estão trabalhando, estão servindo ao Senhor. Mas a motivação difere entre uns e outros. Esta é a razão da queixa daquele que mais tempo esteve trabalhando. 

A personalidade egoísta que só faz algum trabalho esperando um benefício ou pagamento, ou uma posição de grandeza, mede o que tem a receber seja em pagamento ou benefícios pela extensão do esforço que ele desprendeu em proveito de seu Senhor. Pois este homem virtuoso ainda não se concebe como herdeiro Divino. Este Senhor ainda lhe é algo separado.Ainda não faz parte do seu círculo íntimo.Portanto, o pagamento que ele espera é de acordo com as privações a que ele submete da ociosidade, sensações e prazeres.

A sua medida ainda está vinculada às comparações que faz com seus semelhantes. Este homem ainda é escravo do tempo e do espaço, do muito e do pouco, do débito e do crédito. Este homem mesmo exercitando a virtude ainda não renasceu. Outros com a capacidade de compreensão maior já não trabalham, comparando ou esperando pagamento, seja este em forma de posses, prazeres ou de prêmios. Nem em função de posições espirituais.

Eles sabem e se sentem filhos deste Senhor. Ora, se são filhos, tudo que é do Pai lhes pertence. Tudo que é deles sempre foi do Pai. Trabalham por prazer. Pois para que haja garantia de perfeição numa ação é necessário que ela seja feita com satisfação. As atitudes destes são perenes, pois eles cuidam daquilo que lhes pertence. São os escolhidos.

Vejam, na parábola, os que chegaram primeiro queriam receber mais que os outros; como já dissemos, eles estão no campo da quantidade de posição social. Os segundos não se importam com o pagamento. Tudo o que fazem é por amor, pois têm o prazer em trabalhar na vinha do pai, que é também deles.

As duas classes de homens estão trabalhando na vinha, mas diferem uma da outra. É baseado nesta diferença que vem o pagamento do Senhor. Aos egoístas Deus lhes concede como pagamento o sucesso no plano físico e mental. Baseado em posses,posições, satisfações físicas e mentais. Aos desprendidos, Deus lhes concede a Paz, Amor, Alegria, Felicidades imperturbáveis que não estão ligadas nem ao tempo, nem ao espaço, nem ao pouco ou ao muito, mas sim a um estado de ser. São os filhos queridos do Pai, dos quais Jesus tanto fala.

Os que estavam na praça estavam esperando ser chamados para trabalhar. Os ociosos não se apresentaram na praça para o trabalho. Estes são aqueles que não se preocupam diante do ciclo evolutivo em devolver o talento que o homem possui em estado embrionário. Não foram mais admitidos, porque o círculo estava no seu final. 

Terão que recomeçar em outro local ou mundo.Vejam, o Nazareno há dois mil anos já nos fez o convite. Está em nossas mãos trabalhar esperando o pagamento. Está em nossas mãos construir aqui e agora um novo Céu e nova Terra. Basta que queiramos. Trabalhemos!

continua...

bjs,soninha