sexta-feira

O Voo da Gaivota XV


Recuperação dos Socorridos 
Após a oração, começou o trabalho de desobsessão. Para nós, desencarnados, os trabalhos começaram bem antes, pois tudo é muito bem organizado. Elabora-se a lista dos desencarnados que vão ser orientados, para que eles sejam trazidos do Posto para o salão onde é feita a reunião.

Eles ficam alguns metros acima dos encarnados, sendo que o forro e o telhado da construção material desaparecem para eles. Os desencarnados trabalhadores e eu vemos as barreiras materiais, como se fossem um desenho que não atrapalha em nada.

Com a previsão de quantos médiuns virão, é feita a programação para que o trabalho tenha o melhor proveito possível.

Muitos dos que vão receber a orientação, atraves da incorporação, ao verem o trabalho dedicado dos trabalhadores, ao escutarem as conversas edificantes e a leitura do Evangelho com sua explicação, já se sentem inclinados a mudar, e vários deles nem precisam mais da incorporação.

No sentido espiritual, para a alma em evolução, a vida material constitui ambiente hostil.Justificamos, quase sempre, nossas falhas, com a desculpa de que a maioria age da mesma forma, e alegamos que não somos santos e, assim, não se pode exigir de nós uma maneira de agir mais elevada. Dessa forma, criamos uma distância entre o que fazemos e o que deveríamos ter feito.

É como o aluno que freqüenta a escola e não se aplica no exercício do aprendizado e, no final do ano, ao fazer as provas, vê-se reprovado. Quando um desencarnado se depara, frente a frente, com um encarnado de atitudes dignas, sem a aura de santo, sente o estímulo de imediato. A presença de alguém elevado dispensa comentários.

Palavras ensinam, exemplos arrastam. Mas a maioria dos socorridos necessitava de incorporação, como era o caso de Walter e de seus companheiros que, agitados, mostravam sentir falta da sensação das drogas e não conseguiam entender o que realmente estava acontecendo. Foram todos conduzidos à incorporação. Narrarei a incorporação de Walter, por ter sido muito importante para mim e Elisa.

Walter foi colocado perto da médium que lhe serviria de intérprete. Na simbiose da incorporação, há uma permuta entre os dois, desencarnado e encarnado. O médium sente os dramas do desencarnado e este absorve parte do equilíbrio do médium. Isto já fez Walter retornar um pouco à realidade. Mas não conseguiu falar direito, só balbuciou algumas palavras:

"Natan... cocaína... preciso... socorro..."

Nos dois dias que Walter ficou no Posto, meu pai e a equipe dos desencarnados, principalmente os médicos interessados no socorro dos espíritos, presos no vício, estudavam o melhor modo de orientar os irmãos imprudentes e infelizes. Iriam testar uma nova forma de ajudá-los, e todos os trabalhadores do Centro estavam esperançosos, aguardando resultados positivos. Meu pai foi falando a ele, enquanto os desencarnados reforçavam o que lhe era dito. Acalmaram-no. Walter foi induzido a voltar no tempo, modificando seu perispírito.

Sabemos bem que isto é possível. Os encarnados têm notícias desse processo, através de muitos livros. O perispírito é modificável e há muitos que sabem fazê-lo. Vimos, no livro Libertação, de André Luiz, psicografia de Francisco Cândido Xavier, um desencarnado das trevas modificar o perispírito de muitos, na sua cidade umbralina. Existem, pelo Umbral, desencarnados com aparência monstruosa e muitos, com aparência modificada por eles mesmos, para melhor assustar os outros. Sabemos também de muitos desencarnados que dão nova forma a seus perispíritos, para ficarem com a aparência de outros espíritos, para enganar e mistificar.

Todavia, conhece-se a árvore pelos frutos. Conhece-se o encarnado por seus fluidos, os quais eles nunca conseguirão modificar.Nos estágios elevados do Plano Espiritual também se modifica o perispírito, seja a aparência dos bons, com a finalidade de ajudar, ou a de outros que, no momento, não têm por si mesmo como mudar. Recuperam inúmeros socorridos, cujas aparências se transformaram em figuras monstruosas, animalescas e deformadas, para os deixar com aspecto normal.

Também podem rejuvenescer, ou tomar a aparência de antigas encarnações. Os desencarnados bons só usam esse processo com alguma utilidade. Mas, basta saber, para mudar de aparência em qualquer lugar e por motivos os mais diversos; se são bons, para ajudar; se, maus e brincalhões, para enganar, confundir e assustar. Porém continuam a ser os mesmos, em relação à elevação normal, só mudam a forma.

Com Walter foi usado esse processo. Fez-se uma regressão de memória, até que ficasse com a aparência da idade de meses antes de começar a se drogar. Forçando mais um pouquinho, conseguiram, com êxito, fazê-lo se sentir mentalmente como estava na aparência.

Tornou-se,então, um garoto de catorze anos, gorducho, rosado de olhar esperto. Com o semblante de quando era jovem, não foi difícil fazer com que assumisse sua vida daquela época, mesmo porque no seu inconsciente havia um desejo enorme de fugir de sua atual situação.

Consolidado seu equilíbrio, assumida estava a situação. O doutrinador tem que adquirir, nessas horas, a confiança e a amizade do socorrido. Através do carinho e da compreensão, convidaram-no para ver a vida de um amigo seu que muito errou e que precisava de auxílio - neste caso, a vida dele mesmo.

Então mostrando sua auto-escravização no vício e seu consinte sofrimento. Quase sempre, ao ter alguém as primeiras de seu passado, já drogado, há também recusa instintiva ver aquelas atitudes, como também a recusa de admitir fora ele próprio a viver determinadas passagens. O doutrinador deve, então, insistir para que se concentre no personagem sob assistência.

Em poucos instantes, ele se reconheceu e começou a se desesperar, tentando assumir novamente seu estado de drogado. Nesse momento é preciso muito esforço dos trabalhadores desencarnados, para lhe manter o equilíbrio.

O doutrinador deve ter autoridade direta sobre ele, mantendo-o no estado em que foi levado, pela regressão, isto é, permanecer com a aparência física e mental de antes de se drogar. Deve agir com muita autoridade, afeto e carinho, insistindo na sua recuperação. Com Walter que já havia sentido a harmonia do estado anterior, antes de se drogar, encontrou base para não se desesperar e assumir de novo o equilíbrio, já na sua personalidade atual.

Não se deve esquecer também que,durante todo o socorro, nesse processo o equilíbrio do médium é fundamental pois naqueles momentos os dois agem como um só. Também o médium deve estar em sintonia com o doutrinador, respeitando-o e confiando na sua capacidade de dirigir os trabalhos.

Walter se analisou e meu pai, como orientador encarnado orientou-o, até que ele passou a entender perfeitaente a sua situação:

- Meu filho, você está numa reunião de Amor e Caridade. Aqui tentamos ajudá-lo, para que seja livre. Estamos a lembrá-lo do que aconteceu, dos fatos vividos por você. Você é um garoto sadio que foi experimentar drogas e a elas ficou preso. Recorde! Uma dose, a segunda, mais outra e veja como ficou. Desencarnado, você continuou, em espírito, ligado às drogas porque a morte não nos liberta de nossos vícios.

Walter ficou assustado. Lembrou-se de tudo e lágrimas escorreram abundantes de seus olhos.

- Perdão, meu Deus! Perdão! - falou emocionado.

- Tenho horror em ver como fiquei! Não quero ser um trapo humano! quero ficar assim, sadio e com raciocínio. Nunca mais me viciarei!

- Então aceita nosso auxílio? - indagou meu pai.

- Peço-o em nome de Deus! - falou Walter chorando.

- Será acolhido e orientado!

Walter foi tirado de perto da médium, quando Elisa pegou na sua mão e lhe disse com carinho:

- Walter, meu filho! Meu anjo!

- Mãe - disse ele. - Minha mãe!

Olhou para Elisa e não a reconheceu, mas sentiu que ela era, ou melhor, fora sua mãe. Elisa fora sua genitora em encarnação anterior.

- Sim, sou eu, sua mãe Gertrudes - disse Elisa (nome que sua mãe adotara no plano espiritual).

Walter, cansado pelas emoções, adormeceu nos braços de Elisa que se pôs a chorar baixinho,com emoção e gratidão. Finalmente a mãe recuperara seu ente querido.O processo utilizado tem êxito, em recuperação de desencarnados viciados, pois tomando a forma perispiritual de antes de se viciar, adquire-se mais força para dominar a situação.

Alguns, nesses processos, não recordam o período de viciado, mas é bom que o façam para que saibam e entendam o tanto que sofreram. Todos os socorridos do Túnel Negro pediram ajuda e foram acolhidos, por isso o tratamento continuaria, sendo eles encaminhados a hospitais próprios,onde a ajuda psicológica seria a mais importante, juntamente com a Evangelização.

Em algumas doutrinações, como a de Walter, pode acontecer de o socorrido ver tudo o que se passou com ele e não querer a ajuda oferecida, preferindo continuar no vício. A escolha é do socorrido, pois todos nós temos o livre-arbítrio a ser respeitado.

Nesses casos, o doutrinador ainda deve argumentar tentando ajudar na recuperação. Se houver ainda recusa,deve-se deixar que se comporte como escolheu e ser retirado do local do Centro Espírita. Sem sustento de bons fluidos, é costume voltar logo ao estado deplorável de drogado. Será, entretanto, em outra ocasião, socorrido novamente e, quando estiver cansado das drogas, aceitará a ajuda.

Também o doutrinador deve ficar atento para não deixar o socorrido ter remorsos destrutivos,incentivando-o a ter esperanças de vida no futuro e reparar seus erros através do trabalho útil e no Bem.

Uma convidada, desencarnada, que assistia à reunião indagou a Maurício, que estava ao meu lado: - aurício o drogado é responsável por todos seus atos errados? Como, por exemplo, aquele rapaz que, ao discutir com sua mãe, a empurrou com força, levando-a a cair e bater com a cabeça e desencarnar. Agindo assim sob o efeito da droga, ele é culpado?

- A intenção, em um ato errado, é pior às vezes que o próprio ato - respondeu o interpelado.

- Ele não teve a intenção, não queria a morte física da mâe, mas foi a causa da sua desencarnação,daí a sua culpa. É muito difícil um drogado náo saber que age erradamente e que poderá provocar, por isso, acontecimentos trágicos em sua vida. Em todos nossos atos, o que importa é a intenção e, assim, notamos que aquele jovem tinha na mente este propósito, que lhe trazia muitos sofrimentos.

Vimos também que a recuperação total dos viciados que não praticaram outras faltas, é mais fácil, o mesmo não acontecendo com alguns que, além do vício, cometem outros erros.

Deve o encarnado pensar bem nisso, antes de seguir o caminho das drogas. Nas conseqüências tristes que advirão, como aconteceu a este rapaz que, mesmo amando a mãe, foi a causa de sua desencarnação.

A reunião terminou após a oração, quando os orientadores espirituais energizaram beneficamente todo o ambiente e, também, as pessoas presentes.

Os encarnados conversavam trocando idéias, e os mentores espirituais estavam contentes com o êxito da experiência. Todos os socorridos do Túnel Negro passavam relativamente bem. Elisa levaria Walter para a Colônia Perseverança, onde trabalhava, pois, desde que soube ser ele viciado em tóxicos, pediu para trabalhar naquele setor do hospital, onde os internos se recuperavam das drogas.

Agora iria também cuidar dele. Despediu-se de nós emocionada e chegando perto do meu pai, agradeceu; ele sentiu uma vibração diferente, carinhosa, que só os gratos conseguem emitir, e sorriu em resposta.

Dois trabalhadores desencarnados do Centro Espírita ajudaram Elisa a transportar Walter, aindaadormecido, para a Colônia. Terminados os trabalhos todos foram embora, e os espíritos socorridos conduzidos para novas acomodações. Após as despedidas, voltou a rotina no Centro Espírita, até a próxima reunião.

Também retornei à Colônia e aos meus afazeres. Porém surpreendi-me com as notícias. Natan já havia descoberto quem entrara nos seus domínios e, raivoso, queria acertar contas.

Acompanhei os acontecimentos.


continua...
 
bjs,soninha 
 

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