quinta-feira

A Casa do Escritor XVI


XII - MEU PAI
Nos últimos seis meses de curso, comecei a escrever os rascunhos que iria logo mais ditar a minha tia Vera e que mais tarde iam transformar-se em livros. Senti em certas partes algumas dificuldades e dúvidas. Como sempre, nestas ocasiões, quando encarnada, buscava ajuda de amigos, mas de forma especial ia até meu pai para receber suas opiniões sábias e ensinamentos profundos e valiosos.

Um dia conversando sobre este assunto com Antônio Carlos, este disse:

- Patrícia, muitos se enganam ao achar que só os desencarnados podem orientar e ensinar. Saber é do espírito ativo que trabalha e estuda. Que pode tanto estar encarnado como desencarnado. Aquele que sabe é porque aprendeu. E para aprender não poupou esforços. Para que há tantos cursos que preparam para a reencarnação? É verdade que o encarnado não se lembra de tudo que aprendeu, mas fica em sua memória mais do que imagina.

Logo, nas primeiras leituras e estudos, a recordação vem como aprendizado rápido e fácil. Depois, existem tantos cursos para encarnados e tantos livros fantásticos que só não aprendem os que não querem. Assim, encontramos muitos encarnados com tantos conhecimentos que superam os de muitos desencarnados, até, às vezes, os que trabalham com ele.

Antônio Carlos tem razão, meu pai é um estudioso há muitas encarnações. Tem muitos conhecimentos e é a ele que recorro quase sempre para resolver uma questão mais difícil.

José Carlos Braghini, meu pai nesta existência, é uma pessoa, que respeito e amo. Não é médium. Mas nem por isso torna impossível nosso intercâmbio. Todos nós temos nossa sensibilidade que pode ser apurada com o exercício da mente, estudos e até mesmo trabalhos que envolvem a mediunidade.

Meu pai medita muito. Nestas meditações, em que quase sempre está com a mente voltada a um dos ensinamentos do Mestre Jesus, sempre que posso fico perto. E seus pensamentos vêm até mim. Escuto enlevada suas conclusões, tal como fazia quando encarnada.

- Pai, papai, como o senhor escreveria sobre este assunto?

Digo-lhe de mente a mente. Raramente não pode me atender. Nem ele mesmo sabendo o porquê muda seus pensamentos e começa a pensar no assunto sugerido. Eu, rapidinho, tomo notas. Quantas sugestões preciosas!

Este fato é bem possível. Não pensem os encarnados que só os que têm mediunidade podem se comunicar com seus entes queridos desencarnados. O amor é um laço forte.

Põe forte nisto. Às vezes é atado com nó. Mas este pode prejudicar os que amamos. O amor que une tem que ter o entendimento, tem que ser sem egoísmo. Temos que desejar sempre aos que amamos felicidades e que eles estejam bem, melhores que nós. Senão, pode acontecer de o nó ser tão forte que torna prisioneiros os que amamos.

Como fazem muitos encarnados aos seus ternos desencarnados. Em vez de ajudá-los a enfrentar a nova existência, choram, reclamam, desesperam-se, chamando-os para perto de si, fazendo mal aos que amam.

Nós, os desencarnados, sentimos muito os pensamentos dos que nos amam.

Muito se fala na obsessão de desencarnados a encarnados, mas temos que falar também que muitas vezes é o encarnado que não deixa o desencarnado seguir seu caminho. Ata-o com nó e não quer abrir mão de sua presença, embora nem sinta direito esta presença pelo estado que difere o encarnado do desencarnado.

Como é bom quando nossos entes queridos entendem e nos ajudam. Como é triste sofrer com o sofrimento deles.Presenciei muitos companheiros desencarnados desesperarem-se com a agonia dos seus entes queridos encarnados. Chegando às vezes a se perturbarem com os chamamentos dos encarnados. Como é bom ter conhecimentos Espíritas! Como é confortador desencarnar com estes conhecimentos!

Nós, os desencarnados, podemos nos comunicar com os que amamos, sejam estes médiuns ou não. Se for médium é mais fácil. Se não, pode ser pelo desligamento durante o sono, ou pelas conversas através do pensamento. Infelizmente, quase sempre o encarnado não percebe. Mas, se aprendem a sentir pelo Amor, confiando, sentem nossa presença sim. Mas, para que este intercâmbio seja bom, tem que ser uma conversa edificante e agradável.

O desencarnado precisa estar bem, consciente do seu estado de desencarnado. E o encarnado, consciente do que seja a desencarnação, compreender para ajudar sempre. Se uma das partes estiver perturbada, seja pela dor, desespero, inconformação, não é bom para nenhuma delas. Pode ser até prejudicial ao desencarnado, principalmente se o encarnado estiver revoltado. Se ambos estão bem, é maravilhoso. Assim, sempre estou com meus entes queridos, com a mamãe, meus irmãos, amigos e com meu pai.

Fui ensinada a ver meu pai como ele é, não como queríamos que fosse. A nossa mente só se interessa pelo que toca, pela sensação e prazer dos sentidos. Por esta razão, não chegamos a compreender e a viver os ditos do magistral Nazareno ou de outros grandes homens que passaram pela Terra.

Tudo que se repete se torna para nós enfadonho e sem motivação. Neste sentido, a atuação é a sustentação da vida. A Onipresença de Deus é algo sutil e não relacionado aos sentidos.Por isto nos passa despercebida, perdemos assim a oportunidade de participar com Deus do seu concerto universal.

Como é comum na vivência da carne, em muitas ocasiões, éramos envolvidos por vibrações negativas, e, como é natural, sentíamos. Mas sabíamos que, com uma simples mentalização de meu pai, aquelas vibrações poderiam ser dissolvidas. Mas também, de antemão, sabíamos da sua resposta:

"Já os ensinei, façam vocês, não quero que continuem a ser mendigos espirituais. Façam por si mesmos." Aparentemente nos deixava sozinhos, mas, na sua aparente ausência de socorro, não deixava de estar vigilante e em pouco tempo estávamos livres da atuação negativa.

Assim é sempre meu pai, bondoso e sábio, tentando sempre educar todos que o rodeiam. Muitos espíritos do astral inferior o chamam de Feiticeiro pelo seu passado em outras existências e depreciando-o por ser um estudioso das verdades eternas.

Meu pai não é espírito de pedir por qualquer coisa. Ensinou-nos que precisamos agir sempre com perseverança e convicção por aquilo que queremos. Atuar sempre com total ausência de ódio ou revolta, mesmo quando estamos sendo acuados. Que precisamos transformar e não destruir.

Um dia, quando estava ao seu lado, ele perguntou:

- Patrícia, minha filha, gosta da Casa do escritor? Lá é lindo?

- Já vi Colônias mais bonitas. Respondi, pensando que realmente já vira Colônias muito mais encantadoras. Meu pai me respondeu:

- Quando no mundo físico, a maioria de nós não tem condições de avaliar o quanto está condicionada a resultados. A beleza, por exemplo. Quando é que achamos algo belo? Quando este algo está ligado ao extraordinário e nos leva a sentir que o possuindo passamos a ser mais importantes ou poderosos. Quando você visitou a Colônia Triângulo, Rosa e Cruz, sentiu uma emoção indescritível, pois é extraordinário o visual, algo incomum.

Para os desavisados, esta sensação de poder e beleza é tão incomum e poderosa que poderá levá-los a se perder no orgulho e na vaidade.

Quando você deparou com a visão da Casa do escritor, estranhou pela diferença entre uma e outra. Mas, filha, veja a manifestação de Deus tanto no extraordinário como também no simples e necessário. Esta Casa que é seu lar no momento é absolutamente necessária, pois se encontram ali espíritos que se dedicam ao aperfeiçoamento psicológico dos homens. Neste mister, a simplicidade não é só necessária mas realmente imprescindível, pois no seu interior o homem precisa se assemelhar a Deus que é realmente profundamente simples.

A beleza que encanta os olhos em muitas ocasiões é passageira. A beleza do simples, mas necessário para a sustentação da maioria, é sempre pura e eterna. A beleza da manifestação de Deus está justamente no contraste dos opostos. A beleza que encanta os olhos e a mente não está dissociada da simplicidade daqueles que, por estarem integrados e serem melhores, são agentes atuantes do movimento de evolução de seus irmãos em humanidade. Sentem alegria em ser o que são, não necessitam de ostentação.

Não quero dizer que os integrantes da Colônia Triângulo, Rosa e Cruz fazem ostentação, mas, sim, que nos mostram com simplicidade as possibilidades de criatividade do ser humano na sua vida externa.

Nesta casa estão os que trabalham no burilamento do ser interno do homem.

- E, agora, Patrícia, que me responde? A Casa do escritor é linda?

- Sim, é realmente encantadora! - respondi, beijando-lhe a testa.

Como vê, ajuda-se sempre quando queremos, estejamos encarnados ou desencarnados. E a ajuda dos que amamos nos é muito valiosa. Principalmente nós que pela desencarnação nos defrontamos com um mundo diferente que desconhecemos. A ajuda dos encarnados que amamos é sempre de muita importância.



Patrícia / Espírito
Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho / médium.
bjs,soninha

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