quarta-feira

O Voo da Gaivota XII


Na Sala de Aula

Enquanto aguardava a assistência para o Walter, dediquei ainda mais tempo ao meu trabalho.Estava me dando bem como instrutora do Curso de Reconhecimento do Plano Espiritual.

Estava gostando muito de lecionar. Numa das aulas, Norio, o japonês, me fez algumas perguntas sobre matéria que não constava do currículo. Percebi com satisfação que estava apta a responder, e isto me tranqüilizou.

No Plano Espiritual, principalmente onde se pratica o bem perdemos aos poucos o costume de reparar na aparência física dos outros. Na classe onde trabalhava havia idosos, negros, brancos e, como temos muitos orientais nas terras brasileiras, é claro que os temos no Plano Espiritual. Norio é muito agradável, risonho, inteligente, e de olhos puxados.

Quando encarnado era chamado "Norio, o japonês", e continuou sendo depois de desencarnado, orgulhando-se muito do tratamento carinhoso.

- Patrícia - replicou Norio -, admiro muito Allan Kardec como também a equipe que o ajudou a escrever os livros que nos legou. Onde eles estão? No momento estão encarnados ou desencarnados?

- Norio, poucos sabem sobre isso no Plano Espiritual. Eu não sei. Só sabem os desencarnados mais elevados e que têm como tarefa a orientação da Terra. Nós, a maioria, não sabemos deles e nem do destino de espíritos considerados santos ou que foram importantes, de alguma forma, quando encarnados.

Essa situação acontece por precaução, porque, se os desencarnados souberem, logo os encarnados saberão. E, como há muitos imprudentes, se falarmos que estão encarnados, rapidamente centenas de Allans Kardec irão surgir, como também cada um de sua valiosa equipe.

Se dissermos que estão desencarnados, poderão acontecer muitas supostas manifestações, por via mediúnica, em lugares que não têm a devida cautela com mensagens assinadas por pessoas famosas. Assim sendo, só posso responder que eles continuam firmes nos seus propósitos, rumo ao progresso, preocupados com todos os espíritos que trabalham para a sua evolução, e ajudam com bondade a todos.

Se estão encarnados, nem cogitam em pesquisar o que foram no passado,porque isso não preocupa os espiritos bons. Se desencarnados, muitas vezes se escondem em pseudônimos, porque reconhecem que não fizeram mais do que lhes competia fazer.(11)

- Patrícia, já estou volitando, mas não o faço com rápidez, será que aprenderei logo? perguntou Norio novamente.

- Certamente - respondi. - Aprendemos primeiro a volitar devagar para depois fazê-lo rápido. A última forma que aprendemos é a de fazê-lo com a rapidez do pensamento. O curso de volitação nas Colônias é aberto a todos, e aprende quem o deseja.

- Muitos encarnados se desprendem de seus corpos e volitam. É porque já sabiam? São danadinhos... - disse Norio.

- Aquele que sabe, faz! Se desencarnados sabiam, ao encarnar recordam-se facilmente e, quando desprendidos do corpo carnal, seja consciente ou pelo sono físico, utilizam-se da capacidade.

Mas encarnados também aprendem, se alguém os ensinar.

- Patrícia, quem tem medo de altura, como faz para volitar?

- indagou Norio, todo sério.

Rimos.

- Se desencarnado - elucidei-o -, deve procurar o porquê do medo e superá-lo. Quando encarnados, usam-se alguns truques. No corpo carnal o medo de altura é mais forte, porque se sabe que, ao cair, irá no mínimo se machucar. Desencarnados não correm esse risco.

Minha mãe está encarnada, é acrófoba e volita e vai a muitos lugares. No começo, tinha cautela, e não olhava para baixo, agora o faz mais facilmente, e certamente um dia irá superar esse trauma, causado por acontecimento em outra existência.

- Patrícia - falou Ernani -, tenho uma prima que é espírita e sua filha mais velha, Lilian,desencarnou. Ela está bem e feliz aqui no Plano Espiritual, mas seus pais querem ter outro filho e que Lilian volte a reencarnar. Ontem nos encontramos e ela está num dilema, reencarnar ou não.

- Se os pais querem ter outro filho, tudo bem, mas não devem proceder como seus primos querem, com o retorno da filha. Existe essa possibilidade, em alguns casos, quando desencarnados podem reencarnar em curto espaço de tempo entre familiares e, às vezes, com os mesmos pais. Mas cada caso deve ser estudado com atenção.

(11) - Esta resposta aqui registrada, eu a dei sob orientaçáo da equipe da Colônia Casa do Escritor. (N.A.E.)

Os encarnados não devem fazer desse desejo algo que incomode o desencarnado, pois isto significa ser egoísta. E o desencarnado, se não tiver planos de reencarnar logo, não deve fazê-lo

só porque os pais querem. Aconselhe Lilian a conversar com um orientador e pedir ajuda para resolver esse problema. E, se ela se achar sem condições de retomar à carne, não deve fazê-lo agora.

O assunto da aula passou a ser obsessão.

Geralda nos contou que teve uma existência física muito difícil. Órfã, casou-se jovem e sofreu muito com o marido, que bebia. Querendo se ver livre do esposo, planejou e o assassinou, sem que ninguém ficasse sabendo. Trabalhou muito e criou seus cinco filhos. Mas o esposo, em espírito, querendo vingar-se, obsediou-a por anos, até que os filhos moços procuraram um Centro Espírita que a ajudou.

Falou emocionada do muito que sofreu e que, por causa da obsessão, conheceu o Espiritismo que veio elucidá-la e auxiliá-la bastante.

Marcílio teve uma experiência diferente, desencarnou em acidente no trabalho. Desencarnado,descobriu que a esposa o traía com seu sobrinho. Com raiva, passou a obsediá-la, não deixando ninguém se aproximar dela com intenção amorosa. Com a vida conturbada, a esposa foi a um lugar, onde pagou para ficar livre da influência negativa, no caso, ele.

Os desencarnados que lá trabalhavam, pegaram-no e o levaram preso para um lugar do Umbral. Marcílio ficou muito tempo prisioneiro, quando fez amizade com um outro desencarnado que também estava preso.

Esse amigo contou-lhe porque estava cativo. Desencarnara, deixando a esposa com seis filhos e,preocupado com eles, voltou a sua antiga casa terrena, sem saber que os prejudicava. A esposa, sem entender bem a situação, procurou ajuda erradamente e ele foi preso por espíritos maldosos. Por isso, devemos buscar auxílio só em lugares bons, que fazem caridade, principalmente quando se trata de entes queridos
desencarnados.

Socorristas vieram e ajudaram este seu amigo, levando-o para um lugar melhor.

Tempos depois ele voltou e o socorreu. Marcílio disse-nos que foi uma experiência muito triste não ter perdoado e ficar obsediando os seus. Esqueceu de si para infernizar a esposa e sofreu muito.

Concluímos que é muito penoso tanto obsediar como ser obsediado. Aquele que obsedia perde tempo precioso, pára no seu caminho, para atormentar os outros. O melhor é viver de tal modo que não mereçamos raiva e ódio de ninguém. Mas, se pelo passado, alguém nos cobrar, é nosso dever ajudá-lo, e assim pararemos de sofrer pelo que fizemos. Do contrário, se permitirmos que o outro nos faça mal, é o mesmo que continuar prejudicando os outros.

Deve, portanto, o obsediado orar, ter vida decente e procurar num Centro Espírita o auxílio para si e para o outro.

Todos devem ser tratados como irmãos e como gostariam que fossem tratados. O obsessor e o obsediado merecem o mesmo respeito. Muitos foram os comentários sobre a obsessão. Albertina nos narrou:

- Tenho um tio que é uma pessoa muito difícil. Vive irritado, enfermo e, nas suas crises, atormenta toda a família. Muitos diziam que estava obsediado. Até a família, embora descrente, foi em busca de auxílio. Mas nada. Ele melhorava pouco e logo voltava ao seu mau humor.

Logo que desencarnei, procurei ajuda para meu tio, pensando que era obsediado. Mas, para minha surpresa, ao visitá-lo não vi nenhum desencarnado com ele.

Querendo aprender, perguntei a um orientador que, para esclarecer-me, foi comigo vê-lo.

"Albertina" - disse o orientador -, "esse senhor não é obsediado. Ele não se educou, é uma pessoa nervosa e consequentemente doente, pois quem não aprende a controlarse, quase sempre se torna enfermo. É pessimista, egoísta, gerando assm muitos fluidos negativos, que o tornam mais irritado ainda.

É pessoa difícil e que nada faz para se melhorar. Nem tudo o que acontece aos encarnados é culpa dos desencarnados. E nem sempre situações difíceis acontecem por obsessões. Estas existem, mas deve-se analisar se o encarnado sofre mais por suas próprias ações, por sua maneira errada de ser e agir.

Como também se não é física a origem do distúrbio como seu tio, que é pessoa difícil.Realmente, concluímos que muitos encarnados colocam a culpa nos outros, porque isso é mais fácil do que reconhecer os próprios erros.

- Patrícia - perguntou Marília -, um encarnado pode obsediar um desencarnado?

- Pode. Se o encarnado ficar pensando no desencarnado, chamando-o, com choro e desespero, não se conformando com sua desencarnação, pode atrapalhá-lo. Mesmo se estiver abrigado em Colônias, sentirá esses chamamentos, que o incomodarão. Se estiver vagando, quase sempre vem e fica perto do encarnado, numa troca doentia de tluidos. Os encarnados devem ajudar os desencarnados que amam, sendo otimistas orando por eles, desejando que estejam bem e felizes, e que aceitem a desencarnação. O amor deve sempre nos levar a querer o melhor para o ser amado.

- Bendito seja o Amor! - exclamou Terezinha, sorrindo.

Finalizamos a aula.


continua...
 
bjs,soninha

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