quinta-feira

O Voo da Gaivota V

OUVINDO UMA HISTÓRIA

"Fui amparada com delicadeza, quando um senhor e uma moça me levaram para uma casa enorme, um Posto de Socorro no Umbral. A moça me ajudou a tomar banho. Deliciei-me.
Com roupas limpas, tomei um prato de sopa quente, que achei muito saborosa. Depois acomodei-me num leito perfumado e dormi tranqüila. Não estava doente, nem sentia dores, estava só desorientada e com fraqueza. Recuperei-me logo. E fui transferida para esta Colônoa.
“Você vai para a Colônia Vida Nova. Verá como ela é linda.”

Ouvi muitos comentários parecidos. E fiquei curiosa para vê-la. Fui conduzida à Colônia junto com outros que também se dirigiam a uma cidade no Plano Espiritual pela primeira vez. Lá, nos separamos, e fui conduzida para uma casa, onde fiquei hospedada. Que decepção! Não vi nada das maravilhas que disseram.

A casa, sem arranjos e enfeites, era simples demais. Só tinha o necessário.

"Que beleza de jardim!

"Que flores lindas!

Tentava prestar atenção e descobrir onde estava a beleza do que ouvia. O jardim para mim parecia como outro qualquer da Terra. Só que talvez mais cuidado e respeitado. As flores eram flores como sempre foram. Havia algumas diferentes mas eram plantas... Estava apática.
Tentava ser gentil com as pessoas que moravam comigo, porque era tratada com extrema delicadeza. Carinhosamente me levaram para conhecer a Colônia. Nada me entusiasmou. Achei-a extremamente sem atrativos, pois as belezas e sensações de que gostava, não eram ali cultivadas. 

Havia muitas mulheres bonitas, mas elas agiam como se este fato não lhes importasse. Para mim, a minha beleza era um patrimônio importante.
Gostava dessa aparência, quando encarnada, pois sentia-me superior à maioria das mulheres. A Colônia era um lugar como outro qualquer. Bem, como outro qualquer, não! Para ser sincera, comparando com o lugar em que fiquei, no Umbral, naquela abertura da rocha, ali era o paraíso.

Os novos amigos muito me aconselhavam. Consideravam-me como amiga deles, mas eu não pensava assim: para mim eram somente pessoas boas que tentavam me ajudar. Tudo fizeram para me tirar da apatia, sendo até convidada a fazer pequenas tarefas. 

Não era preguiçosa. Muito fútil e vaidosa, sim, mas ociosa, não. Aceitei, porque senti que deveria ocupar meu tempo. Fui trabalhar na Biblioteca, onde Maura, uma senhora alegre e extrovertida, me orientava.
"Genoveva, querida, coloque estes livros em ordem alfabética."
Fazia tudo direitinho.

"Muito bem!" - incentivava ela. "Você tem trabalhado com vontade. Você não é curiosa? Não tem interesse no conteúdo destes livros? Não gosta de ler? Não a vejo nem folheá-los."
Acabei por pegar um. Abri e li uma página. Era um livro que os encarnados têm também o privilégio de conseguir para leitura. Levei-o, emprestado.
Minha apatia foi desaparecendo aos poucos com a ajuda e alegria dos meus amigos - agora sim, considero-os como amigos - e de lições ouvidas e lidas. Com o estudo e atenção fui compreendendo que meu corpo e tudo o que me rodeava não existiam para meu prazer e sensações, mas sim como parte de um todo que é a manifestação de Deus.

Então aconteceu o que não esperava, pois antes eu via e ouvia, mas nãu todas as coisas. Agora vejo e ouço o que antes me passava despercebido. Comecei a esquecer de mim, para prestar atenção à minha volta.
Tempos depois, olhei para tudo novamente e encontrei as belezas que todos admiravam. Amo muito a Colônia, mas beleza para mim, por muito tempo, foram outras coisas: vestidos novos da moda, luxo e beleza física. Só a compreensão faz vermos a beleza nas coisas simples. 

Aprendo a vê-las. Estudei e estudo, trabalho e tenho Paz, e agora estou bem.
Depois de um tempo por aqui, pedi permissão para visitar meus familiares. Pedidos esses, feitos por quase todos os que vêm para cá. Alguns dias após ter solicitado, o responsável do departamento que cuida desse atendimento, chamou-me para entrevista.

"Tenho saudades dos meus familiares" - disse -, "quero vê-los e saber como estão."
Meu pedido foi aceito e, ao marcar dia e hora, lembrei de Dona Rita, e pedi outro favor.
"Será que não posso ir só um pouquinho à casa de minha ex-vizinha?"
"Pode" - responderam.

Vamos parar um pouquinho com a narrativa para uma elucidação.Nessas primeiras visitas, os desencarnados seguem algumas normas da Casa, onde estão abrigados e que nem sempre são as mesmas para todos. Elas têm o objetivo de preservar o equilíbrio do novato em sua nova maneira de viver. 

Para cada visitante é determinado um tempo,conforme suas necessidades. Mas é costume, nas primeiras vezes, irem com um companheiro experiente, que nem sempre fica junto durante a visita, mas que o acompanha para trazê-lo de volta à Casa em que está abrigado.

Voltemos à narrativa.

"Emocionei-me ao ver meu esposo e meus dois filhos. Percebi que os amava de forma egoísta.Tanto que, ao desencarnar, só pensei em mim. Não julguei que eles sofreriam pela nossa separação. Os três estavam muito unidos. Arrumaram uma empregada e tentavam ajudar um ao outro, levantando o ânimo. 

Fiquei por horas esforçando-me para seguir os ensinamentos e recomendações que recebi, tais como ficar alegre orar por eles e não interferir em suas ações.
Quase na hora de ir embora, fui ver Dona Rita e, para meu espanto, ela me sentiu; por ser sensitiva, percebeu minha presença. Não que tenha me visto, mas pensou em mim de maneira tema.

“Genoveva, que Deus a proteja onde esteja. Que seja feliz!

Sou-lhe tão grata! Obrigada!

Orou e me disse coisas carinhosas pelas quais me animei. Soube, também, que meu esposo continuou lhe dando, em minha intenção, todo mês, uma quantia em dinheiro. Eu os achei maravilhosos, ele e meus filhos.

Na hora de voltar, aguardei meu acompanhante para retornarmos à Colônia. Abracei-o e chorei.
Afagou-me somente. Meu pranto era diferente. Fora muito feliz encarnada e queria voltar a ser...
Mudei, tornei-me mais alegre e entusiasmada."
Genoveva terminou a leitura e, como sempre, após havia perguntas. Essas redações não são obrigatórias e nem a sua leitura. Faz quem quer, podendo também o aluno, se preferir falar sobre o assunto. Mas, desta vez, foi Genoveva quem indagou:

- Patrícia, ao visitar Dona Rita, quando ela me agradeceu, saíram dela raios lindos, coloridos, que vieram até mim. Foi muito agradável. Percebi que aquela sensação de carinho que. recebia dela, eu já a tinha recebido outras vezes, principalmente quando estava no Umbral. 

Também agradeci a Dona Rita, pois estava ali para isto. E vi que ao fazê-lo também saíram de mim esses raios, que lhe foram também muito agradáveis.
Como você explica isto?
- Quando estamos carentes - respondi -, é que mais sentimos as vibrações de carinho, como aconteceu a você no Umbral.
Dona Rita orava, desejando-lhe que estivesse bem. O ato de agradecer é muito bonito. A gratidão sincera sai da alma e envolve a pessoa que agradece, com raios de suave colorido, os quais depois vão para quem estamos agradecendo, beneficiando a ambos. 

Muitos pensam que bons e harmoniosos fluidos só acontecem em esferas elevadas e que só espíritos superiores são portadores de tais vibrações. É que ainda não perceberam que, por Deus, fomos dotados em estado potencial com a capacidade de amar e de sermos fraternos, cabendo-nos somente dinamizar este estado de vida. 

O estado psíquico de gratidão é uma faculdade do ser humano. Somos filhos do amor. Mas não devemos nos importar com agradecimentos e, sim, compreender o que realmente somos, para que, ultrapassando o egoísmo cheguemos ao estado de fraternidade, em que o reconhecimento seja uma situação natural de se viver. 

Beneficiamos a nós mesmos, quando cultivamos o sentimento sincero da gratidão.
Ninguém fez mais perguntas e saímos, para um pequeno intervalo. Fiquei a meditar. Muitos temem a desencarnação por não terem o preparo para essa continuação de vida. Muitos sofrem com essa mudança, que a vida nos impõe, sem que tenhamos outra escolha. 

Outros a acham maravilhosa, pois, pela lei da afinidade, gostam muito do lugar para onde foram atraídos. A natureza não dá saltos, nada é excepcional e a beleza está na simplicidade. Muito se tem falado da continuação da vida depois da morte física, mas cabe a cada um fazer seu preparo, sem descuidar do tempo presente. Pois é nele que construímos nosso futuro.

Devemos viver bem e no Bem, sempre. A desencarnação pode ocorrer a qualquer momento. Que ela nos surpreenda, então, de tal modo que possamos estar aptos a continuar a viver bem e felizes.

(2) - As citações do Evangelho contidas neste livro foram tiradas da Biblia -Tradução Vulgata.

continua...

bjs,soninha

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