terça-feira

A Casa do Escritor XI


VII - A BIBLIOTECA

Um lugar que gostava e gosto muito de ir é a biblioteca. A biblioteca da Casa do Escritor é realmente fantástica. Espaçosa, tudo bem clarinho, com lindos lustres e janelas redondas, grandes, com alguns vidros coloridos formando delicados desenhos em tom claro. Tem muitas estantes, tudo catalogado e muitas escrivaninhas para pesquisas e sofás confortáveis.

Para achar o que se quer ler, temos o auxílio de um avançado aparelho parecido com o computador que se tem na Terra. Mas há também um bibliotecário à disposição para atender os leitores.

A coleção de livros antigos é encantadora. Em destaque estão a Bíblia e os Evangelhos, com traduções diferentes, grandes, pequenos, ilustrados, com desenhos dos apóstolos que são maravilhosas obras de artes. Em todas as bibliotecas do Plano Espiritual em destaque estão os Evangelhos e alguns livros importantes sobre os mesmos.

Logo à entrada há uma estante com os livros de Allan Kardec, em francês e em português. A Colônia dá muito valor a estas obras. Junto também encontramos a bibliografia do mestre francês e também de seus principais companheiros e médiuns que o ajudaram. Há um livro que o próprio Kardec escreveu quando desencarnado, para as Colônias de Literatura em especial, falando de si e de sua obra. O livro é pequeno e simples, fala das dificuldades que encontrou durante seu trabalho, de suas dúvidas, dos esclarecimentos e de suas amizades.

- Que livro bonito! Poderia ser com mais detalhes, não acha? - indaguei à bibliotecária. - Ele mesmo escreveu tão pouco de si.

- Mostra a simplicidade do nosso codificador. Temos aqui bibliografias suas bem mais extensas, escritas por outros companheiros.

Acredito que Kardec ao fazer este livro quis exemplificar que ele também lutou com seus vícios e defeitos, que se esforçou para fazer seu trabalho e que foram horas, dias e anos de luta para consegui-lo. Não foi um trabalho fácil e nem o recebeu sem esforço. Mostra-nos que, se ele conseguiu, todos nós podemos também fazer algo de útil.

- Será que os encarnados poderão ler este livro um dia? - indaguei novamente.

- Não está nos planos divulgá-lo entre os encarnados.Este livro só se encontra nas bibliotecas de Colônias de Literatura. Certamente o emprestamos e muito. Todas as Colônias que se dedicam, como a Casa do Escritor, à literatura edificante, têm pelas obras de Kardec um carinho especial e um lugar de destaque.

Já vira por outras Colônias, bibliotecas e salas de vídeos bem maiores e mais bem equipadas que na Casa do escritor, mas nem por isto deixava de ser encantadora. Quando necessitávamos ou queríamos ler uma obra que lá não havia, emprestávamos de outras. O empréstimo é facílimo. Pedimos por um aparelho, que dá uma leve lembrança do fax, e em minutos recebemos a obra.

À direita da biblioteca estão os livros espíritas, todos os bons já editados para os encarnados. Também há obras escritas por desencarnados que os encarnados desconhecem. Algumas muito importantes sobre o tema da Doutrina Espírita. Que gostoso ler! Na Colônia todos amam aprender, se afinam pelo gosto literário e têm o objetivo comum: divulgar e fazer boas obras.

A matéria dada por Maria Adélia exigia-nos muitas pesquisas e fazíamos muitos trabalhos. Nestas ocasiões, íamos os oito à biblioteca. Que gostoso! Passávamos horas lendo e nos informando. Fizemos lindos trabalhos.

Também ia muito à sala de vídeos. Revi muitas vezes as fitas da formação da Terra e dos principais acontecimentos do nosso planeta. O que gosto especialmente de ver é tudo que se tem sobre Jesus. Foram gravados quando Ele estava encarnado.

Podemos ver os principais fatos acontecidos com Ele, todos seus ensinos e parábolas.São encantadoras, seus dizeres são maravilhosos. A primeira vez que O vi, chorei o tempo todo. Ainda agora, que já perdi a conta das vezes que vi, me emociono, em certos pedaços, choro. Também gosto de ver os vídeos que temos sobre Allan Kardec.

Ele trabalhando com sua equipe, tanto a encarnada quanto a desencarnada.Organizando o Livro dos Espíritos e o Evangelho Segundo o Espiritismo. Para aqueles que gostam de aprender, lugares assim são deveras atraentes.


Ia muito às reuniões da Casa. A Colônia recebe visitas de moradores de outras Casas e de diversos países. Trocam-se muitas idéias. Recebem-se também muitas pessoas importantes na Literatura, tanto os que estão encarnados, como desencarnados. Quase todos filiados à Casa. De modo especial, encantei-me com os escritores Espíritas: Emmanuel, André Luiz e Joanna de Ângelis.

André Luiz sempre que possível brindava a Casa com suas palestras instrutivas e cativantes. Foi uma alegria imensa ouvir Emmanuel num encontro com todos os filiados do Centro-Leste. É um prazer ver encarnados escritores e médiuns em reuniões de incentivos e esclarecimentos.

Para muitos, a Casa é como uma fonte de energia e força, onde se beneficiam, restauram e mais: recebem o apoio espiritual que necessitam. Porque, às vezes, encarnados passam por períodos difíceis e precisam do carinho dos amigos para não desanimarem.

Gosto muito de indagar, de saber, assim procurava sempre companhia dos que poderiam me ensinar. Conversava muito com o simpático e instruído diretor da Casa. Assim soube tudo o que queria.

- Sr. Diretor, fale-me um pouco da Casa, do seu trabalho, dos filiados.

- Patrícia - disse ele sempre gentil -, amo este lar e temos nos esforçado bastante para que o nosso trabalho dê frutos. Seus objetivos, seus trabalhos são maravilhosos.

Temos prestado muita atenção em todos que trabalham com a Literatura Espírita. Nossa lista de filiados é grande. Todos que divulgam, vendem, editam e escrevem a Literatura Edificante têm nossa assistência. Se por dois anos contínuos fazem este trabalho,filiamo-los à Casa.

- Se uma pessoa trabalhar um determinado tempo e abandonar, continua filiado?

- Tudo faremos para incentivar a não abandonar ou a voltar. Mas ela sendo livre, certamente pode abandonar a tarefa começada. Se depois de uma insistência de nossa parte ela abandonar realmente, é estudada a causa que a levou a este abandono. Porque, às vezes, têm justificativas, como doenças, algumas dificuldades sérias. Neste caso, continua filiado. Mas, se não houver motivo, pode ser desligado, mas levará sempre em seu favor o trabalho já realizado.

- Ao desencarnarem os filiados recebem alguma ajuda especial? - indaguei novamente.

- Aqueles que ajudam a boa Literatura costumam ler também e aprendem muito. A maioria, com algumas raras exceções aproveita o que lê para o bem de si mesmo. Faz por merecer ser socorrido após o desencarne. Fazendo-se merecedor, recebe ajuda, sim. Quando prevemos a desencarnação de um filiado, nossa equipe vai ajudá-lo nos últimos dias, no seu desligamento e leva-o para uma Colônia de Socorro de sua preferência ou do espaço espiritual de sua cidade material.

Pode ser levado também para Postos de Socorro. Depois desta ajuda, cabe a eles continuarem no local para o qual foram transportados ou não. Todos temos o livre-arbítrio de querer ou não o socorro. É difícil um caso em que o filiado não aceite nossa ajuda. Como disse, para si faz ao ler, divulgar, vender, ou até escrever boas obras.

- Já aconteceu de um filiado não merecer esta ajuda? - perguntei curiosa.

- Infelizmente sim. Mas, graças à bondade do Pai, é raríssimo o fato. Mesmo assim, ele é vigiado por nós e, quando possível, é socorrido.

- Já ocorreu de espíritos ignorantes tentarem vingar-se de espíritos filiados, quando estão desencarnados recentemente? Este vingar que digo - expliquei - sei que não tem razão de ser. Porém, já ouvi muito por aqui estes irmãos vingarem, blasfemarem, jogarem pragas; o que quero saber é se aconteceu de eles quererem se
vingar dos que fazem o Bem.

- Sua pergunta, Patrícia, é muito interessante. Estes irmãos, têm ciúmes do esforço que fazem muitos irmãos que caminham para o progresso e fazem o Bem. Eles falam, mas fazer é outra história. Não conseguem. Só poderão conseguir se esta pessoa descuidar e vibrar como eles, assim mesmo terão oportunidades de receber sempre ajuda e conselhos dos bons.

Realmente, escutamos muito estes irmãos falarem assim. porque, às vezes, o bem que se faz pode atrapalhar uma maldade deles. Como no nosso trabalho, um bom livro são muitas sementes boas que têm frutificado em muitos corações.

E pode incomodar. Mas, respondendo diretamente sua pergunta, não podem. Primeiro, porque já disse que nossos filiados recebem assistência e, quando desencarnam, os vingativos nem podem chegar perto. É justo que o trabalhador do Bem receba seu salário na hora da desencarnação. Quem fez bons amigos trabalhando para o Bem, estes lhe são fiéis, ajudam quando necessário. Quanto às maldições, pragas deles sobre os bons, a eles retornam por não encontrar ressonância.

- Aqui não há recém-desencarnado. Não se pode trazê-lo para cá?

- Não, aqui é lugar para os que estão totalmente adaptados ao Plano Espiritual. Mesmo a desencarnação para os justos traz até necessidade de uma recuperação e descanso. Mesmo que seja breve sua adaptação na vida Espiritual, deve ser feita em local próprio.

Por isto são levados à Colônia de Socorro. Muitos, após um período, podem escolher o que irão fazer depois. Temos muitos que foram filiados encarnados e que depois preferem outras formas de atividades.

- Pode-se filiar depois de desencarnado? Indaguei e ri. Não havia acontecido este fato comigo? Mas, este já que indaguei, este amável senhor respondeu, gentil.

-Certamente. Você, Patrícia, se filiou agora. Quando encarnada, embora gostasse da boa Literatura e dos livros espíritas, não chegou a trabalhar com eles para merecer um filiamento. Isto acontece bastante.

Muitos não tiveram a oportunidade de filiar-se quando encarnados e o fazem após. Aproveito, Patrícia, para lhe dizer que é um prazer tê-la conosco, mesmo sabendo que será por pouco tempo. Conheço seus planos e incentivo-a. Devemos sempre lutar e nos esforçar para conseguir o que queremos.

- Tenho visto aqui encarnados não filiados em reuniões. Por que?

- São todos amantes da boa leitura. Aqui vem porque se afinam com a Casa e com seus moradores.Vêm receber incentivos. Este fato acontece raramente.Nossa preocupação é com os filiados.

- Pode acontecer de em certas ocasiões os filiados receberem remuneração material

- Sim. Temos ciência: eles são o arrimo de famílias. Como não? Os empregados de bancas, livrarias, todos recebem seu salário para sobreviver. Infelizmente há os que fazem só pelo salário, fazem como se fosse apenas um trabalho como outro qualquer.

Estes não são filiados. Os que trabalham com amor, embora tenham a remuneração que necessitam, filiam-se a Casa do Escritor.

Está em projeto a formação de uma Academia de apoio a todos os médiuns.

Seria como casa móvel a volitar sobre o Brasil, incentivando todos os médiuns a se educarem e serem úteis ao Bem.

Não me dei por satisfeita, havia muitas perguntas para fazer.

Temi ser importuna. Mas amável como sempre ele me incentivou a indagar.

- Pergunte o que quiser, Patrícia, responderei como me for possível.

Não me fiz de rogada e continuei.

- Que acontece com os que vendem bons livros, mas vendem os ruins também?

- Procuramos incentivá-los a ficar só com os bons. Embora o que se diz ruim possa ser classificado de várias formas. Devemos analisar de que tipo é a literatura ruim que se vende. Podem ser ruins os livros de péssimo gosto e que não dizem nada de bom nem de mau.

Agora, se forem obras que incentivam o crime, os vícios, as drogas, o sexo, estas são nocivas. Se esta pessoa não atender nosso pedido de ficar só com a boa, não pode ser filiada.

- Pode um encarnado pedir a um escritor desencarnado para trabalhar com ele?

- Pedir pode, mas para atendê-lo tem que ser analisado seu pedido. Este encarnado tem condições de ser um instrumento? É médium psicógrafo? Se for, é estudioso?

Paciente e perseverante para treinar e afiar seu instrumento? Se as respostas forem positivas, ainda temos que levar em conta se o espírito que pede está disponível e quer. Agora, se seu pedido é para qualquer escritor desencarnado, é mais fácil atendê-lo.

São poucos os bons escritores conhecidos dos homens, mas muitos os conhecidos de Deus.

Agradeci a este amigo por tanta delicadeza em responder a tantas perguntas. Sempre fui grata às pessoas que bondosamente respondiam as minhas indagações, em minha ânsia de aprender cada vez mais. E era sempre um enorme prazer participar de tão agradáveis conversas.

Naquela tarde estava eufórica, íamos receber uma visita importante para mim, embora todas as visitas que a Casa recebe sejam importantes e não se faça distinção entre seus convidados.

Mas sempre admirei o visitante daquela tarde, Francisco Cândido Xavier, pela sua dedicação à Literatura Espírita. Foram horas e horas de trabalho, renúncia, de esforço para conseguir escrever tantos livros. Lembrei de um dos comentários que Antônio Carlos faz sempre: "O médium é parceiro do escritor. Podemos dizer que escrevem em dupla."

Fiquei a esperá-lo no pátio da frente. Veio com Emmanuel.

Fiquei maravilhada.

- Não está tão velho! Parece tão saudável!

Antônio Carlos, que estava ao meu lado, sorriu das minhas exclamações.

- Patrícia, nosso perispírito demonstra o que somos na realidade. Às vezes, uma pessoa má tem o físico lindo, mas seu perispírito é feio. E pode ocorrer o contrário. Não que seja o perispírito totalmente diferente do corpo carnal, mas a harmonia e a bondade dão a perfeição. O desequilíbrio e a maldade desarmonizam, deformando.

Você olha o Chico e o reconhece, sente que é ele. Sabe que seu corpo está desgastado pelo tempo e pelas doenças, mas seu perispírito não. Ele é bonito pela harmonia e simplicidade de que é portador. Realmente ele parece mais jovem. Seu espírito com entendimento irradia ao perispírito saúde e alegria de missão cumprida.

Você já viu muitos desencarnados que têm nos perispíritos fortes reflexos de doenças, velhice e necessidades. Outros, logo que desencarnam, pelo entendimento e merecimento,já têm seu perispírito harmonizado. E, outros ainda, mesmo encarnados, já são desprendidos destas necessidades. Têm a saúde espiritual porque cultivam o verdadeiro, o eterno, a vivência do bem, do Espírito.

Logo que ele chegou foram muitos a cumprimentá-lo. Tentei aproximar-me.

Acanhada, fiquei observando-o de perto. Ele andava, eu andava atrás. Para todos tinha uma palavra carinhosa e uma memória incrível, indagava sobre fatos e sobre amigos comuns.

Num momento que ficou sozinho, criei coragem e aproximei-me. Deu-me a mão para um cumprimento e me olhou com muito carinho. Disse-lhe:

- Obrigada, Chico, por você não ter desistido de sua tarefa e ter, junto com tantos escritores, nos legado livros maravilhosos. Particularmente, estes livros muito me ajudaram e ajudam a tantas pessoas.

Ele sorriu e indagou:

- Faz algum curso na Casa?

- Sim, estou me preparando para ditar aos encarnados.

- Você, então, acha que fiz algo de bom? Que faço?

- Acho sim.

- Faça então como fiz!

Passou a mão delicadamente pelos meus cabelos e, sorrindo, concluiu:

- Que os bons exemplos sejam seus objetivos. Que o Pai a abençoe!

Emocionei-me tanto que senti meus olhos lagrimarem. Outros companheiros se aproximaram e ele sempre atencioso voltou para lhes dar atenção.

Todos fomos convidados a ouvir uma palestra. Humberto foi o orador. Como sempre o assunto foi a Literatura. Falou das dificuldades em se fazer bons livros.

Que atualmente muitos bons escritores estavam desencarnados. E que nem todos podiam usar da psicografia por falta de bons médiuns, de instrumentos que fossem dedicados e corretos. Para fazer bons livros é necessário coragem.

Materialmente está difícil e infelizmente se vende pouco. Mas terminou incentivando todos ao bom ânimo e ao trabalho incessante. Não discursou muito. Após convidou Chico para falar. Sorrindo sempre, este conhecido Espírita e médium levantou-se e diante de todos disse poucas palavras.

- Irmãos, que Jesus esteja em nossos corações! O que Humberto disse veio muito a calhar nos acontecimentos atuais. Necessitamos de bons escritores encarnados e de médiuns que aceitem a tarefa fiel de intermediários. Médiuns sem vaidade, que trabalhem com boa vontade e que não tenham pressa de editar, logo que comecem a psicografia. Há necessidade de se fazer um treino, e de estudos da Doutrina e das obras de Kardec.

Que não fiquem com medo de fazer, nem com desânimo. E nem que pensem que não vale a pena. Este trabalho não dará frutos materiais, sim espirituais.

Reunidos aqui, pensemos na necessidade de trabalhar sempre. Se encarnados, que se voltem ao estudo com seriedade e dedicação.

Nada se faz de um dia para o outro. Aos desencarnados, incentivo-os a encarnarem e a dedicarem-se no plano físico à Literatura Espírita edificante. E que também se preparem para ser médiuns psicógrafos.

Deu uma pausa e um dos ouvintes indagou:

- Chico, acabei um curso que me preparou para quando for encarnado ser médium psicógrafo. Tenho medo de me perder, acho que não serei capaz de dedicar-me tanto, de renunciar aos prazeres da matéria para dedicar-me ao treino, ao trabalho, aos livros. Que me diz? Sei que sua existência encarnada não tem sido fácil.

- Também não é difícil. Não me sacrifiquei. Quando se faz o que se ama, tudo é mais fácil, é nosso prazer. Fui e sou muito feliz. Ganhei mais que imaginava. A tranqüilidade e a Paz que sinto são altíssima recompensa. A amizade de que sou portador não tem preço. Ame, tente amar mais, e irá fazer o que planeja. Ame e tudo lhe ficará mais fácil.

A reunião acabou com uma linda prece.

Foi uma noite memorável.

Patrícia / Espírito
Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho / médium.
 
bjs,soninha


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