sexta-feira

A Casa do Escritor X


VI - APRENDENDO SEMPRE

Comecei, no decorrer do curso a prestar mais atenção nas pessoas e estava sempre a pensar: "Que será que houve para a pessoa ser assim? Que fato terá ocorrido para ter esta conseqüência? Por que faz esta tarefa? Será que repara erros? Comecei a ficar tal qual meu amigo Antônio Carlos, um colecionador de histórias”.

Foi com ele que comentei este fato.

- Antônio Carlos, todos nós temos uma história. Tenho observado as pessoas e fico me indagando qual a causa que as leva a tal efeito. Tenho curiosidade, por exemplo de saber qual foi a que levou tia Vera a ter esta reação. Ser médium psicógrafa. Tinha causa?

- São muitas as causas que levam às vezes a ter a mesma reação. E nem todos os médiuns o são pelo mesmo motivo. Alguns reparam erros, outros têm como uma oportunidade de trabalho para o progresso. Médiuns psicógrafos não fogem à regra.

Falando sua tia, ela repara erros. Por volta de 1700 ela estava encarnada dedicou-se à Literatura. O espírito, que nesta encarnação e sua tia há muito ama escrever e ler, embora tenha abusado desse dom.

Voltando à encarnação de 1700, na França, vestida no corpo carnal de um homem, ela foi um escritor ateu. Incutiu nos seus leitores idéia de que Deus não existia e incentivou com seus escritos prazeres mundanos. Desencarnou assassinado por um de seus inimigos. Sofreu muito.

Teve outras encarnações. Perdeu o dom de escrever pelo abuso e pelo remorso. Muitas vezes. Patrícia, termos um dom, melhor dizendo, ao sabermos fazer algo e errarmos, sofremos e o remorso faz com que rejeitemos este saber. Isto ocorreu. Ao pedir para reencarnar desta vez, vendo este erro irreparado, ela se preparou para construir o que destruiu no passado com sua escrita. Só que não faz por si mesma.

É intermediária, escreve pensamentos alheios. Se outrora exaltou o materialismo, hoje prega o espiritualismo. Se tentou no passado negar a existência de Deus, hoje exalta o Criador com profundo Amor. Trabalha construindo, repara erros e faz o Bem.

- Isto é ótimo! Em vez de sofrer por um erro, trabalha reparando!

E quase sempre trabalhamos na área onde erramos. Mas este fato não é regra geral. Você é a primeira vez que trabalha com a Literatura e não está reparando erros, é somente mais uma tarefa confiada. Por isso lhe digo que não é regra geral.

Muitos trabalhos são tarefas, oportunidades de aprender e crescer espiritualmente.Meditei muito sobre este assunto e achei genial reparar erros trabalhando no Bem, reformando-se interiormente para melhor.

Nossas aulas sempre foram muito interessantes. Muitas histórias foram narradas para que escrevêssemos, como a de Maria da Penha.

- Faço este curso e depois farei outro que me preparará para, encarnada, ser médium - disse ela com seu jeito meigo.

- Devo, encarnada, psicografar. Sim, quero e pretendo ser uma boa médium psicógrafa.

- Você tem motivos para isto? - indagou Henrique.

- Sim. Na encarnação anterior falhei como médium, quero voltar a ser, por isso me preparo para sentir-me mais forte e não falhar. Narro a vocês minha história.

Nasci em uma família simples e pobre, desde pequena tinha visões e escutava vozes. Minha avó era benzedeira e com ela aprendi a benzer logo na mocidade. Casei jovem e tive um filho atrás do outro. Neste período, minhas faculdades mediúnicas ficaram adormecidas.

Tive dezesseis filhos. Acho que é este motivo que leva as pessoas, logo que me conhecem, a sentirem meu carinho maternal, ou também porque sinto por todos um amor de mãe, explicando assim por que me chamam carinhosamente de mãe de todos. Graças a este amor não sofri tanto.

Meu caçula estava com cinco anos quando meu marido perdeu o pouco que tinha e ficamos na mais negra miséria. Passamos fome realmente. Tinha começado a sentir a mediunidade e fui a um Centro Espírita e lá eles me aconselharam a trabalhar na casa.

Não me interessei, queria no momento arrumar uma forma de ganhar dinheiro. Ajudada, aconselhada por espíritos que não querem nos ver no trabalho edificante, aos quais dei ouvido, achei uma maneira de ganhar dinheiro, usando de modo errado minha mediunidade.

Passei então a ler sorte, a benzer, tirar mau-olhado e quebrante. Fazia isto na minha casa e cobrando sempre. Para olhar a sorte, o futuro de uma pessoa, basta ter certa sensibilidade e aprender para fazer. A maioria das pessoas que fazem isto lêem o passado, presente e futuro de outra pessoa; usam, de alguma forma, ritual físico, para ler a aura do consulente.

Poucas pessoas sabem fazer isto, assim mesmo nem tudo pode ser revelado. Outros sabem um pouco e com este pouco vão enganando, acertando muitas coisas mas errando também. Para benzer e impressionar, fazia orações com ramos verdes e receitava algumas simpatias que minha avó me ensinou. Mas minha avó, embora pobre, nunca cobrou nada. Com este dinheiro alimentei meus filhos.

Os trabalhadores do Centro Espírita em que fui algumas vezes tentaram me alertar dizendo que, os bons espíritos me davam de comer, era necessário eu dar.Nossa situação econômica melhorou, meu marido acertou-se novamente e os filhos maiores passaram a trabalhar. Ganhei de um senhor Espírita a coleção dos livros de Allan Kardec e também preciosos conselhos. Dizia-me ele, bondosamente:

"Você não deve cobrar, procure um Centro Espírita e trabalhe para o Bem. Dá de graça o que de graça recebeste."

Mas a vaidade de ter ajudado muitas pessoas e de ser citada como boa benzedeira e boa vidente me deixava orgulhosa. Não quis deixar o que fazia para ir aprender em um Centro Espírita. Mas, apesar de cobrar, ajudei de fato muitas pessoas.

Sabia tirar fluidos nocivos dos encarnados, fluidos que uma pessoa passa a outra como projeção de inveja, ciúmes e ódio. Com minhas orações e rituais, minha mente atuava resolvendo alguns problemas, era uma espécie de magnetizadora. Certamente nem todos os problemas eu solucionava, quando havia espíritos com os encarnados, o que fazia era orar por eles. E, achando que dinheiro é sempre bem-vindo, cobrava sempre.

No começo me justificava dizendo que era para comprar alimentos para meus filhos, depois, porque sempre estava necessitada de comprar algo, mas eram sempre objetos supérfluos. O fato era que sempre tinha algo a fazer com o dinheiro em meu próprio beneficio, dos meus filhos e dos meus netos. Só que esqueci de fazer a caridade.

Eu, que passara pela pobreza, deixei de auxiliar outros que passavam também pela miséria. Muitos podem fazer o que fiz sem saber do erro enorme realizado. Mas soube, tive oportunidade de ser advertida, não dei atenção. Li os livros de Allan Kardec, pus a "carapuça" nos outros, ou seja, coloquei para outras pessoas as advertências dos livros,justificando-me. O fato é que não os entendi bem mas o suficiente para saber que não deveria cobrar e que deveria trabalhar com minha mediunidade num grupo sério e fazer o Bem. O que me consola é que não fiz o mal.

Por muitos anos vivi assim, até que desencarnei. Como disse, não sofri demasiado por ter alguns fatores a meu favor, como ter pedido a oportunidade de crescer e reparar erros do passado com a mediunidade.

Porque, recordando a existência anterior, vi que fui uma freira severa que perseguia no convento quem tivesse alguma mediunidade. Não se deve chorar pelo passado, só tirar lições para o futuro. Anseio por nova oportunidade e planejo reencarnar e novamente ser médium.

Desta vez quero, pela psicografia, me educar e tentar educar muitos. Devo ser pobre novamente e vencer a tentação de usar a minha mediunidade para ganho material. Maria da Penha silenciou e deu um longo suspiro, mas logo sorriu e cheia de esperança. Sorrimos também. Não é porque se errou uma vez que não se pode vencer no futuro.

- Maria da Penha, você vai saber ler a sorte de novo? - perguntou Ruth.

- Amiga, quando sabemos algo, este conhecimento é nosso, seja ruim ou bom.

Certamente poderei lembrar ou aprender fácil. Mas não farei por dinheiro, meu desejo é mesmo não fazer isto. Se o futuro fosse para sabermos, cada um de nós veria o próprio.

Não vejo como fazer o bem que almejo lendo a sorte. Não, Ruth, não quero fazer isto de novo.

- Você, Maria da Penha, na encarnação anterior preparou-se para encarnar? -indagou Osvaldo.

- Sim, preparei-me, mas não muito, como estou me preparando para a próxima.

Tento num esforço maior fixar estes ensinamentos na minha mente. Tenho muito medo de errar, mas tenho também muita confiança. Há um amigo que permanecerá desencarnado e me acompanhará, será meu guia, protetor, pessoa severa e boa que me ajudará na psicografia. Preparamo-nos para escrever obras lindas no futuro. Estas aulas de redação estão sendo muito importantes para mim, aprendo a narrar histórias para no futuro ser mais fácil escrevê-las.

Com curiosidade sadia, indaguei ao mestre Aureliano:

- Maria da Penha aprende a escrever histórias. Não seria importante também que ela aprendesse a fixar datas e nomes para que quando encarnada, médium psicógrafa, tivesse facilidade de escrever estes itens?

- Sua pergunta, Patrícia, é bem interessante. Será que Maria da Penha, que faliu anteriormente, na próxima encarnação tende facilidade de receber, psicografar datas e nomes não teria sua vaidade tentada? Não seria um peso demasiado para seus ombros fracos? Poucos estão preparados para este evento.

Que bom seria que todos os desencarnados pudessem, por intermédio de encarnados, provar sua identidade com nomes e datas que o médium desconhecesse. Mas para estes médiuns não seria uma porta aberta a sua perdição? Não ficariam orgulhosos e vaidosos deste fato?

De fato, se todos pudessem, como Chico Xavier, escrever nas mensagens datas e nomes que comprovam quem realmente é o evocado que escreve, seria ótimo à credibilidade de muitos. Mas, como disse, é um pesado fardo que só ombros fortes agüentam sem se perder.

Chico Xavier conseguiu isto com muitos anos de trabalho e estudo só quando conseguiu vencer sua vaidade. Escrever fatos é o bastante para começar, depois outros fatores vêm com o tempo. E, para quem quer crer, um pingo é letra.

- E você, Aureliano, não terá também uma história interessante? - perguntou Henrique, sorrindo.

Aureliano sorriu e, com seu jeito simples, falou de si.

- Sou um espírito milenar. Há muito descobri o gosto pela leitura, pela escrita. Na minha memória, lembro das primeiras encarnações na Terra, grafando desenhos na pedra. Também sempre gostei de ensinar o que sabia. Sou mestre de longa data. Nas minhas andanças pela Terra, sempre nas minhas encarnações, aprendi a ler, escrever e fui apurando meu gosto pela Literatura.

Certamente tenho muitas histórias de amores desafetos e vitórias a relatar sobre mim.Nas últimas encarnações tentei procurar Deus nas diversas religiões.Encontrei-O dentro de mim mesmo. Estou há trezentos anos desencarnado e neste período todo dedico-me a ensinar. Quando esta Casa foi criada, foi com grande alegria que vim para cá. Leciono dezesseis horas por dia, aqui e na Colônia de Estudo. O restante, oito horas, dedico à Literatura que tanto amo.

Ou seja, ajudando ex-alunos encarnados, lendo obras novas e procurando aprender para melhor ensinar.

- Não irá reencarnar, Aureliano? - quis saber Adelaide.

- Não tenho planos. Devo continuar ensinando no Plano Espiritual ainda por muito tempo. Preparar espíritos que tem necessidade de encarnar é o meu objetivo.

- Esta sua tranqüilidade tem causa? - indaguei.

- Certamente, a da consciência tranqüila. Atualmente ao recordar meu passado nada tenho para reparar. Se reencarnasse seria para progredir, mas faço este progresso aqui mesmo. Aprendo muito ensinando.

- Quando reencarnar, fará falta aqui - disse Ruth.

- Não! Ninguém é insubstituível. Digamos somente que estou bem encaixado no meu trabalho. E me alegro com sua carinhosa observação. Creio que, quanto mais forem os desencarnados a preparar-se para a encarnação, mais chance terão de progredir, de realizar boas tarefas. A Terra está necessitada de muita aprendizagem.

Minha admiração por Aureliano cresceu ainda mais. Como é agradável encontrar pessoas dispostas a passar aos outros tudo o que sabem. É fantástico ensinar!



Patrícia / Espírito
Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho / médium.
 
bjs,soninha

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