quarta-feira

Visão Espírita da Bíblia


9 - COMUNICAÇÕES DE ESPÍRITOS E MATERIALIZAÇÃO NA BÍBLIA 
O ministério dos anjos, esse ministério divino, a que o apóstolo Paulo se referiu tantas vezes, é exercido através da mediunidade. A própria Bíblia nos relata uma infinidade de comunicações mediúnicas. Veja-se, por exemplo, as palavras do rei Samuel, em Provérbios, 31:1-9, que, segundo o texto bíblico, são "a profecia com que lhe ensinou sua mãe". Temos ali uma comunicação espírita integralmente reproduzida na Bíblia. A mãe do rei Samuel) não em forma de anjo, mas na sua própria forma humana) aparece ao Rei e lhe dita a mensagem.

A Bíblia condenou essa comunicação? Não. Pelo contrário, aprovou-a e transcreveu-a. Em Números l 1:23-25, temos a descrição de dois fatos mediúnicos valiosos. Primeiro, o Senhor fala a Moisés. Depois, Moisés reúne os setenta anciãos, formando uma roda, e o Senhor se manifesta materialmente, descendo numa nuvem. Temos a comunicação pessoal de Jeová a Moisés, e a seguir o fenômeno evidente de materialização de Jeová, através da mediunidade dos anciãos, reunidos para isso na tenda. A nuvem é a formação de ectoplasma na qual o espírito se corporifica.

Só os que não conhecem os fenômenos espíritas podem aceitar que ali se deu um milagre, um fato sobrenatural. E podem aceitar, também, a manifestação do próprio Deus. Longe disso. Jeová era o espírito protetor de Israel, que se apresentava como Deus, porque a mentalidade dos povos do tempo era mitológica, e os espíritos eram considerados deuses. O filósofo Tales de Mileto já dizia, na Grécia, cinco séculos antes de Cristo: "O mundo é cheio de deuses". Os espíritos elevados eram considerados deuses benéficos, e os espíritos inferiores eram deuses maléficos. Daí a invenção do Diabo, como concorrente de Deus no domínio do mundo e das almas.

Deuses, anjos e demônios, da Bíblia, dos Vedas, do Alcorão, de todos os livros sagrados, nada mais são do que espíritos. Como podem essas criaturas condenar o Espiritismo? Elas são a prova tradicional da verdade espírita, ao longo da História, como ensina Kardec. O que Moisés condenou foi apenas o abuso da mediunidade. Isso, o Espiritismo também condena.

10-MOISÉS PROIBIU PRECISAMENTE O QUE O ESPIRITISMO PROÍBE 
A condenação do Espiritismo pela Bíblia, que é a mais citada e repetida, figura no Cap. 19 do Deuteronômio. É a condenação de Moisés, que vai do versículo 9 ao 14. A tradução, como sempre, varia de um tradutor para outro, e às vezes nas diversas edições da mesma tradução. Moisés proíbe os judeus, quando se estabeleceram em Canaã, de praticar estas abominações: fazer os filhos passarem pelo fogo; entregar-se à adivinhação, prognosticar, agourar ou fazer feitiçaria; fazer encantamento, necromancia, magia, ou consultar os mortos. E Moisés acrescenta, no versículo 14: "Porque essas nações, que hás de possuir, ouvem os prognosticadores e os adivinhadores, porém a ti o Senhor teu Deus não permitiu tal coisa". Assim está na tradução de Almeida, mas variando de forma, por exemplo, na edição das Sociedades Bíblicas Unidas e na edição mais recente da Sociedade Bíblica do Brasil.

Na primeira dessas edições (ambas da mesma tradução de João Ferreira de Almeida) lê-se, por exemplo: "quem pergunte a um espírito adivinhante", e na segunda: "quem consulte os mortos". Na tradução de António Pereira de Figueiredo, lê-se: "nem quem indague dos mortos a verdade". Qual delas estará mais de acordo com o texto? Seja qual for, pouco importa, pois a verdade dita pêlos mortos ou pêlos vivos (estes, mortos na carne) é que tudo isso que Moisés condena, também o Espiritismo condena. Não esqueçamos, porém, de que a condenação de Moisés era circunstancial, pois os povos de Canaã, que os judeus iam conquistar a fio de espada, eram os que praticavam essas coisas. Mas a condenação do Espiritismo é permanente e geral, pois o Espiritismo, sendo essencialmente cristão, não se interessa por conquistas guerreiras e não faz divisão entre os povos.

Kardec adverte em O Evangelho Segundo o Espiritismo, livro de estudo das partes morais do Evangelho: "Não soliciteis milagres nem prodígios ao Espiritismo, porque ele declara formalmente que não os produz". (Cap. XXI: 7). Em O Livro dos Médiuns, Kardec adverte: "Julgar o Espiritismo pelo que ele não admite, é dar prova de ignorância e desvalorizar a própria opinião". (Cap. 11:14). Em A Gênese e em O Livro dos Espíritos, como nos já citados, Kardec esclarece que a finalidade da prática espírita é moralizar os homens e os povos. Quem conhece o Espiritismo sabe que todo interesse pessoal, particular, é rigorosamente condenado. Adivinhações, agouros, feitiçaria, encantamentos, consultar interesseiras, são práticas de magia antiga, que Moisés condenou, como o Espiritismo condena hoje. Mas o próprio Moisés aprovou a mediunidade moralizadora, a prática espiritual da relação com o mundo invisível, como veremos.

11 - MOISÉS PRATICAVA E DESEJAVA A MEDIUNIDADE BEM ORIENTADA 

As pretensas condenações da Bíblia ao Espiritismo, são condenações das práticas de magia, que os judeus haviam aprendido na Babilônia e no Egito, e que iriam encontrar também em Canaã, pois os cananitas (habitantes da Palestina) como todos os povos antigos, davam-se a essas práticas. Mas nos mesmos livros da Bíblia, em que aparecem essas condenações, há numerosas ordenações que os mais aferrados seguidores da Bíblia não obedecem. Um pastor nos respondeu, em programa de televisão, que a sua igreja cumpria a "palavra de Deus" pela metade. O que vale dizer que a palavra de Deus é por ela desrespeitada. Preferimos cumprir a palavra de Deus integralmente, e por isso evitamos confundi-la com as palavras humanas e com a legislação envelhecida de povos antigos.

Conforme prometemos, vamos hoje demonstrar que Moisés, o grande legislador judeu, médium de excepcionais faculdades, não condenou, mas praticou a mediunidade e desejava vê-la praticada pelo seu povo. Quanto à prática da mediunidade por Moisés, não precisamos fazer novas citações. Ele recebia espíritos, conversava com espíritos, evocava espíritos, e além disso fazia-se acompanhar no deserto por uma equipe de médiuns, provocando até mesmo fenômenos de materialização. Isso tudo já demonstramos. Mas vamos agora a um episódio que pastores e padres não citam, mas que está na Bíblia, em todas as traduções.

O prof. Romeu do Amaral Camargo, que foi diácono da l Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, comenta esse episódio em seu livro espírita "De cá e de Lá". É o constante do livro de Números, Cap. 11, versículos 26 a 29. Foi logo após a reunião dos setenta médiuns na tenda, para a manifestação de Jeová.

Dois médiuns haviam ficado no campo: Eldad e Medad. E lá mesmo foram tomados e profetizavam, ou seja, davam comunicações de espíritos. Um jovem correu e denunciou o fato a Josué. Este pediu a Moisés que proibisse as comunicações.

A resposta de Moisés é um golpe de morte em todas as pretensas condenações do Espiritismo pela Bíblia. Eis o que diz o grande condutor do povo hebreu: "Que zelos são esses, que mostras por mim? Quem dera que todo o povo profetizasse, e que o Senhor lhe desse o seu espírito"! Comenta o prof. Camargo: "Médium de extraordinárias faculdades, Moisés sabia que Eldad e Medad não eram mercenários nem mistificadores, não procuravam comunicar-se com o mundo invisível, mas eram procurados pêlos espíritos". Como acabamos de ver, Moisés aprovava a mediunidade pura que o Espiritismo aprova e defende. Mas o pior cego é o que não quer ver, principalmente quando fechar os olhos é conveniente e proveitoso.

J.Herculano Pires
Paz e Luz

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