quinta-feira

Nossos Filhos São Espíritos // 20

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DRAMÁTICO DEPOIMENTO DE UM ESPÍRITO

TEMOS FALADO MUITO, NESTE LIVRO, das programações elaboradas no mundo espiritual para cada vida que reiniciamos  na Terra. 

Tais projetos envolvem complexidades que mal podemos imaginar, tais como pesquisas do passado, avaliação de possibilidades futuras, identificação e localização de pessoas com as quais devam ser negociadas futuras atividades, atento exame de condições sob as quais os espíritos programados para uma tarefa coletiva tenham de renascer, como deverão ser encaminhados,  que tendências estimular, desestimular ou combater, que virtudes enfatizar, que erros corrigir, até onde poderão suportar pressões corretivas, que  problemas devem “ficar para mais tarde”, em outras existências. 

Enfim, é um mundo de imponderáveis, de incertezas e de probabilidades, nas quais inúmeras variáveis são postas em discussão e avaliação, a fim de armar-se um esquema viável dentro do possível, ainda que nem sempre o ideal. 

No entanto quantas vezes, depois de tudo equacionado e montado, os espíritos vêm para a carne e deixam de cumprir a parte que lhes toca e tudo se desarma de novo! 

Não obstante tais especulações mais ou menos teóricas serem da maior utilidade, minha preferência sempre se dirige para  a abordagem prática, experimental, a experiência vivida e sentida, que nos proporciona exemplos concretos, colhidos na vivência de cada um. Entendo mesmo que só se aprende a viver vivendo, e não teorizando sobre a vida. 

Por feliz entrelaçamento de circunstâncias, muitas  e preciosas oportunidades nos foram concedidas, ao longo dos anos, de “ver” desdobrarem-se ante nossa atenta observação exemplos vivos dessa desconfortável realidade de que, dificilmente, conseguimos levar a bom termo, na carne, com a precisão e na extensão e profundidade desejadas, a tarefa planejada no intervalo que vai de uma vida à seguinte. 

Em uma oportunidade específica, contudo, um companheiro espiritual que acabava de despertar de longo pesadelo de equívocos seculares abriu para nós todo um riquíssimo acervo de experiências e observações maduramente meditadas e, confesso, inesperadas, honestas, comoventes, na sua impressionante sinceridade. 

Como disse, vinha ele de um longo período de graves equívocos, através de muitas existências sacrificadas às suas paixões  desencontradas. No que não está sozinho, infelizmente, pois esta tem sido, praticamente, a regra para quase todos nós, até que uma espécie de terremoto íntimo nos sacode as raízes do ser e, então, nunca mais seremos os mesmos. 

O que se lê a seguir é, pois, um resumo comentado do que ele nos relatou naquela noite. 
 
- Às vezes — começou ele — os compromissos perante a lei são tão sérios que os espíritos acham que não há mais como  retornar sobre seus passos, a fim de reconstruir seus destroçados mundos íntimos. Foram muitos os fracassos, no passado mais remoto e mais recente. 
 
É certo que em tudo isso há sempre alguém disposto a ajudar, mas também esse muitas vezes falha, como por exemplo a  companheira que combina voltar para uma vida de dificuldades comuns. Ela promete fidelidade, que foi o ponto fraco, onde falhou mais gravemente. Monta-se um esquema que atenda aquele mínimo de necessidades pessoais; de volta à carne, porém, ela falha e volta a trair, movida por uma compulsão que ainda não aprendeu a dominar. E ele falha porque, uma vez mais, não consegue ser tolerante e compreensivo com as fraquezas alheias. 

Esquemas programados para serem superados acabam gerando situações irreparáveis, criadas, de início, não a partir de desentendimentos propriamente ditos, mas de simples mal-entendidos,  perfeitamente contornáveis. Bastaria, para isso, uma pausa, um momento de reflexão, a fim de tornar possível um debate sereno do problema, que não representa, naquela fase, nenhuma dificuldade intransponível. Em vez disso, exaltam-se os ânimos e complicam-se as coisas. Dificuldades superáveis viram impasses de relacionamento. 

É que, por melhores que sejam as intenções que trazem os espíritos, uma vez no corpo, mergulhados atrás do denso véu da carne, parece que as tendências negativas são reativadas e potencializadas e voltamos a cometer os mesmos enganos e a excitar o mesmo tipo de paixão que viemos precisamente para combater e dominar. A ânsia de poder é uma dessas resistentes infecções espirituais que parecem contaminar vidas para as quais as melhores providências de assepsia mental foram tomadas. Renascemos para aprender a dominar a nós mesmos e voltamos a ceder ao impulso de dominar os outros. 

Os problemas começam a ser suscitados ante as situações-teste, em grande parte porque esquecemos, na carne, a programação feita ou porque nos ficam, na memória de vigília, apenas vagos e imprecisos traços. 

— Diziam-me coisas que, de alguma forma, eu sabia que eram corretas (ou erradas) — confessou-nos aquele companheiro espiritual —, mas eu não sabia precisamente por que o eram. 

Muitos se queixam desse esquecimento e até lhe atribuem a culpa e a responsabilidade pela reiteração no erro, mas o que a lei deseja é que a gente aprenda a lição do bem, dentro de nossos próprios recursos, iniciativas e disposições, ante as várias alternativas que se oferecem à nossa livre escolha. 

Precisamos provar a nós mesmos que, postos diante de tal ou qual situação, começamos a ter condições para decidir pela melhor  alternativa, não porque nos lembramos de um compromisso assumido e temos de acertar, ou porque temos obrigação de conciliar-nos com este ou aquele adversário de outras eras, mas porque estão se formando em nós as estruturas do bem, que irão servir para todas as situações futuras. 

O problema consiste em que, trazendo ainda mais ou  menos intactas persistentes matrizes do mal, a que nos acostumamos, nosso programa de vida começa, imperceptívelmente, a desviar-se. 

Antigos comparsas insistem em arrastar-nos de volta ao crime, aos desatinos dos sentidos, à bebida ou à irresponsabilidade. Faculdades de inteligência ou mediúnicas, de que somos dotados, são desvirtuadas porque representam formas de poder que ainda não aprendemos a utilizar para servir e, sim, para dominar e oprimir, a fim de sermos servidos e incensados. 

E que tais recursos, que a lei nos proporciona como instrumentos do progresso, atraem um séquito de admiradores fascinados, que de certa forma desejam partilhar das regalias que o poder sempre tem condições de proporcionar àqueles que o exercem. 

Acresce que se torna mais fácil encontrar aquele que reacende em nós antigas paixões, que estão apenas adormecidas sob as cinzas, do que o companheiro mais experimentado e consciente, que se torna desagradável e é rejeitado porque nos recorda deveres e sugere renúncias que não estamos ainda dispostos a praticar. 

Costumo, em situações como essas, lembrar que sempre nos fica a alternativa de buscar nos evangelhos as inspirações de que necessitamos para encontrar o rumo certo e nele nos mantermos. 

Mas, quem quer saber de evangelho, a essa altura? Só se for para combatê-lo. 

Mesmo porquê, assegurou-nos esse companheiro espiritual, o combate ao evangelho é recurso do desespero. Não é porque ele é falso, como ficou dito alhures, mas porque é verdadeiro. 

— O mal — disse ele — contemporiza e se acomoda; o evangelho, não. 

Daí ser, aparentemente, tão cômodo a esses espíritos desarvorados partirem para a tentativa de criar um mundo à parte, onde as leis de Deus possam ser esquecidas ou desobedecidas, pelo menos  por algum tempo. 

Criado esse bolsão de rebeldia e irresponsabilidade, muitos são os que a ele acorrem para viver a plenitude de suas paixões e de seus desatinos. Sabem que a tentativa é utópica e somente pode gerar mais desacertos, em vez de atenuar os que já se alojam, há tantos séculos, na  consciência anestesiada, mas não extinta. Mas quem irá convencê-los de que estão apenas tentando a impossível fuga de si mesmos? 

Qual a motivação de tudo isso? Uma só: o medo da dor. Todos que ali estão, hipnotizados por uma filosofia inviável de vida, sabem que, um dia, terão de ajustar contas com a harmonia cósmica perturbada, mas, pelo menos enquanto estão por ali, vivem suas fantasias e alienações. 

Sabem perfeitamente bem que o território da paz vai ficando cada vez mais distante e de difícil acesso, pois o caminho que leva até lá passa por pantanais e espinheiros, sobe rochedos ameaçadores, atravessa a aridez dos desertos e se precipita em tenebrosos desfiladeiros, mesmo porque temos de voltar pelo mesmo caminho que percorremos na “ida”... 

— Fomos valentes para errar — acrescenta o amigo, em seu catártico depoimento —, mas somos covardes para enfrentar as conseqüências do erro. 

Há, por outro lado, um agravante nesse processo. Retornamos a um mundo onde é muito mais fácil e atraente deixarmo-nos levar pela acomodação com o equívoco do que resistir ao envolvimento e viver com bravura uma existência, senão austera e severa, pelo menos razoavelmente decente e contida. 

Esse envolvimento sutil do mal atinge também instituições devotadas, em princípio, à difusão de doutrinas autênticas, ao trabalho redentor, à prática do amor ao próximo, porque também elas, as instituições, são dirigidas por seres humanos imperfeitos, quase sempre interessados na busca da projeção e do mando, mais do que no aperfeiçoamento de indivíduos e de coletividades. Isso é válido para as grandes religiões, quanto para as  inúmeras seitas que hoje proliferam pelo mundo afora. 

Por isso combate-se insensatamente o exercício da mediunidade limpa, ativa, nosso canal de comunicação com os companheiros dej ornada evolutiva que moram do lado de lá da vida. Ou desvirtua-se sua prática. 

Dentro de movimentos voltados basicamente para o trabalho do amor, do esclarecimento, da assistência material e espiritual, implanta-se sutilmente o gosto pela ciência, pelo fenômeno, pelas fantasias psicografadas, que acarretam desvios e retardamentos para os que desejam adiar seu encontro com a Verdade. E assim espíritos profundamente desajustados, desarvorados mesmo, assumem, subrepticiamente, posições em que figuram como mentores ou guias espirituais, consultados a cada passo e ouvidos com verdadeira unção e devoção beata. 

Não que tais espíritos sejam despreparados ou ignorantes. Ao contrário, são muito inteligentes e experimentados, pela vivência de incontáveis experiências na Terra e no mundo espiritual. Além disso, dispõem de profundo conhecimento das leis divinas, que colocam, em tudo quanto lhes for possível, a serviço de suas paixões. 

E mais, conhecem o suficiente dos mecanismos da psique humana para saberem onde tocar, que sentimentos movimentar, que atitudes assumir para obter apoio, suscitar interesse e capturar a atenção servil dos incautos e vaidosos. Eles conhecem as motivações de cada um, sabem de suas histórias pregressas, dos seus vínculos de compromisso com este ou aquele ser ou episódio. Fica fácil, por isso, manipular tanta gente, manobrar influências, promover encontros desejáveis e articulações verdadeiramente maquiavélicas. 

— Se falo do evangelho — disse o espírito —, sou ouvido com aparente atenção e respeito, mas com mal disfarçado enfado, mas se lhes digo que são maravilhosos, inteligentes, devotados e que os aguardam as glórias da santidade, todos me acham excelente e se deixam levar docilmente. 

Há, pois, um perigoso desequilíbrio de forças que se opõem, uma vez que a maioria ainda está do lado negativo, puxando a corda com toda a força de seus temores e o empuxo de suas paixões negativas. 

- Que adianta — pergunta ele, desalentado — renascer num mundo desses, no qual apenas inexpressiva minoria está realmente empenhada em melhorar? 

* * * 

Eis aí uma dura e crua realidade dentro da qual renascem hoje nossos filhos e netos. 

- Que programas trazem? 

-Que decisões? 

- Que fraquezas? 

- Que traços mais fortes e consolidados na personalidade? 

- Que tipo de experiências? 

- Que correções pretendem fazer? 

- O que podemos nós fazer para ajudá-los, evitando que sejam novamente arrastados para mazelas que vieram precisamente para eliminar das suas estruturas psicológicas e éticas? 




Paz a todos...

Um comentário:

Verinha disse...

Só o amor pode construir, bom final de semana.Beijos de luz!