quarta-feira

Filho Adotivo XIV

XIV
GRATIDÃO

Dois anos se passaram...

Levado novamente por um trabalho entre encarnados, estava na cidade onde Caio residia com a familia. Sabia por amigos comuns que Antônia estava com seus familiares, cumprindo o que prometera, fui visitá-los.

A antiga casa de Ofélia não modificara, cheguei ao jardim, não vi ninguém, tudo estava silencioso, ansioso por rever minha amiga, chamei-a mentalmente. Como não obtive resposta, ia voltando quando ouvi:

— Antônio Carlos!

Antônia veio ao meu encontro sorrindo e, ao seu lado,estava Ofélia, sadia e bonita, vinham da rua.

— Antônio Carlos, que prazerosa visita! - disse Antônia e virando-se para Ofélia, continuou: Este é o amigo de que lhe falo, com sua ajuda, evitamos que Caio e Cidinha se casassem.

— Prazer em conhecê-lo. Como vai? - estendeu Ofélia a mão a mim.

Convidaram-me a entrar,a sala não modificara, só não estava mais ali à cadeira de-rodas.

— Sem ela, a sala fica mais bonita - disse Ofélia sorrindo.

Barulho, os encarnados chegavam. Reconheci-os, era Carla, mais adulta, e muito bonita, e Rosa que me pareceu mais jovem, feliz e trazia um nenê nos braços, passaram pela sala e foram colocar a criancinha no quarto.

— Tudo indica que modificações aconteceram por aqui, disse.

— Antônio Carlos, você deve estar querendo saber o que aconteceu aqui, nestes meses, não é? - disse Antônia que não esperou pela minha resposta e continuou:

— Após você ter partido, Caio viajou, três meses depois voltou, estudou muito. Passou no vestibular, cursa Medicina com muito gosto, está contente, continua sendo uma pessoa encantadora, é nosso orgulho. Nem recorda mais a triste história do seu nascimento, gosta de Cidinha como irmã, não namora ninguém nem pensa em se casar ou namorar; no momento, sua preocupação são seus estudos.

— Sérgio demonstra ser bom administrador e trabalhador, é o braço direito do pai, é justo, leal, é estimado pelos empregados. Consolou Cidinha quando ela e Caio romperam, tomaram-se amigos e acabaram apaixonados, formam um casal de perfeito entrosamento, casarão no ano vindouro para a alegria das familias.

— O nenê? - indaguei curioso.— Paulo, ao ficar viúvo, passou a ser muito cobiçado, principalmente por sua secretária, uma moça que, segundo Carla, era chata e ambiciosa. Os jovens ficaram preocupados, temendo que o pai viesse a casar com uma pessoa inadequada. Carla, inteligente e feminina, descobriu que Rosa amava seu pai, reuniu os irmãos e combinaram unir os dois. Entusiasmados com a idéia, fizeram tudo para que ficassem a sós, que saíssem juntos, pediram à tia para que casasse com o pai, e ao pai para casar-se com Rosa.

Deu certo, acabaram acertando e casaram para alegria dos jovens que amavam Rosa como mãe. O nenê é filho de Paulo e Rosa.

— Chama-se Ana Ofélia - completou Ofélia sorridente -, aqui estamos em visita, trabalho com Antônia, no Centro Espírita que conheceu, onde Caio vai. Antônia e eu somos grandes amigas e sempre que temos permissão aqui estamos. Hoje, Rosa e Carla levaram Ana Ofélia ao médico, está um pouco resfriada e acompanhamo-las. Estou muito bem, sou feliz, venci o egoísmo, meus vícios, nos anos em que passei inválida. Não quero mais me interpor entre Rosa e Paulo, eles se amam e quero vê-los bem e felizes. Sou grata a Rosa, é mãe para meus filhos, ela os ama e eles a ela, estão bem e unidos.

Conversas alegres anunciaram a chegada de Caio, Paulo e Sérgio. Reuniram-se na sala e o assunto era Ana Ofélia.

Foi quando ela chorou e os jovens saíram correndo para o quarto e foi Sérgio quem voltou com ela nos braços.

A pequenina era linda, contava três meses, rosada, com expressão delicada, sorria para todos, encantando-os.

— Par!

— Ímpar!

Eram Caio e Carla a tirar a sorte para ser o próximo a pegá-la.

Rosa e Paulo, de mãos dadas, olhavam-nos sorrindo, estavam felizes.

— E Zélia? - quis saber.

— Zélia voltou a nós, há seis meses, veio tranqüila deixando Rosa bem. Acha-se recuperando ao lado do esposo - esclareceu- me Ofélia e completou: Antônio Carlos, hoje é o dia em que fazem o Evangelho no Lar, convido-o, fique conosco e nos dará imensa alegria, será logo após o jantar.

— Ficarei – disse -, não podendo recusar tão delicado convite.

— Caio - continuou Ofélia orgulhosa -, continua firme nos estudos espíritas e aos poucos foi levando a todos.

Carla, Sérgio e Cidinha freqüentam o grupo de jovens,Paulo e Rosa juntamente com Marcelo e Helena vão a palestras e nos dias de passes. A Doutrina Espírita encanta e esclarece a todos.

Após o jantar, retomaram a sala, Carla estava toda feliz com a irmãzinha no colo, sentaram-se em círculo. Caio pegou o Evangelho Segundo o Espiritismo. Antônia, Ofélia e eu ficamos em pé ao lado deles. Caio abriu o Evangelho no lugar marcado, estava lendo o esclarecedor livro, desde o começo. A página aberta foi à parte final do capítulo XIII.

Leu sobre os órfãos e as perguntas e respostas sobre ingratidão. Acabando o capítulo, fechou o Evangelho e comentou com voz agradável.

— Jesus disse que não veio negar o que Moisés havia dito, mas, para completar, o que Moisés ensinara: “olho por olho, dente por dente”. O Mestre Jesus ensinou: “sirva, ame, se alguém lhe bater na face esquerda, dê também à direita, se alguém exigir que caminhe com ele mil passos, ande mil e mais dois mil”. Não estamos aqui na Terra encarnados só para pedir, rogar favores estamos para fazer,crescer, servir e ser gratos. O homem esquece mais facilmente o Bem que recebe e lembra-se mais do que o aflige. Devemo-nos acostumar a fazer o contrário.

Recordar o Bem que recebemos os favores obtidos e esquecer o Bem que fazemos os favores que prestamos. Para a maioria, Deus é necessariamente bom, amoroso, fraterno, Pai, mas,uma entidade que está à disposição para quando precisar, aí implorar graças a Ele e receber. Não necessitando, Ele afasta-se e fica à espera de quando precisarem. Uma entidade a serviço e se este serviço não vem, revoltam-se.Exigem, querem receber, sem, entretanto lembrar que já recebem muito. E, por este muito que recebemos, de vemos ser gratos, profundamente gratos.

Lembro-me agora de uma das inúmeras curas que Jesus fez a dos dez leprosos. Jesus encontrou-os pelo caminho, atendendo seus rogos, mandou-os que se apresentassem às autoridades, pelo caminho foram limpos, sararam. Assim, tantos continuam, encontram Jesus em templos, nas orações, em Centros Espíritas, rogam socorro, são aliviados e poucos são gratos. Pelo Evangelho sabemos que só um teve gratidão para com seu benfeitor, um só ex-leproso voltou para agradecer, e de Jesus escutou:

“Tua fé te salvou”. Este foi realmente curado, seu Espírito tornou-se são. A gratidão é um dos primeiros passos que damos ao aprender a Amar, gratidão, sentimento tão belo, pouco sentido e praticado. Devemos ser reconhecidos e ter pelos nossos benfeitores um carinho especial.

Devemos ser reconhecidos, mas não exigir gratidão de ninguém, nem a forma educada do “Muito obrigado”, não devemos cobrar dos nossos beneficiados.

A Deus tudo devemos: antes de pedir, devemos agradecer sermos filhos agradecidos, por termos a Ele como Pai Amoroso.

Aproveitemos que estamos aqui reunidos para agradecermos ao Pai pela oportunidade de estarmos encarnados, de termos uma familia, amigos, de estudarmos,de amar e ser amados.

Também, devemos ser gratos a todos, a tudo o que nos cerca, aos nossos pais por ter-nos aceitado como filhos, por nos ter dado tanto carinho e amor. Aos nossos irmãos, por amá-los e tê-los como amigos. Agradecemos à nossa querida Ana Ofélia, Espírito que quis vir a nós, enchendo nosso lar de alegrias. A tia Rosa que nos adotou pelo coração e tanto carinho nos tem dado.

Vamos agradecer também aos desencarnados, os bons Espíritos que nos têm ajudado, aconselhado e orientado.

Nem sempre ficamos sabendo o muito que nos fazem, mas os sentimos sempre dando-nos coragem e força. Nossa gratidão maior deve ser por termos conhecido o Espiritismo, pela compreensão que dele recebemos, pelo entendimento da vida pela qual passamos de necessitados a aprendizes de servos de Jesus.

Agradecemos por estar aqui reunidos, unidos pelo carinho, por orar.

Não esquecemos de nossa mamãe Ofélia, da gratidão que sentimos por ela, esta pessoa maravilhosa que esteve em nosso convívio, ensinando-nos com seu imenso carinho e amor. Onde esteja, mamãe receba nosso abraço amoroso!

A todos os que trabalham, constroem, ajudam, ensinam em Seu Nome Senhor, nosso obrigado!

Vamos, agora, pensar na Natureza, no fogo, na água, terra, matas, no ar, no vento. Vamos nos limpar, com o pensamento vamos jogar fora os fluidos, as energias negativas.

Agora pensamos novamente na Natureza, na Luz, em Jesus. Neste Espírito maravilhoso, no nosso Irmão Maior a nos abençoar.

Caio fez uma pausa, os encarnados ali presentes estavam unidos, comungando as mesmas idéias. Todos os fluidos negativos foram expulsos e energias salutares foram administradas, enchendo a casa, seus corpos e Espíritos de fluidos maravilhosos que a oração, o estudo do Evangelho nos trazem, beneficiando tanto.

Oraram juntos em voz alta o Pai-Nosso. O culto do Evangelho no lar terminara. Conversaram alegres.

Lágrimas escorriam nos rostos das minhas emocionadas amigas. Não ousei falar, despedi-me com um simples aceno de mão e parti com a imagem na mente de um lar cristão, feliz e de Antônia e Ofélia a me acenarem, sorrindo.

Envolvido pela beleza do firmamento, cheguei à Colônia:

— “Graças, graças lhe rendo ó Criador do Universo, por nos criar pequenos e por nos ter dado a Terra como lar e escola abençoada.”.


Médium: Vera Lúcia M. Carvalho
Espírito: Antônio Carlos

Deus proteja a todos...

abçs,

FIM

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