sábado

Filho Adotivo IX

IX 
O ENCONTRO DE JOVENS

Ao entrar na sala, Caio estranhou encontrar a mãe à sua espera.

— Caio, onde esteve? Estou preocupada com você, filho:

Cidinha telefonou várias vezes atrás de você, disse-me que tinham um encontro e que não foi.

— Encontrei uns colegas da escola e fomos a um barzinho conversar. Se soubesse que ficaria preocupada, teria telefonado avisando.

— Ainda bem! Agora fico tranqüila, preocupo-me muito com vocês, resolvi esperá-lo, não conseguiria dormir sem saber onde esteve e vê-lo em casa. Caio Cidinha também está preocupada, telefone para ela para tranqüilizá-la.

Caio pensou por uns instantes, achou melhor dar notícias, conhecendo Cidinha, esta deveria estar pensando logo em acidente ou assalto. Pegou o telefone e discou. Cidinha atendeu, aflita. Caio secamente disse que chegara e estava bem.

— Se tiver explicações, darei amanhã. Finalizou sem sequer se despedir e desligou.

Ofélia, que observava o filho, indagou preocupada:

— Que há, Caio? Tratou Cidinha com dureza!

Caio sentou-se numa almofada ao lado da cadeira da mãe, deitou a cabeça no colo de Ofélia, esta passou as mãos sobre seus cabelos.

— Que acontece, Caio? Conta-me, filho.

— Mamãe, necessito da senhora, de seu conselho, tenho pensado, descobri que não amo Cidinha, estou mesmo farto dela, quero terminar o namoro.

— Você tem certeza? Pensou bem? - com a afirmativa de cabeça do filho, Ofélia continuou: “Meu filho, para que uma união dê certo, é necessário ter amor, este casamento seria do gosto de todos, mas, deve primeiramente ser do gosto de vocês”. Gosto de Cidinha, pensei ser a moça certa para você, se acha que não, concordo com você, deve terminar o namoro. Falarei com seu pai, farei com que entenda. Marcelo e Paulo já davam como certo este casamento.

— Obrigado mamãe sabia que podia contar com a senhora. Adoro a senhora, sabia?

— Sei filho, sinto seu afeto, amo-o muito também...

— Acho-a tão linda, é a maior, a melhor mãe do mundo!

Beijou as mãos da mãe e pensou:

“Se Ofélia não é minha mãe de carne, é pelo amor, não conseguiria amar ninguém mais que a ela.”

Paulo estava também preocupado com o filho, não querendo demonstrar sua aflição à esposa ficou acordado no quarto, aguardando o retorno de Caio. Ao escutar barulho, cuidadosamente ficou escutando a conversa da esposa com o filho na sala ao lado.

“Caio que filho maravilhoso é você!”

Emocionado, esbarrou na mesa e fez barulho, então entrou na sala.

— Caio, já voltou? Está bem, filho? Onde esteve?

Deixou-nos preocupados.

— Estou bem, papai, estive com colegas da escola, ficamos conversando e esqueci de avisar, mamãe já me desculpou.

— É melhor dormirmos agora. Vem deitar Ofélia, já é tarde.

Caio beijou a mãe no rosto, sorriu para o pai e foi para seu quarto.

— Paulo, - disse Ofélia-, Caio é tão bom, não é mesmo?

É o mais amoroso de nossos filhos.

— É verdade, Ofélia, Caio é bom moço.

— Paulo, se Caio lhe desse um desgosto?

— Desgosto?! - indagou preocupado.

— Talvez não fosse um desgosto.

— Fala logo, Ofélia. Que tem o menino?

— É que Caio quer terminar o namoro com Cidinha.

— Só isso? Que susto!

— Pensei que ia achar ruim.

— Você falou em desgosto, nem sei o que pensei. Ele disse o porquê?

— Disse-me que não a ama, enjoou do namoro.

— É um bom motivo. Caio sabe o que faz.

— Pensei que ia ficar nervoso. Queria tanto que se casassem...

— Ofélia, amo meus filhos. Prometi a mim mesmo, desde o tempo em que meus pais interferiram no nosso casamento, que não ia forçar na decisão dos meus filhos nas suas escolhas. Por meus pais, não teria me casado com você, e nosso casamento deu certo. Amamos Ofélia, eu não poderia ter escolhido ninguém melhor para esposa, é maravilhosa, somos felizes. Cidinha é a nora ideal, gosto dela, mas de que adianta? É Caio quem tem que amá-la, é ele que vai casar com ela. Se você está intercedendo por ele, diga-lhe que está tudo bem, entendo.

— Se Marcelo e Helena acharem ruim?

— Ora, Ofélia, por que iriam achar ruim? Melhor agora que depois de casados...

— Isto é! Não entendo Caio, parecia apaixonado, de repente, enjoa.

— Eu já tinha notado que Caio forçava o namoro.

— Notou? Eu não, acho que ando distraída. Você não vai mesmo brigar com nosso filho?

— Não Ofélia, Caio é um homem e sabe o que quer.

— Que bom você ter entendido!

— Você não entendeu?

Ofélia sorriu, estranhou um pouco a atitude do esposo, mas, deu graças a Deus por ele ter compreendido; despreocupada, dormiu logo.

Caio, cansado com os muitos acontecimentos, saturado de bons fluidos, adormeceu assim que se deitou.

No outro dia, sábado, Caio passou o dia aflito ansiava por chegar a noite e terminar o namoro, que agora lhe parecia sacrilégio. Cidinha ansiava pelas explicações do namorado, pois logo cedo as amigas contaram-lhe que o viram no bar em companhia de desconhecidos.

No horário costumeiro, Caio foi até a casa de Cidinha e esta esperava-o emburrada.

— Muito bem, Caio, ontem não veio encontrar-se comigo, mas foi ao bar com uma turma desconhecida e estava todo atencioso com uma das meninas. 

Que explicação você me dá?

— Nenhuma, esqueci do nosso encontro.

— Que?! Esqueceu?! Quem é a garota?

— Colega de Faculdade.

— Só colega?

— Linda moça, educada e simples.

— Caio, fale a verdade, quem é ela?

— Luísa.

— Quero saber quem é ela para você? Namorada?

— Gosto dela.

— Oh!

Cidinha era orgulhosa, acostumada a ter suas vontades realizadas, mesmo por parte de Caio que sempre a mimava, levou um choque, esperava mil desculpas do moço e ele tratava-a friamente, espantou-se mais ainda, quando ouviu:

— Cidinha, é melhor terminar nosso namoro.

— Que?! Terminar tudo! Se me pedir desculpas...

— Não quero pedir. Acho que não dá mais, nosso namoro está chato e...

— Que desaforo! Chato é você! Eu é que quero terminar tudo. Merece esta outra, fica com ela.

Cidinha levantou-se num salto, saiu da varanda, entrou em casa, deixando Caio sozinho que também se levantou e foi embora. O filho de Antônia estava triste, mas aliviado, pensou: “Agora é só fugir de Cidinha, fingir que namoro outra, com o Sr. Marcelo e papai ajudando-me ficará mais fácil. Devo, de agora em diante, pensar em Cidinha como minha irmã, devo gostar dela como gosto de Carla.”.

Resolveu ir a um cinema, escolheu uma comédia para distrair-se. Não queria chegar cedo em casa, não tinha vontade conversar com ninguém. E chegar cedo em casa, em noite de sábado, todos iriam querer saber o porquê. 

Cidinha, deixando Caio na varanda, entrou na sala, correu para a mãe e começou a chorar. Helena abraçou a filha, Marcelo largou o jornal que estava lendo e sentou-se perto delas.

— Filhinha, que houve? - indagou Helena preocupada.

— Caio e eu terminamos o namoro.

— Grande rapaz! - exclamou Marcelo.

— Quê?! Está do lado dele? - indagou indignada Helena.

— Eu?! Não! Disse grande tolo, o rapaz.

— Ah! Conta-nos tudo filha que houve?

— Caio saiu ontem com uma turma e ficou todo meloso uma das moças.

— Não é mentira? - indagou Helena

— Caio confirmou e disse mais, que gosta dela.

— Infeliz! Tolo! - exclamou Helena.

— Cidinha, filhinha, - disse Marcelo -, isto não é tragédia, não deve sofrer por isto. Foi melhor ele ter namorado outra agora, que depois de casado...

— Marcelo! - Disse a esposa aborrecida -, Caio disse que prefere outra a nossa filha e você parece não se importar!

— Por isto mesmo, se prefere a outra, não é tão maravilhoso como pensávamos, e não quero minha filhinha chorando por quem não a quer.

— Isto é! - responde Helena.

— Cidinha, - continuou Marcelo -, não fique triste, vou comprar para você aquela pulseira de rubis e brilhantes, mais bonita e mais cara que a da Susane. Vou também dar sua mesada em triplo, que tal?

— Verdade? Oh! Papai amo o senhor! Vou comprar roupas novas!

— Isto filhinha, - disse a mãe -, Caio se arrependerá logo ao vê-la tão bonita.
— Helena, - falou Marcelo -, vamos esquecer Caio, temos nosso orgulho, não devemos mais falar deste moço.

Cidinha ficará linda e suas amigas verão que ela nada sentiu em terminar este namoro idiota.

— Idiota? Não pensava assim, não gostava de Caio? - indagou Helena.

— Disse bem, gostava. Desde que preferiu outra que fique com ela. Cidinha merece outro melhor. Cidinha começou a chorar novamente.

— Mesmo idiota papai quero ele.

— Que nada! Não tem orgulho? Amor-próprio? Não deve querer quem não a quer.

— Que raiva! - desabafa Helena -, Caio merece uma lição, falarei a Ofélia e ao Paulo do filho horrível que eles têm.

— Não vamos falar nada, Helena, vamos deixar a família à parte. Se quiser fale com Paulo, com Ofélia, não, já sofre tanto. Não devemos romper com eles, amigos de tanto tempo, por causa de brigas de jovens. Se você for falar com eles, dará a impressão de que estamos forçando Caio a namorar Cidinha.

— Isto é que não! - falou Cidinha -, se Caio tiver que voltar, terá que ser de joelhos...

— Helena, é melhor deixar que se entendam, devemos entreter nossa filha, - falou Marcelo.

Cidinha parou de chorar, estava no colo da mãe que a mimava como criança, seus olhos brilharam ao pensar no presente.

— Papai, a pulseira será como eu quero? Poderei escolhê-la?

— Claro filha, segunda-feira irá com sua mãe nas joalherias e escolherá o que quiser, darei a você, não importa o preço.

Cidinha começou a falar da pulseira, Antônia e eu saímos.

— Foi fácil, - disse a Antônia -, Marcelo conhece a filha e sabe como entretê-la. Com os dois a confortá-la, esquecerá logo.

— Cidinha acha que Caio voltará.

— Perderá logo a esperança e esquecerá, Cidinha confundiu os sentimentos, gosta de Caio, não o ama.

Após o filme, Caio foi para casa e deitou-se logo. A imagem de Cidinha veio-lhe à mente; “Será que ela estaria sofrendo?” pensou triste. Se está sofrendo, sofre menos do que soubesse a verdade. “Tinha que pensar nela só como irmã.”

Parecia um tanto difícil a ele que, dias antes, pensava amá-la.

“Ah! Meu Deus! - sussurrou baixinho -, como é difícil dizer: “Pare de pensar nela, deixa de amá-la”. Como mandar em sentimentos? Será que a amei mesmo? Não devo amá-la, permita que não, Jesus, gosto dela, somente.”.

Caio chorou, sofria, orou, confundiu as orações, dei-lhe passe, foi se acalmando e dormiu.

No outro dia, levantou-se cedo, só a mãe e as tias estavam acordadas, dizendo ter encontro com amigos, Caio saiu de casa para ir ao Centro Espírita.

A turma o esperava em frente do prédio, alegraram-se em vê-lo, cumprimentaram-no os conhecidos e apresentaramno aos outros. Caio sentiu-se bem, à vontade, simpatizou com todos.

Entraram muitos jovens estavam presentes, separavam-se por faixa etária formando diversos grupos, cada grupo foi para uma das salas. Caio ficou no salão entre Andréa e Luísa. Um casal de meia-idade estava na frente, Andréa explicou a Caio:

— Hoje, a reunião será diferente, convidamos um casal para uma palestra.

Não demorou, deram o início.

Andréa fez a oração inicial com emoção, pedindo ao Pai Celeste forças a todos os jovens para resistirem aos vícios que no momento arruinavam tanto o físico como o Espírito de tantas pessoas. Pediu a Jesus a coragem para não se envergonharem a ser chamados de “caretas”, “ridículos”, por estar no caminho certo. Oraram o Pai-Nosso.

O senhor explicou sorrindo que não eram tão velhos e que preferiam ser chamados de Irineu e Magali. Em seguida, pegou um livro e começou a ler. Caio leu o titulo: “O Livro dos Espíritos”.

O texto falava sobre a pluralidade das existências, das muitas vezes que nós, em diversas épocas e de muitas formas, encarnamos na terra. As diferenças não são injustas, muitas vezes são colheitas do passado, ou são formas de aprendizado ou de estágio, pobres ou ricos, inteligentes ou débeis, perfeitos ou inválidos, são oportunidades que temos de resgatar erros ou repará-los. Deus não seria justo se presenteasse uns com beleza, inteligência e a outros castigasse com feiura e pobreza.

Deus não castiga nem recompensa; somos nós que, ao praticarmos erros, plantamos a má semente que um dia iremos colher. Ao praticar o mal contraímos uma dívida para conosco e para com aqueles que prejudicamos. Chega o dia em que teremos de resgatá-las. A maldade feita por nós desarmoniza-nos e harmonizamo-nos pelo sofrimento ou fazendo o Bem.

Perguntas foram feitas e dadas opiniões, Caio escutava atento, quis indagar, mas achou que, por não conhecer nada, poderia fazer perguntas primárias, até ridículas.

Estava entendendo que Luísa tinha razão, as explicações ouvidas vinham diretas ao seu raciocínio, satisfazendo-o.

— Irineu, - indagou um dos jovens -, e o débil mental?

Como explica-nos o Espiritismo um Espírito encarnar em um corpo tão debilitado?

— Tudo o que temos perfeito devemos conservar, cuidar para que continue. Você, meu jovem, é perfeito moço, bonito e inteligente, seu corpo é perfeito. Se passar a tomar drogas, bebidas alcoólicas em demasia, danificará seu corpo e por vontade própria. Seu cérebro perfeito desarmoniza, desencarna e seu perispirito estará doente e poderá transmitir na encarnação futura o estado perispiritual. 

Ou se você agora suicidar-se, dando um tiro na cabeça, danificando o que tem de perfeito, desarmonizao e voltará para harmonizá-lo no corpo físico que poderá vir a ser deficiente. São muitas as causas que fazem com que um Espírito reencarne num excepcional, vemos também pelos estudos espíritas que pessoas inteligentes, usando sua inteligência para o mal, desarmonizando, podem encarnar em corpos debilitados para se ajustar perante as Leis Cósmicas.

— Luísa, - cochichou Caio -, parece que nada que este senhor fala me é desconhecido, incrível! Tenho a certeza de que nada parecido escutei sobre o assunto!

— Irineu, - falou alto Luísa -, Caio, meu amigo, acaba de dizer-me que parece que sabia disso tudo, porém, garante nunca ter ouvido falar sobre este assunto.

Caio encabulou-se, olhou feio para Luísa que nem se importou. Irineu deu sua explicação:

— Tantas vezes este fato nos acontece. É prova para os crentes da existência de outra vida encarnada ou de um aprendizado num período desencarnado. Tantas coisas que fazemos, vemos ou escutamos a primeira vez, nos parecem conhecidas, sentimos que recordamos, sem conseguir saber onde aprendemos, vimos, etc. 

Caío, você tanto pode ter aprendido sobre este assunto em outra existência como ter estudado no período em que esteve desencarnado no espaço espiritual.

Caio gostou da explicação, sentiu no íntimo que era isso mesmo, aproveitou e disse:

— Gosto deste local, gostei do que ouvi, sinto que me encontrarei no Espiritismo. Realmente, parece que já sabia do que foi dito aqui, porém não recordo de mais nada.

Quero pedir para fazer parte do grupo.

— Claro, - disse Irineu -, seja bem-vindo, já é um dos nossos jovens. Se quiser, leve para ler os livros básicos de Kardec e aqui estaremos para explicar o que não entender.

O objetivo deste encontro é reunir jovens e estudar as verdades eternas, estudar o Espiritismo, para aqueles que querem este estudo, são setas no caminho que nos levará ao progresso espiritual.

Após, o grupo comentou sobre o trabalho que fazia junto a creches, asilos e orfanatos. Naquela tarde iriam a um orfanato. A oração final foi feita por Márcio que pediu bênçãos ao novo companheiro. Caio emocionado agradeceu em pensamento por ali estar e a oportunidade de fazer parte de um grupo tão legal.

Todos saíram, combinaram encontrar-se às três horas ali, na frente do Centro Espírita, para se organizarem nos carros de que dispunham para ir ao orfanato.

Caio foi para casa tranqüilo, com os livros que Irineu emprestara-lhe, pensando em começar a lê-los naquele mesmo dia.

 
Médium: Vera Lúcia M. Carvalho
Espírito: Antônio Carlos

Deus proteja a todos...

abçs,
 

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