quarta-feira

O Voo da Gaivota XVII


O Médico Nazista
Quando fomos assistir à recuperação de Walter, na reunião do Centro Espírita, defrontamos com um caso muito interessante que me chamou atenção e, por isso, acompanhei o desenrolar do drama.

Estávamos aguardando o início, quando chegaram três pessoas: um casal com a filha adotiva. O casal, principalmente a senhora, queixou-se que a mocinha, a filha, continuava tendo suas crises.

Artur me explicou que Joana, assim se chamava a jovem, era médium e estava sendo obsediada por alguns espíritos, suas vítimas no passado. Tinha crises, em qualquer hora e lugar, e procurava meu pai, em horários inoportunos, para lhe dar passes, porque só assim se acalmava.

Minha mãe foi sentar-se ao lado dela, porque, conforme me explicaram, logo que entrava no Centro, começavam suas crises, e era necessário alguém perto que a controlasse. Seus obsessores possuíam sobre ela o domínio psíquico, mesmo à distância. Queriam que sofresse, pois ela os havia prejudicado.

Gosto muito de ver minha mãe, pois amamo-nos muito. É a pessoa de quem mais gosto, e sempre que me é possível vou visitá-la, ficar ao seu lado, porque me é prazeroso. Joana é uma mulata forte, de olhar malicioso, demonstrando não estar a fim nem de orar, nem de melhorar. Ali está por imposição dos pais e para ficar livre de suas crises, que considera ridículas e que lhe fazem passar vergonha.

O seu obsessor chefe era inteligente e sutil e, como ela tinha má índole, passou a incentivá-la a fazer uso da maldade, chegando a ponto de incorporar, utilizando-a como médium, e tentar matar a mãe e o pai. Fazia com que descuidasse completamente da disciplina pessoal e dos compromissos próprios de sua idade, para envolvê-la no seu ardil.

O desencarnado transmitia-lhe acontecimentos do passado das pessoas para que, assim, dominasse as mais fracas que a cercavam. Quando foi levada até a casa de meu pai, o obsessor aceitou, porque confiava que iria dominar qualquer encarnado com que defrontasse, sentindo-se assim forte no seu orgulho e pretensão. Vencidos os primeiros embates, o obsessor sentiu-se admirado pela força que desconhecia e quis, então, aprender com eles, com o grupo do Centro, não para melhorar, mas para ficar mais poderoso.

" Artur me pôs a par dos acontecimentos. Joana, em sua encarnação anterior, fora um médico nazista e praticara muitas maldades e experiências com os judeus. Reencamou longe da Alemanha, num corpo feminino e mulato, mas mesmo assim foi encontrada pelos que não a perdoaram. Sabiam que ela comparecia ao Centro para se livrar deles, os obsessores. Sorrindo e com seu modo agradável, Artur comentou:

- Patrícia, seu pai, por ajudar a jovem, está sofrendo com o rancor desses obsessores. Mesmo entender que os espíritos têm seus motivos para perseguir as pessoas, por isso devemos entendê-los e tentar amá-los, porque eles também necessitam de ajuda. Para não sermos atingidos pelos obsessores, devemos mudar nossa vibração, sair da faixa mental deles, isto é, pensar em coisas boas e superiores e agir de modo digno, trabalhar no Bem e amar muito.

Vocês aqui estão em busca de auxílio, porém devem ajudar a si mesmos. Certamente, quando você se sentir bem, Joana, não voltará mais aqui. Porém, quero lhe dizer uma coisa, você é médium e necessita aprender a lidar com sua faculdade e trabalhar muito no bem, para viver tranqüila e sem essas crises. Mas, se você se afastar do Centro Espírita e não se modificar, a situação que vive agora voltará sempre. Os Centros Espíritas estão melhor preparados para ajudar nos casos de obsessão, ensinando a lidar com a mediunidade para o bem,e em suas reuniões ouvirá ensinamentos que ajudarão a sua renovação interior.

Joana não gostou muito do que ouviu, mas ficou quieta.

Quando começou o trabalho de desobsessão, três dos que a estavam importunando, se comunicaram. Os três, dois homens e uma mulher, foram judeus, ou ainda eram, pois o fator raça se mostrava ainda forte neles. O primeiro estava sem um braço e sem o olho esquerdo. Cumprimentou mal-humorado, não queria conversar com ninguém, foi perto do médium contra sua vontade e falou com raiva:

- Por que interferem no que é justo? Embora tenham outra religião, vocês amam a Deus. Nunca ouvi falar de religião deste jeito. Oram, dizem fazer o bem, conversam com os mortos, mas ajudam os criminosos. Isto não está certo. Por que o ajudam, esse monstro sanguinário?

O desencarnado desconhecia o Espiritismo, estranhando o intercâmbio mediúnico e o ensinamento de que todos somos filhos de Deus e, por isso, irmãos uns dos outros.

- Se eu lhe disser que queremos é ajudar você... – começou a dizer meu pai, porém foi interrompido por ele.

- Ah, mas por que não nos avisaram logo que querem se unir a nós. Quanto mais, melhor!

- Você não entendeu, queremos ajudá-lo a se recuperar, a tomar-se sadio, a viver de modo digno, num lugar propício.

- Quem lhe falou que quero ser sadio? - indagou nervoso.

- Já me propuseram isto uma vez e não aceitei. Quero ficar como ele me deixou, para ter sempre motivo para odiá-lo.

- Você sofre e faz sofrer - disse meu pai.

- Nem começamos. É melhor dizer: sofre e faremos sofrer cada vez mais - respondeu ele.

- Não vale a pena! Você já pesquisou por que sofreu assim? Se sabe que continuamos a viver após a morte do corpo, que reencarnamos e, por isso, é que você o está perseguindo reencarnado em outro corpo? Então sabe que viveu encarnado outras vezes. Vamos, irmão, recordar seu passado? A equipe desencarnada, já pronta, colocou à sua frente a "tela", que é como na espiritualidade chamam este aparelho.

Ele é denominado de muitas maneiras, havendo alguma diferença de um local para outro, mas é sempre o mesmo e muito útil. O espírito que se comunicava fora, na encarnação anterior também judeu e, numa guerra, havia trucidado muitás pessoas, entre elas jovens e crianças. Ao recordar, deu gritos lancinantes, mas o médium, treinado, só alterou um ouco a voz isso porque não é necessário gritar.

Acalmaram o desencarnado que, com dificuldade, voltou a falar.

- Olho por olho...

- Não, meu amigo - disse meu pai. - É a lei do retorno: você plantou, você colhe. Não precisaria sofrer assim, se tivesse entendido a lei do Amor e feito o bem.

- Ela também pagará pelo que fez? Pelo que entendi, se ela não Fizer o bem, sofrerá o que me fez sofrer. Você não irá conseguir fazer dela uma pessoa boa. Que será dela?

- Deixe-a, irmão, deixe-a! Cuide de você. Vamos ajudá-lo, pense em Deus. O Pai é bondoso e nos ama. A equipe médica entrou em ação e com os fluidos doados pelos encarnados e também pela vontade do espírito que, agora, queria tornar-se sadio. O braço se curou e ficou perfeito, como também o olho.

- Perdoe, irmão, para ser perdoado!

- Como não perdoar, se devo tanto? Perdôo e peço perdão a Deus. Queria ir para junto dos meus, lá na minha terra.

- Atenderemos seu pedido.

Ele saiu de perto do médium e passou para outra fila, a dos que iam para a Colônia.

Após a reunião, seria levado à Colônia São Sebastião por uns dias e, depois, seria transferido para onde quisesse. Uma equipe o levaria.

Normalmente reencarnamos em diferentes raças, para aprender amar a todas. Mas, sem ser regra geral, alguns judeus mais radicais ainda têm preferido vir sempre como judeus, a esperar o Messias, pois se julgam os filhos escolhidos, o povo de Deus, mas são, realmente, como todos nós, porque não somos privilegiados pela raça.

Aqueles desencarnados, totalizando onze, estavam há algum tempo, nas regiôes espirituais do Brasil, à procura, para vingar, deste espírito, que fora um médico nazista. Já começavam a dominar o idioma português, pois o médium que o auxiliou, sempre consciente, não precisou se expressar com sotaque. Devemos esclarecer que o médium transmite o pensamento do espírito e, nestes casos, sentem mais do que propriamente repetem o que escutam. A mediunidade, quando educada, é maravilhosa, e assim possibilitou que, ele, judeu, transmitisse pensamentos que o médium traduziu por palavras.

O outro judeu se incorporou em outra médium e foi doutrinado por uma integrante encarnada, do grupo. Lídia conversou com ele e o fez entender a necessidade de perdoar e seguir seu caminho.

Ele, porém, quis ficar em nossa Colônia e, quando fosse reencarnar, preferia que fosse aqui. Não gostaria mais de ser judeu, porque, segundo comentou, os judeus sofriam muito com a segregação. Normalmente esses pedidos são atendidos,porém o departamento próprio da Colônia é que estuda cada caso.

A mulher também incorporou. Parecia fria, porém ao sentir o afeto dos trabalhadores da casa, encarnados e desencarnados, conteve-se para não chorar, e disse com voz comovida:

- Não sou má, ele, sim, é maldoso. - referindo-se à jovem Joana. -Esconde-se em outro corpo, mas é ele. Pensa você que ele é bom? Não! Nos enfrenta e, se pudesse, nos faria sofrer tudo novamente. Você acha que é por persegui-lo que somos maus? Somos vítimas!

Vou falar o que ele fez comigo e, então me dará razão.

Fez uma pausa e como se criasse coragem para recordar e começou:

- Estava casada e feliz, tínhamos uma pequena fortuna e dois filhos lindos. Quando a Segunda Guerra Mundial começou, nos apavoramos, porque sabíamos muito bem que os nazistas perseguiam os judeus. Meu esposo alistou-se no exército, na tentativa de impedir que eles nos oprimissem, no país em que vivíamos e, por isso, morreu lutando.

Quando houve a invasão de nossa cidade, fomos presos e nossos bens confiscados. Da prisão partimos para o Campo de Concentração, onde sofremos muito: frio, fome e humilhações. Naquele Campo havia um laboratório onde este médico medonho e outros faziam experiências com os presos, ou simplesmente os torturavam pelo prazer de vê-los sofrer.

Ao ver meus filhos chorarem de fome e frio, e com muito desconforto, resolvi pedir clemência. Solicitei para falar com o comandante e, para minha surpresa, ele me atendeu e me levou à sua sala. Quem me atendeu foi esse aí, o médico nazista, que me olhou de cima a baixo e me indagou:

"Então, judia, que reivindica?"

Pensando que ele ia me ajudar, falei rápido para não perder a coragem:

"Por favor, senhor, aqui estou com meus dois filhos pequenos, passamos fome e frio."

"Se você se entregar a mim, intercederei por vocês" – disse rindo. Sempre fui muito direita, fiel ao meu esposo, porém, pelos meus filhos, aceitei a proposta indecente. Depois, ele mandou que um soldado fosse buscar meus filhos.

Achei que, pela felicidade dos meus, teria valido o sacrifício. E, esperançosa, quando pensei que fosse me dar ajuda, meus dois filhos chegaram assustados e correram ao meu encontro. O mais velho estava com quase sete anos e o outro, com quatro. Gelei quando ouvi a ordem.

"Leve-os ao laboratório!"

Era no mesmo prédio, na sala ao lado. E cada soldado pegou um de nós e para lá fomos arrastados. Amarraram-me fortemente numa cadeira e ele, cínico, me olhou sorrindo:

"Idiota! Judia imbecil! Pensou que eu ia me encantar por você? Verá para que serviu sua astúcia em me pedir auxílio."

Pedi a ele por piedade, pelo amor de Deus, para fazer o que quisesse comigo, sem maltratar meus filhos, porém ele ria. O que me fez ver foi horrível. Torturou meus filhos, cortou-os em pedaços até que morressem. Eles gritavam apavorados, olhando para mim e eu gritava também. Quando os dois não tinham mais vida, veio me torturar. Começou, extraindo minhas unhas. Fiquei alucinada e, aí, perdi o controle, pois a dor era demais. Mas ele não me torturou muito, desencarnei, pois meu coração não agüentou. Fui socorrida e fiquei muito tempo como louca e, quando voltei ao normal, alguns espíritos me disseram da possibilidade de vingança.
Aceitei e agi, com todas as minhas forças, para me desforrar.

Faço uma pausa nesta narrativa, para algumas explicações. Nos Campos de Concentração, como em qualquer lugar de aniquilamento humano, há muitos socorristas, como também há muitos desencarnados que agravam os acontecimentos. Do mesmo modo, costumam ficar outras vítimas a socorrerem suas companheiras de sofrimento. Esta senhora foi socorrida por outros judeus, que ali haviam desencarnado.

Não foi, assim, socorrida por espíritos bons, porque ela estava com muito ódio. As crianças e aqueles que perdoavam, eram levados às Colônias ou a outros lugares de socorro. Os que eram vítimas, tanto quanto ela, a socorreram, levando-a para um pequeno abrigo no Campo de Concentração, no Plano Espiritual e, quando ela aparentemente estava melhor, foi convidada a se vingar. A guerra é por demais triste, pelas atrocidades que se cometem.

Esforcemo-nos, pois, para que haja Paz, começando com a tolerância e a concórdia com os que nos cercam. A Paz começará em pequeno círculo, mas se a cultivarmos irá se ampliando e atingirá muitos outros e, dessa forma, um dia teremos a Paz por toda a Terra. E fatos como esses, tão tristes, ficarão apenas na história e não mais se repetirão: A senhora emocionada, continuou a falar.

- Ficávamos perto dele sem, contudo, conseguir nossos propósitos e ele ficava mais nervoso e revidava nos prisioneiros. Mas a desencarnação chegou para ele, quando foi atingido por uma granada. Sofreu bastante. Aí, sim, começamos nossa vingança. Nós o perseguíamos por onde ia, e ele vagava urrando pelo Umbral, até que se pôs a gritar por socorro e sumiu da nossa frente.

Vim a saber que espíritos bons o tinham levado para ajudá-lo. Nós não fomos socorridos, não queríamos, porque nosso objetivo era fazê-lo sofrer. Durante esse tempo, muitos desencarnados bons conversaram conosco, aconselhando-nos a desistir, mas escutávamos somente nossos companheiros. Entretanto, vários do grupo desistiram e os acompanharam.

Por outro lado, ninguém se esconde de seus erros e nem dos que não o perdoaram. E assim, enquanto procurávamos o perverso, aprendemos como nos vingar. Anos se passaram, mas conseguimos descobri-lo. Agora querem que eu desista Por acaso aqui há mães e pais? Será que podem imaginar o que é ver o que eu vi? Sofrer o que sofri?

Dá para imaginar ver seus filhos amarrados, gritando de dores e desespero? Odeio-o! Odeio-o!

Fez-se um silêncio total. Todos os desencarnados prestaram atenção, muitos, ao ouvi-la, conseguiram ver suas lembranças. Alguns choraram. Os encarnados também se comoveram. Ela sentiu os fluidos de amor e compaixão de todos. E, em dado momento, uma das trabalhadoras da casa, em espírito, aproximou-se dela, abraçou-a e falou emocionada:

- Minha filha, pare de sofrer! Por favor, recomece sua vida. Também sou mãe e entendo seu sofrimento. Compreendo seu desejo de vingança, porém, digo-lhe que dessa forma você vai perpetuar seu sofrimento. Venha para junto de seus amados e não sofra mais! Chega! Perdoe e venha conosco. Amarei você como uma filha! Venha!

- Minha irmã! - falou meu pai. - Ele reencarnou, e você parou no tempo só para se vingar! Por que não recomeça e tenta ser feliz? Devemos esquecer os momentos que nos foram cruéis e só lembrá-los para tirarmos alguma lição. É bem melhor pensar somente nos bons momentos. Você é infeliz! E recordando sempre esses fatos, prolonga mais seu sofrimento.

Você acredita em Deus, e se Ele nos perdoa por que não perdoa, nosso próximo? Sabe que nada que acontece fica escondido ou impune. Deixe seu algoz, agora Joana, em seu novo corpo, e cuide de você. Perdoe para ser perdoada!

- Quero esquecer! Esquecer!..

Aninhou-se nos braços da trabalhadora da casa que a abraçou e, após, foi levada adormecida para a Colônia. A reunião terminou com todos comovidos pelo sofrimento daquela senhora, e eram muitas as orações em seu favor. Emocionei-me, também, ao acompanhar suas lembranças, realmente duras cenas de horror.

Talvez possam vocês pensar que retrato muitas tristezas neste livro. É que as tristezas e as alegrias existem e devemos ser realistas, tirando de fatos tristes lições preciosas que nos impulsionarão com otimismo para o caminho do Bem e para a felicidade. Ao tomar conhecimento de fatos assim, conseguimos entender ambas as partes, e ajudar sem condenar.

Por isso como sou alegre, passo minha alegria aos que me rodeiam. A alegria nos fortalece, nos anima e nos dá compreensão da dor do próximo. Aquela senhora foi internada num hospital da Colônia onde recebeu, por tempos, tratamento, carinho e ensinamentos. A equipe da Colônia encontrou seus dois filhos e esposo, encarnados na Europa, e a levou para vê-los.

Estavam os três bem. Depois de algum tempo, ela pediu para ser transferida para a Colônia, na espiritualidade, onde estavam seus entes queridos. Estando bem melhor e com planos para reencarnar, porque só assim esqueceria tanto sofrimento, foi transferida. Despedi-me dela desejando-lhe boa sorte.

Mas ainda faltavam oito obsessores. Sete receberam orientação e ajuda, nas reuniões seguintes. Com cada um deles, uma história triste. Desses onze que obsediavam Joana, com desejo de vingança, dez foram socorridos e só um pediu para trabalhar no Plano Espiritual. Os demais pediram para reencarnar, pois queriam a misericórdia do esquecimento.

E todos foram atendidos. Contudo o chefe dos dez obsessores, de nome Josef, era um judeu rude que, ao ver os três primeiros se afastarem, voltou-se furioso contra meu pai, que, como sempre acontece, sentiu-lhe a vibração e tentou, também, orientá-lo. Artur soube que o grupo tinha seu núcleo na Europa e foi lá, para conversar com eles.

Eram vingadores dos criminosos de guerra, que se intitulavam: "Os Ofendidos da Guerra".

Constituíam-se em vários grupos, todos unidos entre si. Artur pediu uma audiência com o chefe, um judeu de muitos conhecimentos.

Após cumprimentos, Artur começou o diálogo. E nos contou, depois, que o chefe tinha total conhecimento do que acontecia com seus subordinados, junto a Joana, e não deixou que ele, Artur, falasse muito. Citava com exatidão pedaços do Antigo Testamento.

Sabia a Biblia quase que de cor Falava de muitas passagens para justificar a vingança.

"É olho por olho, dente por dente!" - falou demonstrando calma.

Artur replicou com os ensinamentos de Jesus. Ele disse não acreditar num profeta que se deixou matar. Mas, após alguns minutos de conversa, confessou que reconhecia a força e a presteza dos trabalhadores de Jesus. Artur lhe pediu, então, que parasse com as vinganças; ele riu, se aquietou por momentos, e falou decidido:

"Não é nosso interesse o confronto com ninguém. Temos tempo. Vou suspender a vingança dele por enquanto. Chamarei Josef, o único que ficou, e que é o mais decidido em seus objetivos. Só faço um aviso: teremos outra oportunidade. O mais difícil já conseguimos, pois sabemos onde ele está, que se esconde num corpo de mulher quase negra. É castigo para ele, orgulhoso de sua raça, ter sido loiro e rico, agora quase pobre, mulher, mulata e filha adotiva.

Acharemos outros que o odeiam. Ele certamente não ficará para sempre na guarda de vocês, porque não mudou sua conduta."

De fato, Josef foi embora e Joana ficou livre dos seus obsessores, não porém de seus erros.

Meu pai chamou-a e a seus pais também, para uma conversa.

- Vocês vieram à procura de ajuda espiritual e a receberam.

Analisem o ocorrido e tirem boas lições de tudo o que lhes aconteceu. Esses fatos são, em parte,conseqüência do passado e o resultado da maneira de viver sem esforço para a melhoria íntima.

Você, Joana, está com sua sensibilidade completamente aflorada, isto quer dizer que você tem a porta aberta para receber influência do mundo astral, sem, entretanto, agora, poder discipliná-la.

Só terá influência e sintonia com espíritos bons, por meio de boas atitudes e de bons propósitos. E ficará ligada aos maus, se descuidar do seu aprimoramento espiritual. Se você se afastar do Bem, da oração sincera, e não se esforçar para mudar para melhor, não nos responsabilizaremos pelos acontecimentos futuros.

Afastando-se também da ajuda, tudo que passou mais facilmente se repetirá.

Joana não estava preocupada com o aprimoramento espiritual. Queria era força e poder.

Dominar. Mas indagou a meu pai.

- Sr. José Carlos, posso aprender com o senhor.

- Claro que pode. Deve!

- Vou ter essa força que o senhor tem?

- Poderá ter esta e muito mais. Mas, para isso, deve primeiramente educar-se na boa conduta e fazer por merecer a companhia dos trabalhadores desencarnados que convivem conosco. Mude para melhor e queira com vontade fazer o Bem, porque agindo assim aprenderá e muito.

Joana não respondeu. Sentindo-se melhor, afastou-se do Centro. Sua mãe ainda voltou outras vezes, mas também fez o mesmo. Artur me disse:

- Patrícia, nesse socorro, ajudamos mais os desencarnados que essa jovem. Ela, agora, não quer mais saber de seu pai e, quando o vê de longe, se afasta para nem cumprimentá-lo. A figura dele a faz recordar os ensinamentos que escutou, e que ela quer esquecer.

- Como ficará ela? - indaguei.

-Vamos aguardar. Os erros, Patrícia, não conseguimos jogá-los fora, porque nos pertencem, e um dia a reação virá. Quando o grupo de vingadores perceber que ela não está mais sob a proteção dos bons, voltará, talvez, como tenho visto em casos assim, com mais sutileza e cautela.

Ela, não vindo aqui e nem recebendo outro auxílio, não estará vinculada a uma proteção e, como não faz por merecer nenhuma ajuda, será fácil eles voltarem e se vingarem. Ele, ao desencarnar como médico nazista, foi socorrido, no Umbral, livrando-se daqueles que queriam dele se vingar, sendo levado na ocasião para um Posto de Socorro e logo em seguida reencarnou.

Socorro não quer dizer que o indivíduo tenha mudado, porque, mesmo que receba orientação, para mudar será necessária uma transformação interior muito grande.Fiquei a pensar como a crueldade faz mal ao que a pratica. Quanta imprudência em cometer erros. E a reação desses atos pedirá reajuste no caminho, mas como Deus é misericordioso sempre dá novas oportunidades.

Ao findar esta narrativa, posso concluir que todos nós, encarnados e desencarnados, tivemos um grande ensinamento com os fatos ocorridos. Que todos nós temos que aprender a amar, a ser úteis para termos Paz e sermos felizes. E que a alegria interna virá quando superarmos nossos traumas íntimos e ajudarmos outros a fazê-lo.

Alegria! 


continua...
 
bjs,soninha 

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