quarta-feira

A Casa do Escritor XIV


X - EXCURSÕES

Fizemos muitas excursões a muitas Colônias e uma que me encantou de modo especial, por parecer com a Casa do escritor, foi a Colônia que se dedica à Música e à Pintura. É lindíssima, móvel, tem também muitos filiados por todo o Brasil. Seu trabalho assemelha-se com o nosso. Tentam auxiliar sempre os que se dedicam à arte musical e à pintura. É rodeada por lindíssimas árvores e flores.

Por toda a Colônia vemos quadros famosos, cópias ou originais. Há muitos salões dedicados à música. Sua biblioteca e salas de vídeos são sobre os assuntos com que se trabalha na Colônia.

Fomos brindados com lindas músicas num dos seus salões e foi emocionante ter visto lindos quadros.Em todas estas Colônias, como também nas de estudo, fala-se muito o Esperanto. É muito agradável, o som das palavras é suave e harmonioso. Aqui se incentiva muito a aprendizagem desta fabulosa língua.

Partimos para ver na Terra o trabalho de encarnados com a Literatura. Ou seja, tudo que se escreve. Assombramo-nos com o número de revistas de fofocas e eróticas, com sua quantidade e preços altos. Fomos visitar suas editoras. São lugares de trabalho como outro qualquer. São sempre visitados por uma equipe da Casa do escritor, como a nossa, com os oito alunos e Maria Adélia.

Depois de vermos tudo, fomos observar as pessoas que lá trabalham.

Pessoas normais,umas inteligentes,que ali estavam pelo salário.Algumas estavam sendo influenciadas por espíritos bons ou maus. Muitos espíritos bons ali trabalham, como ia tentar fazer nosso companheiro José Luiz, tentam instruir as pessoas para que escrevam artigos bons. Outros espíritos, maus, ali estavam para guardar o território, que de fato era mais deles que nosso. Costumam instruí-los a escrever mais fofocas e maledicências. Nenhum deles obsedia por este motivo, só tentam instruí-los.

Tudo estava calmo. Nestas revistas que têm como objetivo assuntos banais, nosso trabalho é difícil, às vezes, impossível. Tanto que a maioria das visitas são apenas de reconhecimento, para aprender. Para que pudéssemos observar mais, Maria Adélia se fez visível à equipe de espíritos trevosos que ali estava. Eram espíritos maus, porém instruídos. Logo um deles veio conversar com ela.

- Olá, boneca! Que quer? Deseja ficar conosco? Você é uma beleza!

Mais três cercaram-na, todos se puseram a examiná-la, rindo.

- Estou só observando o local - respondeu nossa instrutora.

- Que fazem aqui?

- Podemos dizer que trabalhamos aqui. Veja esta matéria, foi inspirada por mim - disse um deles com orgulho, mostrando uma reportagem. Era uma matéria muito erótica. Maria Adélia deu uma olhada.

- Mas consta só o nome do encarnado na reportagem – disse ela.

- Isto que incomoda! Mas não faz mal. O prazer é o mesmo.

- Tem chefe? Obedecem alguém? - indagou Maria Adélia.

- Você é intrometida! Pergunta demais. Temos, sim, uma organização. Se você quiser fazer parte, podemos dar um jeito, uma ajuda a você. Sabe escrever? Digo, fazer reportagens? Você tem cara de inteligente. Só que está muito mal vestida. Parece beata - Sei escrever sim. O trabalho é difícil.

- Aqui é bem fácil. A parte difícil é quando somos mandados a atrapalhar pessoas que fazem outro tipo de escrita. A Literatura Espírita, por exemplo.

- Vejo tão pouco. Coisas que dizem ser boas no mercado, por que se preocupam com isto?

Quem respondia era um deles, o mais orgulhoso e arrogante.

- Vejo que a menina entende disto. É verdade, mas há os teimosos que escrevem tentando ensinar a boa moral.

- Venha cá, me dá um abraço - disse um outro tentando agarrar Maria Adélia.

Minha mestra se fez invisível a eles.

- Sumiu a garota! Que pena! - disse o que ia abraçá-la.

- Ou ela não gostou de você, ou deve ser uma abelhuda do Cordeiro. Não sei o que veio fazer aqui - resmungou um outro.

Assim, de forma parecida, fomos a muitas editoras, encontramos sempre um espírito bom que lá trabalha. Se eles acham difícil atrapalhar os bons, nós achamos difícil ajudar estes encarnados.

Alguns até querem mudar, mas os objetivos destes escritos são outros, é o que dá vendagem, infelizmente. E vivem do comércio.

- Estas pessoas estão comprometendo-se com este trabalho? - indagou Osvaldo a Maria Adélia.

- Tudo que fazemos destruindo nos cabe a reconstrução. Mas depende de cada caso. Algumas pessoas aqui estão pelo salário, outros gostam do que fazem. Aquele que grafa seus pensamentos em escritos ruins que venham prejudicar a outros é responsável por eles. Mas a maioria são escritos de péssimo gosto somente, não faz mal nem bem.

Lembro a vocês que esta Literatura existe porque tem quem a consome. Fazem e vendem.Vimos uma pessoa, um escritor, escrevendo fatos ruins. Ele estava obsediado por uma entidade horrível. Vimos que esta entidade o influenciava de forma bem acentuada, fazendo-o escrever besteiras, melhor dizendo, de forma ruim. Novamente Maria Adélia fez-se visível ao obsessor para conversar, para que pudéssemos entender
alguns fatos.

- Oi - disse Maria Adélia.

- Olá.

- Você está trabalhando com ele?

- Estou, que você tem com isto?

- Nada. Só que acho que ele escreve tão mal!

Diante desta observação, ele sorriu satisfeito. Ficou mais amável.

- Você acha? Que bom!

- Pensei que ia zangar-se, vejo-os trabalhando juntos.

- É para isto que estou aqui. Para fazer ele trabalhar mal, escrever besteira que
ninguém editará.

- Vinga-se, por acaso?

- Sim. Quem é você? Pergunta demais.

- Sou só uma pessoa que gosta de ler.Estava passando e li a bobeira que ele escreveu. Só isto. Adoro histórias. Fiquei curiosa. Como pode você um cara tão inteligente, vê-se logo que é um intelectual, ficar perto deste boboca. Riu contente e respondeu.

- Você tem razão. Sou inteligente e instruído. Escrevo muito bem. Quero que ele se afunde. Merece!

- Não quer me dizer o que houve? Você fala tão bem!

Maria Adélia, lendo os pensamentos dele, viu que ele era vaidoso, incentivou-o para que falasse, para que pudéssemos ouvi-lo e para tentar ajudá-lo.

- Está bem. Vou falar só porque você soube reconhecer que sou inteligente. Sou filho único, minha mãe viúva deu um duro danado para que fosse estudar. Meu sonho era ser jornalista ou um escritor famoso. Tinha um amigo com os mesmos desejos. Um dia, apareceu uma oportunidade, um jornal fez um concurso e o vencedor iria ter um emprego de jornalista. Entusiasmado, fiz uma matéria genial. Este cara também. No dia de entregar, minha mãe ficou doente e pedi a ele para entregar a minha matéria. Confiei.

Mamãe melhorou e esperamos aflitos o resultado. Ele ganhou.

Alegrei-me por ele. Mas, ao ver a matéria que ele apresentou, estremeci. Era a que eu havia escrito. Só com algumas pequenas modificações. Fui até o jornal e constatei que minha matéria, a do meu nome, não foi entregue. Ele me enganou. Pegou a minha matéria e entregou como se fosse dele. Odiei-o. Fui atrás dele tirar satisfações.

Fui recebido com ironias. Disse-me que foram suas modificações que o fizeram ganhar o concurso. Riu de mim por confiar nele. Não tinha como provar sua culpa. Louco de raiva, avancei sobre ele e brigamos de murros e socos. Fomos separados, ele foi embora rindo. Entrei num bar e bebi. Não estava acostumado a beber e embriaguei-me fácil, saí para a rua, fui atropelado e desencarnei. Minha mãe sofreu muito e eu vaguei sem rumo por anos, culpei-o por todos os sofrimentos. Minha mãe desencarnou, mas os bons a levaram, não pude nem falar com ela. Um dia soube que no Umbral havia uma escola para aprender a vingar-se. Fui até lá, contei minha história e fui aceito. Aprendi fácil.

Agora vingo-me deste safado. Ele não terá mais glória, faço-o escrever só porcaria. Alegro-me com seu desespero ao ver rejeitados seus trabalhos. Então, garota, vê como tenho razões?

- Você não sofre aqui? Não gosta dele e fica perto dia e noite. Não é melhor ir para um bom lugar, talvez junto de sua mãezinha? - disse Maria Adélia risonha e gentil.

- Qual é "meu"? Por não gostar dele que estou aqui, para vingar. Quanto à minha mãe, ela que venha para perto de mim.

- Por que você não analisa os acontecimentos de outra forma? Pela lei das reencarnações, você teria que desencarnar jovem. Por má colheita, teria que sofrer uma traição.

- Você começa a me enfurecer. Sei bem que já vivi outras existências, meus erros do passado pouco me importam e acho que não têm nada a ver com o que faço. O que importa para mim é o que faço no momento. Vingo-me dele porque ele merece. Pensa que ele é bom? Nada faz de bom e só pensa nele. Por que você está me falando isto? Veio aqui defendê-lo? É melhor sair daqui. Fora! Saia depressa!

Falou aos gritos, ameaçando-a com a mão. Maria Adélia saiu,saímos. Nossa instrutora explicou.

- Como vê, fazemos mal a nós mesmos quando prejudicamos alguém. Este obsessor foi ao Umbral, em lugares denominados escolas, aprender a vampirizar e a obsediar.

Muitos são os núcleos de ódio.

- Será que a mãe dele não vela por ele? - indagou Carlos Alberto.

- Acredito que sim. Mas, enquanto ele estiver tão endurecido, ela não pode ajudá-lo. Nós não viemos aqui para socorrê-lo. Viemos ver como se processa uma obsessão com um literato. Este fato que vimos é uma minoria e também um acontecimento de vingança particular. Muitas obsessões neste ramo são para escrever exaltando erros. Aqui, ninguém pediu ajuda, não nos cabe intrometer. O encarnado é frio, calculista e egoísta.

- Leva-nos a crer que esta obsessão não é de todo ruim para ele - disse Adelaide.

- Obsessão não é bom a ninguém. O obsessor perde tempo e o mal que faz a ele mesmo se reverte. O obsediado pode odiar cada vez mais. O encarnado com estes defeitos vibra como o desencarnado, por isso torna-se alvo mais fácil à obsessão.

Ele,não conseguindo escrever mais nada de bom, no sentido literário,terá um castigo ao seu orgulho. Vamos desejar que ele aprenda a lição.

- Se ele fosse uma pessoa religiosa,que orasse e fosse bom, o desencarnado poderia obsediá-lo? - indagou Carlos Alberto.

- Ele errou com o desencarnado. Traiu o amigo, roubando-lhe a matéria. Mas para todos os erros há perdão, quando o errado pede com sinceridade. Ele tem que sentir que, se voltasse o tempo, ele não faria o que fez novamente. Só pedir perdão é fácil demais.

Há ainda a necessidade de reparar. Neste caso, ele, o encarnado, arrependido, pediria perdão ao ex-amigo. Mas, respondendo a sua pergunta. Se ele tivesse se tornado bom, orasse com fé e sinceridade, dificultaria esta perseguição. Se orasse com fé e sinceridade, orações de coração, ficaria bem difícil obsediá-lo. Neste caso, já teria sido socorrido por alguma equipe de socorro.

Fomos ver algumas pessoas que escrevem inspiradas por espíritos trevosos. O encarnado imprudente quase sempre está à procura de glória e fama, e estes desencarnados querem propagar seus objetivos que são levar a Terra mais ainda ao caos, e mais pessoas à perdição. Mas quero deixar claro que a culpa é de ambos.
Todos temos nosso livre-arbítrio que é respeitado. Estes desencarnados quase sempre cuidam do encarnado, fazendo-lhes favores e desfrutando juntos de prazeres. Digo prazeres, porque das dores o desencarnado não quer nem saber, o encarnado que se vire.

Não há um núcleo no Umbral que cuida especialmente da Literatura, em todas as cidades Umbralinas há bibliotecas, algumas bem organizadas. Revistas e livros obscenos são manchetes lá.

Fomos a uma cidade do Umbral, numa festa, promovida para homenagear um escritor encarnado. Disfarçamo-nos e lá fomos os dez, nós, os oito alunos, e os dois instrutores. O salão da festa estava enfeitado com bandeirinhas e por toda parede havia quadros obscenos. Tudo muito colorido. O encarnado homenageado, que fora desligado enquanto seu corpo dormia, ora parecia um tanto alheio, ora mais consciente.

- Estes livros que vemos aqui são cópias dos seus livros e artigos que são editados na matéria. São cópias plasmadas - explicou Aureliano.

Uma música alta se ouvia, músicas quase todas eróticas, algumas conhecidas dos encarnados, outras não. Não fomos percebidos no meio dá multidão, e pudemos observar tudo. Muitos encarnados estavam presentes como convidados. Conversavam e gargalhavam muito. Depois de termos andado por lá e visto tudo que desejávamos para nosso conhecimento, fomos embora.

- Este encarnado sabe que está sendo usado? – indagou Henrique.

- Acredito que não. É muito orgulhoso e vaidoso para desconfiar. Deixo bem claro que nem todos os escritores escrevem inspirados, sejam obras boas ou ruins. Muitos têm talento e fazem sozinhos. Os que são inspirados têm que ter também dom para escrever, se não fosse assim, o desencarnado não conseguiria fazer o trabalho sozinho.

"N.A.E.- O desencarnado que ajudava a escrever estava perto do escritor todo orgulhoso, dando também autógrafos.

- Quanto a este escritor que vimos no Umbral, que acontecerá com ele quando desencarnar? - indagou Maria da Penha.

- Isto dependerá de como estiver sua vibração no momento. Se desencarnasse agora, iria para o Umbral, pois está vibrando com ele. Mas estamos sempre mudando e esperamos que ele mude para melhor. É uma pessoa de talento. Já estivemos incentivando-o a escrever boas obras. No momento, prefere continuar escrevendo o que vimos.

Aureliano fez uma pausa e completou emocionado:

- Vigiai e orai, disse-nos sabiamente Jesus, prudentes são aqueles que assim
procedem.

Patrícia / Espírito
Vera Lúcia Marinzeck de Carvalho / médium.
 
bjs,soninha
 

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