sexta-feira

O Voo da Gaivota XIII

 
DESENCARNAÇÕES
Nosso grupo de estudo foi com os outros dnis instrutores aprender, na prática, e tentar ajudar algumas desencarnações. Já havíamos visto, na teoria, as muitas formas de deixar o corpo físico.

Agora iríamos ver, para ter conhecimentos sobre os desligamentos de algumas pessoas.

Fomos avisados que estava havendo um tiroteio entre grupos rivais e nos dirigimos imediatamente para lá. Ao chegarmos, ainda trocavam tiros e algumas pessoas corriam com medo.

Os assassinos fugiram, deixaram caídos dois feridos: um, na perna; outro, no abdome, mão e perna.

Havia três mortos.

Rápidos, também, vieram para ajudar quatro socorristas que trabalhavam na região, e também um bando de desencarnados trevosos, que chegaram tocando tambores e fazendo barulho.

- Por que esta algazarra? - indagou Terezinha.

Alberto, um outro instrutor, respondia a todos, esclarecendo.

- Grupos assim, de desencarnados que vagam, estão sempre à cata de novidades e confusões.

Deliciam-se com brigas, chegando até a apostar e torcer por um desfecho macabro. Temos visto alguns batucando, andando por aí, como estes que têm esta preferência. Muitos grupos possuem conduta elevada, mas são muitos os oufros .que gostam de algazarra.

Muitos do bando trevoso nos viram, outros nos sentiram.

Pararam perto e esperaram, porém continuavam a batucada.

Alguns gritaram dirigindo-se a nós.

- Ei, vocês do Cristo, andem logo!

- Peguem os que são de vocês e se mandem!

- Queremos os nossos!

Voltamos a atenção e os cuidados para os feridos. O que tinha levado três tiros, estava mal e perdia muito sangue. O dono do bar onde aconteceu o tiroteio chamou a polícia e a ambulância, o socorro para os feridos veio rápido e os dois foram levados para o hospital. Cleusa, que foi médica encarnada, acompanhou-os fazendo tudo ao seu alcance, para ajudá-los. Os três, cujos corpos físicos estavam mortos, mostravam-se confusos e sofriam.

- Este - disse um dos socorristas - é bom moço, trabalhador, correto, e atiraram nele só porque conversava com este outro, seu primo, que era traficante. Observamos melhor os três: eram todos jovens, adolescentes. O apontado pelo socorrista, via-se, pela sua aura, que era boa pessoa, todavia o que notamos nos outros dois, não foi nada agradável. A aura deles estava suja, pastosa e tinha tonalidade escura.

- Este - disse o outro socorrista, esclarecendo nossa turma - já assassinou três pessoas, é traficante e sádico. Tem dezessete anos. E o outro é um viciado em drogas e costuma roubar carros. Estes dois debatiam-se, desencarnados, já que os corpos mortos estavam inertes.

Ficamos em sua volta e oramos. Depois, aproximamo-nos do que era bom. Um dos socorristas lhe falou bondosamente:

- Jairo, você está ferido, vamos ajudá-lo. Calma! Fique tranqüilo! O garoto acalmou-se e o processo de desligamento foi rápido. Alberto esclareceu ao grupo:

- Logo a polícia estará aqui e levará os cadáveres. Precisamos desligar Jairo depressa para levá-lo daqui, evitando assim cenas desagradáveis a este jovem. Jairo, espírito, adormeceu tranqüilo e logo os socorristas experientes o desligaram, levando-o para um Posto de Auxílio, ali perto. Seu cadáver ficou com muitos ferimentos, mas o rosto demonstrava tranqüilidade. O socorrista que ficou, dispersou os fluidos vitais de seus restos mortais, para evitar que fossem sugados, vampirizados.(12)

Quando o socorrista terminou, afastamo-nos alguns metros, nada mais tínhamos a fazer. Agora, porém, seria a vez do outro grupo. Ficamos observando em silêncio e a cena trágica nos chocou.

Eles se aproximaram dos outros dois, e vimos um deles, parecia o chefe do grupo, especialista em desligamento, ficar bem próximo dos jovens mortos. Ele falou rindo, talvez imitando com deboche os socorristas.

- Calma aí, Negrão! Fique tranqüilo, Tenho! tiro vocês daí! Estão mortinhos! Ou melhor,mortões!

Alguns pararam a batucada para olhar melhor, outros continuaram. Com rapidez,  o desencarnado, demonstrando que sabia fazer e bem feito, desligou os dois sem qualquer delicadeza, jogando-os para os do bando, que os seguraram rindo e fazendo piadas. Os dois estavam abobalhados, assustados e com medo. O grupo avançou sobre os restos mortais deles, já que o socorrista vigiava o do que fora socorrido. Como feras, vampirizavam os fluidos vitais, sugando o que escorria pelo chão.

(12) - É cena deprimente ver espíritos vampirizando encarnados. Socorro na desencarnação depende só do merecimento. Espíritos que vagam necessitam muito de fluidos e, como não conseguem absorvê-los naturalmente, os roubam, vampirizando dos recém-desencarnados, como também o fazem dos encarnados. Quando isso acontece, o desencarnado sente esvair suas forças, suas energias psíquicas.

As energias físicas voltam à natureza, sendo sugadas as energias psíquicas ou mentais. Assim, quando os socorristas fazem isso, eles retêm para o corpo perispiritual as energias que o recém-desencarnado necessita, e fazem também retomar rápido as energias que são da natureza. (N.A.E.)

Alguns encarnados rodearam o local, olhando curiosos. Foi quando uma senhora se aproximou chorando, era a mãe de Jairo. Nós a rodeamos, tentando confortá-la.

- Jairo estará melhor agora! - disse Albertina, nossa companheira de grupo

Uma mulher que acompanhava a mãe de Jairo, sentiu a expressão forte e comovida de Albertina,abraçou-a e lhe falou:

- Neuzinha, não se desespere, Jairo estará melhor agora longe desta vida ruim!

- Estará! Falou a mãe comovida. Ele era tão bom, que só pode estar bem.

Veio outra senhora chorando desesperada. Era a mãe de um dos outros dois.

- Meu filho, avisei tanto que não era para se meter com esses bandidos.

Afagamo-las, confortando. Sofriam muitíssimo.

Os desencarnados do bando continuaram até que se saciaram, depois se afastaram alguns metros, observando, talvez porque também fazíamos o mesmo. Lourival, da nossa turma,querendo aprender, indagou ao socorrista que estava ali olhando, com tranqüilidade:

- O senhor não se entristece com essas cenas?

- Certamente, mas faz dez anos que trabalho no Posto de Serviço aqui perto e, infelizmente, estas cenas são comuns por aqui.

- E os outros dois - quis saber Marília -, que acontecerá com eles?

- Não foi possível socorrê-los porque insensatamente se afinam com o outro grupo.

Pelo que tenho visto, logo estarão a farrear com o bando, ou planejando se vingar dos seus assassinos.

- E o Jairo? - perguntou Lourival. - Aceitará o socorro oferecido?

- Acredito que sim -replicou o socorrista pacientemente.-É um bom garoto,afeiçoa-se ao bem e gostará do nosso Posto. Mas ele é livre, poderá sair se quiser.

A polícia chegou e começou o seu trabalho. Os do bando riam, ora xingando os policiais, ora um ao outro. Mas não se aproximaram. Quando os cadáveres foram levados, o socorrista despediu-se de nós. O bando também se afastou, fazendo muito barulho, levando os dois amparados, que estavam quase inconscientes e não entendendo o que acontecia.

Afastamo-nos silenciosos, vimos a desencarnação de três jovens, de modo violento e doloroso.

Deixo claro que nem todos os que são assassinos têm a , mesma maneira de desencarnar. Às vezes, quando há um tiroteio com desencarnação, o bando trevoso não comparece, nem os socorristas. Tenho visto alguns terem uma morte violenta e odesligamento ser compulsório, rápido, e o desencarnado ficar perto do corpo morto, sem entender o que ocorreu. E, em outros, o desligamento acontecer tempos depois. O socorro depende muito do merecimento, como no caso de Jairo, ou de muitos fatores, como o desencarnado pedir ajuda a alguém ligado a ele,seja encarnado ou desencarnado. Claro que, depois dos primeiros socorros, ele ficará abrigado, se quiser.

Fomos ver outro desligamento. Dirigimo-nos a um cemitério e, lá, visitamos um velório, na sala sete, onde éramos esperados. Fomos estudar o desligamento de uma mulher, cujo corpo físico completava cinco horas sem as funções vitais. Estava num caixão lacrado e sua desencarnação aconteceu em decorrência da AIDS.

Dois socorristas esperavam para começar o processo de desligamento. Logo após nos acomodarmos, eles se puseram a trabalhar. Havia poucos encarnados no velório e o enterro iria acontecer logo.

- Esta mulher - explicou um dos socorristas - teve uma vida degenerada. Mas, ao descobrir que estava doente, foi em busca de cura num Centro Espírita. Não teve a cura do corpo,mas a Doutrina muito fez por ela. Passou a ler livros espíritas, a ouvir palestras e mudou sua vida, modificando-se interiormente para melhor. Aceitou a doença e, nos últimos tempos, orava muito para ter socorro quando desencarnasse. Por isso, aqui estamos. Ela dorme e não está sentindo nada. Antes de seu corpo morrer, deram-lhe medicamento para dormir, e desencarnou
adormecida.

Alguns dos alunos, já esclarecidos, foram ajudá-los e em pouco menos de uma hora estava desligada. Dormia tranqüila.

- Pronto - disse o socorrista -, agora vamos levá-la para um hospital no Plano Espiritual, onde se recuperará.

Na sala ao lado desta, no velório, havia muito barulho e muitas pessoas choravam desesperadas.

Aproveitando a oportunidade de aprender, fomos lá ver o que ocorria.

De fato, vários encarnados ali presentes choravam sofrendo muito. Velavam o corpo de um adolescente. Um dos socorristas, que trabalhava com outros, naquele cemitério, acompanhou-nos e nos elucidou:

- Este garoto ia fazer dezesseis anos, mas suicidou-se dando um tiro no ouvido. Foi levado ferido para o hospital,onde ficou seis dias em coma,acabando por desencarnar. Ouvimos muitos comentários de encarnados.

- Dizem que foi por causa da namorada.

- Falam que se matou por ser homossexual.

E foram muitas os comentários maldosos. Não se devem fazer observações negativas de ninguém, principalmente num velório, pois devemos nos comportar como gostaríamos que procedessem no nosso.

Mas o que nos levou a ficar, para observar, foi que o garoto já estava desligado, só que perturbado, aflito e agoniado. Permanecia perto do corpo morto, sem se afastar, mas gritando desesperado, a querê-lo de volta, ou revivê-lo para continuar sua vida, como encarnado.

- Que imprudência! - exclamou Genoveva emocionada.- Quis se matar e, após fazê-lo, quer o corpo de volta.

- Certamente - esclareceu Alberto -, o garoto não pensou nas conseqüências do seu ato. Vendo seus pais e irmãos sofrerem tanto por ele, desesperou-se. Como também, vendo o corpo morto e ele vivo, enche-se de medo do desconhecido, da nova vida que agora terá.

Perto dele, tentando acalmá-lo e ajudá-lo, estava um senhor desencarnado, seu avô. Porém o garoto não queria afastar-se dali e não aceitava ajuda. Os encarnados choravam e ele chorava também. Nisso, um tio do menino entrou no velório. Era um senhor espírita, com modos educados, que, com frmeza, recomendou aos pais e familiares:

- Por favor, sei que a dor é grande neste momento, mas vamos orar todos juntos.

Vamos dar nossa ajuda a ele que tanto amamos, perdoando-o por seu ato insensato, pois não nos cabe julgá-lo, mas sim auxiliá-lo. Iniciemos, rogando ao nosso Pai

- Maior a ajuda que ele precisa, para que possa ser socorrido pelos bons espíritos.

Quietaram-se todos e o senhor fez uma oração muito bonita, no que foi acompanhado por todos, inclusive nós, desencarnados. O garoto parou de chorar e tentou orar, mas não conseguiu acompanhar as palavras do tio. Muitos tluidos o envolveram e, por momentos, ele se equilibrou e, após a oração, escutou claramente as palavras do tio, que lhe falou mentalmente:

"Calma! Não se desespere! Nada acabou com a morte do seu corpo. Somos eternos! Peça perdão! Aceite o socorro! Dura na! Calma!"

Ele aceitou a ajuda do avô desencarnado. Refugiou-se nos seus braços e dormiu. Só que seu sono era agitado e seu avô olevou para o abrigo, um pequeno Pronto-Socorro Espiritual daquele cemitério. O socorrista nos disse, explicando:

- Ele ficará em nosso abrigo até acordar.E,quando o fizer, seu avô e um orientador falarão com ele, e a ele caberá escolher se quer ou não o socorro. Se aceitar, será levado a um hospital no Plano Espiritual, próprio para suicidas, se não, sofrerá muito mais.

Mesmo num hospital, demorará a se recuperar, porque lesou o seu próprio corpo. Logo farão seu enterro e,como vimos, a atitude do senhor espírita foi de grande valia, demonstrando como as pessoas boas e com compreensão podem ajudar nos velórios.

Fiquei impressionada com a expressão de terror e desespero do garoto. Sei que é bem triste e de muito sofrimento, para os familiares, a ocorrência do suicídio. Mas não devem se desesperar, nem blasfemar e,sim,tentarem ajudar um ao outro, esforçando-se todos para auxiliar o suicida.

Que vejam nele um imprudente que fez muito mal a si mesmo, e a necessitar do perdão de todos e de muitas orações, colocando nelas o incentivo para que ele peça perdão, que rogue socorro e que aceite a ajuda oferecida, como também desejar-lhe paz e felicidade.

Isto vindo dos entes queridos o auxilia muito, pois os familiares do suicida não devem pensar que ele será infeliz e que sofrerá pela eternidade. Nada na espiritualidade se faz automaticamente,pois cada caso é visto com carinho especial. Não se deve matar ou tirar a vida física de quem quer que seja e,embora, as conseqüências do erro sejam penosas para quem o cometeu, o agressor sempre é perdoado, quando pede perdão com sinceridade e repara a falta. O carinho dos que nos amam significa conforto, a facilitar as coisas. E, quem pensa em se suicidar, que não o faça, por pior que seja a dificuldade do momento, lembrando que tudo passa, e o tempo trará as soluções.

Continuamos a existência após a morte do corpo e, para o suicida, essa continuação não é agradável, porque ele acaba sofrendo bastante.

O socorrista nos acompanhou para uma visita ao cemitério.

- Veja - disse Josefino -, dois desencarnados trevosos guardando este túmulo.

- Aqui está enterrada há nove dias uma senhora – esclareceu o socorrista. - Como ela ainda está ligada ao corpo, os desencarnados fazem rodízio para vigiá-la. São muitos os que querem vingar-se dela.

- Eles não poderiam desligá-la?-indagou Marília.–Pelo que vimos, muitos desencarnados maus sabem fazer isto.

- Claro que poderiam - respondeu o socorrista. - Mas já viram vocês como é triste o sofrimento de uma pessoa que fica, após o desenlace, ligada ao corpo por dias?

Sente a decomposição e os vermes a devorando. É por este sofrimento que eles não a desligam. Só vigiam para que ninguém o faça ou, se ela o fizer por si mesma, saia e eles a percam de vista. Certamente, quando eles sentirem que ela já está parando de sofrer no corpo em decomposição, a levarão para o Umbral.

- Ela deve ter sido muito má para ter despertado tanto ódio assim - comentou Hugo -, tenho pena dela. Será que vocês socorristas não poderiam desligá-la? Socorrê-la?

Alberto, querendo que todos entendessem bem o que acontecia, nos convidou:

- Vamos nos aproximar para estudar e entender melhor este fato.

Os dois desencarnados que vigiavam, não arredavam o pé do lugar, embora se inquietassem com nossa presença. Um deles, depois de gaguejar, esforçou-se para falar.

- Esta não é de vocês! E, depois, não estamos fazendo nada.

- Sei - respondeu o socorrista -, viemos só para estudar.

Vimos a senhora,seu corpo se decompunha e ela,espírito estava desesperada,revoltada e indignada. 

Blasfemava contra Deus achando injusto seu sofrimento.

- É por isto, Hugo, que os socorristas não podem ajudá-la. Vamos orar por ela - esclareceu Alberto.

Todos do grupo recolheram-se em orações. Fluidos nossos foram até ela, porém não a atingiram devido ao seu bloqueio negativo. Fluidos bons ou ruins não são impostos, são lançados, e recebidos quando queremos e, ainda, podemos repelir qualquer energia que nos seja lançada.

Quando oramos, ela por segundos pensou em Deus, mas não aceitou nossos pensamentos e sugestões de voltar ao Bem.De forma que,pelas oraçôes,recebem-se fluidos benéficos, mas se pensarmos negativamente, não se conseguem recebê-los. Enquanto orávamos, os dois vigias afastaram-se alguns metros, ficaram nos olhando e Cleusa dirigiu-se a eles:

- Vocês dois não querem orar conosco? Não querem ajuda? Não precisam de auxílio? Por que não a perdoam?

- Calma aí, moça! - respondeu um deles. - Perdoar por quê?  Ela nem pediu!  E por que se preocupa conosco? Não queremos nada de vocês. Não queremos orar. Ajuda? - riu. -Uma garrafa de pinga seria de bom gosto.

Afastamo-nos e nos despedimo dos socorristas,agradecendo. Estávamos sendo aguardados num apartamento, e para lá fomos, para estudar o desencarne de uma senhora. Alberto explicou à turma:

- Esta senhora é muito boa, teve uma vida digna fazendo do seu dia-a-dia um ato de amor. Ama a Deus profundamente, ama a si mesma com muito respeito pela vida e ao próximo como a si mesma.

Entramos no apartamento. A senhora que viemos observar morava sozinha, estava no quarto,deitada, e lhe fazia companhia a filha, que estava na cozinha preparando o jantar. Muitos desencarnados bons ali permaneciam, e vieram para estar com ela, porque a amavam. Alguns deles comentaram:

- Ao saber que minha benfeitora ia desencarnar, pedi licença para vir ficar perto dela, para transmitir-lhe o amor que lhe devoto.

- Ela é tão boa! Vou vibrar com carinho para que não sinta nada A senhora estava acamada e naquele dia sentia-se indisposta.Ao pegar o copo de água para beber, um socorrista colocou um remédio na água, que ela tomou, ficando sonolenta. Três socorristas especializados começaram, com delicadeza, o desligamento.

Após alguns minutos, o coração físico parou, e também a respiração. O corpo carnal morreu, o perispírito separou-se dele, e ela sorriu meigamente.Recebeu bons fluidos de todos os presentes e adormeceu tranqüila. Os que ali estavam por amizade e carinho começaram a cantar canções bonitas que escutávamos nas Colônias e Postos. O ambiente se mostrava radiante e com vibrações de muita paz.

O trabalho dos socorristas terminou e ela foi conduzida para uma Colônia. Alguns a acompanharam, outros permaneceram ali.

- Vamos ficar até o enterro - disse um senhor.

A filha veio dar uma olhada na mâe e pensou que dormia, ao vê-la quieta. Uma senhora desencarnada aproximou-se da filha e lhe pediu para ver melhor a mãe. Ela, então, notou que a mâe não respirava e entendeu que desencarnara. Ajoelhou-se, começou a orar e lágrimas escorreram abundantes pela sua face. Após acalmar-se, sustentada pelos fluidos dos desencarnados presentes, levantou-se e foi tomar as providências que cabiam no momento.

Afastamo-nos comovidos e Lourival comentou:

- Que diferença! Vimos uma desencarnada, de quem muitos queriam vingar-se. E esta senhora, com tantos a ajudar.

Alberto elucidou-nos:

- A desencarnação é a continuação real da vida que tivemos, pois ligamo-nos através de nossos atos. Presenciamos duas formas de viver diferentes e não precisamos saber o que fez uma ou a outra, mas concluímos como deve ter sido a via delas. Diretrizes para o bem-viver não nos faltam. Os ensinamentos de Jesus estão aí para todos, e não é difícil segui-los.

Felizes os que fazem do Bem o objetivo de suas existências!

- Por que umas pessoas se apavoram tanto com a desencarnação e outras não? - Hugo indagou.

Meditei por uns instantes, a pergunta era realmente interessante. Respondi tentando esclarecê-lo do melhor modo possível:

- Muitos realmente temem a desencarnação. O que normalmente acontece com alguns encarnados é que eles vivem as projeções, esperanças e idéias que preenchem seus pensamentos.

Outros, masoquistas, ruminam insensatamente ofensas, dores e angústias, gostando até de se sentirem doentes para serem alvo de atenção. Têm medo de olhar a vida como ela é, porque, se conseguissem ver a realidade da vida, teriam que mudar radicalmente seus pensamentos, modos e atitudes, por que a vida não está delineada como os seus desejos e recusas. Ela é o que é.

Vejamos um exemplo. Quase sempre, diante da desencarnação de um ente querido, preocupamo-nos conosco, nos primeiros instantes, quando pensamos: "Ai, meu Deus, que será de mim agora?" Depois, diante da dureza da separação, ficamos preocupados e vemos que deveríamos ter tido atitudes bem mais amorosas e benfazejas com aquele ente querido que se foi.

Jesus nos advertiu que estivéssemos vigilantes. Recomendou aos apóstolos: "Estejam cingidos os vossos rins."(13) Isto é,com cintos cingidos. Naquele tempo, viajavam colocando nos cintos os pertences mais importantes da viagem. Recomendou-nos,assim, que estivéssemos sempre prontos para a viagem, referindo-se à desencarnação, porque a vida física não nos dá aviso prévio sobre isso e, assim, passamos do Plano Físico para o Espiritual muitas vezes desprevenidos.

Muitos encarnados não vivem esse ensinamento, essa verdade, daí haver tanta vaidade, orgulho e prepotência. Porque, se todos percebessem que nada somos por nós mesmos, e que nada temos de absolutamente nosso, a simplicidade e humildade seriam a base de nossas relações.

Nas grandes catástrofes do mundo físico, os homens se ajudam mutuamente com simplicidade e fraternidade, porque com o acontecido tudo perderam e naquele instante são iguais.

Passados os momentos dolorosos, vão aos poucos voltando as suas ilusões e a se explorar mutuamente.

A humildade cultivada externamente representa vaidade e pretensão. A verdadeira modéstia somente existe, quando não agimos com egoísmo e estamos totalmente conscientes de nossa pequenez. Se procedermos assim, veremos a realidade daquilo que somos e o que a vida é. Isso é fundamental, para não nos perdermos nos caminhos das pretensões e vaidades humanas.

Aqueles que seguem os ensinamentos de Jesus esquecem-se de si e não se apavoram com a desencarnação, encarando-a como um prosseguimento da vida. Têm eles, como ponto fundamental, a glória de Deus manifestada na vida e não nos seus desejos pessoais.

Agem como a lagarta que está sempre pronta a aceitar com amor as transformações que a vida quer operar em sua existência: de lagarta faminta, transformar-se em bela borboleta, sustentada pela energia do néctar das flores. Mas para isso é preciso que amemos a Deus acima de tudo, acima de nós mesmos. Não o Deus distante e, sim, o Onipresente.

É necessário pensar seriamente na desencarnação, como nos felzon amento da vida e se quisermos ter uma continuação, que o façamos por merecer.

Vimos muitas desencarnações e todos nós, do grupo, aprendemos a desligar o perispírito do corpo físico. Lourival e Cleusa se emocionaram tanto, que escolheram trabalhar, após o curso socorrendo recém-desencarnados. Meu amigo Antônio Carlos tem razão: aprendemos muito quando ensinamos aos outros o que sabemos. Gostei imensamente de participar deste curso!



continua...
 
bjs,soninha 
 

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