terça-feira

O Voo da Gaivota VIII



UM PEDIDO DIFERENTE

Ao sair da classe, fui informada que havia uma visita para mim e me aguardava no jardim em frente da escola. Ao aproximar-me do local, veio ao meu encontro uma moça extremamente agradável.

- Patrícia! Sou Elisa! Gostaria de conversar com você.

- Oi, Elisa, como está? Sentemos aqui.

Convidei-a e nos acomodamos num banco embaixo de uma frondosa árvore. Minha recém conhecida falou de modo delicado.

- Patrícia, vim lhe pedir uma ajuda muito especial. Na Casa do Escritor, me informaram que a acharia aqui. Antes porém, fui procurá-la num Centro Espírita, em que, disseram-me, você se manifestava. E, lá, me decepcionei, porque a manifestante não era você.

Sorri, compreendendo.

- Elisa, isso tem ocorrido. Gosto de Centros Espíritas e muito mais ainda da Doutrina, que já abraçara encarnada. Após meus estudos de Reconhecimento do Plano Espiritual, só fui a alguns Centros Espíritas para conhecer e estudar, não os tenho visitado mais. 

Quando vou à Terra, apenas vejo meus familiares e, quando dá, visito somente o Centro Espírita que meusfamiliares freqüentam, para estar com eles e rever amigos. Isto porque optei por estudar e trabalhar com desencarnados em Colônias.

- Pensei que você estivesse ditando mensagens por outros médiuns - falou Elisa.

- Tudo o que faço e que farei é com muito amor - repliquei.

- Não é meu trabalho desenvolver médiuns, pois é tarefa que exige muito preparo e paciência.

Também não tenho como incumbência ser protetora de ninguém, nem escrevo por outros
médiuns, a não ser por minha tia Vera. Isto porque nós duas nos rearamos durante anos, quando estávamos desencarnadas, pará esse trabalho. Reencarnamos e tivemos, na vida física, grande afinidade, conseguia transmitir a ela o que pensava.(4)

Após programar nosso trabalho, nós o executamos com dedicação, para que saia o melhor possível. Tenho recebido muitas manifestações de carinho por estes livros, e meu afeto por todos é sincero e profundo. Gostaria de estar perto daqueles que desejam minha presença, mas é impossível, porque meu trabalho é nas Colônias e não tenho condições de estar em muitos lugares ao mesmo tempo.(5)

- Você vai visitar muito seus pais? Comunica-se no Centro Espírita que eles frequentam

- Estou com eles sempre que me é possível. Meus familiares e eu somos espíritos afins, unidos por um afeto puro e desinteressado. Na reunião que eles freqüentam, não se valoriza o nome do comunicante, mas, sim, o bem que sua presença ou comunicação proporciona aos que estão presentes, sejam encarnados ou desencarnados.

Quem organiza a parte espiritual é nosso grande amigo Artur e seus colaboradores que são uma quantidade enorme de Josés, Anas, Joaquins, Marias, Antônios e muitos outros nomes comuns esquecidos dos homens, mas conhecidos de Deus. Meu pai nunca me invocou nem dei comunicação de forma espontânea. Reconheço que,nessas reuniões, sou aprendiz e que meu pai, encarnado, sabe muito mais do que eu. E, quando lá vou, o faço para escutar e aprender. Mas você veio pedir ajuda. De que se trata?

(4) - Fato presenciado pelos familiares. (N.A.E.)

(5) - Eu, Patrícia, autora dos livros Violetas na Janela, Vivendo no Mundo dos Espiritos, A Casa do Escritor e este O Vôo da Gaivota, afirmo que não me manifestei e nem tenho me manifestado em nenhum lugar ou Centro Espírita nem por nenhum outro médium, seja pela psicografia ou pela psicofonia. Recomendo muita cautela a esse respeito. Para que entendam bem o processo, sugiro que leiam e meditem sobre o capítulo "O Engano" do livro Aconteceu, de Antônio Carlos. (N.A.E.)

(6) - Agora que trabalhamos neste livro, como sempre com muito carinho, vou só nos horários certos para ditar à tia Vera. Continuo a estudar e a lecionar nas Colônias de Estudo. Por opção, volto à Terra só para este trabalho. (N.A.E.)

- Sei que os trabalhadores da Colônia Casa do Escritor têm atendido, em seu nome, inúmeras pessoas. Estou ciente também que ao pedirmos nem sempre seremos atendidos por a quem fizemos as rogativas, pois muitas vezes são outros espíritos que nos socorrem. Entretanto, me foi permitido vir até você. Moro na Colônia Perseverança, trabalho como enfermeira em um dos hospitais, mas estou de licença, para cuidar de um assunto particular.

Porém, analisando bem o problema que quero resolver, compreendi que não tenho como fazê-lo sozinha. Conversei com um socorrista do Umbral e ele me informou que, para esse tipo de trabalho, seria aconselhável pedir ajuda a um Centro Espírita, a uma pessoa que possua preparo especializado para a tarefa. Ouvi, surpresa, ele me dizer que seu pai poderia me ajudar.

Em vez de ir logo ao Centro Espírita onde ele trabalha, vim primeiro até você. Se considerar conveniente e me encaminhar a eles, o grupo do qual seu pai faz parte certamente me ajudará.

- Certamente - respondi rindo. - O que não fazem os pais pelos filhos? Você pensou bem...

Achando que me devia mais explicações, Elisa continuou a falar.

- Fui, quando encarnada, muito doente. Logo que desencarnei, socorreram-me. Recuperei-me rápido e gostei da nova vida e da Colônia para onde fui levada. Era ainda jovem, vinte e três anos, e deixei na Terra meus pais e dois irmãos, que muito me amam e que me ajudaram muito com suas orações.

Estava contente, estudava e trabalhava. Foi então que algo começou a me inquietar, de vez que sentia grande necessidade de recordar minha encarnação anterior, por certo ligada a acontecimentosque, talvez, tivesse que solucionar, por isso sentia muita vontade de lembrar.

Fui, então, procurar ajuda no departamento próprio e pedi para recordar meu passado.

Estudando meu pedido, o pessoal especializado me atendeu e pude recordar.Compreendi que minha preocupação era com um espírito, a quem sou muito ligada; pois inquietava-me por ele, só que não sabia onde estava, e quis encontrá-lo. Após algumas pesquisas, tomei conhecimento de que Walter está desencarnado e em um local do Umbral. Sinto culpa por ele ter caído no erro e estou triste por ele estar lá.

Elisa enxugou as lágrimas, aquietando-se por alguns segundos; respeitei seu silêncio, aguardei e logo ela continuou:

- Walter está no Umbral, numa fortaleza, e o chefe do local é muito perigoso.

- Ele pediu ajuda? - indaguei.

- Não, não tem condições para isso. Se tivesse pedido, um socorrista já o teria tirado de lá. Ele está muito iludido, completamente perturbado. Sofre, esquece do Pai Maior e julga-se também esquecido.

- Socorrer alguém sem que ele queira é difícil - falei.

- É por isso que venho pedir para você me ajudar. Se o tirarmos de lá e o levarmos ao Centro Espírita, para receber orientação, através de um médium de incorporação, ele irá querer o socorro - falou Elisa esperançosa.

- Elisa, por que Walter está perturbado?

- Resgate, Patrícia, mas também pelos tóxicos. Sei que é uma ajuda difícil.

Drogados dão muito trabalho, ainda mais os que não querem socorro. Mas eu o amo tanto!

Seus olhos meigos encheram-se novamente de lágrimas.

Sorri, animando-a e pedi:

- Conte-me tudo.

- Sabendo onde Walter estava, fui à Colônia a que aquela região do Umbral está vinculada.(7) Pedi a eles informações, inlusive por "vídeos"(8), para conhecer o lugar.

Entristeci-me mais ainda. O local era horrível. Chama-se Túnel Negro, e consiste numa construção que tem só um portão de entrada. O chefe desse lugar chama-se Natan e,juntamente com outros desencarnados afins, ou seja, um bando, fazem experiências com os toxicômanos desencarnados que vão lá.

Muitos ali sofrem horrores. Indaguei aos instrutores como faria para libertá-lode lá e eles me disseram que, num ambiente trevoso daquela espécie, seria necessário algum espírito ou espíritos que tivessem conhecimentos em manipular forças primárias.

E um encarnado o faria com mais facilidade, pois os desencarnados, mesmo sendo bons, teriam limitações já que não mais possuem vibrações primárias.(9) Também não bastaria só tirá-lo daquele lugar ruim, porque, liberto, não se poderia trazê-lo para um socorro que não quer, por estar revoltado, abobalhado e perturbado.

Não poderia deixá-lo vagando no Umbral, porque seria novamente enturmado a seus afins e talvez ficasse em condições piores ou, então, cairia em outras armadilhas que só lhe trariam sofrimentos, e poderia também vagar entre os encarnados, da sua mesma espécie,prejudicando-se mais. Para ajudá-lo a querer regenerar-se, aconselharam-me que teria que orientá-lo, fazendo com que entendesse que estava errado.

Mas, no estado em que se encontra, não irá me escutar. Tendo o choque da incorporação, receberá do médium e dos orientadores,encarnados e desencarnados, que sustentam a reunião, o equilíbrio de energias psíquicas de que necessita. Receberá mais, se o médium for equilibrado, e compreenderá seu estado desencarnado. Também, recebendo uma boa orientação,irá querer o socorro e assim eu o ajudarei. o Como vê, seu e encaixa bem na ajuda de que preciso.

Fez uma pausa e continuou:

- Walter desencarnou jovem, completamente dominado tóxico. Foi assassinado após uma briga com outro companheiro de vício, e está tão perturbado que nem sabe o que lhe aconteceu. Patrícia, você poderia pedir por mim esse favor a eu pai?

- O chefe não irá gostar se o tirarmos de lá - eu disse.

- É... Não irá gostar - Elisa respondeu preocupada.

- Você e eu não podemos - expliquei -, não temos conhecimentos e nem sabemos como abordar esse chefe e seus seguidores. Para enfrentar desencarnados trevosos, não basta só ser bom, é preciso saber como manipular o elemento primário que compõe a estrutura física da Terra.

Essa força é uma só e os bons a usam para o Bem, porém os maus, para dominar, destruir e se impor. Esse chefe possui tais conhecimentos, é inteligente e, assim, precisamos de alguém que o enfrente à altura. Vou levá-la até meu pai, certamente ele e seus companheiros desencarnados poderão orientá-la. Meu pai, antes de reencarnar, trabalhou muitos anos como socorrista no Umbral, e conhece a região muito bem.

(7) - O Umbral é separado, para melhor haver socorro, por regiões que estão vinculadas a uma Colônia. Ex.: uma cidade de encarnados tem seu Umbral, Postos de Socorro e Colônia. As regiões como as cidades do Umbral têm nomes e essas designações são muito repetidas.(N.A.E.)

(8) -A palavra "vídeo" foi usada apenas como identificação, para que o leitor tenha uma idéia aproximada do que seja o aparelho. (N.A.E.)

(9) - Vibrações ou energias primárias são mais materiais, as quais espíritos ligados à matéria possuem e encarnados também, por terem o corpo físico. Espíritos bons e esclarecidos normalmente não as possuem, pois estão mais voltados para o plano espiritual, mas podem comandar os que as têm. Elisa se referiu a quem lhe deu informações, a ela e a mim, já contando com minha ajuda. 

Para auxiliar espíritos trevosos é necessário saber, e nós duas não havíamos aprendido. E quem manipula as forças primárias são os que já se libertaram dos condicionamentos do mundo físico, pois a natureza obedece as suas ordens. (N.A.E.)

E agora, encarnado, ele vai muito lá prestar socorro, quando está desligado do corpo físico pelo sono. Com certeza, irá conosco tirar seu ente querido, do Túnel Negro. Como a equipe que trabalha no Centro Espírita também é laboriosa e dedicada, ela poderá nos acompanhar e ajudar nesse socorro.

- Patrícia, foi difícil para mim entender que um encarnado tem condições de ajudar a desencarnados que necessitam. Antes pensava que os encarnados só poderiam ajudar, em reuniões de desobsessões, no Centro Espírita. Achava que só os desencarnados pudessem ir ao Umbral.

- Claro que não - respondi. - Muitos desencarnados trabalham socorrendo e ajudando; no Umbral. Como também muitos encarnados, desligados do corpo físico pelo sono, vão ao Umbral e às suas cidades, para confabular com espíritos afins suas maldades, brigas, vinganças e, também, vão muito às suas festas.

- Os socorristas não têm medo? - perguntou Elisa se assustando.

- Não. Todos nós, não importando se estamos vivendo num corpo físico ou não, quando queremos e sabemos, somos muito úteis no trabalho de socorro, no Umbral. Aqueles que sabem, devem fazê-lo, pois lá temos muitas oportunidades de praticar o bem. Quem sabe é porque aprendeu, e os conhecimentos são tesouros adquiridos.

Não é certo pensar que só desencarnados têm como ajudar no campo espiritual. Muitos encarnados também o têm, e o fazem. Devemos pensar que os desencarnados, que hoje ajudam com eficiência, serão os encarnados de amanhâ. E dos que estão no Plano Físico, muitos foram os que socorreram com êxito anteriormente.

Meu pai nesta encarnação é um homem comum, com todos os problemas de uma pessoa vinculada às necessidades da vida física, mas também trabalha espiritualmente Vai muito ao Umbral embora seu tempo seja limitado pelo corpo físico. Ele é conhecido pelos maus, na região umbralina onde trabalha, como feiticeiro. Talvez porque, durante centenas de anos, trabalhou no Umbral, onde adquiriu muitos conhecimentos.

- Patrícia, Natan, o chefe do Túnel Negro, é rancoroso.

Conosco ele não poderá fazer nada, por estarmos fora do espaço de sua ira, mas e seu pai?

Certamente esse chefe do mal ficará sabendo que foi o Sr. José Carlos quem nos ajudou.

Estando seu pai encarnado, Natan poderá atingi-lo.

- Meu pai ama de forma especial esses desencarnados que temporariamente estão no caminho do mal. E, quanto mais espíritos trevosos o pressionam, mais ele se lembra do passado, aperfeiçoando-se pouco a pouco na forma de lidar e ajudá-los. Com ele trabalha uma equipe de desencarnados afns que lhe darão suporte. São companheiros de trabalho e tenho certeza de que a ajuda será bem maior do que você pensa.

Elisa sorriu, esperançosa. Mas, por ter que voltar aos meus afazeres,despedimo-nos. Nessa época em que trabalhava na Colônia Vida Nova, tinha muito tempo livre e fui com ela aventurar-me na ajuda que, para mim, constituiu um trabalho diferente.

No horário marcado, encontrei-me com Elisa e volitamos até meu lar terreno. Lar é sempre o lugar onde somos amados, e eu me sinto muito amada. Ali era minha ex-casa terrena, mas sempre o meu lar. Na sala, chamei por meu pai e, ele, desprendido do corpo físico, veio ao meu encontro.

- Papai...

- Patrícia, minha filha!

Abraçamo-nos. E vendo que tínhamos visita, sorriu cumprimentando-a.

- Papai, esta é Elisa. Necessita de sua ajuda.

- Sim...

Contei-lhe tudo.

- Vamos ajudá-la. Patrícia, prócure saber de todos os detalhes sobre esse lugar e, amanhã à noite, iremos lá, para que possamos planejar como libertar Walter. Agora, necessito continuarum trabalho...

- Amanhã mesmo traremos Walter? - perguntou Elisa.

- Não - respondeu meu pai. - Amanhã visitarei o local e prepararei o Posto de Socorro que temos no Centro Espírita, para receber os que traremos do Túnel Negro, e também comunicarei aos meus companheiros desencarnados que trabalham conosco, para que também venham nos ajudar.

- Mas não vamos socorrer um só, o Walter? - Elisa perguntou novamente.

- Como ir lá e libertar um só? - disse meu pai. - E os outros? Como deixá-los? Se vamos socorrer, traremos todos os que querem ser libertados daquele lugar e os que estão, como Walter, incapazes de decidir.

- Elisa - eu disse -, quando temos ocasião de socorrer, devemos sempre fazer, tanto com os que sofrem como com os que se perderam no caminho do erro.

- Sr. José Carlos - Elisa falou novamente com sinceridade -, Natan, o chefe, é mau e...

- Mas é nosso irmão - respondeu meu pai

- Amanhá estejam aqui neste horário.

Despedimo-nos de meu pai. E, na Colônia despedi-me de Elisa, pois tinha uma reunião na escola. Combinamos de nos encontrar logo de manhâ para irmos ao Umbral.

Chegaríamos às proximidades do Túnel Negro para obter informações e conhecer o local.

- Ainda bem que vamos durante o dia! - exclamou Elisa.

- É - respondi rindo -, mas à noite voltaremos.

Fui à reunião, onde os instrutores do curso trocaram idéias sobre o resultado obtido. Essas trocas de informações são muito úteis e os instrutores aproveitam muito. Depois, fui até ao orientador geral da Colônia Vida Nova, onde eu estava temporariamente trabalhando, e pedi autorização para fazer um outro trabalho , nos horários de folga, no que fui autorizada.

Esse outro trabalho seria a ajuda prometida a Elisa. O orientador geral de que falei, é o responsável pela Colônia. É tratado como muitas outras qualificações, tais como: govemador, instrutor e etc. Trabalhando por pouco tempo ou por períodos indeterminados em um lugar, deve-se seguir as normas da casa, e tudo o que for fazer, além do programado, deve ser comunicado ou pedir permissão. No dia seguinte, encontrei-me com Elisa e partimos para a tarefa.

(10) - Para muitos desencarnados, chegar perto de um médium orientado no Bem, receber seus fluidos, é como receber um choque que o faz despertar do seu torpor. (N.A.E.)


continua...

bjs,soninha

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