sábado

Violetas na Janela XV


XVI
UNS VÊM, OUTROS VÃO

Dedicava-me cada vez mais ao trabalho na escola. Todas em casa trabalhavam.Como os turnos eram em horários diferentes, em raros momentos estávamos todas em casa. Estava gostando muito da escola. D. Dirce era encantadora, gentil, sempre pronta a nos esclarecer, tirar qualquer dúvida. Ela usa sempre um conjunto de saia e casaco cinzaclaro, é elegante, extremamente simpática. Um dia, ao observá-la, me esclareceu bondosamente:

—Quando encarnada, gostava muito de um traje parecido com este. Até esqueço deste detalhe, roupa e moda. Sinto-me bem assim.
 
—A senhora está muito bem, é elegante. É que encarnada nunca pensei como os desencarnados se vestiam, ainda reparo nestes detalhes. Me desculpe se a observava.
 
—Não tem por que desculpá-la, logo estes detalhes não a preocuparão mais. Muitos encarnados pensam que desencarnados só se vestem de branco no Plano Espiritual e nas Colônias. Talvez esta idéia veio porque aqui se vestem simplesmente.Vestem-se como querem. Os que trabalham aqui em hospitais e nas equipes médicas normalmente se vestem com roupas claras ou brancas. Os jovens preferem roupas coloridas e agora até jeans. Só somos educados para nos vestirmos decentemente e não abusar das tonalidades fortes. Cores neutras, claras, descansam a vista.

No começo, trocava sempre de roupa, achava tão estranho vestir uma só roupa, fui trocando cada vez menos. Preferindo calças compridas e camisetas. Mas a maioria, principalmente os mais velhos moradores da Colônia, não troca de roupa, como D. Dirce. E ninguém presta atenção neste detalhe, ninguém lhe chamava de mulher de cinza, fato que ocorria entre os encarnados.
 
Meus alunos eram uns amores. Todos educados, querendo aprender. Eles também quase não trocavam de roupa. A maioria trabalhava no período da manhã e estudava à tarde. Os alunos são separados em classes conforme suas necessidades. Os que têm mais facilidade para aprender e os que têm mais dificuldades. Lecionava para os que tinham mais dificuldades. Eles têm conhecimentos deste detalhe. Não se sentem humilhados, mas, sim, incentivados a aprender. Normalmente tinha que explicar as lições várias vezes e o fazia com gosto.

Como dormia menos, tinha mais tempo livre, quis trabalhar também no período da manhã. Frederico me convidou para ajudá-lo. Comecei com muito gosto a trabalhar com ele. Frederico atendia no hospital os doentes em estado de recuperação, os melhores. Numa salinha, conversava com os que o procuravam, ajudando-os a resolver seus problemas. Ficava como uma atendente, uma espécie de secretária, fazia ficha de atendimento, encaminhava os pacientes. Marcela, uma enfermeira que trazia os pacientes, me explicou:

—Dr. Frederico é ótimo profissional, gostaríamos de tê-lo sempre aqui. Tem nos ajudado bastante como conhecedor e estudioso do comportamento humano, tem resolvido de modo satisfatório inúmeros problemas. Está aqui entre nós temporariamente, veio para auxiliar um ente querido na sua adaptação, após, deve voltar a lecionar nas Colônias Universitárias.

Tive a certeza de que era eu o ente querido que Frederico auxiliava. Sentia que o conhecia, que estávamos ligados por afeto sincero e puro, só não conseguia lembrar.Também não me preocupei com este detalhe. Quando chegar a hora lembrarei, tudo tem seu tempo. Recordaria no momento certo.

Um dos meus alunos, Jaime, convidou-me para ir a uma festinha em sua casa. Iriam despedir-se de um dos seus filhos que logo reencarnaria.

—Venha, Patrícia, — disse ele — vamos incentivá-lo e lhe desejar que a reencarnação seja proveitosa.

Vovó me acompanhou. A casa de Jaime é agradável como todos os lares da Colônia. Jaime mora com muitos parentes. Leonel, seu filho, deveria retornar logo à carne. Como todos por aqui, Leonel sentia medo e insegurança, pois sabia que o mundo material é muito ilusório. Os amigos o animaram. Jaime leu o texto do Evangelho de João, III: 1-12. Texto em que Jesus explica a Nicodemus a necessidade de renascer. Após, oramos em conjunto. Leonel agradeceu comovido. Foi uma reunião agradável, onde o neto de Jaime tocou violão e cantou lindas canções.

—É estranho fazer festa para um espírito que vai reencarnar — comentei com a vovó.
 
—Nem tanto assim, amigos se despedem, animando Leonel. Isto é a vida! Infelizmente não são todos que vão reencarnar que recebem este carinho. Despedimo-nos de Leonel, desejei de todo o coração êxito na encarnação que tinha por bênção para progredir.

Luíza, uma das moradoras de nossa casa, estava aflita esperando a desencarnação de seu pai. Quando a avisaram que se aproximava a hora, ela pôde ir ter com ele e ajudálo. Desligou-o da matéria e o levou para um Posto de Socorro. Ela sabia que ele não tinha conhecimentos nem merecimentos para estar bem e tranquilo. Triste, comentou:

—Sou grata a Deus por ter podido tirá-lo do corpo morto e levá-lo para um socorro. Agora, dependerá dele ficar no Posto de Socorro ou não. Estou orando muito por ele.

—Uns vão, outros vêm! Ontem fomos à festa de despedida de Leonel que vai reencarnar. Hoje é seu pai que desencarna! — exclamei pensativa.

Meu sobrinho estava para nascer, a expectativa era grande. No tempo previsto este espírito querido de todos nós nasceu. Pertence ao nosso grupo familiar, antes de reencarnar ele sabia que a família passaria por este período difícil. Encantou a todos, principalmente a minha mãe. Rafael chorava, só quietava nos braços da avó, chamando assim minha mãe para a realidade da vida, uns vão, outros vêm.

Artur me presenteou com um pôster do Rafael que coloquei na parede do meu quarto. Plasmar foto é fácil para aqueles que sabem, também não é difícil aprender. Na escola, há cursos para aprender pela força do pensamento a plasmar no papel, onde quer que seja, uma gravura, uma foto, etc. Em casa, todas as moradoras têm fotografias. Vovó tem as paredes de seu quarto cheias de fotos, dos filhos, netos e bisnetos. Artur prometeu que todo mês iria trazer uma foto do Rafael para que pudesse acompanhar seu crescimento.
 
Quinze dias após o nascimento de Rafael, pude vê-lo. Maurício e vovó me  acompanharam. Vi meu pai, meu irmão, fiquei contente por ter encontrado mamãe melhor. Volitei tranquilamente entre os encarnados, atravessei portas e paredes.

Emocionei-me ao ver meu sobrinho. Tão lindo! Estava acordado e quietinho em seu berço. Aproximei-me e o abracei, ele sentiu meus fluidos e sorriu. Fiquei tão feliz! Desejei muito ser tia, vê-lo encheu-me de orgulho. Ser tia é maravilhoso!

continua...

bjs,soninha

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