quarta-feira

Violetas na Janela IX



X
APRENDENDO A SE NUTRIR

Vovó voltou a trabalhar como fazia antes e, nas suas horas livres, passeava comigo.Ela gosta muito do seu trabalho. Passeava muito e fui várias vezes à Praça Redonda.Conversava muito e fiz várias amizades. Foi na Praça Redonda que conheci Ana. Ela também estava a passear. Começamos a conversar e percebemos que tínhamos muitas afinidades e uma sincera amizade nos uniu.

—De que desencarnou? Ou como desencarnou?

Esta pergunta se faz muito por aqui.Começa-se a conversar e logo surge o assunto desencarnação, querendo saber como foi que o corpo carnal morreu. Maurício me elucidou que estas perguntas são mais dos novatos que ainda estão preocupados com a sua desencarnação e querem saber como foi a do outro.

Contei minha desencarnação a Ana e ela, a sua para mim.

—Já faz tempo, tenho decênios de desencarnada. Meu corpo definhou pela tuberculose.

Desencarnou jovem, aos dezessete anos. Ela é inteligente, muito instruída e ama aprender. Passamos horas a conversar. Convidou-me para ir visitá-la no seu trabalho e no seu lar. Ana mora no Educandário.Fomos visitá-la, Frederico e eu. Frederico, sempre que possível, acompanhava-me aos passeios pela Colônia, sempre esclarecendo-me sobre os lugares e suas funções.

—Patrícia, — disse meu amigo — para trabalhar no Educandário, necessita-se de muito aprendizado e dedicação. Normalmente estes instrutores têm muito tempo de desencarnado e conhecem bem a alma humana. Para ser útil com sabedoria, é preciso saber.

Ana veio nos receber feliz como sempre. Tem seu cantinho, seu quarto, ou mesmo seu espaço, como alguns jovens costumam dizer, ao referir-se onde moram, ou sua moradia como ela diz, na área residencial, reservada aos trabalhadores do Educandário. É bem bonita a moradia destes trabalhadores. Eles podem morar neste Educandário, ou em casas, ou nos alojamentos. Refiro-me ao Educandário desta Colônia, porque depois vi, em outras Colônias, outras formas de residências. 

As casas são parecidas com a da vovó,moram instrutores e alunos, não ultrapassando dez pessoas. Os alojamentos são muitos comuns nas escolas. São galpões compridos, com várias portas, que levam ao quarto ou cômodo. É uma beleza! Ana mora no alojamento. Seu lar é uma sala decorada com gosto.Não tem cama, 

Ana não necessita mais dormir. É um recanto seu para receber alguns amigos, ler, ficar a sós. É onde tem alguns pertences. Quadros lindos, vasos de flores, uma foto de família e um piano. A cor azul-clarinho predomina na sua decoração de muito bom gosto. Conversamos animados e Ana nos presenteou com lindas canções que executou ao piano.

Depois nos levou para conhecer seu trabalho. Ana cuida de sete crianças na idade entre três e quatro anos. As crianças estavam no parque. Quando elas a viram, correram para abraçá-la. Elas lhe querem muito e Ana as ama. Ana deve ter sido feia encarnada. Melhor dizendo, não teve um físico bonito. Mas desencarnada é a beleza interior que invade. Seu sorriso é doce, seu olhar é meigo. Para seus pequenos, não existe beleza maior. Para mim, Ana é maravilhosa.

Frederico, depois, me explicou que somos o que aspiramos ser. Aparência externa bonita pode também ser plasmada por espíritos ligados à beleza física. Como é bom fazer amigos, ter amigos.

No Educandário, ouve-se muita música, é um local bem alegre. A todos os visitantes é recomendada alegria. Há muitos animais com os quais as crianças brincam, são bichinhos dóceis, como pássaros, gatos, cães, esquilos, etc. Muitas flores e parques com brinquedos de várias espécies para as crianças. Campos de jogos para os jovens. Ana nos serviu de cicerone, mostrando todo o Educandário, principalmente a ala dos
pequenos. 

O Educandário é uma beleza! 

Bem planejado, visando o bem-estar dos pequenos e jovens desencarnados, oferecendo-lhes alegria e aprendizagem. Não vi tristeza, crianças normalmente se adaptam fácil por aqui. Foi um belo passeio. Encantei-me com o trabalho e a dedicação de Ana que, tirando poucas horas para o lazer, trabalha o tempo todo a cuidar de cada criança como um filho, um irmão querido.

—Ana — indaguei —os pequenos não sentem falta de seus lares, de seus familiares?

—Certamente que sim e, dependendo da idade, uns sentem mais que outros. Os pequeninos nem estranham, os que entendem sentem sim. Por isso, Patrícia, a recomendação aqui é alegria. Todos nós que servimos aqui fazemos o impossível para ajudar nossos abrigados. Quando a família encarnada compreende, aceita a desencarnação tudo fica mais fácil. Mas se se desesperam, chamam por eles, sentem, choram, necessitam de mais carinho de nossa parte.

 —Eles não querem aqui o que gostavam quando encarnados? Exemplo: balas e sorvetes?

—Claro, não mudam de gosto só porque desencarnaram. O Educandário é agradável, mas a ordem impera. Todos na Colônia são convidados a se educar. A disciplina com amor educa. Procuramos atendê-los dentro do limite justo. Muitos querem um brinquedo preferido, isto é fácil, os instrutores plasmam e eles têm seu brinquedo.


Balas e sorvetes são distribuídos, mas na medida certa, assim aprendem que devemos nos nutrir de alimentos sadios, tudo equilibrado.

—E os jovens também? Muitos gostavam de refrigerantes, podem tê-los?

—Patrícia, você tem vontade? Aqui, quis tomar um refrigerante?

—Não.

—Assim é com a maioria deles. Vontade está no desejo. E devemos educar nossa vontade. Se algum jovem quiser, pode ter seu refrigerante, mas nunca bebidas alcoólicas.Procuramos, principalmente aos novatos,fazer tudo que é possível para que eles se sintam bem. Mas o Educandário tem normas a serem cumpridas, para o bem-estar de todos. A maioria se encanta com a maravilha que é o Educandário, satisfaz-se com o que ele lhe oferece.
 
—As crianças e jovens aprendem a nutrir-se pela atmosfera?

—As crianças, normalmente, estão temporariamente aqui. Aprendem conforme são capazes. São muitos entre nós que só se alimentam deste modo. Os jovens gostam mais deste aprendizado. 

Dando uma pausa, Ana continuou sua preciosa lição:

— A alimentação de um adulto é mais um exercício de prazer do que nutrição.Todos os nossos vícios são necessidade moderadas do corpo que potencializamos para termos sensações e prazeres. A criança procura o alimento só quando necessita. Ainda não deturpou suas necessidades e, como no astral não há perda de energia, não há busca de alimentos.


Foi um lindo passeio e uma grande lição aprendida em minha visita ao Educandário.Continuava a ver os meus familiares pela televisão, é tão agradável. Queria,desejava que estivessem bem. Não recebi deles nenhuma revolta, só incentivos. Se, às vezes, sentia leve tristeza, repelia este sentimento, não queria desanimar. Nestes raros momentos, aproximava-me de minhas violetas que estavam sempre lindas e floridas.

Sentia-me refeita, era como se o amor de minha mãe me sustentasse juntamente com a força do carinho do meu pai. Continuava a receber visitas, mas gostava de conversar com jovens ou os que como eu desencarnaram  jovens, é mais prazeroso. Talvez porque as conversas normalmente são mais afins. Fiz várias amizades entre os jovens. Vamos a lugares juntos e reunimo-nos para ouvir música.

Notei que Maurício não tomava nem água. Indaguei-o:

—Maurício, como se alimenta?

—Tiro as energias que necessito do sol, do ar e da natureza.

—Será que um dia serei como você?

—Se quiser, esforce-se e será. Eu, nem em excursões, trabalhos entre os necessitados, necessito alimentar-me ou tomar água. Observe, Patrícia, que os moradores da Colônia não são iguais. Há os necessitados , os que querem ser servidos, os que mesmo recuperados fazem trabalhos por obrigação. Há os que servem de boa vontade, mas se acomodam, sentem-se bem como estão, para muitos é o paraíso sonhado. E há os que aproveitam as oportunidades para aprender, servindo com precisão. 

Você tem seu livre arbítrio para estacionar, ficar como está, ou progredir, ser como muitos,auto-suficientes que não necessitam dormir, alimentar-se, têm plena consciência de sua existência espiritual. Não importa se estamos encarnados ou desencarnados, temos que crescer,progredir, pôr em prática o que se aprende. Necessitamos ser e agora, no presente. Muitos encarnados dizem não acreditar na reencarnação, por Jesus não ter dito mais claramente e mais vezes. O que nosso Mestre Maior nos ensinou claramente é que devemos ser melhores, tornamo-nos bons, no presente. Que pode a reencarnação ser de importante a um espírito, se está sempre deixando para o futuro o que tem que ser feito no presente?

—Vou ser como você!

Logo após ter aprendido a volitar, comecei a aprender a nutrir-me pela absorção dos princípios vitais da atmosfera. Matriculei-me no curso, comecei indo todos os dias em hora marcada, por uma hora.Neste curso, os instrutores procuram conscientizar seus alunos que realmente estão vivendo num corpo sutil e que são desencarnados. Começa-se aprendendo exercícios para respirar, alguns parecidos com os do Yoga. Digo parecidos porque aqui ninguém se refere a esta ciência de respirar. Faço esta nota porque conheci encarnada alguns destes exercícios. Aprende-se por exercícios, depois faz-se automaticamente, só pela força de vontade. 

Meu instrutor nos disse que começaríamos a aprendendo com os exercícios,mas é necessária a compreensão da nossa afinidade cósmica. O Pai a todos sustenta. Podemos absorver energia do ar, do sol, ou simplesmente do Cosmo.Conforme aprendemos, vamos passando para turma mais adiantada, até ter concluído o curso.Conscientizando-se que se quer aprender, tudo fica mais fácil.

O pátio é muito agradável, ao ar livre, e cercado de plantas. Trocam-se muitas idéias e experiências neste curso. Os instrutores são espíritos de conhecimento e experientes,sempre prontos a ajudar. Há muitos horários de aula por dia, mas o pátio está sempre aberto a todos que queiram ir lá fazer exercícios. É bem frequentado, muitos gostam de se exercitar e outros de ir para renovar o aprendizado.Este curso me fez muito bem, aos poucos fui passando a viver como todos os desencarnados devem viver, mas aos poucos. 

Demorei mais tempo para concluí-lo.Já não me preocupava com minha aparência. Meus cabelos ficavam como eu queria.Já não trocava de roupa como no começo e já ia perdendo a vontade de tomar banho, de escovar os dentes e até de me alimentar. Mas alimentava-me ainda uma vez por dia.Nutria-me de frutas, caldos de ervas, doces, pães, tudo baseado em vegetais. Não se mata animais para se alimentar. Gostava muito de tomar água. A água é diferente, cristalina, fluidicante e energética. Normalmente, os habitantes das Colônias tomam sempre água.

Na casa da vovó, ela e suas amigas alimentam-se muito pouco, só após trabalhos que desprendem muita energia, quando voltam da Crosta, do Umbral ou das enfermarias onde estão os muitos necessitados . Alimentando-se pouco, usa-se pouco o banheiro e elas se banhavam raramente, talvez mais para ter o prazer da água caindo sobre si.

Neste período em que aprendia os exercícios da ciência de respirar, em que começava a me alimentar pela absorção dos princípios vitais da atmosfera, aprendia também a dominar a minha vontade e a usá-la para meu bem-estar. Não sentia nenhuma dor, nenhum mal-estar, não tive mais resfriado. Maurício me explicara que deveria aprender a observar meu próprio interior.Porque ao agir egoísticamente causamos em nós muitos mal-estares.

Dormia cada vez menos, não sentia necessidade de dormir como antes e nem de me alimentar. Gostei muito, porque, com este tipo de alimentação que começava a me nutrir, quase não precisava ir ao banheiro. Depois, não me alimentando mais, o banheiro é um cômodo dispensável.Nem todos aprendem a volitar e a se nutrir em cursos, há outros modos de aprender, como lendo, pesquisando nos vídeos, alguém que sabe ensinar. Mas, frequentando estes cursos, é bem mais fácil, aprende-se com exatidão e em menos tempo. É bem agradável conscientizar-se e viver como desencarnado.

continua...
abçs fraternos,

soninha


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