sexta-feira

Nossos Filhos São Espíritos // 13

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EXPERIÊNCIAS E OBSERVAÇÕES DE UMA JOVEM MÃE

ESTE CAPÍTULO É RESERVADO para um exemplar caso de relacionamento mãe e filho.

Desejoso de aproveitar, neste livro, as experiências e observações dessa mãe, pedi-lhe um relato escrito. Achei-o tão bom que resolvi passá-lo ao leitor em sua íntegra, preservando todo o sabor da emoção que foi depositada no texto.

Ei-lo:

“Rafael é um bebê muito calmo e bom. A primeira vez que conversei com ele foi quando descia no elevador do laboratório, onde fui buscar o resultado de meu exame, que confirmava as suspeitas de que estava grávida. Disse-lhe que o amava desde aquele instante e que ele iria ser muito bem-vindo; disse-lhe também que ele deveria ir-se preparando para a vida na Terra, que não é muito boa e não lhe daria muita felicidade, mas que, no que dependesse de mim, ele poderia contar comigo no que precisasse desde esse dia.

“Nunca mais deixamos de conversar. Converso com ele sobre tudo, tentando colocá-lo bem próximo da realidade da Terra. As vezes eu me acho um tanto pequena, como se fosse um aluno ensinando coisas simples a um professor superinteligente, mas continuo agindo assim, pois ao menos o imenso carinho com que tento lhe explicar as coisas da Terra, sei com certeza, ele guardará em seu coração.

“Tentarei explicar o que escrevi acima, relatando a conversa que tive com ele nas vésperas do Natal, enquanto fazia alguns cartões. Disse-lhe, como se estivesse conversando com um adulto, que estávamos perto do dia em que os homens comemoram o nascimento de nosso Mestre, mas que, infelizmente, muitos deles não se tocam de que estão comemorando isto. 
Criaram no mundo, disse a Rafael, o Papai Noel, que eu gostaria desde já que ele tomasse consciência de que não existe, apesar de ser ele o mais assediado, lembrado e comemorado com muita comida e bebida, no Natal. 
Mas também expliquei-lhe que essa ‘mentirinha infantil’, o Papai Noel, era muito útil aos comerciantes e que muitas famílias viviam todo o resto do ano, praticamente, da renda que Papai Noel fazia com que elas arrecadassem no mês de dezembro.

“E assim tem sido com tudo. Tento conversar com ele todo o tempo, mostrando-lhe que na Terra somos egoístas e não muito honestos nem civilizados, mas, em tudo e em todos, devemos procurar e, com certeza, achamos algo de bom e útil, e que a isto é que devemos dar importância.

“Quando Rafael ainda estava em formação, dentro de mim, procurávamos (eu e minha mãe) fazer de seu enxoval tudo o que fosse possível, para não termos muitas despesas, mas, principalmente, pelo carinho que acho que os trabalhos manuais transmitem a quem os ofertamos. Sempre lhe dizia deste meu carinho e procurava fazê-lo participar de meus afazeres.

“No ‘culto do lar’ sempre lhe foi transmitido muito amor e palavras de boas-vindas. Em duas ocasiões, enquanto orava pensando nele, tive a nítida impressão de tê-lo sentado a meu lado, com a mão sobre meu ombro. Foi um tanto difícil imaginar que aquele ser ainda em formação dentro de mim, meu bebê, era aquele espírito tão adulto!

“Sobre a formação de seu corpinho, conversávamos tudo. Cada semana que iria começar era pesquisada e lida, por nós, com bastante atenção.

Acompanhávamos, assim, a formação de cada órgão interno e de cada parte externa desse corpinho que hoje está aconchegado em meus braços. E bastante maravilhoso!

“Alguns fatos se destacaram dos demais por serem curiosos, mas não posso provar nem me certificar de que não foram apenas coincidências.

“Antes de Rafael nascer, eu lhe disse muitas vezes que nós não tínhamos uma casa só nossa e que morávamos com outras pessoas, e os outros não gostariam de ser incomodados com muito choro de bebê, pois eu já tive contato com bebês que choravam o dia todo e à noite também.

Dizia-lhe sempre que ele deveria ser um bebê bonzinho e pedia-lhe que não chorasse muito, principalmente à noite.

“E Rafael é um bebê muito, muito bom. Posso mesmo afirmar que ele nunca acordou alguém, até hoje, com seu choro. Ele praticamente não chora, chegando mesmo a impressionar quem convive com ele.

“Outro fato interessante ocorreu quando ele tinha ainda um mês e eu fiquei muito gripada, com a garganta inflamada. Rafael, até então, havia dormido a noite toda em seu berço somente alguns dias; ele dormia, e até hoje dorme, comigo. Quando eu o colocava em seu berço, ele reclamava, e a reclamação acabava quando ele estava a meu lado, na cama. Até mesmo dormindo, e até hoje, ele sabe quando eu o coloco em seu berço. Mas eu não queria que Rafael se resfriasse também por ser muito novinho, e então expliquei-lhe que iria colocá-lo em seu berço, mas ele deveria dormir lá a noite inteira, pois eu estava com febre e não queria transmitir a ele a inflamação que a causava.

“Ele dormiu a noite toda em seu berço, e outras duas noites também; até que melhorei e pude dormir com ele novamente. Mas, especialmente durante a primeira noite, ele não reclamou sequer uma única vez.

“Outro fato deu-se dias depois deste, e ele ainda não tinha dois meses.

Foi a primeira vez que minha mãe deixou-me sozinha com ele, e confesso que eu chegava a ficar confusa com todas as tarefas a realizar. Foi assim que, num desses dias, eu tinha muita roupa para passar e Rafael estava um pouco enjoadinho, querendo ficar no colo o tempo todo, e com dificuldade para dormir.

Pedi, então, a ele que dormisse durante algumas horas, somente para que eu pudesse passar suas roupinhas. Disse-lhe, também, que estava muito cansada e gostaria de acabar logo de passar as roupas para poder tomar um banho e dormir. Era de tarde e eu lhe pedi que dormisse até as 18 horas. Ele não só dormiu até a hora combinada como esperou, acordado e quietinho, que eu terminasse tudo e tomasse meu banho para podermos deitar.

“Outro fato interessante ocorreu no dia 24 de dezembro, em casa de meus sogros. Minha sogra pediu-me que a ajudasse, fazendo os embrulhos dos presentes de Natal. Os presentes eram muitos e o tempo pouco. 

Tinha somente um resto de manhã e a tarde. Coloquei, então, o Rafael na cama de  minha sogra e peguei todos os presentes que tinha a embrulhar. Mostrei-os a Rafael e disse-lhe o quanto era importante que todos aqueles brinquedos e presentes estivessem embrulhados até o fim da tarde. Pedi a ele que me ajudasse, não precisando muito de mim, até que eu terminasse.  
Deitado ali na cama, Rafael ficou acordado, quietinho, e chegou até a dormir, o que não ocorre normalmente sem que esteja no meu colo. Dormiu bastante, mesmo com o barulho dos papéis de embrulho. Quando acordou, ficou calmo e quieto até que eu terminasse tudo.

“Esses são os fatos mais interessantes que registrei. 

Quando me lembro deles, fica no ar a dúvida: seriam mesmo coincidências, ou Rafael me entende de verdade?

“Hoje sinto que não tenho também certeza em afirmar. Sinto que a cada dia que passa mais e mais Rafael torna-se criança. Parece que os dias vão se passando e, lentamente, a capacidade que ele tinha de me entender completamente vai, aos pouquinhos, diminuindo.

“Rafael completou três meses no dia 22 de janeiro. ‘janeiro de 1986.

“Alda.”

* * *

Este notável depoimento possui o mágico toque da ternura, do amor, em sua mais pura manifestação. Mas não é só isso — e nada mais precisaria —, vejo nele a expressão de um sentimento de respeito, quase reverente, da mãe pelo filho, desde que lhe dá as boas-vindas e lhe assegura todo seu apoio e dedicação, no momento mesmo em que se confirmou, para ela, o processo da gestação. Vejo o testemunho da autêntica humildade, na singela confissão de que ela se sente “um tanto pequena ,tentando explicar a um experimentado
ser “as coisas da Terra”.

Parece entender que ele sabe de tudo isso e que a explicação é apenas um veículo a mais para o carinho que lhe dedica, como o foram também as roupinhas que lhe fez.

Igualmente digna de destaque é a sensação de presença do espírito reencarnante, amadurecido e adulto, junto dela, com a mão sobre seu ombro, no momento sagrado da prece, enquanto o corpo destinado a ele está sendo gerado nela. 
Outra importante lição que Alda nos oferece é a de que “a cada dia que passa mais e mais Rafael torna-se criança” e parece ir perdendo, gradativamente, a capacidade de entendê-la.

Essa é, de fato, uma realidade indubitável que é preciso comentar, o que não me ocorreria fazer se Alda não tivesse chamado minha atenção para esse aspecto.

Vejamos isso mais de perto.

Conjugando as experiências da dra. Wambach com os ensinamentos que os instrutores da Codificação transmitiram a Allan Kardec (Ver, a propósito, o capítulo VII— “Retorno à Vida Corporal”, de O livro dos espíritos), podemos elaborar o seguinte quadro geral:

1) O processo da encarnação acarreta ao espírito uma perturbação “muito maior e sobretudo muito mais longa” do que o da morte. “Na morte” — como consta da questão número 339 — “o espírito sai da escravidão; no nascimento entra nela.” Fica ele na situação de um ‘viajante que embarca para uma travessia perigosa e não sabe se vai encontrar a morte nas vagas que afronta”, de vez que “as provas da existência o retardarão ou farão avançar, segundo as tiver bem ou mal suportado”.

2) Como o ser humano tem uma longa infância, ele vive os primeiros tempos da encarnação mais ligado ao corpo do que propriamente encarnado.

3) O espírito não se identifica com a matéria como se assumisse propriedades desta. A matéria é apenas um envoltório de que ele necessita para atuar no mundo. Ao unir-se ao corpo, ele “conserva os atributos de sua natureza espiritual”.

4) O espírito que anima o corpo de uma criança pode ser tão desenvolvido quanto o de um adulto, ou ainda mais, caso seja mais evoluído, “pois são apenas os órgãos imperfeitos que o impedem de se manifestar. Age de acordo com o instrumento de que se serve”.

5) A infância é caracterizada pelos instrutores como um tempo de repouso para o espírito”.

6) “Encarnando-se com o fim de aperfeiçoar-se, o espírito é mais acessível, durante esse tempo, às impressões que recebe e que podem ajudar seu adiantamento, para o qual deve contribuir os que estão encarregados da sua educação. (...) É, então, que se pode reformar seu caráter e reprimir suas más tendências. Esse é o dever que Deus confiou aos pais, missão sagrada pela qual terão de responder.”

Há, portanto, um período em que, mais ligado ao corpo do que propriamente encarnado, o espírito conserva-se em estado de relativa liberdade. Enquanto durar essa condição, ele tem conhecimento das coisas que se passam à sua volta e do que dizem e até pensam as pessoas que o cercam. À medida que seu corpo físico se desenvolve, porém, e coloca à sua disposição os órgãos necessários à vida na carne, sua integração ao meio ambiente e à expressão de seu pensamento, ele vai se deixando como que aprisionar pelas limitações de seu instrumento físico, de onde lhe competirá exercer sua função coordenadora, na complexa arte de viver na Terra.

Começa, portanto, a perder o uso pleno de suas faculdades de espírito em estado de liberdade. Daí em diante ele reage e participa da vida como ser encarnado, dentro do exíguo espaço mental proporcionado pelas contingências fisicas. Já não percebe mais pensamentos e emoções alheios, entendendo apenas o que lhe é transmitido através da linguagem que está aprendendo. Em compensação, começará a expressar, mesmo com seu limitado vocabulário, suas emoções e reações.

A partir dessa fase, somente quando dorme seu espírito gozará de certa liberdade, proporcionada pelo desprendimento parcial provocado pelo sono comum. E o momento em que lhe podemos falar diretamente ao espírito, como nos recomendam, às vezes, os orientadores espirituais, conforme vimos em alguns casos específicos.

É correta, pois, a impressão de Alda de que, à medida que o tempo passa, “mais e mais Rafael torna-se criança” e vai perdendo a capacidade de entendê-la através dos canais que Lyall Watson caracteriza elegantemente como “linguagem universal da vida”, dado que começa a expressar-se na linguagem local falada pelo povo no seio do qual veio renascer.

Por isso disseram os instrutores, com precisão e sóbria economia de palavras, que “na morte o espírito sai da escravidão; no nascimento entra nela”.

Por isso os pacientes da dra. Wambach acham ótimo morrer, e carregado de tensões o ato de nascer. Uma vez dentro de sua gaiolinha, fecha-se o alçapão e o espírito acaba até esquecido da amplidão do espaço em que se movimenta antes de renascer.

Morrer é “voltar para casa , para a dimensão da qual a gente veio, ao renascer. Atenção, porém, muita atenção! A morte liberta quando ocorre no tempo certo, à pessoa que cumpriu com dignidade a sua tarefa na Terra, que procurou viver em sintonia com as leis divinas, O rebelde, o violento, o suicida não se libertam, apenas trocam de prisão. Até que se corrijam. É a lei...





Paz a todos...

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