quinta-feira

Nossos Filhos São Espíritos // 12

12 
É CONVERSANDO QUE NOS ENTENDEMOS
 
UM MENINO DE 7 PARA 8 ANOS DE IDADE estava encontrando dificuldades na escola, não com o estudo em si, mas por causa da incontrolável sensação de pânico que o dominava ao entrar na sala de aula. 

As vezes, não havia como obrigá-lo a permanecer ali. De outras vezes, ele exigia a presença da irmãzinha enquanto durassem as aulas, o que estava criando dificuldades para ela também. A rotina escolar, desde que ele começava a preparar-se até que retornava à casa, tornou-se um tormento para ele e para a família, que não sabia mais o que fazer.

Em tudo se pensou e quase tudo foi tentado. Estaria ele sob pressão de espíritos desarmonizados? Seria apenas pura e simples aversão à escola?

Será que estava precisando de uma atitude mais severa e até de castigos corporais? Ou de algum tratamento psiquiátrico?

Um parente da criança resolveu recorrer aos amigos espirituais, em busca de orientação que ajudasse a família a encontrar uma solução adequada para o problema. Em existência anterior, na França, disseram os orientadores, tinha o menino aproximadamente a mesma idade que contava agora, quando a escola que frequentava pegou fogo e o teto da sala de aula desabou sobre as crianças. Ele estava entre os mortos. Daí o pânico na escola atual, aparentemente inexplicável, mas um claro “transbordamento” de lembranças guardadas no inconsciente.

Recomendavam os amigos espirituais que os pais tratassem o caso com serenidade e compreensão, sem exercer pressões sobre a criança, como estavam começando a fazer, em desespero de causa. Sugeriam, ainda, que à noite, quando o menino fosse dormir e mesmo adormecido, conversassem com ele, garantindo-lhe que o acidente era coisa do passado, hoje superado. Que agora ele estava bem, protegido pelos pais, e que nada de mal iria acontecer na escola.

Que tivesse confiança em Deus. Deveriam, ainda, falar-lhe do en­cadeamento das vidas, porque seu espírito tinha condições de entender e aceitar a informação com naturalidade.

Finalmente, que não havia sobre ele influência ou pressão espiritual negativa. O problema era dele mesmo, sem nenhum componente obsessivo.

O tratamento deu certo.

Numa família muito ligada à minha, por vínculos estreitos de parentesco e amizade, uma das meninas começou a apresentar características um pouco preocupantes. Logo que conseguiu manipular com razoável eficácia seus sisteminha de comunicação com o mundo que a cercava, mostrou-se portadora de marcante personalidade, porém um tanto nervosa e agitada, destemida e com alguma tendência para a agressividade, 

O sono era igualmente agitado e parecia povoado de pesadelos. Às vezes, fingia atirar nos outros, com armas invisíveis, como se estivesse envolvida em alguma atividade bélica. Se desejava algum brinquedo da irmãzinha maior uma doçura de criança aproximava-se sub-repticiamente e, zás! apoderava-se do objeto e partia com ele, deixando a outra incapaz de reagir pela força, mas desolada.

A saúde física também não era das melhores. Seu organismo parecia meio descoordenado, pois de vez em quando um dos aparelhos — o digestivo, por exemplo — desregulava-se e parecia não responder adequadamente aos cuidados médicos.

Uma característica igualmente inexplicável veio compor esse quadro enigmático: ela parecia ter problemas com os pés, e os exames clínicos e radiológicos não conseguiam identificá-los. Tão logo começou a falar,queixava-se dos pés, à noite, enquanto dormia, como se doessem ou algo estivesse acontecendo com eles. 

Outra dificuldade, ainda ligada a esse aspecto, é que não suportava sapatinhos de amarrar. Com alguma dificuldade e reação, acabou aceitando um tipo especial de calçado, que lhe parecia, talvez, mais inofensivo. 

Quando se tornou necessário substituí-lo porque se tornara imprestável, a luta foi grande, pois ela continuava a não aceitar qualquer tipo de calçado que lhe provocasse a mínima inibição. Queria os pezinhos sempre livres, como se deles dependesse para súbita e vital escapada.

Consultados a respeito, amigos espirituais do casal explicaram que em sua mais recente existência, na França, a menina fora uma guerrilheira (maquis),devotada, por convicção patriótica, à famosa resistência aos alemães, que invadiram seu país e o submeteram as humilhações da ocupação.

Segundo informação dos amigos invisíveis, a querida priminha morreu de maneira trágica.

Seu grupo atravessava à noite um campo minado, quando seu pé ficou preso em uma das raízes, em um buraco no terreno. Ela caiu e gritou pela companheira mais próxima; porém, não podendo soltar-se, morreu estraçalhada por uma explosão. Não fosse ter prendido um dos pés, poderia ter corrido e talvez tivesse se salvado.

Os companheiros espirituais acrescentaram, ainda, que a destruição do corpo físico acarretou repercussões de difícil reparação em seu corpo perispiritual. Para que ela pudesse ser encaminhada à reencarnação, ao cabo de quarenta anos de permanência no mundo espiritual, foi necessário promover um complexo e delicado trabalho de recomposição, suficiente para que o corpo físico não apresentasse deformações e mutilações. Daí suas diversas disfunções, sem causa aparente e que, às vezes, precipitavam “desarranjos” orgânicos. Trata-se, obviamente, de espírito dotado de alguns méritos, do contrário não teria merecido tanta ajuda e atenção, mesmo porque foi encaminhada a um jovem casal bem-dotado física, intelectual e moralmente.

Explicaram, ainda, os amigos espirituais que, neste caso específico, o corpo físico, saudável e desenvolvido sob condições adequadas, exerceria sua influência sobre o corpo espiritual, ajudando-o a consolidar-se de modo satisfatório.

Quanto aos aspectos emocionais do problema, a mãe foi instruída a conversar com a criança, especialmente quando ela estivesse adormecida,transmitindo-lhe uma mensagem de segurança e de paz, procurando convencê-la de que todo aquele terrível incidente estava superado, era apenas uma lembrança. Não havia mais guerras a travar, pelo menos aqui, na pacífica região em que ela estava vivendo sua nova existência de esperanças e alegrias, no seio de uma equilibrada e amorosa família. Deveria também insistir em assegurar-lhe que o pezinho estava perfeitamente bem, normal e sadio.

Se o leitor concorda em ouvir, tenho mais uma historinha que revela a extraordinária maturidade e competência da jovem mãe, pouco mais do que uma adolescente. Por suas implicações e amplitude,contudo, o caso necessita de um capítulo especial, no qual possamos dispor de mais espaço.

Antes disso, há uma experiência minha, pessoal, a narrar.

Nunca fui garoto turbulento e agitado. Pelo contrário, sempre retraído e meio caladão. Certa vez, aí pelos sete ou oito anos, fiz o que então se chamava uma “arte” inesperada e que poderia ter tido trágicas conseqüências.

Morávamos à beira da estrada de ferro, pois nasci e me criei não mais que a uns poucos metros dos trilhos. 

Passava um trem, a certa distância, quando resolvi testar minha força e pontaria, atirando-lhe uma pedra. 

Acontece que era um trem de passageiros e parece ter se quebrado uma vidraça, mas felizmente o petardo não atingiu ninguém.

O certo, contudo, é que da estação seguinte telefonaram para aquela em que eu vivia e não foi difícil localizar o responsável pelo ato “terrorista”. Não me lembro se levei alguns cascudos ou palmadas (nossos pais não eram muito dados a punições corporais). Lembro-me, porém, de ter ficado de castigo, sentado à vista de todos no alto de uma pilha de dormentes de madeira, à beira da linha. Além da humilhação, eu não estava entendendo bem a razão de toda aquela celeuma.

Afinal de contas eu “apenas” atirara uma pedra no trem...

Lá pelas tantas, porém, aproximou-se de mim um jovem empregado da estação (subordinado de meu pai) e se pôs a conversar comigo. Chamava-se David, Theobaldo David Silva, e até hoje me lembro (Quase 60 anos depois!) que ele fazia anos no dia 1º de janeiro.

Curiosamente, estou escrevendo estas linhas no dia 31 de dezembro.

Dentro de algumas horas, o amigo David, que provavelmente não estará mais por aqui, estaria comemorando seu aniversário! Sou-lhe grato, para sempre, pelo que então me disse.

Ele não me trouxera uma palavra de condenação ou mesmo censura, nem desautorizou a enérgica providência punitiva de meu pai. Limitou-se a explicar-me, de modo adulto, que o gesto impensado — não sei que palavras teria usado — poderia ter ferido ou até matado alguém, no trem. Que era preciso ter cuidado com essas coisas. Em suma, apelou para meu senso de dignidade — tão por baixo, ali, no alto da pilha de dormentes — e para meu senso de responsabilidade.

Lembro-me do impacto que me causaram suas observações. Eu realmente não havia pensado nas possíveis conseqüências da imprudência cometida. E se alguém ficasse cego ou mortalmente ferido por causa de minha
“arte”?

Acho que David percebeu quanto sua conversa foi útil e proveitosa para mim. Embora eu nunca tenha sabido, creio até que ele intercedeu junto a meu pai para que eu fosse logo posto em liberdade...

Nunca mais joguei pedra em ninguém, embora tenha levado algumas pedradas pela vida afora. Mas quem não as leva? Como costumo dizer, nós aprendemos mais com os erros do que com os acertos, e a lição de David ficou para sempre estampada em minha mente. Deus o guarde em sua paz, onde quer que ele hoje se encontre. Creio que foi das primeiras pessoas que, em vez de me repreender, censurar ou criticar, falou-me como adulto, de homem para homem, sem ironias, agressividades ou impertinências. E, acima de tudo,
explicou-me a situação.

Outras vezes na vida iria me ver em situações semelhantes àquela. Antes de qualquer condenação ou crítica apressada, foi sempre meu desejo que alguém me dissesse, educadamente, onde, quando e porque eu havia falhado.

Que me condenassem posteriormente, isso não me afligiria, o que eu queria é entender as causas — imagino que para poder corrigi-las, a fim de evitar o mesmo tipo de equívoco em uma próxima vez. Por isso, nunca achei necessário ser castigado.

Uma vez entendida a motivação, já constituía castigo e vexame suficientes para mim saber que errei. A surra, a reprimenda ou a punição, eu as entendia perfeitamente supérfluas e, portanto, desnecessárias.

Já estava este livro em elaboração quando uma amiga me contou episódio semelhante. Em momento de impaciência e irritação, ela se descontrolou e se pôs a repreender o filho pequeno, em voz alta. O menino, muito calmo, falou mais ou menos o seguinte:

— Mamãe, você não precisa fazer isso comigo. Fale com calma. Você sabe muito bem como se sente uma pessoa agredida, porque tenho visto você chorar quando isso acontece.

A moça “desmontou” na hora. Aprendera importante lição de quem competia a ela ensinar. Sorriu, abraçou o menino e lhe disse, agora perfeitamente calma:

— Você tem razão, filho. Você é um garoto muito bacana!

* * *

Se é que este capítulo precisa de conclusão, aí vai: converse com seu filho ou sua filha, qualquer que seja sua idade e a dele ou dela. Como dizem por aí: “É conversando que a gente se entende...” E que é mais necessário e urgente, neste mundo desarrumado, do que o entendimento entre as pessoas?

Especificamente para as grávidas, um recado formal: converse com a “pessoa” que está no seu ventre. Diga-lhe que a ama, que a espera de coração aberto, que conte com você em tudo aquilo que for possível. 

Acaricie-a mansamente, com as mãos. O magnetismo do amor se transmite facilmente, como energia positiva a escorrer pelos dedos.



Paz a todos...

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