4RESPONSABILIDADE
JÁ QUE FALAMOS EM RESPONSABILIDADE, convém acrescentar que uma atitude consciente e responsável não deve ser deixada para ser tomada apenas depois que a criança nasce, mas, pelo menos, nove meses antes. Em verdade poderíamos recuar ainda mais o alcance de tal atitude, pois a maternidade e a paternidade exigem de nós um mínimo de preparo, que, obviamente, não dá para ser adquirido apressadamente em poucos meses.
A geração de um corpo humano para que nele se instale um espírito é uma decisão grave, pejada de implicações e conseqüências. Representa um convite formal a alguém que já existe numa dimensão que nos escapa aos sentidos habituais e que estamos propondo receber, criar e educar, oferecendo-lhe nova oportunidade de vida. O bebê não deve ser fruto de uma decisão de momento, de um impulso impensado, de uma união fortuita, como que alienada. Homem e mulher, geralmente jovens, que se unem, mesmo que seja por uma única e passageira vez na vida, devem estar atentos ao fato de que pode surgir daquele momento fugaz uma nova existência para alguém.
Há condições razoáveis para receber essa nova pessoa e cuidar dela e por ela responsabilizar-se, no mínimo, pelo período de duas décadas? Acima de tudo: a criança é desejada, é bem-vinda, há espaço para ela no coração daqueles que estão promovendo seu reingresso na vida terrena?
Se um mínimo de condições satisfatórias não existe, duas situações da maior relevância podem ocorrer: ou a criança será uma pessoa rejeitada antes mesmo de emergir do ventre de sua mãe, ou esta ficará tentada a recorrer ao aborto para livrar-se do que passou a ser considerado um “acidente” infeliz.
Se você não desejava o filho ou se sentia ainda despreparado (ou despreparada) para tê-lo, por não ter condições psicológicas e materiais satisfatórias, então deveria ter pensado nisso antes, não depois que ele está a caminho.
Não assuma, perante o filho que está para nascer, uma atitude hostil, negativa, de rejeição ou de desamor e indiferença. Se foi iniciado o processo da gestação, sejam quais forem as condições, alguma razão existe para que aquele espírito tenha se aproximado para acoplar-se ao corpo físico em formação no ventre de sua futura mãe. O mais provável é que se trate de alguém anteriormente ligado a ela ou ao pai, ou, ainda mais certo, a ambos.
Trata-se de um ser vivo que tem uma tarefa a cumprir junto deles. A gestação de um corpo físico pode resultar de uma aventura irresponsável, mas o espírito que nele veio habitar não resulta de mero jogo de imponderáveis e acasos é uma criatura humana preexistente, que se prepara para mais um estágio na carne. Não o despache de volta, não comece a agredi-lo com pensamentos negativos de rejeição e desamor, não o hostilize. Você já não está bastante adulto e fisicamente amadurecido para gerá-lo? Pois, então, deve ser psicologicamente amadurecido para assumir, nem que seja sozinho ou sozinha, as conseqüências do impulso inicial.
Vamos repetir aqui e o faremos até a exaustão o fato irrecusável de que a criança é um ser humano, com direitos, obrigações,responsabilidades e planos, como você, eu, ou quem quer que seja. Não pense você que, por ser um mero feto, com poucas semanas ou meses de existência no ventre da mãe, “aquilo” seja apenas “uma coisa” viva. Nada disso, é uma pessoa, tão gente quanto você.
Dificilmente você saberá, com suficiente precisão, de quem se trata e quais as vinculações anteriores que os unem. Pode ser, contudo, algum amigo muito querido de outras eras, que vem para testemunhar-lhe seu amor, para ajudá-lo na difícil tarefa de viver, para fazer-lhe companhia, quando chegarem os cinzentos anos de solidão e velhice, ou até para ser o suporte material de sua vida.
É certo que poderá também ser o adversário de outrora, que conserva ainda rancores e desafeições pelo que, obviamente, você lhe causou. Vem, contudo, para que possam ajustar-se na conciliação, para que se perdoem mutuamente e tenham condições de seguir, dali em diante, em paz, como amigos fraternos, ou, pelo menos, não mais como adversários.
Seja qual for a situação, não é por acaso que aquele espírito se aproxima de você, em busca da oportunidade do renascimento. Seja qual for a condição, cabe aos pais assumirem a responsabilidade daquilo que, de forma deliberada ou inconsequente, provocaram, isto é, o início de um processo de gestação.
Teria muitas histórias sobre isso para lhes contar, mas para não alongar demais o livro selecionarei umas poucas, das mais ilustrativas, todas absolutamente autênticas, pois não existe aqui uma só palavra de ficção.
CASO “A” — A filha recém-casada de um amigo meu estava tendo problemas com a gravidez. Embora desejosa de ter filhos, acabava abortando (involuntariamente, é claro). Parece que o espírito (ou espíritos) reencarnante estava um tanto indeciso, inseguro ou temeroso. Em decorrência do trabalho de que eu participava semanalmente num grupo mediúnico, fiquei sabendo algo da história pregressa daquele núcleo familiar.
Em outros tempos, na Europa do século 16, o atual pai da moça, meu amigo, fora uma figura de certo relevo na política e recebera para acabar de criar e educar, sob condições que não me ficaram claras, uma menina, filha de alguém que confiou nele para essa delicada tarefa. Também não fiquei sabendo, ao certo, o que ocorreu, mas o suficiente para concluir que o tutor não deu conta satisfatória da sua tarefa, causando profundo desgosto ao pai da menina.
Decorridos os anos normais da existência, todos eles morreram e as questões sob o ponto de vista humano, ficaram, aparentemente resolvidas, como pensa muita gente. Mas não é assim que se passam as coisas além dos nossos insuficientes cinco sentidos.
Passado o tempo — séculos, no caso —, a menina confiada ao eminente político renasceu como filha deste, agora vivendo no Brasil. Ficamos com o direito de imaginar que como ele não dera conta razoável de seu encargo de tutor, na Europa, há cerca de quatro séculos, resolvera assumir a integral responsabilidade de pai da menina, em nova existência. Aí foi a vez do antigo pai da menina, lá, também renascer como filho de sua antiga filha e, portanto, como neto do homem importante a quem ele confiara sua menina. Estão entendendo a trama?
Esse foi o esquema armado para resolver o conflito criado entre eles e que permanecera sem solução. O problema é que o homem ficara tão magoado com a pessoa a quem entregara sua filha que agora relutava em aceitá-lo como avô. Será que ele não iria causar-lhe outro desgosto?
Nesse ínterim, a filha do meu amigo ficara grávida novamente e outra vez corria o risco de perder a criança por um aborto involuntário. Como eu, indiretamente, soubesse das razões de todo aquele drama de bastidores, mandei um recado um tanto enigmático para meu amigo, futuro vovô, mas que ele entendeu perfeitamente. O teor do recado era mais ou menos o seguinte:
“Amigo, o espírito que está para renascer como seu neto sente-se temeroso porque, no passado, teve problemas com você. Procure ‘conversar’ mentalmente com ele, dizendo-lhe que tudo passou e que você o receberá, hoje, com muita alegria e amor. Diga-lhe que confie e venha em paz.
Daí em diante, as coisas correram bem. A gravidez teve bom termo e o garoto nasceu forte e bonitão. Diz-me o avô que se dão muito bem...
CASO “B” — Este foi narrado em livro escrito pelo caríssimo amigo dr. Jorge Andréa dos Santos, médico, escritor, conferencista e pesquisador de muitos méritos.
É a história verídica de um casal de meia-idade que julgando mais que suficiente o número de filhos que tinha trazido para a vida na Terra resolveu não mais enviar “convites” para ninguém. A providência indicada era a de ligar as trompas da senhora, ainda com alguns anos férteis pela frente.
Por imprevista contingência, um dos médicos faltou no dia da cirurgia e o próprio marido, também médico, foi solicitado a fazer parte da equipe, a fim de suprir a ausência do colega. Ele testemunhou, portanto, ao vivo, todo o procedimento operatório e viu quando as trompas, após cortadas, tiveram as pontas implantadas no devido local. Nenhuma possibilidade havia, portanto, de gravidez posterior àquela cirurgia radical. Ou será que havia? Ainda hoje não se sabe exatamente o que se passou, mas o certo é que a senhora engravidou novamente.
Parece até que “alguém” promoveu uma cirurgia invisível para restaurar as trompas, costurando-as competentemente, e colocando-as novamente a funcionar, para que mais um espírito pudesse retornar à carne.
Jorge Andréa, autor do relato, sabe até de quem se trata, ou seja, quem é, ou melhor, quem foi, em sua última existência, o espírito que se ligou a esse corpo, gerado sob tão excepcionais circunstâncias. Muito conversaram eles, enquanto a criança era “apenas” um espírito, do outro lado da vida.
Na verdade muitos desses entendimentos e “negociações” ocorrem nos planos invisíveis, entre futuros pais e futuros filhos, que participam, em conjunto, das programações e acertos que dão continuidade a antigos relacionamentos mútuos que se projetarão pelo futuro afora. Se tudo correr bem e se todos tiverem bastante juízo, como dizia minha mãe, o futuro será melhor. Se se repelirem ou agravarem as condições do relacionamento, então que se pode esperar senão um cortejo de dores e desajustes?
O caso “A” não é um exemplo típico de rejeição paterna ou materna ou, sequer, da parte do avô. O espírito é que se mostrava hesitante e receoso de enfrentar as dificuldades que, talvez, nem chegassem a se concretizar.
O caso “B”, narrado por Jorge Andréa, não foi de rejeição — pelo contrário —, dado que o espírito foi recebido com amor e está sendo cuidado com o maior carinho e desvelo, bem como respeito pelas suas excepcionais condições de personalidade. Foi apenas um exemplo do inesperado, dos recursos de que se valem os poderes invisíveis para interferir quando lhes parece justificável e necessário. Dir-se-ia que houve aqui uma interferência com o livre-arbítrio do casal que, aparentemente, não desejava mais filhos. Mas quem pode assegurar que eles não hajam, de modo consciente e deliberado, decidido “abrir exceção” para mais um?
Já na dra. Helen Wambach (Life before life) vamos encontrar uma quantidade de relatos de pessoas renascentes que se sentiam de fato rejeitadas. Devo esclarecer, antes, que a eminente psicóloga americana promovia regressões de memória à fase pré-natal e colhia depoimentos vivos do maior interesse, como ainda veremos mais adiante neste livro. (Ela morreu em 1985.)
— Eu estava perfeitamente consciente (diz uma pessoa) de que minha mãe não me queria e fiquei surpreso e desapontado ao descobrir isso.
— (...) eu sabia que minha mãe teve vergonha de mim porque eu era um bebê feio.
— (..) eu sabia que minha mãe realmente não me queria, por causa das inevitáveis responsabilidades. Na verdade eu só consegui entender a tristeza e a desventura do meu nascimento após a realização desta experiência (a da regressão da memória).
— (...) eu temia as perspectivas diante de mim. Sentia que os médicos e as enfermeiras eram impessoais e frios. Faltava-lhes compaixão pelos temores e pelas dores de minha mãe. Lembro-me da perturbação que me causou essa falta de emotividade por parte daqueles que cuidavam de nós.
Aí estão alguns exemplos dramáticos de como os bebês são gente mesmo, desde o primeiro instante de vida, que afinal de contas não é o primeiro, mas apenas um momento na continuidade, pois a vida é incessante, é como o fluxo de um rio e não poça-d’água.
Conversávamos, porém, ainda há pouco, sobre duas opções perante a gravidez indesejável ou indesejada: uma delas é a desastrosa atitude da rejeição, que acabamos de comentar, ainda que resumidamente; a outra, não apenas desastrosa, é criminosa. Chama-se aborto.
É do que iremos tratar a seguir.
Paz a todos...
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