segunda-feira

Morri! e Agora? 19


Capítulo Dezenove
Depois de muito tempo indaguei: "E agora?"


Vivi encarnado de modo muito errado. Cometi muitos atos ruins. Mas também fiz coisas boas. É difícil uma pessoa ser somente má, como são raros os que são totalmente bons.

Mas as ações más pesam muito mais.

Numa briga de gangues rivais, fui assassinado. Foram dois tiros no peito. Caí.

Perdi a consciência somente por minutos.

Tonteei e, o nada. Fui voltando do que pensei ser um desmaio, e escutei gritos, xingamentos, percebi que ainda havia luta.

Silêncio. Pararam os tiros. Percebi que um dos meus companheiros aproximou-se de mim
e falou:

Vamos embora! A polícia não tarda a vir. Zé, você tem certeza que Janu morreu?

Senti dois deles agacharem-se ao meu lado, olharam meus ferimentos. Zé colocou a mão na frente do meu 
nariz Está morto! Malditos! Eles vão pagar!

Mais blasfêmias. Saíram.

Senti muito ódio, um sentimento tão forte que me fez levantar. Saí em perispírito’4, deixando o corpo físico morto no chão.

Sentia-me ferido, e do meu ferimento saía muito sangue. Ouvi risadas. Vi outras pessoas que não conhecia, julguei serem do outro bando. Um deles falou rindo:

Você está mortinho, boneca!

Fraco, tonto e confuso, ainda assim avancei nele e apertei-lhe o pescoço.

Ei, calma! O chefe nos mandou buscá-lo!

Novo desmaio, mas antes ouvi as sirenes da polícia.

Acordei num quarto pequeno e na penumbra. Olhei tudo, havia somente a cama, onde estava deitado, e uma mesinha. As paredes e a roupa de cama eram de cor cinza. No alto, uma minúscula janela, achei que era de noite porque por ela entrava pouca claridade. Olhei para meu peito, lá estavam os dois furos sangrando, sem curativos e doloridos.

Oi Janu! Você está bem instalado?

Observei a visita, não o conhecia, temi estar prisioneiro, ia responder com xingamentos, mas aquele homem 
alto, magro e bem vestido, não me deu tempo e falou:

Você não está numa prisão, mas sim num bom quarto descansando. Vou ajudá-lo a se lembrar. Trocaram tiros, foi atingido e seu corpo morreu. Sobrevivemos a essa tragédia. Está conosco, com muitos desses sobreviventes, ou seja, desencarnado numa cidade do Além. Logo aprenderá a viver aqui.

Você é o chefe?  indaguei-.

Sou chefe de muitos aqui, mas temos um comandante geral, um sujeito que é maneiro com os fiéis, camarada
com o bando. Vai gostar.

Não vou sarar dos ferimentos?

Você já viu alguém se curar num estalo? Não! Então paciência. Fique aqui deitado, duas escravas o servirão. 

Quer alguma coisa?

Acabar com o bando rival! Sinto ódio deles!

Ótimo! Ódio nos sustenta! Terá tempo para prejudicar seus inimigos!

Duas mulheres me deram tudo o que queria. Os ferimentos doíam muito. Depois de doze dias, aquele homem
que veio me ver, voltou novamente.

Vem comigo, Janu, vou levá-lo à presença do nosso chefe.

Ajudou-me a levantar e me colocou numa cadeira de rodas. Observei tudo curioso.

Saímos da casa e vi uma rua estranha. Muitas pessoas andavam por ali, achei-as esquisitas.

Entramos num prédio luxuoso. Admirei-o, achando muito lindo, era do meu gosto, exagerado, com cores fortes e muita ostentação.

Aqui é a sala de audiência  explicou meu acom panhante.

Ficamos numa fila. Um homem muito bem vestido, calça e camisa combinando, estava sentado numa poltrona confortável e atendia as pessoas. Chegou a minha vez.

Ele me observou e indagou:

Estão lhe tratando bem?

Sim, mas ainda sinto muitas dores nos ferimentos.

Isso é simples de resolver. Pense que quer ficar bom.

Colocou as mãos sobre meus ferimentos e os fechou. Levantei não sentindo mais dores. Meu companheiro sorriu e falou baixinho ao meu ouvido:

Ajoelha e agradeça ao nosso, chefe!

Obrigado, senhor!  falei ajoelhado.

Agora que está bom  disse ele , fará parte da equipe que me serve.

Ká mostrará tudo a você, depois que estiver apto, irá nos servir. Pode ir. O próximo!

Tive vontade de fazer algumas perguntas para entender o que me acontecia. O homem que me levou ali, que agora sabia chamar-se Ká, puxou-me. Saímos da sala de audiência.

Indaguei-o:

Onde estou? Quem é esse chefe? O que irei fazer?

Você está numa cidade organizada pelos que estão fora da lei, não das leis dos homens, mas do Outro, de Deus. Aqui estamos bem instalados num local que se chama umbral, para não dizer inferno. Nosso chefe é um safado, vingador e de muitos conhecimentos. Vou lhe mostrar tudo, e aos poucos irá aprender o que deve ser feito.

Você, quando encarnado, já estava acostumado a viver com privações, em barracos, entre bagunças, malandragens e bandidos, não deverá estranhar.

Ele me curou!  exclamei Poderia ter feito isso assim que você chegou  esclareceu Ká.  Mas preferiu
deixá-lo sofrer um pouco como primeira lição.

Têm conhecimentos aqueles que trabalham e estudam. Muitos acham que somente os bons sabem das coisas. Nós aqui sabemos, só que é mais difícil de se aprender. Gostamos mais de vadiar, farrear e não se encontra fácil quem ensina, Aqui reina o egoísmo. Admiro nosso governador, o chefão, ele é poderoso e não gosta que o desobedeçam.

Estava acostumado a obedecer. Havia tido muitos chefes. Prestei muita atenção no que via para aprender. Ali muitos sofriam, poucos mandavam e a minoria se divertia.

Indaguei Ká:

Por que uns sofrem aqui e outros não?

Não se pode dizer que ninguém sofre nesse lugar. Acho que o mais certo é dizer que uns vivem melhor, outros pior. Você e eu somos ruins e os que mandam aqui, no umbral, admiram os que são maldosos e que ainda não se arrependeram, pois pelo que sei, o remorso vem, para uns mais cedo, para outros mais tarde. 

Eles, os chefes, necessitam de gente assim como nós, para servi-los. Protegem-nos, porém exigem que trabalhemos com fidelidade para eles e para a comunidade.

E por que alguns são maltratados? 

Esses também não foram bonzinhos  Ká me explicou.

Porque se fossem estariam em outros lugares. É merecido o castigo que lhes damos. Alguns não servem para fazer parte da equipe. Não gostam de obedecer e muitos são hipócritas demais. Não se pode confiar. Outros estão sofrendo aqui, porque temos muitas queixas deles. Aqui também fazemos justiça. Tiraram dos pobres ou podendo, não praticaram a caridade.

Justiça?!  exclamei espantado.

Por que não? Se achamos que a pessoa necessita sofrer, fazemos com que sofra.

Não existe Deus para isso?  perguntei.

Ká riu, depois me esclareceu:

Na lei das pessoas boas é um ajudando o outro. Aqui é o contrário, castigamos.

Mas, não se preocupe nem tenha dó. Se não merecessem, não estariam aqui e não conseguiríamos
maltratá-los. Com o tempo você verá que muitos ao se arrependerem, com sinceridade, e querendo melhorar, são levados pelos bons que entram em nossa cidade. No entanto, sofrem porque merecem.

Adaptei-me facilmente. Fazia o meu trabalho da melhor maneira possível. Continuei cometendo maldades a outros desencarnados e encarnados.

Um dia, nosso chefe sumiu, houve muitos comentários: que não fora cauteloso e os desencarnados bons o pegaram, ou fora preso pelos grupos rivais. Falavam até que ele desistira de sua posição porque se cansara. 

Outro passou a ser o chefe. Estávamos sempre brigando entre nós mesmos ou com outros, tinha de estar o tempo todo alerta e nunca confiava em ninguém.

Recebemos em nossa cidade um folheto de outra localidade do umbral, dizendo que precisavam de desencarnados que gostavam e tinham talento para escrever. Interessei-me.

Desde que chegara ali, não escrevera mais. Mas, quando garoto, na escola, fazia boas redações, gostava de escrever cartas e textos. Resolvi ir e me informar direito o que eles queriam. Gostei do lugar e de todos. 

Desejei fazer parte desse grupo e pedi para meu chefe, que autorizou.

O que mais gostei foi que ali, naquela pequena cidade, não fiquei sob domínio de ninguém. Éramos autônomos, denominávamos camaradas, não tinha de obedecer a tantas ordens.

Passei na prova de redação, fui aceito e comecei a estudar. O objetivo era instruir encarnados ou usar da mediunidade deles para narrar o que a organização queria.

Depois de meses estudando juntos, fomos divididos  em três grupos que se especializariam nas atividades d bando.

Na primeira turma ficaram os que iriam instruir ou usar da mediunidade para incentivar a vingança, ódio, brigas e endeusar o sexo.

O segundo grupo se especializaria em desanimar e levar descrença aos que poderiam vir a ser e os que estavam sendo úteis.

Passei a fazer parte do terceiro. Nosso aprendizado era mais sutil, iríamos enganar, iludir para tentar levar divisão e confusão dentro da Doutrina Espírita que era um campo fértil a eles por ter muitos médiuns.

Para fazer isso, tivemos de ler muitos livros espíritas. Compreendi o porquê de os moradores do umbral quererem combater o espiritismo. Os livros narravam o que acontecia com as pessoas que tiveram o corpo físico morto. Era desagradável ler tantas coisas sobre Jesus e sobre o Evangelho.

Mas o estudo era sério, tínhamos de fazê-lo Vocês têm de saber o que eles sabem. Somente se engana com perfeição dominando o assunto  dizia nosso orientador que não gostava que o chamássemos de chefe.

Alguns dos que estudavam conosco sumiram no decorrer do curso.

É o perigo que corremos  esclareceu o orientador.  Por mais que escolhemos nossos trabalhadores, há desertores. Quero pessoas capazes de enganar, odiar e camuflar esse ódio. Quero os fingidos!

Terminamos o curso com a turma bem menor. Mas os que concluíram estavam treinados, com conhecimentos e vontade de atingir os objetivos.

Nosso orientador não forçava ninguém e não se importava com os que deserdavam.

O trabalho é bem-feito quando se faz espontaneamente  dizia ele.

Passamos a observar encarnados que seriam, ou que queríamos que fossem, nossos instrumentos.

Agora vocês escolhem por quem querem se passar. Leiam com atenção tudo o que essa pessoa escreveu, imitem seu estilo, vão para perto dos médiuns psicógrafos e boa sorte!  recomendou nosso orientador.

Todos nós escolhemos nomes importantes e conhecidos. Para enganar melhor, modificávamos até nossos perispíritos. Não tem graça nem como imitar desconhecidos. Nosso grupo adquiriu a forma de pessoas respeitadas e lá fomos nós colocar em prática o que aprendemos. Fomos enganar.

Fui todo entusiasmado. Na primeira tentativa me dei mal. Aproximei-me de um jovem que começava a treinar a psicografia. Ditei a ele uma mensagem bonita, propondo um trabalho diário para escrevermos um livro. Ele duvidou ser o espírito que assinei. O moço deu a mensagem para o pai, que era um espírita estudioso e cauteloso, analisar. Descobriram a fraude e fui repelido. Conforme soube depois, o mentor dele permitiu que eu me aproximasse desse encarnado e ficou feliz com a prudência de seu pupilo. Aquele jovem não seria enganado.

Na segunda tentativa, fui melhor. Aproximei-me de uma médium, fiquei meses observando-a; ela frequentava um centro espírita onde pouco se estudava e achavam que dificilmente seriam enganados. Quando escrevi por intermédio dela e assinei um nome conhecido e respeitado, ela se empolgou, sentiu-se importante, já se via dando autógrafos e todos a respeitando. Mas era uma pessoa preguiçosa, queria tudo pronto, não tinha tempo para se dedicar ao trabalho de psicografia e dava muitas desculpas.

Desisti não tive paciência de enganar essa médium.

Alguns da minha turma estavam se dando bem, outros não. Muitos encarnados não se deixavam enganar, por não serem vaidosos, por analisar e indagar o porquê de um espírito conhecido escrever por ele. Como também davam esses escritos para pessoas que entendiam de literatura, principalmente espírita, analisarem. 

Outros foram enganados para a alegria do nosso orientador, que sabia que esse trabalho daria frutos de separação e discórdia.

Achei interessante visitar uma pessoa que já trabalhava com a psicografia, pelo menos essa não era preguiçosa. 

Aproximei-me, fui tratado com educação, mas não deu para enganar. Ela orava demais, era uma chatice ficar perto dela, suas preces me incomodavam muito.

Vendo que ia fazer um livro com muitos convidados, pedi para escrever. Queria contar aos encarnados que a desencarnação de pessoas más pode ser prazerosa e que viver fazendo o mal tinha vantagens.

A médium me respondeu que quem coordenava seu trabalho era seu mentor desencarnado. Que se quisesse escrever, deveria falar com ele. Ao desejar comunicar-me com ele, vi-o, estava ali o tempo todo. Fiquei nervoso, mas disfarcei, esse espírito aproximou-se de mim e apresentou-se:

“Chamo Antônio Carlos! Que Jesus esteja com você, Januário. Poderá escrever, ou seja, ditar sua história, desde que assine seu nome. Mas, como todos os convidados, você terá de fazer um breve estudo em uma de nossas colônias.”

Ele sabia o meu nome e com certeza sabia muito mais sobre mim. Fiquei de pensar.

E passei dias rodeando a médium. Ela não teve medo, acho que nem se importou. Fiquei curioso para saber como era esse estudo e como seria a colônia deles. Aceitei.

Antônio Carlos me levou à Colônia A Casa do Escritor’5, onde, segundo ele, desencarnados que queriam escrever por médiuns vinham aprender.

Olhei tudo curioso, mas disfarcei fingindo não estar interessado. Achei-a simples, porém encantadora. Impressionei-me com a fraternidade que ali existia e com a forma carinhosa que se tratavam.

Antônio Carlos me deixou numa sala com doze alunos. Todos me cumprimentaram, ninguém me indagou nada e o primeiro encontro transcorreu normalmente. Estava resolvido a enganá-los. O assunto estava interessante, prestei atenção e participei.

Quando a aula terminou, ao sair da sala, encontrei com Antônio Carlos, que estava me esperando e me trouxe de volta. Compreendi que não conseguiria ir a essa colônia sozinho, não a acharia, isso me chateou.

Antônio Carlos todos os dias me esperava num local, levava-me à colônia e me trazia de volta. Nas primeiras aulas, tudo bem, deu para fingir. Mas percebi que já não estava fingindo, estava gostando.

Seriam dez lições. Na sétima, pedi a Antônio Carlos:

Vamos sentar aqui um pouco?

Sentamos num banco do jardim da colônia, ele ficou quieto. Comecei a chorar, nunca havia chorado daquele tão sentido e dolorido.

Sofria. Ele esperou que chorasse, o que fiz por minutos, depois me olhou com carinho. Foi etão que temi e
indaguei-o apreensivo:

E agora?

Caminhe! Mude o rumo de sua vida  respondeu ele bondosamente.

Fiz muito mal. Como será minha colheita?

Quando nos preparamos para a colheita, sabemos que irá ser trabalhosa, O trabalho no bem facilita.
Terei muito o que fazer!  exclamei em tom de queixa.

Chorei de novo.

Januário  disse Antônio Carlos carinhoso , se você tem de caminhar duzentos quilômetros e ficar sentado chorando, pensando no tanto que andará, terá sempre esses quilômetros pela frente. Mas se der passo por passo, um dia terá percorrido toda a quilometragem. E você já andou alguns metros.

Compreendi. Pedi abrigo, ajuda aos orientadores do curso. Aconselharam-me a terminar o estudo e vir, como havia prometido, escrever minha história ou parte dela.

Antônio Carlos, meu novo e sincero amigo, levou-me a uma outra colônia, onde existe uma escola especial para desencarnados que foram imprudentes a ponto de serem tachados por eles mesmos de trevosos. Ali eram educados, recebendo a orientação de que necessitavam. Gostei demais do que vi, de todos, e quis com sinceridade frequentá-la.

Escrevo hoje, no dia em que se comemora um feriado na cidade que a médium mora, a Nossa Senhora, Maria, mãe de Jesus. Orei muito para ela me dar forças e conseguir mudar minha forma de pensar e de viver. 

Sei que terei de me esforçar para me modificar.

E foi depois de muito tempo de desencarnado que, angustiado e temeroso, indaguei: “E agora, que faço?”.

Ainda bem que recebi ajuda. Entendo que ninguém é perfeito e que o importante é cobrarmos de nós mesmos o que podemos fazer, e não observar o que o próximo faz.

Quando me aproximei pela primeira vez da médium, queria escrever uma coisa, acabei escrevendo outra, pois compreendi que não estava bem como julgava. Ninguém é feliz não se sentindo bem com as Leis Divinas, afastado de Deus.

Não queria continuar fazendo o mal, e decidi parar com a plantação da maldade e me preparar para a colheita. Quero e desejo fazer essa colheita com trabalho. Agradeço a oportunidade que estou tendo. Fiz muito mais mal a mim mesmo do que aos outros.

    Januário

Explicações de Antonio Carlos

Januário teve uma desencarnação violenta, sentia ódio do inimigo e lutava com rancor. Esse sentimento forte, o ódio, fez num impulso, seu espírito sair do corpo físico morto. Desencarnados que vibravam igual a ele, desligaram-no levando-o para uma cidade do umbral. Se ele não tivesse se enturmado e ficado submisso, teria sido preso ou se tornado um escravo.

A desencarnação para Januário, de imediato, não mudou muito sua forma de viver e agir.

No umbral, os chefes que lá moram, costumam agir de forma que seus companheiros sofram, para depois
ajudá-los. Isso tudo para que tenham medo e sejam obedientes.

Muitos livros espíritas têm descrito as cidades do plano espiritual. Bonitas e agradáveis são as moradas dos bons espíritos ou daqueles que querem melhorar. Confusas, barulhentas e não tão bonitas são as moradas dos que preferem trilhar o caminho da maldade. Lá também vivem os imprudentes, que são maltratados, normalmente os que fizeram vítimas e essas não lhes perdoaram.

Os que se denominam moradores, fingem estarem bem e são alegres. Há os que mandam, e a maioria tem de obedecer às leis, que normalmente são cruéis.

Nessas cidades vemos muitas coisas estranhas, que não diferem muito de certos lugares da Terra, onde encarnados vão para usufruir paixões e vícios. Nós os vemos vestidos de muitos modos. Há os que se vestem acompanhando a moda dos encarnados.

Januário, na primeira vez que veio nos visitar, estava todo de branco, talvez por tentar se passar por outra pessoa. Depois veio vestido de preto. Acabou por último vestindo-se de roupas claras e simples.

Somente alguns se vestem de forma muito estranha e os motivos são quase sempre tentar assustar ou amedrontar quem os vê.

Januário viveu muitos anos no umbral. Pedi a ele que não escrevesse o que fez.

Errou muito.

Convidei-o a fazer o curso. Queria que ele conhecesse outra forma de estudar a literatura e que conhecesse desencarnados bons.

Deu resultado. Todos, professores e alunos, sabiam o porquê de ele estar ali e ajudaram-no.

Somente se indagou: “E agora?”, quando teve consciência de seus erros. Ele soube, pelo estudo na Colônia A Casa do Escritor, que nossos atos nos pertencem. Somos donos absolutos do que fazemos. Ficar inerte e chorar pelo que se fez de errado não resolve, necessita-se caminhar e ser útil. É o que ele vai tentar fazer. Em muitas colônias existem escolas que orientam desencarnados que muito erraram. Lá, eles estudam por um tempo. Depois de concluírem o curso, há várias opções: continuar a estudar em outras colônias, reencarnar, ou servir em muitos locais.

Desde que esse desencarnado, que se denomina orientador, fundou no umbral uma escola para literatos, nós da Colônia A Casa do Escritor sabemos e os temos acompanhado de perto. Temos nosso livre-arbítrio, eles também.

Esse orientador, espírito talentoso na arte literária, sente muito ódio por tudo o que melhora o indivíduo e principalmente pela Doutrina Espírita. Acha ele, como muitos outros perseguidores, que não adianta combater os bons. Segundo eles, quanto mais as pessoas sofrem pressões, mais se fortalecem. Acham, então, que devem incentivar indivíduos sem preparo, médiuns vaidosos, a escreverem para que façam livros sem treino, estudo e preparo. Pensam que se criticarem, gerando discórdia e rancor, criarão desunião, e tudo o que se separa, divide, enfraquece-se e acaba.

Vou dar um exemplo referindo-me a mim. Eu, Antônio Carlos, era desconhecido no meio espírita, atualmente
algumas pessoas sabem quem sou pelos livros que escrevo.

Vera Lúcia, a médium e eu, temos uma história de vivência juntos, onde erramos, e agora queremos reparar esses erros. Organizamo-nos para fazer um trabalho. Temos um motivo forte para termos treinado juntos durante nove anos até o primeiro livro ser editado. Não sou uma máquina de fazer livros. Preciso sentir o que escrevo, fazer e refazer histórias no plano espiritual para depois ditar a ela outras vezes. Não escrevo por mais ninguém nem tenho planos de fazê-lo. Todo trabalho que se inicia tem continuidade, termina, e esse nosso, terá fim. E pelo meu aprendizado, irei com certeza fazer outro. Certamente isso se dará quando a médium desencarnar.

Mas, se fosse para escrever com outro encarnado, não usaria o nome de Antônio Carlos. Teria caridade com o médium que certamente receberia críticas e muitas indagações:

“Será ele? De fato é ou não Antônio Carlos? Esse médium mistifica? Quer aparecer? Por que escreve por alguém já conhecido?

Pegou o bonde andando! Etc., etc., etc.”

Temos, nos ensinos de Jesus, as setas para nossa caminhada, nas orientações dos livros de Allan Kardec diretrizes seguras para quem deseja fazer um bom trabalho com a mediunidade.

Como Januário narrou, ele tentou enganar primeiro um jovem que desconfiou de um nome importante dentro da Doutrina Espírita e agiu certo pedindo opiniões.

Mas, não é somente de nomes importantes que temos de nos acautelar, é também de histórias confusas, exageradas, com mensagens distorcidas e também quando o desencarnado escreve criticando o médium com quem trabalhou ou trabalha há tempos. Dizendo que ele é isso ou aquilo, que quer escrever com alguém com mais instrução, com vocabulário mais rico etc.

Sem treino, estudo, prudência e humildade da parte do encarnado, fica fácil enganar.

Felizmente, há dentro da Doutrina Espírita encarnados sérios, estudiosos, perseverantes, trabalhadores que a sustentam, fazendo um bom trabalho.

Sugiro cautela e prudência para você que recebe mensagens pela psicografia. Não tenha pressa em editar o trabalho. As árvores, para darem frutos, necessitam de tempo para crescer, fortalecer, dar flores e finalmente os frutos. A boa árvore somente dá bons frutos.

Estude com toda atenção os livros de Allan Kardec, principalmente O Livro dos Médiuns. Recomendo também o livro No invisível, de Léon Denis’6. Transcreveremos aqui alguns trechos por acharmos de grande importância:

“Nada verdadeiramente importante se adquire sem trabalho. Uma lenta e laboriosa iniciação se impõe aos que buscam os bens superiores. Como todas as coisas, a formação e o exercício da mediunidade encontram dificuldades, bastantes vezes já assinaladas; DENIS, Léon. No Invisível. capítulo V “Educação e função dos médiuns”. Rio de Janeiro: FEB (Nota da Médium).convém insistirmos nisso, a fim de prevenir os médiuns contra as falsas interpretações, contra as causas de erro e de desânimo.

Uma multidão de espíritos nos cerca, sempre ávidos de se comunicar com os homens. Essa multidão é sobretudo composta de almas pouco adiantadas, de espíritos levianos, algumas vezes maus, que a densidade de seus próprios fluidos conserva-os presos à Terra.

O médium inexperto recebe ditados subscritos por nomes célebres, contendo revelações apócrifas que lhe captam a confiança e o enche de entusiasmo. O inspirador invisível conhece-lhe os lados vulneráveis, lisonjeia-lhe o amor próprio e as opiniões, superexcita-lhe a vaidade, cumulando-o de elogios e prometendo-lhe maravilhas. Pouco a pouco vai desviando de qualquer outra influência, de todo exame esclarecido e
o leva a se insular em seus trabalhos. É o começo de uma obsessão, de um domínio exclusivista, que pode conduzir o médium a deploráveis resultados.

Esses perigos foram, desde os primórdios do espiritismo, assinalados por Allan Kardec; todos os dias, estamos vendo médiuns deixarem-se levar pelas sugestões de espíritos embusteiros e serem vítimas de mistificações que os tornam ridículos e vêm a recair sobre a causa que eles julgam servir.

A boa mediunidade se forma lentamente, no estudo calmo, silencioso, recolhido, longe dos prazeres mundanos e dos tumultos das paixões.”


Você, caro leitor amigo, espero que medite sobre as histórias verdadeiras que leu, que possa ter uma mudança de plano tranquila, e não se apavore ao se defrontar com a desencarnação. Que a resposta à indagação: “E agora?”, traga-lhe paz. E que tenha o merecimento de estar entre os bem-aventurados, os que escolheram o caminho estreito, mas que o levará a uma sobrevivência harmoniosa.

E tenha sempre em mente: somente você pode desfazer o que fez de errado e fazer o bem que ainda não fez,
e isso deve ser feito no presente, neste momento. Que Deus o abençoe!

Ao terminar a leitura deste livro, provavelmente você tenha ficado com algumas dúvidas e perguntas a fazer, o que é um bom sinal. Sinal de que está em busca de explicações para a vida. Todas as respostas que você precisa estão nas Obras Básicas de Allan Kardec.

Se você gostou deste livro, o que acha de fazer com que outras pessoas venham a conhecê-lo também? Poderia comentá-lo com aquelas do seu relacionamento, dar de presente a alguém que talvez esteja precisando ou até mesmo emprestar àquele que não tem condições de comprá-lo, O importante é a
divulgação da boa leitura, principalmente a literatura espírita. Entre nessa corrente!

14  Perispírito: substância vaporosa semimaterial, que serve de envoltório ao espírito e liga a alma ao corpo. Nos encarnados, é o intermediário entre o espírito e a matéria. Nos espíritos libertos do corpo físico, constitui o seu corpo fluídico N.E.

15 • Caso o leitor amigo queira saber mais sobre essas colônias de estudo, leia o livro: A Casa do Escritor, escrito por Patrícia. São Paulo: Petit Editora
(N.A.E.).



FIM

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