terça-feira

Morri ! E Agora? / 01

Introdução

Muitas vezes já desencarnei. E, em todas indagava-me, ao ter consciência de que mudara de plano: O que será de mim? Tive medo, na maioria das minhas desencarnações, ao me defrontar com essa situação. E a resposta somente foi tranqüila, quando tive boas ações me acompanhando. Morri! Desencarnei! Como definir essa passagem? É uma viagem que fazemos? Para onde iremos? Como ficaremos? Como será nossa vida no Além? Quem irá conosco? Tantas perguntas! E como receamos as respostas... Viagem? Talvez seja melhor dizer "mudança". E são muitos os locais para onde poderemos ir. A espiritualidade é enorme. Há lugares lindos, e outros nem tanto. E somente nossas obras nos acompanham. 

Os prudentes levam consigo as boas ações que lhes dão, de imediato, agradáveis frutos, o merecimento de ser acolhido em planos elevados onde há amigos que os orientam e auxiliam. Infelizmente as más obras são pesadas e prendem quem as coleciona em lugares não tão agradáveis e seus frutos são amargos. Também fazer essa mudança sem obras é como estar oco, vazio e infeliz. Continuamos no Além como somos, com os mesmos conhecimentos, costumes, odiando ou amando aos outros. 

E a maioria das pessoas ao ter o corpo físico morto, indaga: E agora? E acontecimentos vêm à mente. A mudança está feita! Será uma passagem feliz para aqueles que viveram encarnados fazendo jus ao merecimento de ser socorrido e permanecer entre amigos bondosos. Terão surpresas desagradáveis os que agiram sem piedade e sem seguir os ensinamentos de Jesus, que recomendou que fizéssemos ao próximo o que gostaríamos que fosse feito a nós.

Convidamos alguns amigos para que narrassem como foi defrontar-se com a desencarnação. 

Espero que nossos leitores acreditem nos casos aqui narrados, pois são verdadeiros. E que aproveitem a oportunidade da encarnação, vivendo no bem para o bem, a fim de merecer, ao desencarnar, serem socorridos.

Antonio Carlos
Verão 2004
Capítulo 01
A enfermeira

Estava atrasada. Levantei-me no horário de costume. Como sempre, toda manhã em casa era uma correria. Meus dois filhos, um moço e uma adolescente acordavam para ir à escola e meu marido para ir ao trabalho. Naquela manhã, meu filho me pediu:

"Mamãe, por favor, pregue o botão na minha camisa, quero ir à escola com ela."

E lá fui eu pregar o botão. Todos saíram, eu me atrasei, não peguei o ônibus no horário costumeiro, mas sim outro, dez minutos depois. Atrasada, atravessei correndo a avenida em frente ao hospital em que trabalhava e um carro me atropelou. Senti o baque e me vi caída no chão. Não senti dor, fiquei tonta e o que me aconteceu depois, pareceu-me que sonhava.

Vi que me colocaram em uma maca, entraram comigo no prédio do hospital, indo para a sala de emergência.

Não conseguia mover-me nem falar. Reconheci os enfermeiros amigos ao meu lado, olhando-me preocupados. Senti o doutor Murilo me examinar e escutei:

"O estado de Sônia é gravíssimo!"

Deu ordens que julguei serem certas.

"Não está adiantando!" - escutei e reconheci a voz de Ivone, uma competente enfermeira.

"Morreu!" - falou alguém.

"Sônia, infelizmente não resistiu, está morta!" -expressou-se doutor Murilo.

"Eu não!" - pensei aflita. - "O que está acontecendo meu Deus? Por que será que acham que morri! Tenho de falar, reagir e mostrar a eles que estou viva."

-Calma, enfermeira Sônia! Tranquilizé-se. Sabemos que você está viva. Durma!

Escutei e não identifiquei quem falou. Uma mão quente fechou meus olhos com carinho. Achei que me deram algum sedativo. Senti que estava sendo medicada e dormi.

Mas não foi um sono tranqüilo. Às vezes sentia que mexiam comigo. Tentava tranquilizar-me, achando que estava sendo operada ou que me faziam curativos. Depois ouvi meus familiares chorando, principalmente minha filha, mãe e irmã.

Pensei: "Eles já sabem e estão chorando junto ao meu leito. Isso não é permitido. Será que abriram exceção porque trabalho aqui?".

- Morreu tão jovem!

- Coitada da Sônia, foi atropelada quando ia para o trabalho!

Sentia um torpor e não conseguia entender o que me acontecia. Concluí que era a anestesia que estava me fazendo delirar.

- Sônia - escutei uma voz forte falando comigo -, vamos levá-la para um local sossegado. Acalme-se e tente descansar.

"Vou para a U.T.l." - pensei.

E esforcei-me para ficar tranqüila. Senti alguém mexer no meu corpo, mas não senti dor, apenas aquele estado terrível de torpor. Parecia que sonhava, queria acordar e não conseguia.

Senti que me levaram para outro local e deitaram-me numa cama. Abri os olhos um pouquinho e vi que estava numa enfermaria. Pessoas de branco carinhosamente acomodaram-me e uma delas falou:

- Sônia, você irá dormir tranqüila!

Ainda escutava choros e lamentos; depois dormi.

Acordei. Acabou aquele estranho torpor. Olhei para o local onde estava, era uma enfermaria bem-arrumada, limpíssima e silenciosa.

- Onde estou? - ouvi minha voz indagar e ressoar pelo quarto.

Duas senhoras me olharam. Ninguém respondeu.

"Estou no hospital" - pensei. - "Que pergunta boba a minha. Estou me lembrando. Fui atropelada!"

Curiosa, levantei o lençol. Estava vestida com uma camisola branca e pasmei: nenhum ferimento. Movi-me com facilidade e pensei:

"Aconteceu algo estranho! O que será que houve? Talvez tenha batido somente a cabeça e agora estou saindo de um coma. É isso! Mas por que não estou na U.T.I.? Por que não estou num quarto particular? Temos convénio!".

Um senhor entrou no quarto e uma das senhoras que me olhou, falou:

- Doutor José Augusto, Sônia já acordou!

- Que bom! Como está, garota? - perguntou ele me olhando e sorrindo.

Parecia que o conhecia, mas não me lembrava de onde. Observei-o bem. Tive a certeza de que ele não era médico do hospital.

"Será que fui transferida?" - pensei.

Como não respondi, ele perguntou novamente:

- Sônia, como está se sentindo?

- Não sei, acho que bem. Estou saindo do coma?

- Não, você não estava em coma - respondeu o senhor gentilmente.

- Onde estou?

- Na outra parte do hospital.

- Que outra parte? - indaguei curiosa.

- Na que fica do outro lado - respondeu uma das senhoras, intrometendo-se na
conversa.

- Lado?! -balbuciei.

- Do Além - ela falou rapidamente e baixinho.

- Sônia - falou o senhor -, você compreenderá aos poucos o que lhe aconteceu. É muito importante se esforçar para ficar calma e tranqüila para se recuperar.

Uma senhora me trouxe um suco. Não estava com vontade, não quis. O senhor afastou- se, foi conversar com outra pessoa. Fiquei ali aborrecida, sem compreender o que se passava.

Fingi dormir e quando o senhor se afastou e tudo ficou quieto, levantei-me com facilidade e saí escondida do quarto, passei por um corredor e vi uma escada, desci e, aliviada, reconheci o hospital em que trabalhava. Estava como sempre, lotado, pessoas indo e vindo. Voltei para o quarto e deitei no meu leito.

"Deve haver uma explicação para estar aqui" - pensei. - "Depois, por certo, aquele senhor me dirá o que aconteceu. Certamente fizeram, de algum setor do hospital, esse local mais tranquilo, onde me trouxeram para me recuperar."

Dormi de novo. Acordei e pensei em tudo o que me ocorreu e achei estranho, principalmente porque escutei, sem compreender como, minha filha chorando.

"Ela veio me visitar e chorou. Por que não me acordou? Mas está chorando agora! Por que a escuto e não a vejo?"

Quando o senhor entrou no quarto, chamei-o:

- Senhor, por favor, venha cá um pouquinho. O senhor é enfermeiro ou médico?

- Sou alguém que cuida de vocês.

- Escutei essa senhora chamá-lo de doutor José Augusto. Não me lembro de ninguém com esse nome na equipe médica. Bem, isso não tem importância. Estava vindo trabalhar, atravessei a avenida e um carro me atropelou; depois não me lembro direito o que aconteceu. Escutei o doutor Murilo dizer que meu estado era grave, entrei num torpor, num sono estranho, com sonhos confusos. O senhor pode me dizer o que houve?

De fato, você foi atropelada - respondeu ele, tentando me esclarecer sem me chocar. -

Foi conduzida para a sala de emergência. Sônia, você, sendo enfermeira, já viu multas pessoas morrerem, não é?

- Sim já - respondi. - Trabalho com doentes terminais. No começo ficava triste quando uma pessoa morria, até orava por ela, depois isso se tornou rotina, era meu trabalho, cuidava de todos com carinho e a morte não me incomodou mais.

- A morte do corpo físico é algo natural! Você é religiosa? - perguntou ele.

- Sou, vou à igreja quando dá, gosto de orar no sossego de um templo - respondi.

- E o que pensa da morte?

- Não sei... - respondi sacudindo os ombros. - Por que está me perguntando isso?

- Porque o corpo físico nasce e morre. Nós o usamos para viver na Terra durante um período. Você não pensa na morte, em morrer?

- Eu não! Ainda mais agora que sobrevivi daquele atropelamento em que ainda não me recuperei. A pancada na cabeça me deixou confusa, deve ter afetado meu cérebro.

Falei um tempão sobre o que sentia e tinha explicação para tudo. Doutor José Augusto me ouvia atento. Aproveitando que fiz uma pausa, ele falou:

- Sônia, não esqueça que a morte do corpo físico é para todos, e que somos sobreviventes depois dessa ocorrência.

Mudei de assunto aceitando um suco que me foi oferecido. Não estava gostando nem um pouco de estar ali, achei muito estranho. Quando minhas companheiras de quarto dormiram, levantei devagarzinho e saí do quarto. Uma senhora de aparência agradável, aproxímou-se quando estava no corredor perto da escada.

- Sônia, aonde vai? Está fugindo?

- Saí somente para dar uma voltinha - respondi.

- Você pediu permissão? - indagou-me. - Não pode sair e andar por aí, pode ser perigoso. Volte, por favor! Você está em recuperação e tem de obedecer às normas do hospital. Como enfermeira sabe disso, não é?

Fingi que ia voltar, mas corri e desci as escadas. Passei correndo pelos corredores movimentados do hospital. Entrei na ala reservada ao corpo docente, no vestiário das enfermeiras. Apressada troquei de roupa. Saí do prédio, parei em frente da avenida, quis estar em casa. E, logo estava. Aliviada, nem pensei como vim, achei que estava esquecendo alguns detalhes.

Meu lar estava bagunçado. Tentei arrumá-lo e não consegui. Quis colocar objetos nos seus lugares, mas eles continuavam onde estavam. Cansada, sentei numa poltrona e adormeci. Acordei com meus filhos chegando com minha mãe. Corri para abraçá-los, mas eles não me deram atenção. Pareciam não me ver. Escutei minha filha dizer:

- Estamos contentes, vovó, por estar aqui nos ajudando.

Conversaram sem me dar atenção.

"Acho" - pensei - "que estão bravos comigo porque fugi do hospital."

Meus dois filhos e minha mãe fizeram uma faxina na casa. Ela foi embora, meu marido chegou, estava abatido e triste. Também nem me olhou. Chorei. E minha filhinha chorou também. Meu marido a abraçou.

- Filha, não chore! Estamos todos sofrendo. Tente reagir, temos de continuar vivendo.

- Sinto tanta falta dela!

"Será que minha filha está chorando porque minha mãe, a avó dela, foi embora?" -
pensei.

Os três se abraçaram. Foram dormir, nem me deram atenção. Resolvi ir para o quarto.

Deitei na minha cama. Encostei-me no meu marido. Ele se revirou, levantou e foi para a sala, ligou a televisão. Fui também, disposta a conversar com ele.

Falei por minutos que estava bem, por isso saí do hospital e que eles não precisavam me tratar assim. Meu esposo sempre fora muito atencioso comigo, fingiu tão bem que parecia não me escutar. Sentei-me no sofá e dormi.

Assim se passaram dias. Até que escutei minha mãe e minha filha conversando. Diziam que iam ao hospital pegar alguns objetos meus que estavam lá.

"Bem" - pensei -, "se estão me tratando assim, com desprezo porque fugi de lá, vou com elas, assim me desculpam e fica tudo bem."

Entrei com elas no carro. Pararam no estacionamento do hospital, acompanhei-as e entramos no prédio.

Fiquei olhando o movimento e quando percebi as duas sumiram. Resolvi ir para a enfermaria onde estive, mas não encontrei as escadas. Fiquei andando pelo corredor, acabei indo ao setor em que trabalhava, dos doentes em estado grave. Fiquei num canto olhando. Vi um senhor, que já conhecia, era um doente difícil, exigente e abusado.

Maltratava com palavras rudes quem cuidava dele. Por duas vezes passara as mãos em mim. Agora estava morrendo e, morreu. Vi dois vultos escuros o pegarem pelos braços, deram-lhe um puxão e ele se transformou em dois. Um quieto, ali no leito, outro gritando e desaparecendo com os vultos. Tremi de medo. Logo em seguida, outra morte, uma senhora tranqüila morreu orando e foi envolvida por uma luz. Também se transformou em duas. Uma ficou dormindo serenamente, e a outra foi embora com a luminosidade.

Estava estupefata, então, vi aquela senhora que tentou me impedir de fugir.

- Oi, Sônia! Que bom ter voltado! Espero que tenha compreendido o que ocorreu com
você.

- Acho que estou louca!

Ela me abraçou com ternura.

- Não, Sônia! Por favor, não se iluda mais! Observe-nos! Somos, você e eu. diferentes dessas enfermeiras e desses doentes. Você não está louca! Quando foi atropelada, seu corpo físico morreu, porém você continuou viva, porque o espírito não morre.

- Morta eu?! E agora? - perguntei aflita e com medo.

- Aceite essa forma de viver. Venha, vou levá-la para a parte do hospital onde abrigamos desencarnados necessitados de orientação.

Pegou na minha mão e foi me puxando. Ao passar pelo corredor principal, vi na parede uma foto do doutor José Augusto, ele foi um dos fundadores do hospital e morrera há muito tempo.

- O retrato do doutor José Augusto! - exclamei. - Ele me ajudou. Via sempre essas fotos quando trabalhava aqui, por isso que, ao vê-lo, achei que o conhecia.

Aquela senhora me colocou no leito. Chorei por horas com dó de mim e com medo.

Senti-me abraçada. Era o doutor José Augusto.

- Sônia - falou ele carinhosamente -, minha amiga, não chore mais! A vida continua.

Adormeci tranquila.

Acordei sentindo-me bem. Compreendi tudo. Minutos depois, o doutor José Augusto veio me visitar e perguntei para ele:

- E agora?

- Irá aprender a viver com esse corpo que agora reveste, o perispírito, para depois continuar sendo a boa enfermeira que sempre foi.

- Explique-me, por favor, o que aconteceu comigo - pedi.

- Você, há oito meses e quinze dias, ao atravessar a avenida, foi atropelada e desencarnou. Foi trazida para cá e um dia fugiu.

- Parece que faz somente alguns dias que fui atropelada! - exclamei.

- Porque ficou confusa e dormiu muito.

- Foi por isso que ninguém em casa me viu. Coitados!

- Não poderiam vê-la. Você, Sônia, iludiu-se e não quis' aceitar a situação. Via, em seu trabalho, muitas pessoas desencarnarem, mas não pensou que isso aconteceria com
você.

- Como fui para minha casa? Como troquei de roupa? - quis saber curiosa.

- Nós, desencarnados, locomovemo-nos com a força do pensamento, da vontade. Isso se chama volitação. Para fazer esse processo consciente necessitamos aprender. Alguns o fazem sem saber, usam da vontade, como você fez. Quanto à troca de roupas, podemos plasmar vestimentas e objetos, também se faz conhecendo e depois de um aprendizado, ou como você, que usou a força mental, sem saber.

-Vi, na U.T.I., duas pessoas morrerem. Um senhor foi levado por vultos escuros e uma senhora por uma luz - falei, olhando para o doutor José Augusto, esperando por uma explicação.
- A desencarnação não é igual para ninguém - ele me esclareceu gentilmente.

- Aquele senhor infelizmente viveu fazendo maldades, e desencarnados que não o perdoaram, levaram seu espírito para regiões trevosas a fim de se vingarem dele. A senhora que viu com luz foi uma pessoa bondosa e amigos vieram buscá-la para levá-la a locais de agradável moradia. Há também desencarnes como o seu, em que o espírito permanece junto ao corpo morto, vendo de forma confusa arrumarem-no dentro do caixão e o velório. Você foi desligada duas horas antes do enterro. Outros, não querendo abandonar o envoltório carnal, são enterrados junto.

Admirei-me com as explicações coerentes que aquele bondoso doutor me dava.

-Ainda bem que não me cremaram! - suspirei aliviada. - Meu marido quer ser cremado.

O que acontece com espíritos que têm o corpo físico morto reduzido a cinzas pela cremação?

- Nos locais onde são cremados, trabalham equipes de socorristas que, independentemente de merecerem ou não, desligam esses espíritos da matéria morta.

Quem fez por merecer um socorro é levado para casas de auxílio; outros, que viveram imprudentemente ou sem fazer o bem, somente são desligados - alguns ficam a vagar e muitos retornam ao antigo lar.

- Existem então desencarnados, como o senhor se refere aos que morrem, bons e maus?

Corri risco em ter saído daqui sem permissão? - indaguei-o.
- Há, no plano espiritual, espíritos bons, maus e os que têm a intenção de se melhorar só que não tiveram coragem o suficiente para se dedicarem ao bem. Você, Sônia, correu perigo, de desencarnados maus a pegarem e fazê-la escrava. Nós sabíamos onde você estava e um socorristas ia vê-la sempre, tínhamos notícias suas.

Agradeci-o pelo auxílio e pelas explicações. Dessa vez fui obediente, recuperei-me, compreendi que fizera minha partida do plano físico e como quem parte, chega, vim para o plano espiritual. Fui transferida para uma colônia, onde aprendi a viver desencarnada e a ser útil.
Tinha sempre notícias dos meus familiares, depois de anos, pude vê-los e estar com eles nos momentos importantes. E foi uma felicidade quando o doutor José Augusto me convidou para servir como enfermeira, ser socorristas no hospital em que trabalhei quando encarnada.

E a vida fantasticamente continua!
Sônia

Explicação de Antônio Carlos

Iludir-se é fácil. Temos tendência a acreditar no que queremos. Assim. Sônia iludiu-se. Escutou, ao ser levada para a sala de emergência, que seu estado era grave, que morrera. Agarrou-se tanto ao corpo físico que socorristas que serviam no hospital tiveram dificuldades para desligá-la - seu socorro somente ocorreu duas horas antes do seu envoltório carnal ser enterrado. Deu para si mesma explicações para tudo o que estava lhe acontecendo de diferente. Ao ficar numa parte do hospital que não conhecia achou que era uma nova ala. Na sua casa terrena pensou que a família não falava com ela, por estarem bravos, por ter fugido etc. 
Normalmente poucas pessoas se preparam para esse fato natural que é a desencarnação. Infelizmente, sempre achamos que isso acontece com os outros e quando chega nossa vez, apegamo-nos a detalhes para crer que continuamos na matéria física. Se tivermos conhecimento, fazemos essa mudança com mais facilidade. Embora necessitamos fazer jus para merecer o socorro. Não aceitar a desencarnação não depende do motivo que levou os órgãos do corpo físico a findarem suas funções. 
O desencarne de Sônia foi brusco. Talvez, se tivesse doente por meses, ter-se-ia preparado e aceitaria sem tantas dificuldades a mudança de plano. Mas, infelizmente, tenho visto doentes de anos também se iludirem. Não deveríamos ter pavor da morte, e sim entendê-la e designar esse fenômeno pelo nome certo: desencarnação, aceitando essa outra forma de viver. Com aceitação e compreensão, tudo fica mais fácil e agradável.


 Muita PAZ a todos...

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