quarta-feira

Filho Adotivo V


 V
SONHOS

À noite, acompanhamos Caio que saíra para visitar Cidinha, morava perto, numa casa grande e bonita.Cidinha era encantadora, graciosa, notamos ao vê-la que era muito feliz. Sorriu alegre ao ver o namorado. Observando os dois juntos, notavam-se algumas semelhanças, principalmente a cor dos cabelos e a boca.

Conversaram animados, Caio, recordando o sonho, disse a Cidinha.

— Cidinha, esta noite tive um sonho engraçado. Sonhei com um casal estranho e eles me disseram para não me casar com você, pois éramos irmãos. Riram.

— Sabe, Caio, já ouvi de muitas pessoas que somos parecidos fisicamente, como irmãos.

— Eu também já ouvi isto.

— Eis aí o motivo do sonho. Tudo bobagem.

Deixamos o casal e entramos na casa. Helena mãe adotiva de Cidinha fazia crochê distraidamente. Marcelo o pai, lia o jornal. Examinamo-los, procurando ver qual dos dois poderia nos ajudar.

— Helena, disse Antônia, não gosta nem que se toque no assunto da adoção, nem pensa no fato. Para ela, foi como se tivesse gerado Cidinha. Pessoa boa vive para o lar, para os dois, esposo e filha.

— Se é assim, Helena não nos ajudará, irá nos repelir se tocarmos no assunto da adoção, nunca pensa que Cidinha teve outros pais.

— Marcelo, - continuou Antônia a apresentar os membros da família, — é bom, caridoso, faz inúmeros benefícios, ajudando creches, orfanatos. É estimado e querido como patrão, inteligente e amoroso, ama a esposa e a filha com muito carinho.

— Ele é sensível, acho que podemos contar com Sua ajuda.

Faremos Paulo e Marcelo descobrirem a verdade.

— Como?

— Com paciência tentaremos intuí-los.

Voltamos à casa de Ofélia e ficamos no jardim.

— Dará certo? Corresponderão aos nossos apelos? - indagou Antônia.

— Vamos tentar. Toda pessoa é livre para aceitar sugestões, ou não. Intuições recebem a cada instante, boas ou más, sejam de amigos ou inimigos, desencarnados ou encarnados. Pensamentos têm forma, criam imagens e flutuam no espaço, podemos emitir, ou receber se estivermos na mesma receptividade. O pensamento é uma grande força, como a eletricidade. A mente humana é uma centelha da consciência onipotente de Deus. Vamos cara Antônia, usar desta força para intuí-los.

— Pensamentos, são trocas de fluidos e energia, Antônio Carlos? Podemos então captar pensamentos alheios?

— Sim, principalmente, os afins. Mas, podemos aceitá-los ou repeli-los. Devemos ter cautela e paciência, adoção não é assunto agradável a nenhum deles. Procuraremos intuí-los como também conversar com eles, quando libertos do corpo pelo sono.

— E se procederem como Caio?

— Insistiremos. Para os sonhos, Antônia, há muitas explicações. Podem ser recordações do cérebro físico dos acontecimentos diários, histórias vistas e ouvidas. Podem ser recordações parciais de outras existências. Podem ser projeções de outras mentes.

— Como assim?

— Alguém pode pensar e projetar fatos e situações e o sonhante captar. Os bons usam projeções para instruir, ajudar, esclarecer e equilibrar pessoas. Os maus, para maltratar com pesadelos, para planejar crimes e maldades.

Os vingadores, para que suas vitimas lembrem seus crimes e sofram com suas recordações.

— Devem os encarnados ser cautelosos ao desvendar sonhos, não é mesmo?

— Sim, a Doutrina Espírita recomenda que orem sempre antes de dormir pedindo a proteção dos bons espíritos para que possam ter contato com pessoas ou espíritos bons. Para se saber com certeza se teve contato com bons, observa-se a sensação deixada, se é boa ou ruim. Doamos o que temos fluidos não enganam maus não têm bons fluidos
.
— Existe muita brincadeira nestes contatos?

— Espíritos brincalhões gostam de usar dos sonhos para pregar peças e dar idéias erradas, atiçar ciúme, passar medo, só para se divertir. Sonhos lembrados que dizem algo, devem ser cautelosamente estudados e analisados e não se deve crer em todos. Quanto aos repetidos, podem ser avisos, alertas, mas também podem ser de vingança de obsessores. 

Sempre é bom procurar entender os sonhos e, se forem bons, se trazem bons conselhos, deve-se aceitálos.Ás vezes, são bons, mas não agradam por ser contrários ao gosto do momento. Se, analisados, não forem bons deve-se orar mais, vibrar melhor, querer bons por companhia e ser digno deles.

— Nós vamos conversar com eles quando desligados pelo sono e eles recordarão como sonhos, não é?

— O perispirito deixando o corpo adormecido virá conversar conosco. Este parcial desligamento é normal e muitos saem a passeio, para ir a encontros, a lugares bons e ruins, para palestrar com outras pessoas, boas ou más, conforme afins ou, se necessário, para alguma finalidade. São muitos os trabalhos que encarnados fazem libertos do corpo pelo sono, muitos aprendem e prestam ajudas e socorros. Também quantos crimes são planejados, quantas vinganças alimentadas por imprudentes. E encontros podem ser de encarnados e desencarnados, como também entre encarnados, onde se trocam idéias de amizade ou de desavenças.

— Pena que a maioria não se recorda ou pouco fazem.

— O cérebro físico desconhecendo os fatos que se passam, traduz o que lhe é mais parecido, fazendo às vezes algumas confusões. Veja como Caio recordou. Julgou-nos um casal estranho, por não nos conhecer, por estarmos vestidos fora da moda do momento, eu, simplesmente de branco, você com este vestido voga de vinte anos atrás.

Muitos dos sonhos, o cérebro físico não registra, porém uma sensação fica. Sábio o conselho ao dizerem a uma pessoa preocupada ou na peleja de solucionar um problema, para que vá dormir. Uma noite bem dormida sempre ajuda, pela manhã a solução aparece. É que se pode ser ajudado na solução por amigos desencarnados, ou ele mesmo,desligado do corpo volta a estudá-lo e acaba por achar a resposta para suas preocupações. Quantos pela manhã não ficam maravilhados com a resposta achada.

— Mas, os maus podem também interferir?

— Certamente. Já vi muitas vezes obsessores alimentar pessoas idéias de suicídio, de crime e desavenças, como também dar idéia errada para solução de problemas. Mas, todos nós temos o livre-arbítrio e inteligência para aceitar, ou não, o que nos é transmitido.

— Lembro que quando era pequena, numa ocasião, sonhava muito com minha avó, ora ela estava me batendo,mordendo, por vez ria ou chorava. Os vizinhos diziam que ficara impressionada com sua morte e minha mãe levou-me para benzer e estes sonhos, para mim pesadelos, acabaram.

— É muito comum encarnados ao ter o corpo físico morto, não esclarecidos, continuarem agindo, sentindo como encarnados. Normalmente continuam em seus lares com aqueles que amam, os mais sensíveis sentem mais esta presença e estes desencarnados acabam prejudicando sem querer, sem entender, seus entes queridos. Pode ter sido sua avó que ao desencarnar ficou em seu lar e passou a vampirizá-la. E você, desligada do corpo pelo sono, conversava com ela, certamente perturbada, coisa comum nestes casos, que ria, chorava podendo até mesmo ter ralhado com você. Sem entender o fato, recordava estes
encontros como pesadelos. 

Ao benzer ou tomar passes, estes desencarnados muitas vezes são encaminhados ou socorridos findando o problema. Pode ter sido também que, você Antônia, tenha ficado impressionada e o cérebro físico recordava sempre. Ao benzer-se, uma força física maior que a sua deu-lhe a ordem para esquecer estes sonhos e você obedeceu.

— Benzimentos, passes, que tesouros de dádivas que tantos riem e ridicularizam!

— É verdade. Felizes dos que desta força se utilizam e dão valor, e bem-aventurados os que com humildade distribuem. Acho que todos estão adormecidos. Vamos,Antônia, falar com Paulo.

Ajudamos Paulo a desprender-se da matéria. Um tanto indeciso, assustado, olhou-nos.

— Amigo Paulo, necessitamos falar-lhe, disse.

— Não os conheço! Quem são?

— Já disse amigos.

Antônia aproximou-se mais, ficando bem na sua frente, cuidadosamente minha amiga plasmou-se mais parecida com Cidinha.

—É você, Cidinha? - indagou Paulo. Como está bonita!

Que veio fazer aqui à noite?

— Não sou Cidinha. Não se lembra? No passado... A mãe de Caio, sou Antônia.

— Ora... Não pode ser Antônia, ela deve ter morrido.

— Morre a carne, vive-se em espírito, somos eternos e não acabamos.

— Não quero falar disso, que os mortos descansem em paz.

— Sou Antônia!

— Hum... Que quer? Veio pedir dinheiro? Chantagem?

Nem pense em fazer escândalo.

— Calma Paulo. Não quero dinheiro, nem vim fazer escândalo.

— Quer o menino? Nem morta, ouviu? Você não é Antônia. Não pode ser. Como sabe deste fato? Não lhe dou meu filho. Chamo a polícia. Você quer mais dinheiro?

Coloco-a na cadeia.

Paulo ficou nervoso, ameaçou, falava sem parar não deixando Antônia falar mais nada, quis agredi-la. Tive que intervir e colocá-lo no corpo bruscamente. Paulo acordou assustado, molhado de suor, deu graças por ter acordado.

— Meu Deus, que pesadelo! Alguém queria meu filho e queria dinheiro! Que horror!

Dei-lhe um passe para que acalmasse e acabou adormecendo novamente.

— Não desanime Antônia. Paulo sempre temeu sua volta e que o chantageasse. Tem medo que pudesse querer o filho e do escândalo se o segredo viesse a ser descoberto.

Deixemos que descanse. Vamos ao Marcelo. 

Encontramos Marcelo na sala de estar de sua casa, a conversar com uma senhora desencarnada. A senhora cumprimentou-nos, gentilmente, apresentamo-nos e explicamos o porquê de nossa intromissão.

— Senhora, por um motivo justo, aqui estamos para conversar com Marcelo.

— Sou a sogra dele, Etelvina, posso ajudá-los?

— Sim. Sou a mãe de Cidinha, disse Antônia, gostaria de que nos ajudasse.

— Você é a mulher que desencarnou ao tê-la? Veio vê-la?

— Ao saber que ela é tão amada e feliz, venho vê-la só em visitas rápidas, mas o motivo que nos traz aqui é outro, mais sério, escuta-nos.

Antônia contou-lhe tudo, D. Etelvina escutou com atenção. Marcelo continuou sentado, lia um livro descuidado de nossa presença.

— Meu Deus! - exclama D. Etelvina, — com tantos jovens, Cidinha foi se interessar logo pelo irmão!

— Eles não sabem disso, mas precisamos separá-los e logo.

— Entendo, orarei para que consigam. Falarei com Marcelo, ele é boa pessoa, amo-o como filho, conversamos sempre que os visito. Gosta muito de ler e o tenho encontrado fora do corpo físico, lendo ou estudando.

“Marcelo! - voltou D. Etelvina a ele, que largou o livro e olhou-a com carinho. Estes são pessoas amigas que querem falar-lhe. É um assunto sério, deve prestar atenção e fazer o que recomendam, pela felicidade de Cidinha.”

“Algo de ruim se passa com ela?”, indagou preocupado.

“Não, Cidinha não corre nenhum perigo. Mas, um problema tem que ser solucionado, estes amigos aqui estão para ajudar, são Antônio Carlos e Antônia.”

Marcelo cumprimentou-nos. D. Etelvina retirou-se e eu disse-lhe calmamente, transmitindo confiança:

— Marcelo, quero ser seu amigo, vim de longe para conversar com você.

— É médico?

— Sim, sou, porém não é este o motivo, estamos a par de seus segredo, sobre a adoção de sua filha. Marcelo observou-me, notamos que gostou de mim, mas não lhe agradou o tema da conversa, adoção não lhe era assunto interessante.

— É por ser médico que sabe?

Não respondi a indagação, tentei ser agradável.

— Marcelo, Paulo é seu amigo, não é? Seus filhos namoram. Não seria conveniente contar-lhe tudo sobre Cidinha?

— Contar? Por quê? Prometemos guardar segredo e segredo que se conta não o é mais. Que ia interessar isto a Paulo?

— Em amigos se confia. Se não contar, estará traindo sua confiança. Paulo é honesto e guardará este segredo comoseu.

— Que tem Paulo a ver com o caso? Quem casará com ela é Caio. Conheço o garoto, não irá se importar com este fato.

— Concordo. Nem ele nem Paulo se importarão; são pessoas de bem, longe de ser preconceituosas. Caio é jovem, não se interessará pelo assunto. E a Paulo que deve contar. Ele é seu amigo e pai de Caio, será sogro de sua filha, segundo pai, por que não conta a ele?

— Vou pensar.

Calamos por instantes, Marcelo retomou a palavra:

— Não quero ser indelicado, D. Etelvina pediu-me para escutá-los, mas que têm vocês com isto? Antônia ia falar, adiantei, minha amiga entendeu-me.

Não queria espantar Marcelo, deveríamos ter cautela. Se soubesse a verdade naquele momento, talvez achasse graça.

— Nada tem em especial. Trabalhamos ajudando as pessoas. Escondeu um fato desse, pode ter no futuro graves conseqüências. Se descobrirem mais tarde? Acusarão você de ter ocultado algo tão importante. 

Quem lhe garante que este fato não venha a ser descoberto? Ocultando, não está traindo a confiança de seu amigo?

— Só quatro pessoas sabiam meus sogros, que já faleceram Helena e eu, nem a meus pais contamos. Ninguém mais sabe.

— Sabemos disso.

São desencarnados, respondeu-nos, demonstrando ser esclarecido.

— O pessoal do hospital também sabe, ponderei.

— Será? Já se passou tanto tempo.

— Pense Marcelo. É melhor contar.

Despedimo-nos, Marcelo voltou ao corpo pensativo e preocupado.

No outro dia, ao despertar, não lembrou da nossa conversa. Uma sensação de que deveria contar algo a alguém, inquietou-o, sentiu-se preocupado.

Por várias noites conversamos com eles. Marcelo aceitava-nos bem, relutava em revelar o segredo tão bem guardado. Achava que nada se modificaria e temia que viessem todos, a saber, especialmente a filha que nunca desconfiara. Após nossa terceira conversa, Marcelo acordado, recordou que conversara com alguém sobre a adoção da filha, os fatos da adoção vieram como recordação e pôs-se a cismar se deveria contar a Paulo. Não sabia explicar o porquê, mas estava com vontade de contar ao amigo.

Acompanhamo-lo e intuímo-lo sempre com o pedido:

“Conta a verdade ao Paulo!”.

Na quarta vez, Marcelo conversara conosco educadamente, mas demonstrou estar cansado de minha insistência. Não revelara-nos o fato de Cidinha e Caio serem irmãos. Argumentávamos sempre que não devia esconder a verdade ao amigo.Paulo não queria mais nos ver, repelia-nos.

Adormecido, com seu perispirito no corpo, projetamos para ele cenas de seu passado, recordando seu romance com Antônia.

Via tudo, chorava arrependido por ter traído a esposa e por ter seduzido uma jovem caipira. Como Marcelo, após três vezes, lembrou ao acordar, vagamente do sonho e de Antônia.

No quarto dia, fizemos a comparação ao acordar, vagamente do sonho e de Antônia.No quinto dia, fizemos a comparação de Antônia com Cidinha, firmando bem a semelhança.Paulo acordou preocupadíssimo. Lembrou nitidamente de como era Antônia, orou por ela, temia muito os mortos. A última notícia que tivera dela é que tinha falecido dois ou três anos após Caio ter nascido.

Indagou a si mesmo o dia todo:

— Com que Antônia é parecida?

Não deixamos esquecer, repetindo-lhe sempre:

“Paulo! A Semelhança? Quem se parece com Antônia?”

Ficou pensativo o dia todo. Por várias vezes, passava pela sua mente todas as mulheres que conhecia.

— Será Caio? Não, ele tinha pouca semelhança com ela. É uma mulher? Quem? Pensou nos funcionários do escritório, das fábricas e nada. Não, não é não acho. Mas sei que conheço alguém parecido. Meus Deus! Será que

Antônia não morreu? Será que a vi por ai? Não... Bobagens, se Antônia fosse viva teria minha idade. Penso numa jovem...

Chegara o sábado, o dia da festa de Cidinha e Carla estava toda animada. Mas os irmãos não queriam levá-la. Ofélia interferiu e pediu ao esposo:

— Paulo leva Carla á festa, por favor. Os meninos querem voltar mais tarde. Você encontrará amigos lá, Marcelo e Helena ficarão felizes por tê-lo como companhia. Carla quer tanto ir...

— Está bem, Ofélia, leva-a.

Carla pulou no pescoço do pai, beijou-o agradecida. Acompanhamo-los, a festa estava animada,cheia de jovens amigos. Paulo sentou-se em companhia de outros pais que como ele acompanhavam seus filhos e conversaram animados. Cidinha e Caio dançavam felizes. Chamei a atenção de Paulo para o casal e ele passou a observá-los.

— Vê como Cidinha é bonita! - exclamei várias vezes a ele. Tentei passar a imagem de Antônia e consegui.Paulo descobriu que se parecia com a mãe de Caio.

Paulo ficou branco, procurou se controlar, pedindo licença aos amigos, foi para o jardim.

— Meus Deus! Achei a pessoa que se parece com Antônia. É incrível! Sempre achei Cidinha com a feição parecida com alguém que conhecia. Mas com Antônia? Por que com ela? A semelhança é impressionante!

E como se parecem! Por que esta semelhança? Não tem nada a ver uma com a outra, coincidência?! Paulo ficou nervoso com a descoberta, controlou-se, procurou acalmar-se, voltou à sala, tentando esquecer o assunto. Marcelo estava orgulhoso, gostava de reunir seus amigos e os da filha em sua casa. Achava que o melhor lugar para a filha se divertir era na sua casa e Helena adorava preparar festa servir de anfitriã. Festas eram comuns em seu lar.Observava a cada instante a filha com Caio e sorria satisfeito, pensava distraído.

“Caio é o genro que pedi a Deus. Ele tomará conta com honestidade e bondade de tudo o que é nosso. Confio no garoto. Paulo planeja deixar Caio em seu lugar, mas ele tem Sérgio. Caio ocupará o meu lugar. Logo que se casem, convidarei Caio com muitas vantagens para trabalhar comigo e ficar no meu lugar. Cidinha não saberá cuidar das indústrias, ela não gosta de negócios nem quero. Caio é meu herdeiro perfeito.”

A festa acabou Paulo, aliviado, levou Carla para casa. Deitou-se logo, porém, não conseguia dormir, sua descoberta tirara seu sono. Não conseguia entender o porquê da semelhança, sentia uma sensação estranha que o incomodava.

— Deixemo-lo, Antônia. É bom que Paulo pense e preocupe-se com sua descoberta. Para nós é útil que tenha esta semelhança bem viva em sua mente. Vamos ao Marcelo pedir que conte seu segredo ao Paulo, aí tudo se desvendará.

— Se não conseguirmos fazer com que Marcelo conte?

— Estamos tentando, Marcelo deverá fazer a escolha.

— É triste pensar que namoram e que são irmãos.

— Devemos separá-los e logo, se não acabam casando,por isso devemos forçar um pouco Marcelo.

— E se os fizéssemos brigar?

— Como? Com intrigas? Seria impossível fazer que deixem de se amar. Depois uma simples briga, não os separaria. Se Marcelo negar-se realmente a contar,voltaremos ao Paulo e pediremos que investigue a semelhança que o intriga.

Voltamos ao lar de Helena, a família colocava objetos nos lugares, ajeitando a confusão deixada pela festa, Marcelo conversava com Cidinha.

— Filha, você ama mesmo Caio? Pensam em se casar?

— Sim, papai, amo-o. Caio é tão bom, parece em temperamento com o senhor. Pensamos em casar logo. Não está de acordo? Acha-me muito jovem? - indagou a mocinha rindo.

— Sabe que gosto muito de Caio. Fico contente e sinto que serão felizes. Você é jovem, mas se tem que casar que seja com Caio, ele também é o meu escolhido para genro.

Não demoraram muito, foram dormir, Marcelo logo adormeceu, desprendeu-se do corpo e ao nos ver, dirigiu-se a nós descontente.

— Vocês de novo?

— Marcelo, observa bem Antônia, não é ela parecida com alguém? - indaguei.

— Com Cidinha. Notei isso desde a primeira vez. É a mãe dela, não é?

— Sou, respondeu minha amiga.

— Que tem isso? - indaga Marcelo, morreu ao dar à luz, não foi? Só pode estar feliz em ver a filha bem e não tem motivos para se intrometer em minha casa. Desculpem-me, mas perco a paciência.

— Antônia é agradecida, - disse-lhe, totalmente reconhecida a você e a Helena. Se não fosse justo o motivo, não o incomodaríamos. Antônia é mãe de outra pessoa também, teve outro filho. E este outro filho é Caio.

— Foi por D. Etelvina que os escuto, mas, brincam comigo...

— Não brincamos. Tem conhecimentos para distinguir desencarnados que brincam e os sérios. Antônia está muito preocupada. Teve dois filhos, dados a pessoas diferentes e que se encontram e namoram. Como vocês guardam em segredo a adoção de Cidinha, Paulo e Ofélia guardam a de Caio. Por isso, Marcelo, estamos insistindo com você para que conte a verdade ao Paulo, e este confirmará...

Marcelo cambaleou, analisou-nos, permanecemos sérios.

— É muito triste! Não posso acreditar! Minha menina vai sofrer, todos comentarão Helena sofrerá, eu sofrerei...

— Não dramatize Marcelo, - disse-lhe, primeiramente tenta acordado desvendar este mistério, depois, pense num modo de suavizar, nem todos precisam saber a verdade.

— Não me lembro acordado do que me narram. Que devo fazer?

— Concentre-se de que necessita com urgência contar a Paulo que Cidinha é adotiva.

Marcelo repetiu várias vezes à frase que disse e voltou ao corpo, acordando. Sentou-se no leito, assustado, olhou as horas, levantou-se e foi tomar água, sentou-se na sala às escuras e pôs-se a pensar no que recordara do sonho
.
Balbuciou baixinho:

— Contar ao Paulo? Um segredo tão nosso... Nem pensava neste assunto, porque essa vontade agora? Sinto-me preocupado nem sei por que, estou com vontade de falar com Paulo. Ai! Deus! Sinto que algo de grave irá acontecer se não falar da adoção com Paulo.Aproximei-me dele,tentei transmitir meus pensamentos a ele e mentalmente conversamos.

“Marcelo, atende-me, conte ao Paulo e terá sossego. Ele é seu amigo, pessoa em quem se pode confiar, guardará segredo.”

“Se Helena descobre que falei a alguém sobre a adoção, ela me mata...”.

“Não fale nada a ela, este assunto deverá ficar só entre vocês dois.”

“Por que me sinto tão inquieto? Sou o pai de Cidinha, crieia, criamo-la e amamo-la tanto. Que importância terá este fato a alguém? Meu sonho é ver Cidinha e Caio casados. E se Paulo fizer objeções? Hum!... 

Bobagens conheço meu amigo. Acho que vou contar.”

“Conte Marcelo, conte.”

Marcelo voltou ao quarto e logo adormeceu.

Antônia e eu nos retiramos. Mas no domingo por muitas vezes lembramos Marcelo de que deveria contar seu segredo a Paulo. Ora concordava, ora achava que não devia.Passou o dia preocupado, calado e pensativo, logo a esposa percebeu e indagou:

— Que tem Marcelo? Que sente?

— Nada, nada, estou bem, - respondeu, olhando para a filha indagou:

— Cidinha, se tivesse um grande segredo, contaria ao seu melhor amigo?

Cidinha pensou por instantes, esforcei-me por intuí-la. Ela era mimada, porém inteligente, sensível e bondosa, respondeu mais ou menos como queríamos:

— Acho que sim. Amigos são para repartir segredos. Ainda mais se este segredo me desse preocupações. Duas cabeças pensam melhor que uma.

A filha afastou-se e Marcelo continuou a pensar:

“Acho que vou mesmo contar ao Paulo. Tudo isto começa enervar-me. Para que não digam mais tarde que enganei um amigo, conto agora, ele guardará segredo.”

Mesmo ele tendo tomado a decisão, lembramo-lo mais vezes ainda. Ao deitar-se, estava exausto, adormeceu logo. Veio triste se encontrar conosco.

— Marcelo, - disse, abraçando-o, — coragem, conte tudo ao Paulo logo, não adie, vá ao encontro de Paulo amanhã cedo, Caio não está no escritório, encontrará seu amigo sozinho.

— Obrigado, amigo, irei amanhã cedo.

Quanto a Paulo, passou o domingo a Cismar, disfarçou sua preocupação para que ninguém percebesse. Ficou a pensar, fingindo ler, na semelhança entre Antônia, à mãe de Caio, e Cidinha, sua futura nora. Ofélia e os adolescentes estavam eufóricos, no dia seguinte à tarde Zélia e Rosa chegariam e só falavam nas tias e nos preparativos da casa. Para o pai de Caio, o dia foi longo e ao deitar-se demorou a dormir.


 Médium: Vera Lúcia M. Carvalho
Espírito: Antônio Carlos

Deus proteja a todos...

abçs,

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