sábado

O Voo da Gaivota VI


Colóquio Interessante:

Numa aula especial, trocamos idéias sobre diversos assuntos do interesse da maioria. Lena, nossa
querida colega, alegre como sempre, indagou:
- Patrícia, por que uns se deslumbram tanto com as Colônias e outros, não?

- Nada deve acontecer em excesso - expliquei. - O equilíbrio precisa existir sempre. Colônias servem de lar a muitos desencarnados, mas temporariamente. É necessário amar, respeitar e dar valor a todas as formas de lar.

Muitos, pela vibração, se afinam mais com estes lugares de Paz e Harmonia que, para outros, são monótonos e sem atrativos. Quando aprendemos a ver Deus em  tudo e dentro de nós, qualquer lugar é maravilhoso, pois não existem lugares ruins. Se estamos satisfeitos conosco, seremos felizes onde estivermos, se
insatisfeitos, nada nos parece suficientemente bom.

Josefino perguntou para elucidar-se.

- Patrícia, as Colônias progridem?

- Sim e muito. As Colônias estão sempre progredindo pelo trabalho de seus moradores. Sempre se modificam para melhorar a vivência temporária de todos que aqui vêm.

- Elas aumentam de tamanho? Quem as constrói? - indagou Josefino novamente.

- Normalmente - respondi -, as Colônias são criadas pequenas, pelos seus fundadores. Vão sendo ampliadas conforme a necessidade. Seus fundadores são sempre desencarnados que amam o Bem e o próximo. Muitas vezes, após a fundação, permanecem eles trabalhando nelas, para o Bem comum. 

Cada Colônia tem os seus fundadores; são eles orientados por espíritos superiores, que trabalham como construtores, no Plano Espiritual.

- Patrícia, nunca tive uma profissão, nem quando encarnado, nem quando vagava desencarnado - disse Josefino. – Aqui aprendi muito e, após o curso, vou estudar enfermagem.
- Fico contente por você, porque conhecimentos só nos fazem bem e, quanto mais sabemos, mais
podemos ser úteis.

- Patrícia - replicou Marília -, continuaremos a exercer aqui a profissão que tínhamos quando encarnados? Fui advogada.
Poderei trabalhar na advocacia? Quando encarnada preocupei-me tanto com isso!
- Marília, profissões devem ser temporárias. Encarnados,as temos também para a sobrevivência. Aqui devemos ser úteis, aprendendo as muitas formas de assim ser. Os conhecimentos que teve ao estudar e ao exercer sua profissão, fizeram que desenvolvesse sua inteligência, pois, os conhecimentos que nos esforçamos para obter, nos pertencem. 

Os encarnados não devem preocupar-se com o exercício de suas profissões, no Plano Espiritual, ou inquietarem-se por não terem alguma. Quando queremos, achamos sempre um modo de ser útil e de trabalhar. Aqui é uma continuação de vida, mas muda-se muito, de vez que coisas que fazíamos quando encarnados não há, muitas vezes, como e por que fazê-las no
Plano Espiritual.

Aqui, nas Colônias, fazemos rodízio de muitas tarefas para aprender mais e também para escolher da que mais gostamos para a ela nos dedicarmos. Você, Marília, poderá fazer muitas tarefas e muito lucrará com o aprendizado.
- E no Umbral? - perguntou Marília novamente. - Trabalham, por lá? Exercem os desencarnados as profissões que tinham quando encarnados?
- Os que sofrem no Umbral - elucidei - não fazem nada, a não ser os que são obrigados, como escravos. Os moradores, principalmente das regiões umbralinas, trabalham, só que de modo muito diferente dos desencarnados que o fazem para o bem comum. No Umbral, tudo é feito com egoísmo, vaidade e para o mal.

Consideram estar trabalhando, quando estão vingando obsediando e destruindo. Lá muitos têm conhecimentos, mas os usam de forma errada. Quanto às profissões que tinham, quando encarnados, quase sempre não têm como exercê-las, já que a vida física difere muito da que vivemos no Plano Espiritual.

- Patrícia - disse Marília -, quando eu ainda estava encarnada, um amigo meu desencarnou e, na ocasião, fiquei muito impressionada. Comecei a sentir muitas dores, como ele as sentia. Meu esposo me levou ao Centro Espírita e lá me falaram que ele não estava comigo como julgávamos, mas sim num hospital no Plano Espiritual. Fui aconselhada a não pensar nele e, assim, melhorei. Lembrando agora deste fato, gostaria de entender o que se passou.

- Vou lhe responder o que pode ter ocorrido. Porém não se pode dar uma resposta categórica para algo, sem se analisar bem o que aconteceu. Para cada fato há várias explicações. Esse seu amigo desencarnado não estava perto de você, mas, ao pensar múito nele, você se ligou mentalmente a ele. 

Quando isso acontece, o que pode suceder é uma transmissão de vibrações, e até mesmo uma transfusão de energias. Por isso, somos incentivados pelos instrutores a fazer coisas boas e a nos ligar a pensamentos elevados ou a espíritos bons, pois, assim procedendo, absorvemos suas vibrações. Aquele que tem mais, dá ao que tem menos. 

Ao pensarmos coisas ruins, prendemo-nos a espíritos afins e deles recebemos as más vibrações, quando não, somos por eles vampirizados, principalmente se estivermos encarnados. Podemos também permutar
vibrações de desarmonia e angústias. 

Você, encarnada na época e pensando forte, se ligou ao seu amigo desencarnado que, mesmo socorrido num hospital, estava ainda enfermo, e assim ocorreu a troca de fluidos. Ao não pensar mais nele tão insistentemente, desligou-se e melhorou.

Devemos orar para todos, sem atrair para nós nada que o outro esteja sentindo. É preciso orar, mas somente enviar à pessoa a quem oramos, bons fluidos, ânimo, paz e alegria.

- Patrícia, por que há tantos desequilíbrios? São muitos os desencarnados, perturbados, e também vemos encarnados com cérebros danificados, portando doenças mentais. Este assunto me intriga - falou Olavo.

- Você, Olavo, deu a designação certa: desequilíbrio - falei. - Encarnados, quando se alimentam demasiado desequilibram o aparelho digestivo, e a má digestão certamente os incomodará. Do mesmo modo, podemos nos equilibrar ou não, como resultado de nossos atos.

Ações boas nos equilibram, harmonizando-nos com a perfeição. Ações más danificam o que está bem, desequilibram, trazendo sempre a doença e o sofrimento. E quando sofremos sem nos revoltar, acabamos por entender que foram nossos atos negativos que motivaram essa situação. Ao mudarmos nossa maneira de viver, teremos aprendido mais uma lição. E, se não aprendemos pelo amor acabaremos aprendendo pela dor.

A mente e o corpo não são criados por nós, apenas os desenvolvemos. Tanto a mente como o corpo anseiam pela harmonia, que compõe a natureza. Essa harmonia só é possível quando não há interesse pessoal e quando todos trabalham com um único objetivo, o do Bem comum. Agindo egoisticamente, nós nos separamos espontaneamente do movimento da vida. É como se o feto recusasse o sangue da mãe que o sustenta.

A mente ou um corpo privados dos fluidos cósmicos, pelo egoísmo, entram em estado de perturbação. O
remorso destrutivo também desequilibra bastante. Muitos, ao desencarnarem, percebem o tanto que erraram, perturbando-se demasiado e depois, sem um preparo especializado das Colônias, uma compreensão, ao reencarnar passam para o corpo esse desajuste.

Essas deficiências também podem ocorrer quando abusam do corpo saudável, danificando-o com drogas ou
suicidando e, então, se ressentirâo, em outra encarnação, de um corpo perfeito. Igualmente, o desequilíbrio mental será causado por abuso da inteligência, ao se prejudicar os outros. As anomalias físicas não existem como punição de Deus, mas sim como conseqüências do nosso remorso destrutivo, advindo de vivência com tins egoísticos, como se não participássemos da humanidade. 

Reconhecer que erramos é fundamental, mas punirmo-nos, por incrível que pareça, é uma atitude de egoísmo. Que seria mais agradável a Deus: ser um aleijado, representando um peso para a sociedade, ou reconhecer nossos desacertos e preparar-nos convenientemente para ser daqueles que constroem e enobrecem a humanidade? certamente, a segunda hipótese. 

Helena pediu para falar e, atendida, propiciou-nos valiosa lição.
- Encarnada, tive uma deficiência mental. Meu cérebro não funcionava normalmente. Doenças?
Foram várias, e a medicina tinha muitas explicações. Tomei muitos medicamentos. Desencarnei após sofrer muito. Que fiz para ter vivido assim? Este fato veio a me incomodar, depois de eu ter melhorado no hospital desta Colônia. 

As lembranças do passado vieram fácil à minha mente, entretanto, quando encarnada, também as tinha e não as entendia, e elas vinham como sensações desagradáveis a me incomodar. Meus erros foram muitos, e me marcaram profundamente as recordações que me vinham ao cérebro, de forma difusa, levando-me a me perturbar ainda mais. Não quero e não vou falar dos erros do passado. Contarei a vocês a minha vida como doente mental, sem generalizar, só narrando minha experiência particular.

Reencarnei, por afinidade, numa família de classe média, tendo assim assistência material e também afetiva. Desde criança, já era considerada estranha e esquisita. Quando entrava em crise, falava coisas desconexas, afirmando ser outra pessoa, com outro nome, alguém desconhecido. Sentia-me realmente assim: duas personalidades. 

Na adolescência, piorei muito e fui internada em hospitais, onde sofria bastante com a separação dos
meus e com os medicamentos. Em algumas vezes, agia como sendo uma pessoa, em outras, agia diferente. Havia também períodos de melhora, quando conseguia reconhecer ser ora doente, ora normal. Queria me curar, pois envergonhava-me dos vexames que causava, me irritava e sofria com as chacotas e risos
dos outros.

Aborrecia-me dizer coisas tolas, ser ridícula. Não era agressiva, a não ser quando me irritava, aí eu xingava as pessoas. Sendo católica, ia sempre à igreja, quando estava calma. Se me via nervosa, minha mãe não me deixava ir, porque não parava quieta, incomodando as pessoas.

Gostava de ver Nossa Senhora Aparecida, a quem chamava de Parecidinha. Não rezava de forma decorada, e minha contemplação representava minha oração. Familiares e conhecidos, para me chatear, mexer comigo, diziam que iam bater na imagem de Nossa Senhora, então eu chorava desesperada e só parava quando me garantiam que não bateriam na minha Santinha. 

Fugia muito de casa para passear pelas ruas, andando de um lado a outro e, quando me cansava, voltava para casa. Dei muitos vexames e sofri por isso, porque não queria ser daquele jeito. Para meu orgulho era um enorme ridículo. Aprendi muito, só que desencarnei doente, com muitas dores e, nessa ocasião, uma equipe, que trabalhava em nome de Maria, veio me socorrer. Sarei após um bom e longo tratamento espiritual, neste hospital da Colônia, e digo-lhes que agora também perdi o orgulho, que foi minha pior doença.

Completei com a explicação:

- Quando o desequilíbrio mental é muito grande, pode-se perder a capacidade de ser uma pessoasadia. A recuperação só se faz com o auxílio de outros espíritos e através de reencarnações, ocasiões em que se recebe novo cérebro, mas que pode novamente ser danificado enquanto persistir a causa. O reequilíbrio vem pouco a pouco, como a água limpa em caixa suja, que, renovada, acaba por limpar todo o ambiente. E é pela bondade de Deus, concedendo-nos a reencarnação, que acontece a recuperação. 

Muitas são as causas que levam os encarnados a terem doenças mentais, e suas sensações diferem de uma
pessoa a outra. Tenho escutado muitas narrativas diferentes de pessoas que, encarnadas, tiveram deficiências mentais. Não existem duas experiências iguais, e, normalmente, são recuperações difíceis, pela dor, quando se poderia muito bem tê-las feito pelo amor. 

Temos, para meditar, a narrativa de Helena, lembrando que não devemos ironizar o doente, porque poderia sermos nós a passar por essa experiência de recuperação. Não tendo mais comentários, a aula terminou com muito proveito para todos.



continua...

bjs,soninha

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